Resenha “Sobre o tempo” Norbert Elias
O tempo parece algo banal, natural, espontâneo e ao mesmo tempo tão visceral. Para nós o tempo é tido como uma entidade para além da nossa existência. Norbert Elias faz uma profunda reflexão sociológica desafiadora e incrível sobre o tempo problematizando-o.
Como um bom sociólogo, procurou explorar uma visão para além das fronteiras disciplinares, evidenciando diálogos com a Física, a Filosofia, Psicologia a História, isso para tornar a analise sociológica mais rica.
Na obra “Sobre o tempo”, de Norbert Elias, encontramos uma analise da dimensão social do que chamamos “tempo”; este sendo problematizado como construção social que não se desprende de sua dimensão geocêntrica. Nesta obra, Elias avalia o calendário como uma forma com a qual as sociedades ritualizam certas práticas durante um período a fim de assegurar sua repetição. É por meio de um calendário que nós definitivamente somos inseridos num universo de uma coletividade social.
Neste sentido, a natureza é a primeira forma usada para sincronizar nossos tempos individuais e psicológicos na abstração social que conhecemos como tempo. A colheita, a semeadura, os rituais de passagem, a memória dos antepassados.
Cada sociedade configura a periodicidade dos seus ritos anuais, bem como, a rotina dos seus dias. Desta maneira, a palavra “tempo” tem uma certa ambiguidade, se referindo a clima (tempo está feio hoje) ou a intervalos (não terei tempo de chegar ao trabalho).
Cabe destacar os aspectos sociológicos dessa problemática. É por meio da socialização que o membro do grupo social passa a seguir um ritmo de acordo com o grupo social que está inserido. Assim, a socialização torna o tempo e o relógio biológico cada vez mais adequado à rotina da sociedade, fazendo da socialização um mecanismo que naturaliza a nossa noção de tempo, fazendo-o parecer natural e espontâneo.
Cabe lembrar também que cada sociedade tem ritmo diferenciado. Tem sua própria forma de “acelerar” ou “desacelerar” o
tempo. As sociedades modernas e industriais, passaram a racionalizar a medicação do tempo com vistas a potencializar a produtividade. Assim criou o relógio mecânico, que tem muito mais precisão. Por meio dele é possível estipular encontros de pessoas cada vez mais atarefas no intervalo cada vez mais racionalizado e desencantado.
A obra “Sobre o tempo” de Norbert Elias, publicado pela editora Zahar é um convite encantador para quem deseja fazer uma “viagem hermenêutica” no tempo e no espaço da imaginação sociológica para decifrar um enigma que até hoje fascina sociólogos, físicos, filósofos e intelectuais de várias especialidades que padecem no tempo tentando decifrar os enigmas que só a ciência é capaz de nos ajudar a desvendar a fim de envolver com o que Elias chama de “processo civilizador”.