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Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil: tema da redação do ENEM 2016

Buscando colaborar com secundaristas que seguem o Blog Café com Sociologia, apresentamos um exemplo de redação sobre o tema do último ENEM, “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Segue:

Título: Uma breve arqueologia para mudança de rota: em pauta a intolerância religiosa no Brasil

Por Cristiano das Neves Bodart

A intolerância religiosa no Brasil vem sendo, recentemente, objeto de preocupação e, consequentemente, de diversas políticas públicas e tema de redações como esta. Ainda que sua preocupação seja recente, seus fundamentos são sócio-históricos e, por isso, devemos analisá-los sob um olhar radical, que busque suas raízes. Apenas por meio de uma “arqueologia” do fenômeno torna-se possível propor uma mudança de rota. Contudo, não é fácil compreender o problema, uma vez que teremos que remover pedras postas há muitos anos.

O Brasil ao ser instituído como colônia teve como uma de suas pedras de fundação a intolerância religiosa como estratégia de dominação. A fim de subjugar os nativos foi ignorada as suas crenças e lhe imposta outra, apregoada como “melhor” e “certa”. Tratava-se de estar entre a cruz e a espada; literalmente.

Não foram apenas os índios que sofreram tal imposição, os negros que viriam forçadamente desembarcar aqui tiveram suas práticas religiosas perseguidas e rotuladas como “erradas” e “diabólicas”. Claro que tal imposição sofreu resistências e, em certa medida, exitosas. Tal resistência se desdobrou na incorporação de muitas de suas práticas à crença oficial tida como “certa” e “divina”. Ao contrário do que pareça ser, tal incorporação não é um raio-x de nossa tolerância, antes de intolerância. Instituiu-se que só há “purificação” das práticas religiosas africanas ou nativas se estas associadas aos ritos “sagrados” e “divinos” do cristianismo católico. A mistura não é reflexo da tolerância, mas da intolerância. Mais tardiamente, outras crenças, tais como o cristianismo pentecostal, o judaísmo e o islamismo, passaram a ser alvos de intolerância. Quanto mais diferente “da religião oficial”, mais vitimadas são estas.

A predominância de uma visão etnocêntrica foram, e são, reproduzida pelas práticas sociais. Esse histórico marcado por uma interpretação intolerante do outro e por um discurso legitimador de uma “ordem das coisas” que é fruto de nossa história e, ao mesmo tempo, legitima e a reproduz. Desta forma, reproduzimos velhas práticas, construímos um edifício com velhas pedras sob bases fundadas num passado remoto que nos assombra.

É urgente mudarmos o “estado das coisas” no que se refere às práticas de intolerância religiosa e disso depende fazermos uma arqueologia do fenômeno para, então, removermos escombros e propormos outro curso histórico.

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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