Produzir um artigo científico é um passo essencial para quem deseja contribuir de forma qualificada para a construção do conhecimento em sua área. Mas, afinal, o que é um artigo científico e quais os cuidados necessários para sua estruturação?
O artigo científico é um dos principais meios de comunicação de descobertas, teorias e análises no universo acadêmico. É por meio dele que ideias são compartilhadas, hipóteses testadas, métodos detalhados e conclusões apresentadas à comunidade científica. Mais do que um requisito para obtenção de titulação, o artigo representa a consolidação de um ciclo investigativo, legitimado por normas técnicas que garantem sua padronização e confiabilidade.
No contexto das instituições de ensino superior, o artigo científico assume um papel central, sendo uma exigência recorrente em disciplinas, projetos de pesquisa, estágios supervisionados e nos trabalhos de conclusão de curso. A publicação de artigos também é critério de avaliação na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), funcionando como um termômetro da produção intelectual dos pesquisadores e das instituições às quais estão vinculados.
O Manual de Normas para Elaboração e Apresentação de Artigo Científico do Centro Universitário Multiversa do Jaguaribe (2024) destaca que o artigo é uma parte de publicação com autoria declarada e que expressa e discute ideias, métodos, resultados e conclusões obtidas em pesquisas. Dessa forma, ele contribui para o avanço do conhecimento nas diversas áreas do saber, estabelecendo pontes entre o que se investiga e o que se aplica socialmente.
Definição e tipologia do artigo científico
Conforme a NBR 6022:2018, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o artigo científico é uma parte de uma publicação de natureza técnica ou científica, com autoria declarada, e que apresenta, de forma sintética, os resultados de estudos ou análises em determinada área de conhecimento.
Há duas categorias principais de artigo:
Artigo original: apresenta resultados inéditos de pesquisas empíricas ou teóricas, como relatos de experimentos, estudos de caso ou análises de campo.
Artigo de revisão: reúne e discute criticamente produções já existentes sobre um tema, propondo novas interpretações ou sistematizações.
Além disso, os artigos podem ter diferentes níveis de complexidade e profundidade, a depender do público-alvo e do veículo de publicação. Em revistas científicas, por exemplo, exige-se linguagem técnica, rigor metodológico e referências atualizadas, com forte ancoragem teórica. Já os artigos em periódicos de extensão podem ter caráter mais dialógico e acessível.
Estrutura obrigatória do artigo científico
A estrutura do artigo deve seguir padrões estabelecidos para garantir clareza, coerência e uniformidade. De acordo com o Manual da Unijaguaribe (2024), a composição do artigo é dividida em elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos pós-textuais.
Elementos pré-textuais
Esses elementos antecedem o conteúdo principal e são essenciais para a identificação e contextualização do artigo. Os principais são:
Título (obrigatório): deve estar na língua do artigo, centralizado, em negrito, com fonte tamanho 12, e apresentar clareza e objetividade.
Título em outro idioma (opcional): geralmente traduzido para inglês, espanhol ou francês.
Nome(s) do(s) autor(es): indicado com currículo resumido, vínculo institucional e e-mail. As informações devem constar em nota de rodapé, com sistema de chamada próprio.
Resumo (obrigatório): apresentação breve do conteúdo, com 100 a 250 palavras, ressaltando objetivo, método, resultados e conclusões. Deve ser escrito em parágrafo único, na terceira pessoa e voz ativa.
Palavras-chave (obrigatório): de 3 a 5 termos que representam os principais conceitos abordados.
Resumo em outro idioma (opcional): tradução do resumo, seguido de “Keywords”.
Esses elementos funcionam como uma espécie de “cartão de visita” do trabalho. Eles facilitam a indexação do artigo em bases de dados e servem para que o leitor, rapidamente, entenda do que trata o estudo e decida se irá prosseguir com a leitura.
Elementos textuais
Esta é a parte central do artigo. É onde o autor desenvolve o conteúdo científico, com base em dados, teorias e discussões. Segundo a norma, são três as partes obrigatórias:
Introdução: deve apresentar o tema de forma clara, delimitando o objeto de estudo, os objetivos (geral e específicos), a justificativa da escolha do tema, a relevância da pesquisa e a metodologia adotada. Também pode indicar a organização do texto.
Desenvolvimento: é a parte mais extensa do artigo, onde ocorre a análise propriamente dita. O conteúdo deve estar dividido em seções e subseções conforme a complexidade do tema. Essa parte exige articulação teórica com dados empíricos e uma argumentação bem estruturada.
Considerações finais: retomam-se os objetivos e apresenta-se uma síntese das principais conclusões. Pode-se indicar limitações da pesquisa e sugestões para estudos futuros.
Essas seções devem dialogar entre si de forma lógica e fluida. A introdução estabelece a questão, o desenvolvimento aprofunda a análise e as considerações finais concluem a reflexão.
Elementos pós-textuais
Ao final do artigo, são incluídos os elementos complementares, que oferecem suporte e aprofundamento ao conteúdo principal:
Referências (obrigatório): lista das obras citadas ao longo do texto, organizadas conforme a NBR 6023/2018, em ordem alfabética ou numérica (dependendo do sistema de chamada).
Glossário (opcional): define termos técnicos ou específicos utilizados no texto.
Apêndice (opcional): documentos produzidos pelo autor, como questionários ou formulários.
Anexo (opcional): materiais de terceiros que servem de base ou complementam a análise.
Agradecimentos (opcional): registro de gratidão a pessoas ou instituições que contribuíram para a realização da pesquisa
Regras de Formatação e Citações em Artigo Científico
Formatação e apresentação gráfica: o cuidado com a forma
Ao elaborar um artigo científico, não basta apenas organizar ideias e dados: a forma de apresentação é igualmente relevante. A padronização gráfica contribui para a leitura fluida e o reconhecimento da seriedade do trabalho. Por isso, instituições de ensino e periódicos exigem o cumprimento das normas da ABNT, que estabelecem diretrizes claras sobre formatação, margens, fonte, espaçamento, entre outros elementos.
De acordo com o Manual de Normas para Elaboração e Apresentação de Artigo Científico (2024), as regras gerais para apresentação gráfica são as seguintes:
Papel: formato A4 (21 cm x 29,7 cm).
Fonte: Arial ou Times New Roman, tamanho 12 para o corpo do texto.
Cores: somente preta para o texto. Outras cores são permitidas apenas em gráficos, ilustrações e tabelas, se necessário.
Espaçamento: o texto deve ser digitado com espaçamento simples entre linhas, inclusive nos títulos.
Recuo: o primeiro parágrafo de cada seção deve ter recuo de 1,5 cm da margem esquerda.
Margens: esquerda e superior com 3 cm; direita e inferior com 2 cm.
Paginação: feita em algarismos arábicos, no canto superior direito da página, a 2 cm da borda superior e direita, iniciando-se na segunda folha do artigo.
Essas orientações garantem uma apresentação uniforme e profissional, sendo fundamentais tanto para submissão em periódicos científicos quanto para avaliações internas em cursos de graduação e pós-graduação.
Como fazer citações corretamente
Um artigo científico deve ser fundamentado em autores e fontes confiáveis. Nesse sentido, as citações são fundamentais, pois conectam o trabalho a um campo de saber já estabelecido, além de oferecerem respaldo teórico e metodológico. A norma ABNT NBR 10520:2023 define as regras de citação nos documentos técnico-científicos.
As citações podem ser diretas (quando se transcreve o trecho da fonte original) ou indiretas (quando se parafraseia o conteúdo). Ambas precisam ser acompanhadas da referência completa ao final do artigo.
Citação direta curta (até 3 linhas)
Essa modalidade é inserida no corpo do texto, entre aspas duplas. Exemplo:
Segundo Boaventura (2007, p. 81), “o respeito ao trabalho acadêmico é diretamente proporcional à credibilidade das fontes utilizadas”.
Citação direta longa (mais de 3 linhas)
Neste caso, o trecho citado deve ser destacado em parágrafo próprio, com recuo de 4 cm da margem esquerda, sem aspas, fonte tamanho 10 e espaçamento simples.
Exemplo:
O respeito ao trabalho acadêmico é diretamente proporcional à credibilidade das fontes utilizadas. Por isso, o mais indicado é ir ao original. Buscar sempre as fontes primárias, originais, coevas aos eventos históricos é uma regra importante na metodologia da pesquisa histórica e capaz de garantir cientificidade ao estudo desenvolvido.
(Boaventura, 2007, p. 81)
Citação indireta
É quando o autor reproduz a ideia de outro autor com suas próprias palavras, mantendo a fidelidade ao conteúdo original. A fonte ainda assim deve ser citada.
Exemplo:
De acordo com Medeiros (2000), a redação científica envolve estratégias específicas de leitura, fichamento e organização argumentativa.
Citações com mais de um autor
Quando houver até três autores, todos devem ser mencionados. A partir de quatro autores, pode-se usar o primeiro seguido de et al., tanto no corpo do texto quanto nas referências.
Exemplo:
Conforme Calado et al. (2011, p. 139), a escola pública popular se orienta por práticas pedagógicas contra-hegemônicas.
Citação de obra sem autoria
Nesses casos, a entrada é feita pelo título da obra, em itálico ou em letras maiúsculas (dependendo do estilo adotado), seguido da data.
Exemplo:
A diversidade vai além da raça e da origem sociocultural (ACESSO […], 2007, p. 17).
Sistema de chamada: autor-data ou numérico
O sistema mais utilizado nas ciências humanas e sociais é o autor-data, no qual se menciona o sobrenome do autor, o ano da publicação e, se for citação direta, a página consultada.
Exemplo:
(SILVA, 2021, p. 45)
Esse sistema é importante porque permite ao leitor localizar com precisão a obra referenciada na lista final de referências. O uso deve ser padronizado ao longo de todo o artigo.
Cuidados adicionais com as citações
A ABNT também estabelece normas específicas para:
Tradução feita pelo autor: deve vir com a expressão “tradução nossa” ao final.
Ênfase na citação: deve ser indicada entre parênteses com a expressão “grifo nosso” ou “grifo do autor”.
Supressões: representadas por reticências entre colchetes, por exemplo: […].
Interpelações ou comentários do autor: entre colchetes [ ].
Dados orais ou de fontes não publicadas: devem ser acompanhados de nota de rodapé explicando a origem.
Esses cuidados reforçam a seriedade e a fidedignidade das informações apresentadas no artigo, evitando plágios e garantindo ética na pesquisa científica.
Lista de Referências: regras obrigatórias
A lista de referências é o último item obrigatório de um artigo científico. Ela deve conter todas as obras citadas no texto, organizadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor, conforme a NBR 6023/2018.
As principais regras para sua elaboração são:
A palavra REFERÊNCIAS deve estar centralizada, em maiúscula e em negrito, sem numeração ou indicação de capítulo.
As entradas devem seguir uma ordem padronizada: SOBRENOME, Nome. Título da obra: subtítulo. Edição. Local: Editora, ano.
Obras consultadas online devem trazer o link e a data de acesso.
O título da obra deve estar em itálico ou negrito, de forma uniforme em toda a lista.
Exemplos de referências corretas:
Livro impresso:
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Artigo de periódico:
MORENO, G. L. Escola, família e adoção: acolhendo as diferentes constituições familiares. Quaestio – Revista de Estudos em Educação, v. 25, p. 1-22, 2023. DOI: 10.22483/2177-5796.2023v25id4175.
Documento online:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 15 abr. 2025.
A consistência e a clareza nas referências demonstram o compromisso do autor com o rigor acadêmico, sendo um aspecto avaliado com grande atenção por professores, orientadores e editores de revistas.
Elementos complementares, resumo expandido e dicas finais
Elementos pós-textuais opcionais: agregando valor ao artigo científico
Embora os elementos obrigatórios do artigo científico — como o título, introdução, desenvolvimento, considerações finais e referências — constituam a espinha dorsal da produção, há elementos opcionais que agregam profundidade e valor à pesquisa. Eles complementam a compreensão do leitor, detalham aspectos técnicos e documentam o processo de investigação. O Manual de Normas do Centro Universitário Multiversa do Jaguaribe (2024) destaca os seguintes:
Glossário
Destinado à definição de termos técnicos, expressões pouco usuais ou conceitos específicos, o glossário é apresentado em ordem alfabética. Ele é especialmente útil quando o artigo aborda temas complexos ou utiliza linguagem especializada, como em estudos interdisciplinares, científicos ou jurídicos.
A palavra GLOSSÁRIO deve estar centralizada, em maiúsculas, negrito e fonte 12. Os termos definidos devem manter o mesmo padrão de formatação do corpo do texto, com espaçamento simples.
Apêndice
O apêndice é utilizado para apresentar materiais elaborados pelo próprio autor, como formulários aplicados na pesquisa, roteiros de entrevistas, instrumentos de coleta de dados, gráficos analíticos ou quaisquer documentos que sustentem a análise apresentada.
Deve ser identificado por letras maiúsculas (ex: APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA) e seguir o mesmo padrão de formatação das seções primárias: fonte 12, centralizado, negrito e com espaçamento simples.
Anexo
Diferente do apêndice, o anexo se refere a documentos não produzidos pelo autor, mas que contribuem para comprovar ou ilustrar aspectos do artigo — como leis, reportagens, fotografias, declarações, entre outros.
Também é identificado por letras maiúsculas consecutivas (ex: ANEXO A – LEI Nº 11.738/2008) e deve ser citado ao longo do texto sempre que for necessário remeter o leitor à fonte documental.
Agradecimentos
Apesar de opcional, o campo de agradecimentos é importante para reconhecer apoios institucionais, técnicos ou pessoais recebidos durante a realização da pesquisa. Pode incluir:
Professores e orientadores;
Instituições financiadoras;
Participantes da pesquisa;
Amigos e familiares.
Deve aparecer após os anexos, se houver, com a palavra AGRADECIMENTOS centralizada, em maiúsculas, negrito, fonte 12. O texto deve ser justificado, com recuo de 1,5 cm no primeiro parágrafo e espaçamento simples.
O resumo expandido: síntese crítica da produção científica
Além do resumo tradicional, algumas instituições e eventos acadêmicos exigem a elaboração de um resumo expandido, como é o caso do Centro Universitário Multiversa do Jaguaribe. Esse tipo de texto funciona como um intermediário entre o resumo simples e o artigo completo, oferecendo uma versão condensada da pesquisa, mas com maior detalhamento.
Segundo o manual da instituição, o resumo expandido deve conter entre 1000 e 1500 palavras e seguir a seguinte estrutura:
Título (claro, conciso, centralizado, fonte Times New Roman 12, em maiúsculas).
Nome dos autores e afiliação (incluindo curso, instituição e e-mail).
Resumo (de 100 a 250 palavras).
Palavras-chave (de 3 a 5 termos).
Introdução (apresenta o tema, os objetivos e a justificativa).
Metodologia ou Materiais e Métodos (descrição dos procedimentos).
Resultados e Discussão (principais achados e análise).
Conclusão (retomada dos objetivos e síntese crítica).
Referências (até cinco autores, em conformidade com a ABNT).
Esse tipo de resumo é amplamente solicitado em congressos científicos, simpósios, feiras acadêmicas e publicações institucionais. Sua elaboração permite que o autor exerça a capacidade de síntese crítica e demonstre domínio do conteúdo em uma versão enxuta e clara.
Dicas finais para a escrita de um artigo científico
A escrita científica exige atenção a diversos detalhes. Além do conteúdo e da estrutura, há aspectos linguísticos, éticos e metodológicos que fazem a diferença entre um bom artigo e um artigo excelente. Abaixo, listamos algumas recomendações finais:
1. Tenha clareza e objetividade
A linguagem científica deve ser clara, precisa e impessoal. Evite jargões desnecessários, termos vagos ou frases excessivamente longas. Um bom artigo é direto ao ponto, sem abrir mão da complexidade teórica.
2. Use a voz ativa e a terceira pessoa
A norma sugere o uso da voz ativa e da terceira pessoa do singular, especialmente nos resumos e introduções. Isso contribui para uma linguagem mais assertiva e profissional.
3. Respeite a ética acadêmica
Plágio é um dos erros mais graves em um artigo científico. Todo conteúdo que não for de autoria própria deve ser citado corretamente, seguindo o sistema autor-data da ABNT. Além disso, é fundamental respeitar o sigilo e a privacidade dos participantes da pesquisa, se houver.
4. Releia e revise o texto
Após a escrita, revise atentamente todos os elementos do artigo: gramática, ortografia, coerência argumentativa, formatação e referências. Se possível, peça para outra pessoa ler e comentar. Um olhar externo pode identificar inconsistências que passaram despercebidas.
5. Siga rigorosamente as normas da ABNT
Todas as citações e referências devem estar em conformidade com a NBR 6023/2018 (referências), NBR 10520/2023 (citações), NBR 6024/2012 (numeração progressiva) e outras normas complementares. O descumprimento dessas regras pode comprometer a aprovação ou publicação do trabalho.
6. Adapte o artigo para o periódico ou evento
Se o objetivo for publicar o artigo em uma revista científica, verifique as normas para autores da revista em questão. Cada periódico tem exigências específicas quanto à formatação, extensão do texto, número de autores, idioma, estrutura e envio de arquivos.
7. Utilize ferramentas auxiliares
Há diversas ferramentas que podem auxiliar na produção do artigo científico:
Gerenciadores de referências: Mendeley, Zotero, EndNote.
Corretores gramaticais: LanguageTool, Gramatique, Microsoft Editor.
Plataformas de submissão e indexação: ScholarOne, OJS, Scielo, Google Scholar.