Breve comentário da teoria da ação coletiva de Mancur Olson

Teoria da ação coletiva: Mancur Olson

Por Cristiano Bodart
Na obra Lógica da Ação Coletiva, Mancur Olson tem como objetivo explicar o comportamento de indivíduos racionais que se associam para a obtenção de algum benefício coletivo. Sua pretensão é apresentar uma alternativa a teoria tradicional de grupo. Sua teoria gerou um significativo impacto sobre a ciência política contemporânea, mesmo entre seus críticos.
É importante notar que seu objeto de estudo é o comportamento de indivíduos racionais que têm como objetivo a obtenção de benefícios coletivos que se convertam em vantagens individuais. Para desenvolver sua teoria, Olson se apóia no conceito de benefício coletivo como um “benefício indivisível”, ou seja, aquele que uma vez consumido por um grupo não pode ser negado a uma pessoal deste grupo, mesmo que este não tenha se dedicado em sua obtenção.
ação coletiva
Segundo Olson, o interesse comum dos membros de um grupo pela obtenção de um benefício coletivo nem sempre é suficiente para levar cada um deles a contribuir para a obtenção desse benefício. Existem circunstâncias onde o indivíduo do grupo sabendo que o benefício coletivo não lhe será negado, independentemente de sua participação ou não (por se tratar de um bem coletivo), tenderá a se escusar, a fim de ampliar seu bem estar, deixando que os demais paguem pelos custos de sua obtenção.
A decisão de todo indivíduo racional sobre se irá ou não contribuir para a obtenção do benefício coletivo depende se os custos da ação forem inferiores aos benefícios alcançados. Olson argumenta que grupos menores tendem a ter maior adesão de seus membros, isso se dá por vários fatores, entre eles ao fato de o benefício ser dividido por um número igualmente reduzido de participantes, sendo o benefício recebido significativo a cada membro. Para ele, grupos grandes são mais susceptíveis a não atingirem seus objetivos, isso se dá por ser o benefício diluído a tal ponto que os custos da participação se excedem aos benefícios alcançados, desestimulando o indivíduo. Outro motivo se dá pelo fato de que a não participação do indivíduo não apresenta grande impacto sobre o resultado, como geralmente ocorre em grupos pequenos. Assim, grupos grandes tendem a ter indivíduos não atuantes, mas que serão beneficiados pelos resultados, uma vez que se trata de benefícios coletivos, daí a necessidade de algum tipo de coerção sobre o não-participante ou um benefício exclusivo para os indivíduos atuantes.
Comentário a partir de:
OLSON, Mancur. A Lógica da Ação Coletiva. Trad. Fabio Fernandez. São Paulo. Edusp, 1999. pp. 13-64.
Publicado originalmente em: 18 de março de 2010 às 12:5

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

1 Comment

  1. A teoria da ação coletiva de Mancur Olson oferece uma análise profunda sobre como os indivíduos interagem em busca de benefícios comuns, trazendo à luz a complexidade da cooperação em sociedades contemporâneas. Em um contexto marcado pelo individualismo, a propensão dos indivíduos a não contribuir para o bem coletivo, esperando que outros o façam, reflete um comportamento que pode ser observado em diversas situações sociais e políticas. Essa dinâmica é especialmente relevante em um mundo onde os desafios são frequentemente coletivos, exigindo ações conjuntas para serem efetivamente solucionados.

    Um dos pontos mais intrigantes da teoria de Olson é a distinção entre grupos grandes e pequenos. A ideia de que a coesão e a percepção de impacto são mais intensas em grupos menores ressoa com a experiência cotidiana. Quando os membros de um grupo sentem que suas contribuições têm um peso significativo, a motivação para participar aumenta. Por outro lado, em grupos maiores, a sensação de que a participação individual é irrelevante pode levar à apatia e à inação, o que, por sua vez, pode comprometer o alcance dos objetivos coletivos.

    A questão do “free-riding” é um aspecto crítico que ressalta a necessidade de mecanismos que incentivem a cooperação. As implicações práticas dessa teoria se estendem a diversas áreas, como políticas públicas, onde a mobilização de recursos e esforços é essencial para o sucesso de iniciativas. A implementação de incentivos ou mesmo formas de coerção para estimular a participação ativa é uma reflexão necessária para enfrentar a inércia que pode surgir na busca por bens coletivos.

    Além disso, a teoria de Olson desafia a maneira como percebemos a responsabilidade coletiva. Em um cenário onde o individualismo é frequentemente celebrado, a urgência de engajamento em prol do bem comum se torna ainda mais evidente. A discussão sobre ação coletiva não deve ser vista apenas como um exercício acadêmico, mas como uma necessidade prática, especialmente em momentos em que a sociedade enfrenta crises que demandam solidariedade e ação conjunta.

    Em síntese, a lógica da ação coletiva de Mancur Olson se revela uma ferramenta essencial para entender os desafios da cooperação em um mundo interconectado. Sua teoria não apenas ilumina os obstáculos à colaboração, mas também propõe uma reflexão crítica sobre como podemos fomentar um senso de responsabilidade coletiva em face dos problemas que afetam a todos. O entendimento e a aplicação dos princípios de Olson são cruciais para a construção de sociedades mais coesas e capazes de enfrentar os desafios contemporâneos de maneira eficaz e solidária.

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