Categoria: Apoio Didático

Apoio didático com conteúdos e estratégias para professores e estudantes que querem ter na sala de aula a sua melhor experiência de ensino.

Aqui você aprende a utilizar textos, músicas, vídeos, aplicativos e diversos instrumentos didáticos que um bom professor precisa saber dominar. Apoio didático é um dos principais fortes do site.

Além dessa categoria dispomos também do nosso canal no youtube, que dispõe de várias dicas de documentários, palestras, filmes, músicas e afins. Nela os vídeos estão segmentados por assunto, o que facilita o acesso e o uso.

Dispomos também do podcast Café com Sociologia, um importante instrumento didático para ensinar sociologia. De fácil uso e aprendizado dinâmico e divertido, o podcast mescla músicas e teoria de uma forma encantadora.

O “Podcast Café com Sociologia” é produzido a partir de um roteiro baseado no conteúdo de Sociologia em consonância com o Currículo Básico Comum de Sociologia do Ensino Médio. A partir do conteúdo é realizado uma pesquisa e seleção de músicas e poemas que serão utilizados, a fim de complementar o
conteúdo, assim como dar dinâmica ao programa. Tais músicas e poemas serão usados para intercalar com a narração do conteúdo.

  • O que é Socialização? Texto + dica de leitura + atividades

    O que é Socialização? Texto + dica de leitura + atividades

    O que é socialização? Na sociologia, socialização é o processo pelo qual as pessoas adquirem os valores, normas e habilidades que são necessárias para serem membros ativos e bem-sucedidos da sociedade em que vivem. É através da socialização que as pessoas aprendem as expectativas sociais e os papéis que devem desempenhar em diferentes contextos sociais, como na família, na escola, no trabalho e nas relações amorosas.

    Por Henrique Fernandes Alves Neto*

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    O que é socialização? Contextualizando

    Existe uma piada que diz: “todo ser humano nasce pelado, careca e sem dente… tudo o que vem depois é lucro”. Por mais simples e inocente que seja essa especulação, ela revela um dos principais fenômenos que acompanham a vida humana: socialização. É por conta deste fenômeno que você consegue ler este texto, usar a internet, utilizar o celular, enviar mensagens no aplicativo de conversa, enfim, fazer tudo o que você é capaz de fazer hoje. Assim sendo, vamos conhecer quais são as abordagens e uma definição sociológica deste processo social.

    O que é socialização?  Conceituando socialização

    Socialização e sociologiaTodos nós, seres humanos, nascemos em uma realidade que foi criada por nossos semelhantes. Imagine você o que uma criança encontra quando nasce: linguagem, moedas, equipamentos tecnológicos, habitações, ferramentas e diversas outras formas de conhecimento humano acumulado; além disso, ela também descobre os elementos naturais, como plantas e diversos tipos de animais. Tudo isso existe, ainda fora deste novo ser humano. Como assim? Ora, este bebê deverá incorporar, aprender, se apropriar de tudo isso que lhe rodeia para daí, então, começar a participar mais ativamente da vida em sociedade. Este processo de aprendizagem, de ingresso, de início em uma vida social, é a chamada socialização.

    Neste texto, iremos discutir a definição de dois autores fundamentais, dentro de uma abordagem culturalista e funcionalista: Peter Berger e Thomas Luckmann.

    O que é socialização?  O que dizem…

    Estes autores escreveram e publicaram um livro com o título “A construção social da realidade”, em 1966. Mais à frente, vamos explicar o motivo deste nome. Por ora, vale dizer o seguinte: Berger e Luckmann consideram que a realidade que está fora de nós precisa passar para dentro. Mas como? Através de um processo de interiorização. Olha só o que eles dizem:

    No entanto, a interiorização, no sentido geral aqui empregado, está subjacente tanto à significação quanto às suas formas mais complexas. Dito de maneira mais precisa, a interiorização neste sentido geral constitui a base primeiramente da compreensão de nosso semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo como realidade social dotada de sentido (BERGER; LUCKMANN, 1985; p. 174).

    O que é socialização?  Um Processo social…

    Os seres humanos participam de um processo social que permite com que nós, em um primeiro momento, possamos compreender nossos semelhantes, e, depois, perceber como tudo em nossa volta possui um sentido e significado. Quer um exemplo? Uma das primeiras palavras que os humanos pronunciam são “mama” ou “papa”, buscando identificar aqueles que cuidam dele(a) no início da vida. Uma vez que começam a “falar” mais, vão nomeando todas as coisas que perceber – através daquela pergunta “que é isso?” tão características de crianças pequenas: “au-au”, “binquedo”, “miau”, “mumu”, e assim por diante. Segundo Berger e Luckmann (1985), a interiorização coloca dentro de nós o mundo que está fora. Mas como isso acontece? Através do processo de socialização, viremos explicar mais à frente.

    O que é socialização?  O conceito de socialização em movimento

    Desde o início da Sociologia, lá no século XVIII, pesquisadores(as) desta área do conhecimento procuram entender como é fazer parte de um grupo social. Esta é uma das preocupações centrais da Sociologia, muito em virtude dos elementos que estruturam as explicações dela: indivíduo e sociedade. Cada intelectual que se dedique a refletir usando a Sociologia como base e orientação, deverá explicar como se dá a relação entre esses dois elementos que, ou estão em conflito, ou estão em harmonia, ou eles não existem de forma individual, ou eles não existem coletivamente, e diversas outras interpretações possíveis povoam as reflexões dos(as) sociólogos(as). Mas por que tocar neste assunto? Ora, dependendo da maneira que o pesquisador(as) entende a relação entre indivíduo e sociedade, diferente será a sua compreensão de como ocorrerá o processo de entrada de um na outra, ou vice-versa, a pressão que a sociedade incidirá sobre o indivíduo. Para mostrar essas diferentes vertentes, vamos fazer uma breve retomada do conceito de socialização.

    O que é socialização? Uma variedade…

    Como são muitos autores(as) possíveis, foram selecionados apenas aqueles(as) de uma corrente teórica cultural, funcionalista e interacionista – seguindo as explicações realizadas por Medeiro (2002) e Setton (2005).

    O primeiro desta lista é Émile Durkheim, o sociólogo conhecido por ser o “pai da sociologia” francesa. Durkheim (2011) busca compreender a socialização a partir da educação. Segundo ele, a educação constrói no ser humano um ser social, diferente do ser individual com o qual ele(a) nasceu. Para ele, a educação é um processo que tem como função criar em nós um certo conjunto de características físicas, intelectuais e morais (DURKHEIM, 2011) que possibilitem vivermos em sociedade. Nós só alcançaríamos o que temos de melhor se incorporássemos estas características impostas pela vida em sociedade.

    Max Weber (2002), outro autor clássico, só que alemão, também refletiu sobre esse processo de participar da vida em sociedade, contudo, a partir de outra perspectiva. Para ele, os indivíduos compartilham certos valores e sentidos e, por isso, partilham de uma vida em sociedade. A vida social pode ser de dois tipos: comunitária, quando há um predomínio de ações sociais tradicionais e afetivas; e societária, quando há ações sociais racionais, principalmente com relação a fins. A depender do tipo de grupo social em que o indivíduo está inserido, será realizada a sua socialização para partilhar os valores que ali são mais importantes. Um exemplo deste fenômeno foi o florescimento do capitalismo em países que assumiam a religião protestante, de vertente calvinista, como oficial. Este processo Max Weber (2004) explicou na sua famosa obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. Este desenvolvimento ocorreria, pois os valores protestantes incentivariam um tipo de trabalho que seria exigido pelo modo de produção capitalista.

    O que é socialização? Um contemporâneo…

    Avançando um pouco no tempo, temos o sociólogo Pierre Bourdieu (1975), também francês, que discutiu e pensou sobre o fenômeno do ingresso de um indivíduo na sociedade. O conceito-chave para ele é o de habitus que, em poucas palavras, pode ser entendida como a gramática social que um ser humano recebe da sua família, ou seja, são um conjunto de princípios explicativos, regras, padrões e modelos estéticos, éticos, morais, sociais, que um indivíduo adquire e assume como seu e pela participação em uma família específica. Segundo Bourdieu (1975), o habitus irá definir a nossa trajetória na sociedade, pois irá determinar do que gostamos, que forma pensamos, como participamos da vida em sociedade. Por fim, ele afirma que o habitus tem uma ligação direta com a classe social a que a família e o ser humano pertencem.

    Enfim, veja que temos três ideias diferentes acima mencionadas. Cada uma é importante para entender como nós aprendemos a participar da sociedade. Contudo, é interessante ainda aprender mais uma definição. Voltaremos na discussão realizada por Berger e Luckmann (1985).

    O que é socialização?  O conceito de socialização e seus usos

    Se você voltar no tópico que apresentamos o conceito de Berger e Luckmann (1985), vai lembrar que terminamos ele dizendo que a interiorização acontece através do processo de socialização. Segundo os autores, a socialização acontece em duas etapas: a) socialização primária, que é a introdução do indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou setor dela; b) socialização secundária, acontece quando um indivíduo já socializado que participa de outros setores do mundo objetivo dessa sociedade. Para ficar mais claro, iremos tratar de cada etapa separadamente.

    O que é socialização?  Comecemos com a socialização primária.

    Socialização primáriaTodos nós nascemos em uma estrutura social objetiva – que é a realidade, tudo o que nos rodeia. Nesta estrutura nós vamos conhecer aqueles outros significativos (outros indivíduos) que se encarregarão da nossa socialização. Ou seja: quando nascemos, já existe uma organização social específica e nossos pais serão os responsáveis por nos socializar. Nós não escolhemos os significativos – ou seja, não escolhemos os pais, e o que eles nos apresentam como definição de algo é a realidade objetiva que conhecemos, ou melhor, o mundo social objetivo. Nós não escolhemos nossos pais, e o que eles falam é o que acreditaremos ser o mundo – o único possível!

    O mundo social objetivo é, portanto, apresentado a partir de dois filtros: a) a classe social que os pais ocupam na sociedade; b) as particularidades que cada família tem. São estes 2 filtros que moldam/controlam nossa experiência nesse mundo social. Por exemplo: uma criança de classe baixa percebe o mundo por essa posição e de acordo com o modo que os pais dela lhe apresentou. Mas a socialização primária não é só um processo cognitivo, é também emocional. É neste processo que criamos a nossa personalidade.

    A personalidade é reflexo da tomada de atitude dos significativos (aqueles que apresentam o mundo) para com o indivíduo, e este se torna o que os outros fazem dele. Imagine uma família que não lê e quer que a criança seja leitora; ou uma família em que os pais torcem para um time em específico… há grande chance das crianças dessa família torcerem para o time dos pais. Forma-se assim uma identidade: identidade é absorver os papéis e atitudes dos outros significativos, como assumir o mundo deles. Você vive igual e com eles! Uma das características do mundo social apresentado na socialização primária, entendido como “mundo doméstico” é um “tudo está bem”, pois, este mundo é o único possível, não há divergências, não há escolhas, existe somente a palavra dos significativos, ou seja, os pais.

    O que é socialização?  Vamos agora investigar a socialização secundária.

    Socialização secundeariaSe a socialização primária é o processo de absorver o mundo, a secundária é a interiorização de submundos! Como assim? Agora que o indivíduo já faz parte da sociedade, desta estrutura social objetiva, ele começará a conhecer mais deste mundo social. Em sociedades complexas, existem muitos elementos que não foram apresentados pelos significativos primários, portanto, é necessário que o indivíduo participe de outros processos de socialização, com outros significativos, para conhecer mais deste mundo social.

    A socialização secundária é diferente da primária, pois desperta processos diferentes. A começar pela consciência que de o mundo que foi apresentado na socialização primária não é o único existente. Pode ocorrer uma crise, vergonha ou medo do conhecimento da amplitude do mundo social, muito maior do que aquela primeira apresentação. Para que o mundo da socialização secundária seja absorvido, por vezes, é necessário um grande choque para que o mundo da socialização primária seja destruído. Uma vez que a socialização primária soa como natural, a socialização secundária será artificial. Daí que se faz-se necessário um conjunto de técnicas pedagógicas para apresentar que o conhecimento e o submundo social apresentado também é: vívido, importante e interessante. Percebemos neste embate entre etapas da socialização que há uma distância entre: o eu total e sua realidade – criado pela socialização primária; o eu parcial e a realidade deste – criado pela socialização secundária.

    O que é socialização?  Exemplificando…

    Imagine a seguinte situação que pode ter acontecido com você: por algum motivo aleatório, você teve que mudar de escola. Aquela, na qual você tinha sido matriculado quando bebê ainda, e já estava avançando para o Ensino Médio, de repente, acabou para você. Agora, o seu Ensino Médio será em um ambiente totalmente novo, com pessoas novas, professores e professoras que você nunca viu. O que te espera são gírias, gostos, lugares, comportamentos, roupas, tudo novidade para você… e nada disso fazia parte do seu mundo social objetivo que tinha recebido daquela escola que você frequentou há tanto tempo. De uma hora para outra, um choque muito grande mostra que o mundo social objetivo pode ser muito mais amplo do que você poderia, sequer, imaginar! Dito em outras palavras, o que aconteceu aí foi um choque entre duas etapas da sua socialização: primária e secundária!

    Para além de um conflito, que acredito ter ficado claro no exemplo acima e nas definições anteriores, a socialização é um processo contínuo. Berger e Luckmann (1985) afirmam que a socialização primária ocorre, principalmente, na família, enquanto a secundária, em qualquer espaço posterior a este. Mas isso não é a palavra final. Como vimos, vários pensadores tentaram explicar como a socialização acontece e se desdobra. Inclusive, há alguns mais recentes, que escreveram em um contexto mais próximo do nosso. Se quiser investigar, busque por François Dubet (1996) e Bernard Lahire (2002), estes são novos caminhos na reflexão sobre este tão importante fenômeno social, que nos molda, nos constrói, nos direciona e nos acompanha ao longo da nossa vida humana!

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    Referências bibliográficas

    BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado da sociologia do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

    BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

    DUBET, François. A sociologia da experiência. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

    DURKHEIM, Émile. Educação e sociedade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

    LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

    MEDEIRO, Marília Salles Falci. A construção teórica dos conceitos de socialização e identidade. Revista de Ciências Sociais, v. 33, n. 1, p. 78 – 86, 2002.

    SETTON, Maria da Graça Jacintho. A particularidade do processo de socialização contemporâneo. Tempo social, v. 17, n. 2, p. 335-350, nov. 2005.

    WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

    WEBER, Max. Conceito básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 2002.

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    O que é socialização?  Dicas de leitura

    A ilha – Aldous Huxley. Este livro conta a história de uma jornalista que vai visitar uma ilha, chamada Pala, que tem um estilo de vida totalmente diferente do continente. O romance é interessante, pois ele conta com vários momentos de explicações de como a socialização acontece na sociedade de Pala.

    Harry Potter – J. K. Rowling. Para aqueles que não conhece essa série de 7 livros, é a história de um bruxo que foi escolhido, aos 11 anos, para estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Você irá encontrar em vários momentos dos livros o processo de socialização acontecendo.

    Punk Rock Jesus – Sean Murphy. Você já imaginou como seria a vida de Jesus se ele chegasse no mundo de hoje? Então, esta é uma HQ que tenta pensar neste fato impressionante. Não posso contar mais nenhum detalhe, contudo, a estória é sensacional e, além disso, uma aula de socialização também!

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    O que é socialização?  Dica de atividade pedagógica

    Vamos construir uma tabela para verificar a sua socialização. Para isso, pegue uma folha de papel e coloque, no topo dessa tabela, cada uma em sua coluna, as seguintes expressões: sei/gosto/faço; quem ou onde aprendi; socialização. Na coluna com a primeira expressão (sei/gosto/faço), você vai listar abaixo 5 músicas/bandas que você gosta; 5 comidas que você gosta; o time de futebol/basquete/vôlei e afins que você torce/ou não torce; 5 séries que você gosta – pode ser filme também. Feito isso, do lado de cada item que você escreveu, preencha a coluna do lado (quem ou onde aprendi) com a informação sobre com quem você aprendeu tal coisa, ou onde você aprendeu tal coisa. Por último, ao lado de cada item destes e na última coluna, preencha com SP (socialização primária) ou SC (socialização secundária). Feito isso, você terá uma pequena amostra de como aconteceu o seu processo de socialização.

     

    Notas

    * Mestre em Ciências Sociais; professor do IFPR; E-mail: [email protected]

     

     

  • Conceito de gênero: Texto, dica de leitura e atividade pedagógica.

    Conceito de gênero: Texto, dica de leitura e atividade pedagógica.

    Conceito de gênero na perspectiva da Sociologia

    Por Fabrício de Sousa Sampaio*

    Contextualizando

    GêneroNos tempos presentes, antes de nascermos, as pessoas buscam saber, através de exames médicos, não apenas nosso sexo biológico, mas também nosso gênero. Essa preocupação com a atribuição do gênero também é fundamental na maioria dos casos no que se refere às escolhas de filho (a)s durante o processo de adoção. Geralmente, as pessoas buscam adotar determinado menino ou menina, e não, um ser humano, independente de seu gênero. Nesta operação social, sexo e gênero são concebidos como marcas corporais importantes para que o bebê seja valorizado na sociedade. Depois da confirmação do sexo/gênero, alguns familiares ou responsáveis passam a elaborar planos e projeções sociais para este novo ser humano cujo nascimento se aproxima: determinadas formas de comportamentos, tipos de personalidades, futura profissão, tipos de relacionamentos amorosos e sexuais, por exemplo, são imaginados e selecionados para compor uma espécie de programação de gênero. Importante ressaltar que esta programação é construída a partir do contexto sociocultural em que estão inserido (a)s os pais e/ou as mães destes futuros habitantes da sociedade. Neste sentido, para iniciarmos a discussão sobre o conceito de gênero, precisaremos realizar os seguintes questionamentos: por que tanta preocupação social antecipada em definir o gênero do bebê? Este gênero realmente pode ser definido pelos órgãos genitais como descrevemos na situação hipotética que iniciou este texto? Qual a importância do nosso gênero na definição de quem somos e de como a sociedade e a cultura nos reconhece? Somente existem dois gêneros, o masculino e o feminino? Afinal, qual o conceito de gênero? Ou melhor, o que é identidade de gênero? Mas, antes de continuarmos a problematização sobre o gênero, explicitaremos a seguir suas principais conceituações no que se refere ao campo das Ciências Humanas e Sociais.

    Conceituando gênero

    GêneroDe forma ampliada, gênero se refere aos comportamentos, ações, pensamentos, emoções e desejos socialmente construídos a partir da diferença sexual. Ao longo das histórias das sociedades e das culturas humanas, a diferença entre os sexos funcionou como uma referência fundamental para a construção de um roteiro de gênero arbitrário para que todos os corpos humanos tivessem que assumir ao longo de suas existências sociais. O sexo biológico referendou e continua referendando um dos principais mecanismos de estruturação social: o gênero ou a identidade de gênero. A noção de gênero foi utilizada pela primeira vez, em 1955, pelo psicólogo infantil John Money como ferramenta clínica e de diagnóstico. Ele desenvolveria esta categoria como parte de um conjunto de técnicas cirúrgicas e utilização de hormônios que objetivavam modificar o corpo de bebês intersexos, preconceituosamente chamados de hermafroditas, em um passado recente. É importante destacar que o bebê é considerado intersexo se a medicina não conseguir enquadrá-lo como estritamente masculino ou feminino, quando seus órgãos genitais ou cromossomos forem analisados. Money usou a palavra gênero no sentido de uma identidade que pudesse ser conformada ao corpo humano essencialmente a partir de hormônios e técnicas pedagógicas (PRECIADO, 2018, p. 109-110). Em síntese, Money buscou dar um caráter científico a sua tentativa de acoplar identidade social ao sexo biológico.

    Mariza Correa (2004) enfatiza que John Money e o psicanalista Robert Stoller, receberam os créditos da literatura médica e de gênero por terem sido os primeiros a discutirem sobre identidade de gênero. Estes médicos estavam convencidos de que a identidade do ser humano era constituída fundamentalmente pela coincidência entre sexo e gênero. John Money, ao fazer uma leitura prejudicial da célebre frase de Simone de Beauvoir – “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” – tentou acertar a biologia com as convenções sociais de gênero (CORREA, 2004).

    O que podemos retirar destas afirmações anteriores é a ideia de que a categoria gênero, acionada primeiramente pelo discurso médico para diferenciar sexo biológico e identificação, já possuía o caráter de construção social, ou seja, a identidade de gênero estava ligada aos comportamentos sociais convencionalmente definidos em certa época histórica por determinada cultura em relação ao sexo biológico de cada ser humano.

    O conceito em movimento

    Este contexto inicial de surgimento do conceito de gênero é marcado pela matriz teórica dos estudos de gênero denominada de essencialista. De acordo com esta matriz, os gêneros – masculino e feminino – são naturalmente determinados pela biologia dos corpos. A genitália seria o definidor absoluto de nossas maneiras de perceber, comportar-se, sentir e desejar (PELÚCIO, 2014, p.99). No interior desta perspectiva, existem apenas dois gêneros opostos que são representados por duas formas biológicas distintas de corpos, representadas por duas formas opostas de genitálias: o macho e a fêmea, ou o homem e a mulher. Todo corpo que se distancie destes gêneros e de suas genitálias opostas precisariam ser ajustados ou readaptados. Essa maneira de entender os gêneros como opostos e naturais foi nomeada pela literatura especializada de binarismo de gênero.

    Em contrapartida, a matriz teórica construtivista considera os gêneros como efeitos das relações sociais historicamente determinadas. Ser homem ou ser mulher (que é questão de gênero) não é definido pelos órgãos genitais correspondentes, e sim, arbitrariamente, pela sociedade em um dado momento histórico. As formas de viver, pensar e sentir próprias e exigidas para cada identidade de gênero são definidas pela sociedade. Assim, esta compreensão de que nossa identidade de gênero é uma marca social sobre nossos corpos também necessitará de pensarmos quem elabora esta identidade e para qual finalidade política. Em síntese, por que a sociedade define o gênero como determinado pelo sexo? E por que a diversidade precisa ser silenciada, violada ou adaptada aos dois padrões de gênero opostos? Por que o masculino é o gênero superior e o feminino é sempre objeto de inferiorização, opressão e violência? Gênero, então, para além da dimensão social, precisa ser entendido em sua dimensão política e por isso deve ser relacionado a outras marcas de diferenciação social, tais como a raça/etnia, classe social, pertencimento de geração e outras (PELÚCIO, 2014, p. 99-100). Esses questionamentos exemplificam as desnaturalizações que os estudos de gênero no campo das Ciências Sociais e Humanas vêm realizando e oferecendo respostas desde o momento em que o conceito de gênero foi incorporado por esse campo tendo como principais protagonistas, os movimentos feministas. A tentativa de responder estas questões enunciadas no final do parágrafo anterior também é de crucial importância para entendermos a desigualdade de gênero e a Lgbtfobia, por exemplo.

    conceito de gêneroDe forma geral, no campo das Ciências Humanas e Sociais, o conceito de gênero foi incorporado para destacar o caráter social das diferenças sexuais: ser homem ou mulher não depende do sexo biológico, é uma fabricação ou um aprendizado que ocorre em contextos culturais (LOURO, 2011, p. 63). Através do conceito de gênero, estes campos do conhecimento objetivam se afastar de proposições essencialistas e se dirigir para a perspectiva da construção social acentuando, desta maneira, a diversidade dos projetos e das representações sociais sobre mulheres e homens. A transposição do termo gênero do contexto anglo-saxão para outros contextos culturais sofreu processos de disputa, ressignificação e apropriação. No Brasil, este conceito chega ao final dos anos 80 (LOURO, 2013, p.23). E com o objetivo de explicitar as principais conceituações sobre a identidade de gênero, acionamos uma breve descrição histórica elaborada pela socióloga Berenice Bento.

     

    Três tendências…

    Berenice Bento (2006) sugere, a partir de uma incursão histórico-teórica, três tendências explicativas dos processos de constituição das identidades de gênero. Na primeira tendência, denominada de universal em sua descrição, Bento destaca como representante típico Simone de Beauvoir, fundamentalmente em sua obra O segundo sexo. Nesta tendência, embora que aponte para a construtividade social do gênero e identifique os interesses políticos no posicionamento da mulher como ser humano inferior, há um reforço da essencialização dos gêneros ao cristalizar a identidade em posições fixas. O gênero daria forma e significado ao corpo-sexo – matéria fixa – gerando assim uma identidade essencializada (BENTO, 2006, p.70- 1). Esta tendência não questiona o essencialismo, ou seja, a identidade de gênero continuaria sendo resultado social do sexo biológico.

    A segunda tendência foi denominada pela socióloga de perspectiva relacional cujo trabalho de Joan Scott (1995) foi fundamental. Para essa autora, que utilizará das análises do filósofo Michel Foucault a respeito do poder e do processo de desconstrução apresentado pelo filósofo Jacques Derrida, o gênero é um “elemento constitutivo das relações sociais nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de dar significados às relações de poder” (BENTO, 2006, p.76). Nesta tendência, o gênero é construído no interior de relações sociais de poder que se estabelecem tendo como pressuposto as diferenças sexuais. A mulher seria inferior porque representaria um gênero frágil e o homem deveria assumir o controle e a tutela sobre todas as mulheres porque representaria o gênero forte ou mais poderoso. O gênero passa a ser a justificativa para construir relações de poder na sociedade localizando o masculino como polo superior. Berenice Bento (2006), na sua crítica a esta perspectiva, ressalta que, ao se cristalizar o conceito de gênero no referente binário – homem ou mulher – há um reforço dessa mesma estrutura binária e, desta forma, do discurso das diferenças sexuais. Assim, a distinção entre sexo masculino e sexo feminino, funcionaria como uma base indiscutível sobre a identidade de gênero, uma espécie de pré-discursivo [aquilo que existiria antes da linguagem, ou dos discursos, sobre o qual construiríamos denominações ou nomeações para representar a existência daquilo que estamos nos referindo]. Neste caso, sexo existira antes mesmo da cultura nomeá-lo e, por isso, seria uma base indiscutível para determinar a identidade oposicional do gênero. Berenice Bento enfatiza que, nestas duas perspectivas – universal e relacional – o gênero, a sexualidade e a subjetividade não foram considerados fora do binarismo de gênero. Neste sentido, a autora enfatiza os estudos queer[1] que revelariam o “heterossexismo” das teorias feministas e destacariam as fissuras nas normas de gênero feitas pelas performances (BENTO, 2006, p.78). Em outras palavras, as teorias queer destacarão de que maneira as perspectivas de gênero não problematizariam a diversidade de gênero e de sexualidade. Além disso, em muitas perspectivas de gênero, a heterossexualidade seria considerada como a única sexualidade possível e normal e, neste contexto, os mecanismos sociais que aterrorizariam as pessoas a serem obrigatoriamente heterossexuais [o heteroterrorismo] não eram criticados. Berenice Bento denominou assim a terceira perspectiva sobre a explicitação da constituição da identidade de gênero de plural, tendo como principal referência teórica o livro Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade, da filósofa Judith Butler.

    Atualmente, a perspectiva de gênero de Judith Butler é considerada de fundamental importância para entendermos as razões pelos quais existe o binarismo de gênero e de que maneira este binarismo é utilizado socialmente como justificativa para sustentar a violência contra a diversidade de gênero e sexual.

    Gênero, sexo e inscrição cultural

    O gênero não é uma inscrição cultural sobre um sexo que naturalmente existe nos corpos. Ele não é uma substância e nem uma identidade preexistente que os sujeitos põem em circulação ou apenas passam a executar como consequência dos seus hormônios ou da especificidade de sua genitália. Gênero ou a identidade de gênero é um feito ou um conjunto de atos repetidos regulados por uma relação binária a serviço da “heterossexualidade compulsória”. O gênero é fabricado todos os dias pelas pessoas através de atos repetitivos que servem para ocultar o caráter normativo das normas e para construir a ilusão de que gênero está embutido no sexo biológico (BUTLER, 2010). Vale ressaltar que a “heterossexualidade compulsória” é um conceito que surge por volta de 1980 com Adrienne Rich em seu artigo Heterossexualidade compulsória e a existência lésbica para se referir à heterossexualidade como uma “única forma considerada normal de vivência da sexualidade” (COLLING, 2015, p.24). Judith Butler trabalha com um conceito de “gêneros inteligíveis”. Estes gêneros sustentariam uma continuidade e uma coerência entre sexo, gênero, prática sexual e desejo. Neste esquema hegemônico, o sexo exigiria um gênero que, por sua vez, exigiria um desejo em um contexto de heterossexualidade estável e oposicional (BUTLER, 2013). Em outras palavras, o homem padrão “verdadeiro” possuiria os devidos órgãos masculinos, representados fundamentalmente pelo pênis e naturalmente seria heterossexual, desejando e mantendo relações sexuais com mulheres. Em oposição, a mulher padrão “verdadeira” possuiria os respectivos órgãos femininos, representados principalmente pela vagina e naturalmente seria heterossexual, desejando e exercendo relações sexuais com homens. Neste esquema social de “gênero inteligível” tanto o binarismo de gênero quanto a heterossexualidade como norma hegemônica são mantidas performaticamente pelos corpos humanos. E, qualquer pessoa que subverta este esquema será considerada doente, impura, incrédula, sub-humana ou até mesmo uma ameaça para a ordem e o futuro da sociedade. Sendo consideradas como ameaças ou não humanas, estas pessoas diferentes precisam ser eliminadas e esta eliminação poderá ser considerada como uma defesa social da moral e dos bons costumes, por exemplo. Estas reflexões talvez nos ajudem a compreender por que o Brasil é um dos países do mundo que mais mata a população LGBTQIA+[2].

    LGBT violência

    O conceito de gênero e seus usos.

    Como salientamos anteriormente, gênero é um conceito que desde a sua origem demonstra que os comportamentos, pensamentos, emoções e desejos das pessoas são construídos por determinada sociedade partindo da diferença sexual para organizar, controlar e legitimar normas historicamente definidas. As pessoas e os grupos sociais que falam de uma “ideologia de gênero” objetivam desqualificar o caráter científico do gênero e, para tanto, colam o adjetivo ideologia no termo gênero para gerar a seguinte confusão nas pessoas que ainda não conhecem as perspectivas de gênero: em última instância, eles ou elas querem incutir a falácia de que todas as conceituações de gênero, fundamentalmente a perspectiva plural, não passam de ideias destrutivas dos “inimigos” da família tradicional, da ordem heterossexual e dos bons costumes. Em outras palavras, esta retórica reacionária busca inviabilizar e desqualificar todas as outras perspectivas de gênero que, inclusive, desocultaram o caráter performativo da identidade de gênero e desconstruíram o lugar privilegiado e natural que a heterossexualidade tinha há muito tempo.

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    Referências bibliográficas

    BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de janeiro: Garamond, 2006.

    BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    _____________. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p. 151-172, 2013.

    CORREA, Mariza. Não se nasce homem. Encontros Arrábida. Trabalho apresentado no Encontro “Masculinidades/Feminilidades”. Portugal, 2004. Disponível em: http://www.clam.org.br/bibliotecadigital/uploads/publicacoes/942_926_naosenascehomem.pdf. Acesso em 05 jul. 2020.

    COLLING, Leandro. O que perdemos com os preconceitos. In: Revista cult: dossiê- ditadura heteronormativa, São Paulo-SP, Editora Briantine, n.202, ano 18, p.22-25, junho/2015.

    LOURO, Guacira Lopes. Educação e docência: diversidade, gênero e sexualidade. Form. Doc., Belo Horizonte, v. 03, n. 04, p. 62-70, jan./jul. 2011. Disponível em http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br . Acesso em 22 mai. 2016.

    _________________. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev. Estud. Fem. , Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2001000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 06 de julho de 2020. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200012 .

    PRECIADO, Paul Beatriz. Testo Yonqui: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: n-1 edições, 2018.

    PELÚCIO, Larissa. Desfazendo gênero. In: MISKOLCI, Richard; JÚNIOR, Jorge Leite (orgs.). Diferenças na educação: outros aprendizados. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

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    Dicas de leitura

    BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    BEAUVOIR, Simone. O segundo Sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

    BODART, Cristiano das Neves; ALVES, Carlos Jordan Lapa. As mulheres no mundo dos homens: análise de uma biografada. Enfoque, v.15, p. 7-22. dez. 2016.

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    Dica de atividade pedagógica

    Oficina: Sexo x Identidade de Gênero

    Tempo aproximado: 120 minutos

    Divida a sala de aula em duplas, de maneira aleatória, com a preocupação de não formar duplas compostas apenas dos gêneros opostos, masculino e feminino. O (a)s participantes devem ficam em dois círculos concêntricos onde ambos componentes das duplas se posicionem frente a frente em uma distância mais ou menos de um metro. A distância entre as duplas pode seguir também essa medida, mas dependerá do tamanho da sala e da quantidade de participantes. Aos estudantes do círculo de dentro, solicite que observem seu/sua parceiro (a) e identifiquem o sexo e o gênero dele ou dela. No tocante ao gênero, solicite que descrevam-no (a) a partir de características ou marcas que consideram determinantes para a identidade de gênero que ele(a)s observam. Concomitantemente, o educador divide a lousa em duas colunas, uma com o título de sexo e a outra com o título de identidade de gênero e vai inserindo as respostas de cada dupla. Em seguida, aquele estudante que foi marcado com sexo e gênero de seu/sua parceiro (a) de dupla, fará também a marcação de seu/sua parceiro(a). O educador continua inserindo as respostas na lousa. Vale destacar que, durante a marcação do sexo e do gênero, nem o(a) estudante que está recebendo a marcação e nem aquele(a)s outros estudantes observadore (a)s podem questionar as marcações realizadas. Tempo aproximado desta etapa: 20 minutos. Quando todas as marcações de todos e todas tiverem sido finalizadas, as duplas se desfazem, bem como os círculos e os estudantes devem retornar às suas carteiras ou se preferível, sentarem em uma grande roda de conversa.

    Para iniciar a discussão, alguns questionamentos podem ser realizados: destas definições coletadas por seus discursos, quais podemos destacar concernentes ao que aprendemos sobre o que é sexo e o que é gênero? O debate pode se realizar por um tempo aproximado de 10 minutos. O objetivo deste primeiro momento é avaliar a aprendizagem acerca dos conceitos ensinados e se possível analisar os deslizes ideológicos e religiosos que impediram a aceitação do conceito científico de gênero. O segundo comando para a discussão pode ser as seguintes perguntas: todos concordaram com o sexo que lhe foi atribuído? Tiveram alguma dificuldade? Quem concordou ou discordou com a identidade de gênero que lhe foi conferida e por quê? A sugestão é ouvir cada intervenção em um período de 20 minutos e utilizar uma espécie de bastão da palavra para que cada estudante tenha seu tempo de fala respeitado pelo(a)s demais. Depois que ouvirmos as considerações do(a)s estudantes, poderemos refletir sobre cada enunciado tanto no sentido de classificarmos nas perspectivas essencialistas, construtivistas ou desconstrutivistas de gênero quanto no sentido de problematizar a construção da identidade de gênero e como a interpretação desta construção pode justificar ou não o controle e a eliminação de corpos diferentes. Neste espaço, ou em outro momento formativo, poderemos aproveitar para consolidar a conceituação de gênero e suas perspectivas, bem como ressaltarmos que, a conscientização crítica acerca deste conceito, permite a subversão das normas sociais excludentes que limitam a existência generificada dos seres humanos em uma tentativa de construir uma sociedade que reconheça e valorize as diversidades de gênero.

    Tempo aproximado: 20 a 30 minutos.

     

    Notas

    * Doutor em Ciências Sociais; Instituto Federal do Maranhão- IFMA/Campus Araioses; E-mail: [email protected].

    [1] O termo queer significa estranho, talvez ridículo, raro, excêntrico ou extraordinário. Geralmente, o(a)s teórico(a)s queer problematizam as noções clássicas do sujeito, identidade, agência e identificação. Eles/elas criticam a oposição binária hetero/homossexual presente nos discursos a serviço da heterossexualidade obrigatória e engendra uma perspectiva desconstrutivista – um desfazer dos binarismos tais como homem e mulher (LOURO, 2001).

    [2] Sigla atualmente disseminada pelos movimentos sociais e ativistas na luta pela diversidade de gênero e de orientação sexual que significa na ordem que aparecem: Lésbicas; Gays; Bissexuais; T- transgêneros, transexuais e travestis; Queer; Intersexo; Assexual; e o sinal + representa todas as possibilidades de identidade de gênero e de orientação sexual que existem.

     

     

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  • O que é ideologia?

    O que é ideologia?

    O que é ideologia?

    Por Walace Ferreira* e Stella de Sousa Martins**

    Contextualizando

    Ideologia

    Outras indagações…

    Captura de Tela 2020 07 27 às 10.39.09

    Muitas questões, certo… então, vamos lá!

    Conceituando

    A resposta por trás das reflexões acima é que, em sociedade, somos guiados o tempo todo por uma série de ideologias. Bom, o que, então, seria uma ideologia, essa bandeira abstrata que seguimos sem nem sabermos ao certo o que é?

    ideologia como bandeira

    Segundo a filósofa Marilena Chauí, ideologia é:

    “[…] um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo, de representações e práticas (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador” (1980, p.113).

    Nesse sentido, ideologia tem a ver com um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações em sociedade. O fato é que os homens costumeiramente procuram representações em torno das quais procuram explicar e compreender sua própria vida individual, social, suas relações com a natureza e com o sobrenatural.

    As ideologias geralmente são criadas no ambiente político, em que as decisões e ações precisam ser sustentadas por argumentos fortes e consistentes; e na vida econômica, já que vivemos no capitalismo, sistema que valoriza a economia em última instância. Mas não são apenas políticos e membros da classe econômica dominante (burguesia) que criam as ideologias. Como este conceito se refere a elaborações explicativas sobre a realidade, podem ser criadas também por pensadores e intelectuais da sociedade, como sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas, dentre outros.

    É impossível pensar as relações sociais sem esse direcionamento abstrato chamado ideologia. Todo grupo envolve-se com alguma ou algumas, como representação (ões) daquilo que se faz e que será seguido. Mas a aceitação delas não ocorre de forma igualitária por todos os indivíduos, haja vista as sociedades estarem em constante transformação. As ideologias podem ser aceitas, e normalmente o são pela maioria das pessoas que compõem um grupo, ou podem ser rejeitadas, de modo que novas ideologias podem ser criadas.

    Isso fica claro na famosa música de Cazuza, “Ideologia”, lançada em 1988. O contexto era de um país recém-saído da ditadura militar (que acabou em 1985) e que, apesar do retorno à democracia e às liberdades civis, vivia uma séria crise econômica agravada pela concentração de renda, pobreza extrema, fome, hiperinflação e fortes vestígios de autoritarismo. Na canção, Cazuza diz “Ideologia! Eu quero uma para viver”, numa indicação crítica ao contexto do país. O clássico de Cazuza, portanto, questionava ideologias como “capitalismo”, “autoritarismo”, “conservadorismo”, “moralismo”, “religiões”, insistindo na reflexão e na esperança de novos tempos.

    Seguindo essa perspectiva, dizemos que as ideologias podem ser conflituosas ou não, no que dependerá do teor dos seus princípios e do contexto social em que elas se encontrarem. Geralmente, as ideologias religiosas são muito conflituosas, pois cada crença acredita ser a “dona da verdade” com os seus dogmas, negando o que as outras doutrinas pregam. No Brasil, chamamos atenção para ações de intolerância contra membros de religiões de matriz africana, bem como em relação a seus templos. Infelizmente parte desses gestos decorre de visões equivocadas e distorcidas sobre a Umbanda e o Candomblé apregoadas por outras vertentes religiosas.

    O conceito de Ideologia em movimento

    O conceito foi inventado pelo filósofo francês chamado Destutt de Tracy, no livro “Elementos da Ideologia” (1801). No entanto, ganhou diferentes abordagens com o passar tempo.

    Na Sociologia, os pensadores que utilizam o termo sob uma concepção crítica defendem que a ideologia é um instrumento de dominação que age por meio do convencimento (persuasão), alienando a consciência humana. O alemão Karl Marx (1818-1883), junto de Friedrich Engels (1820-1895), foi quem trabalhou o conceito da maneira mais importante em uma série de manuscritos de 1846 que foi intitulado de “A ideologia alemã”.

    Segundo a visão de Marx, a ideologia está associada aos seguintes processos:

    1. I) Ocultar e dissimular as divisões sociais, políticas e econômicas de uma sociedade, fazendo parecer natural uma divisão construída socialmente. Levam-nos a crer, por exemplo, que somos todos iguais porque participamos da percepção de “humanidade” ou da ideia de “nação”, mas na realidade a distribuição de riqueza material e de poder político-social é desigual. Somos levados a crer que as desigualdades são decorrentes das diferenças individuais, das capacidades, da inteligência, da força de vontade, quando, na verdade, as desigualdades são resultantes de uma estrutura capitalista individualista, separada por classes sociais desiguais e perpetuada ao longo da história moderna.
    2. II) Gerar ilusões a respeito do consumo. Pensamos em produtos de marcas famosas ou vamos aos shoppings justifys porque nos ligamos a valores de luxo e fama, confirmados pela moda e pelo marketing. Chegamos a pensar ser impossível a vida sem smartphones, smarts tvs, internet e outras tecnologias recentes sem percebermos que estão ligados ao ciclo de reinvenção produtiva capitalista, que conta, ainda, com a obsolescência programada. Essa é a ideologia do consumismo, que descarta a sustentabilidade da natureza e a capacidade de ambientação do ser humano frente a tantas inovações, mas sem o qual o capitalismo não se sustenta.
    3. III) Ocasionar na falsa consciência, ou seja, as ideologias geram uma visão da sociedade incompleta e acrítica. Significa que temos uma falsa consciência da realidade, vendo-a de forma incompleta conforme a ideologia que seguimos. Achamos que a sociedade se restringe àquilo que curtimos, reduzindo-se a nossa bolha, quando na verdade ela é muito mais abrangente. Exemplo claro acontece quando defendemos nossa posição política negando quase integralmente o que vem de outras correntes político-partidárias.

    Para Marx a sociedade se divide em duas esferas conectadas por uma dinâmica dialética: infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura é a esfera da produção material responsável pela produção dos bens que satisfazem as necessidades materiais dos indivíduos, ou seja, é a economia de uma sociedade. Por outro lado, a superestrutura representa o conjunto de ideias, das leis, das religiões, a moral e das organizações políticas e jurídicas, correspondendo ao espaço em que se encontram as ideologias de uma sociedade. A superestrutura consiste num universo simbólico que garante a manutenção de uma ordem econômica e social controlada pelas classes dominantes. A pirâmide a seguir ajuda-nos a entender essa relação:

    marx superestrutura e infraestrutura

    Do conceito de ideologia, segundo Marx, resulta o conceito de alienação, na medida em que leva as pessoas à falsa percepção de que as formas de dominação são naturais. No caso do trabalho, a título de exemplo, o pensador alemão entende que, ao invés de realizar o homem, o trabalho teria o papel de exploração e não de humanização. Aqui encontra-se a alienação, concepção que leva o indivíduo a ser explorado sem perceber. Em Marx, portanto, vivemos alienados ao mundo que estamos inseridos, pois somos levados a agir não conforme a “essência” humana, mas por uma “aparência” que é construída pelo contexto histórico-econômico. Na atualidade, o capitalismo é uma ideologia presente na infraestrutura da sociedade moderna, relacionando-se a todas as ideologias que estão na superestrutura (consumismo, moda, valorização da propriedade privada, ideia de humanização pelo trabalho, etc). Estas, por sua vez, dão sentido às relações de produção estabelecidas pelos indivíduos na base material da sociedade.

    Portanto, se Marx respondesse aquelas questões colocadas no início do texto, ele diria que todas as nossas certezas são o resultado do estado de alienação em que nos encontramos em relação ao capitalismo e à modernidade.

    Outros pensadores também abordaram o conceito de ideologia, seguindo e readaptando as ideias de Marx. É o caso do filósofo e político italiano Antonio Gramsci (1891-1937), para quem ideologia consiste numa visão de mundo produzida pelas diferentes classes sociais que se materializam nas práticas sociais, ao mesmo tempo em que são influenciadas por elas, formando um sistema de valores culturais. Como Gramsci observava nas ideologias expressões de classes sociais vinculadas às práticas culturais, ele conclui que as classes dominantes tentam expandir suas visões de mundo para as classes dominadas, influenciando-as de modo a criar uma situação de hegemonia. Entretanto, as classes dominadas não necessariamente ficariam presas a um papel passivo nesse processo, podendo desenvolver uma visão própria de mundo, com novas ideologias, numa ação de contra-hegemonia (SILVA et al, 2016).

    Por fim, partindo de uma concepção marxista de ideologia, mas não se limitando a ela, o sociólogo Karl Mannheim (1893-1947), no livro “Ideologia e utopia” (1929), apresentou uma distinção entre ideologia e utopia. Ideologia seria um conjunto de concepções, ideias e teorias que orientam os indivíduos para estabilizar, legitimar ou reproduzir a ordem das relações sociais. Utopia, por outro lado, consistiria em concepções e teorias que visam a construção de outra realidade social, geralmente sendo pensadas pelas classes oprimidas. Assim sendo, as ideologias seriam conservadoras, pois expressam as posições das classes dominantes defensoras da ordem estabelecida (OLIVEIRA; COSTA, 2016).

    O conceito de Ideologia e seus usos

    No século XX, expressivas ideologias se destacaram, tais como as citadas abaixo:

    Ideologia nazista: Surgida na Alemanha e disseminada por Adolf Hitler, principalmente, nas décadas de 1930 e 1940. Caracterizava-se por um caráter autoritário, expansionista e militarista, defendendo que a raça ariana era superior às demais, e que os judeus deviam ser exterminados. Hoje em dia, infelizmente, ainda existem grupos de ideologia neonazista com ideias extremistas de cunho racial.

    – Ideologia comunista: É defendida por Marx na obra “Manifesto Comunista” (1848) e depois por outros pensadores e políticos. Tinha como pressupostos a abolição da propriedade privada, a extinção das classes sociais, o fim das religiões, a comunização dos meios de produção e, numa etapa avançada, seria marcada pelo fim do Estado. Embora a China seja governada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) desde 1949 e se diga que a União Soviética (1922-1991) foi comunista/socialista, o projeto comunista original nunca ocorreu na prática. Vale frisar que, teoricamente, o socialismo consistiria na etapa de passagem para o comunismo, possuindo algumas diferenças como o controle da economia pelo Estado e o esforço de socialização dos meios de produção.

    – Ideologia democrática: Surgiu, ainda que de forma restritiva, na Grécia Antiga (séc. V a.C), tendo como ideário a participação dos cidadãos na vida política. Na modernidade, é marcada pela democracia participativa, na qual elegemos nossos representantes por meio do voto, pela liberdade de expressão e por amplos direitos universais. É o sistema político da maior parte dos países atuais.

    – Ideologia capitalista: Em seu modelo comercial desenvolveu-se na Europa durante o Renascimento Comercial e Urbano (séc. XV). No século XVIII é desenvolvida em sua vertente industrial graças à Revolução Industrial Inglesa. Para chegar ao formato que conhecemos hoje, ainda foi acrescido do chamado capitalismo financeiro em fins do século XIX. Ligada ao desenvolvimento da burguesia, visa o lucro e a acumulação de riquezas, ao mesmo tempo em que tem gerado concentração de renda e desigualdades sociais.

    – Ideologia nacionalista: Exaltação e valorização da cultura do próprio país, valendo-se de símbolos nacionais (bandeira, hino, idioma, etc) que estabelecem elos de pertencimento entre os indivíduos desta nação.

    – Ideologias religiosas: Toda religião pode ser considerada uma ideologia, na medida em que traz consigo uma doutrina que deve ser seguida pelos seus membros. Destacam-se as ideologias cristã, judaica, islâmica, budista, hindu, animista e as de matriz africana.

    A seguir ilustrações dessas ideologias:

    símbolos de democracia

     

     

    Referências bibliográficas

    BOMENY, Helena; MEDEIROS. Bianca Freire; EMERIQUE, Raquel Emerique; O’DONNELL, Julia. Tempos Modernos, tempos de sociologia. 2.ed. São Paulo: Ed. do Brasil, 2013.

    CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980. (Coleção Primeiros Passos).

    GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 7.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.

    MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.

    MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

    MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martin Claret, 2002.

    OLIVEIRA, Luiz Fernando de.; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. 4.ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016.

    SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2016.

    TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

    Dicas de leitura

    ATWOOD, Margareth. O conto da aia. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.

    BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 17.ed. São Paulo: Ática, [s.d.]. (Série Bom Livro).

    CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.

    NICCOL, Andrew. O show de Truman: O Show da vida. São Paulo: Editora Manole, 1994.

    ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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    Dica de atividade pedagógica:

    A atividade sugerida deve ser desenvolvida em 3 etapas:

    1) Vejam o filme “A Onda” (2008), produção alemã dirigida por Dennis Gansel, que aborda o funcionamento da Alemanha nazista a partir da construção de uma ideologia autoritária e indaga se seria possível a reprodução de um modelo de poder autocrático nos dias atuais. O filme pode ser passado pelo (a) professor (a) em sala de aula ou recomendado que os (as) alunos (as) o assistam em casa;

    2) Formem grupos e estabeleçam a correlação entre o que foi estudado sobre “Ideologia” e o conteúdo do filme, com cada grupo escolhendo uma das seguintes questões:

    2.1. Como se desenvolve ideologicamente uma corrente autoritária?

    2.2. É possível as massas do século XXI deixarem-se convencer por uma ideologia autocrática? Se sim, como?

    2.3. Que relações podem ser encontradas entre os discursos autocráticos mostrados no filme e o crescimento do populismo de extrema-direita dos últimos anos em vários lugares do mundo, especialmente no Brasil?

    3) Cada grupo deverá apresentar, em sala de aula, suas conclusões em formato de seminário, seguido de um debate que estabeleça reflexões sobre o assunto estudado.

     

     

     

     

    Como citar este material:

    FERREIRA, Walace; MARTINS, Stella de Sousa. O que é ideologia? Blog Café com Sociologia. jul. 2020.

     

     

    * Doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ; Professor adjunto de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected].

    ** Graduanda em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected].

     

    Veja também:

    A formação de professores e as disputas ideológicas em manuais escolares de Sociologia da Educação (1930-1950).

  • Utopia: o que significa e o que representa essa palavra?

    Utopia: o que significa e o que representa essa palavra?

    Utopia é uma palavra grega formada pelos termos “U”+”topos”, cujo significado de “u” remete à ideia de negação, enquanto a palavra “topos” remete a ideia de lugar. A mescla desses termos remete à ideia de um lugar que não existe, idealizado, com vistas à ser construído no futuro.  É um termo comumente usado para descrever uma realidade idealizada a que se busca alcançar, porém não se sabe ao certo quais serão os resultados alcançados.

    Por Roniel Sampaio Silva

    O termo foi criado pelo humanista renascentista inglês Thomas Moore em um livro escrito em latim em 1516 o qual levou no título o termo inventado pelo escritor. Nesta obra de filosofia política, o autor faz críticas à estrutura social inglesa que pauperizada a população em favor de uma minoria que gozava de bens, status e posses. Neste sentido, Moore teorizou por meio de sua literatura uma outra sociedade:

    Thomas Morus, depois de ter na “Utopia” feito uma sátira a todas as instituições da época, edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.  (Morus,2006, p.3 )

    Moore ou Morus (nome latinizado) é o fundador do que se conhece como socialismo utópico que foi a base de pensamento para a luta por ideias mais progressistas de sociedade, influenciou diversos pensadores e imortalizou no seu termo o desejo humano de se criar uma sociedade mais livre, justa e igualitária.

     

    MORE, Thomas. Utopia In: NASCIMENTO, Aires. (trad.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006. Disponível em < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000070.pdf>

     

    Utopia por Eduardo Galeano

    O vídeo que se segue é rico em poesia, em sonho, em ideal…. em vida. Alguns chamam isso de utópico. Prefiro chamar de “força promotora de felicidade”.

    “Para que serve a utopia? Para caminharmos!” – Eduardo Galeano

    Utopia por Silvio Tendler

    Era das Utopias’ é uma minissérie de seis episódios divididos em três temas: ‘Utopia Socialista’, ‘Utopia Capitalista’ e ‘Novas Utopias’.
    ‘Qual sua utopia?’ é a pergunta que vai guiar a nova minissérie da TV Brasil, dirigida pelo cineasta Silvio Tendler.

  • Plataformas educacionais: ferramentas para gerenciar turmas em aulas remotas

    Plataformas educacionais: ferramentas para gerenciar turmas em aulas remotas

    Plataformas educacionais: cinco opções

    Por Roniel Sampaio Silva

     

    Preparamos esse post com algumas das principais plataformas educacionais que podem ajudar professores a organizarem melhor as atividades didáticas de forma remota ou até, em alguns casos, auxiliar em aulas presenciais. Trouxemos detalhes gerais que podem te ajudar a definir qual a plataforma ideal para você trabalhar com seus alunos, a partir da sua realidade e necessidade.

    • Edmodo

    Esta ferramenta está muito mais próxima de uma rede social do que de uma AVA (Ambiente virtual de aprendizagem). O Edmodo tem uma aparência limpa e que lembra uma das mais conhecidas redes sociais, o facebook.

    Com ela é possível configurar turmas e salas de aula rapidamente e de forma intuitiva. Assim como o Google sala de aula, para acrescentar os alunos nas turmas basta compartilhar um link ou um código de acesso.

    No Edmodo é possível enviar mensagens aos pais e também aos estudantes, além de ser possível criar pequenos sub-grupos dentro das turmas, a fim de direcionar para objetivos de trabalho em equipe seccionado.

    Link da plataforma

    • ClassDojo

    Este aplicativo faz da sala de aula uma comunidade online. Ele tem seu próprio sistema de troca de mensagens segura com pais e responsáveis. É um aplicativo voltado interação não apenas com estudantes, mas também com os pais que podem receber atualizações, informes vídeos e fotos, tudo a partir do celular.

    Criada a turma com o aplicativo, o professor poderá a usar a ferramenta toolkit. Com ela é possível ter acesso a um gerenciador de grupos, medidores de ruídos, ou player de música. Você pode exibir perguntas dos estudantes ou adicionar orientações e atividades para os estudantes. Tudo isso gerenciado de forma centralizada pelo docente que gerancia atividades e planejamentos que podem ser individualizados.

    Link da plataforma

    • Google Classroom (Google Sala de Aula)

    O Google sala de aula é uma das ferramentas mais utilizadas ultimamente, possui uma aparência limpa e intuitiva, tem muitas semelhanças com o Edmodo, embora não tenha o aspecto de rede social. O Google Sala de aula tem como carro chefe os recursos do próprio Google, como Google formulários para criação de avaliações e questionários; Google docs para escrita colaborativa e em grupo; além de ser possível compartilhar documentos entre professores e estudantes por meio do Google drive.

    É possível criar e gerenciar turmas por meio de links e códigos de acesso, assim como é possível criar avaliações, atividades e discussões na própria plataforma.

    Link da plataforma

    Mais detalhes de como usar essa plataforma aqui

    • Scoola

    Scoola é uma plataforma educacional  brasileira direcionada para personalização de aprendizagem desde a educação infantil até o Ensino Fundamental. Por meio dela o docente pode criar e receber sugestões de atividades e tarefas direcionas às necessidades e particularidade de cada um dos seus estudantes. Nela é possível trabalhar individualmente ou coletivamente.

    Link da plataforma

    • Seesaw: O Diário De Aprendizagem

    Infelizmente esse aplicativo é em inglês, porém ele é um dos mais usados no mundo e possui recursos incríveis. Ele é uma ótima maneira de planejar atividade de qualquer área temática e é direcionado para qualquer idade.

    No aplicativo é possível consultar atividades pré-configuradas ou até mesmo criar as próprias atividades. Assim, se for da sua preferência é possível compartilhar tais atividades com outras pessoas.

    No gangorra (Seesaw) é possível também trocar mensagens com alunos e seus respectivos responsáveis. A plataforma disponibiliza um relatório das atividades e progressos conquistados pelos alunos.

    Link da plataforma

    Essas foram algumas das plataformas educacionais. A forma como o docente vai utilizar e as condições e realidade da turma vão definir o sucesso da plataforma.

  • Precisamos dialogar acerca do (e no) ensino de Sociologia*

    Precisamos dialogar acerca do (e no) ensino de Sociologia*

    ensino

    Por Cristiano dasNeves Bodart[1]

    Precisamos dialogar sobre a Pesquisa acerca do Ensino de Sociologia!

    Cristiano das Neves Bodart
    Cristiano das Neves Bodart é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

    Baseando-nos em Freire (2019) partimos do pressuposto que dialogar demanda, ao menos, dois atores sociais. Não se trata de um monólogo, onde alguém fala e outro(s) escuta(m); demanda ouvir e falar como(s) outro(s). Aliás, falar nem sempre envolve diálogo.

    Dialogar sobre o ensino de Sociologia exige dos envolvidos interações e trocas, seja entre pesquisadores[2]e pesquisados, pesquisadores e orientandos ou entre pesquisadores e seus pares. Na pesquisa sobre o ensino de Sociologia, que envolve pesquisador(a)s e pesquisado(a)s, importa não objetivar o(a) pesquisado(a), tornando-o(a) uma “coisa”. Ao contrário, é importante tomá-lo(a) por co-autor(a) na produção do conhecimento. É em diálogo com esse(a) co-autor(a) – falando com ele(a) e ouvindo-o(a) – que o conhecimento das práticas sociais e seus sentidos se originam. Assim, desvelam-se as práticas do ensino de Sociologia com suas riquezas de sentidos percebidos e compartilhados dialogicamente com todos os envolvidos.

    Qual o sentido de pesquisar o ensino de Sociologia se isso não gerar mudanças qualitativas na vida cotidiana que se desenrola na (e a partir da) escola? Em termos freirianos (2019), qual seria o sentido de uma pesquisa que não identifique situações-limites que potencialize a concretização do inédito viável[3]? Chamamos atenção para o fato de que muitas vezes os atores sociais pesquisados (educadores-educandos, discentes etc.) só dispõem dos momentos da pesquisa para dialogar com o(a) pesquisador(a). Muito provavelmente os atores sociais pesquisados não estarão a ler a tese produzida ou o artigo científico publicado em periódico QualisA1, assim como dificilmente marcarão presença nos auditóricos dos congressos acadêmicos de Sociologia ou de Educação ondes as pesquisas são apresentadas. Se não houver diálogo durante o ato de pesquisar, privamos os atores sociais envolvidos do conhecimento que co-produzimos no subcampo de pesquisa do ensino de Sociologia. Sem diálogo tendemos a ouvir nossas próprias vozes e limitamos os “resultados” de nossas pesquisas às nossas visões de mundo. Por isso, importa dialogar sobre o ensino de Sociologia no momento da prática da pesquisa. Como sinalizou Freire (1977, p. 65) “a intersubjetividade ou a intercomunicação é a característica primordial deste mundo cultural e histórico. […] Pela intersubjetividade, se estabelece a comunicação entre os sujeitos a propósito do objeto”; por isso, advogamos que pensar o ensino de Sociologia como objeto de pesquisa se mostrará mais produtivo na medida que a intersubjetividade entre pesquisadore(a)s e pesquisado(a)s for estebelecida.

    Dialogando saímos do nosso “mundo acadêmico” e adentramos em outros existentes, assim como apresentamos esse nosso mundo aos de fora. Dialogando fazemos com que o conhecimento acadêmico produzido no campo fique no campo; ao menos parte dele. Não vejo melhor maneira de aproximar a universidade do(a)s educadores(a)s da escola básica e de seus discentes. Portanto, precisamos dialogar sobre o ensino de Sociologia!

    Precisamos dialogar no Ensino de Sociologia!

    Paulo FreireConvém repetir: dialogar demanda, ao menos, dois atores sociais. Não se trata de um monólogo, onde alguém fala e outro(s) escuta(m); demanda ouvir e falar como(s) outro(s). Aliás, falar nem sempre envolve diálogo.

    No ensino de Sociologia, no chão da escola ou da universidade, não podemos adotar práticas depositárias de conhecimento. Em se tratando de ensino-aprendizagem, como disseram Freire e Shor (1986, p. 14) “o diálogo sela o ato de aprender, que nunca é individual”. Nosso(a)s discentes precisam ter “direito à palavra”, de expressar-se, de relatar os mundos como os enxergam. Como destacou Freire (2019, p.108-109), “não é no silêncio que os homens se fazem, mas nas palavras, no trabalho, na ação-reflexão […] o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens”. Não podemos olvidar que o(a)s nosso(a)s discentes têm seus mundos, ainda que possamos – e devemos – apresentar-lhes outros possíveis.

    É sabido que o mundo do(a) professor(a) e o mundo dos discentes são diferentes; às vezes distantes. Em se tratando de conhecimento, o saber do “homem e da mulher simples” difere no saber do “homem e da mulher culta”. Recorrentemente usamos, respectivamente, as expressões “senso comum”[4]e “conhecimento científico” para diferenciar esses saberes; muitas vezes com pretenções equivocadamente hierarquizantes. Os saberes não devem ser estratificados. Tratar nossos discentes como dotados de saberes inferiores (ou desprovidos de saber) pouco ajudará no processo de ensino-aprendizagem. Importa ampliar os saberes dos discentes para que tenham liberdade; para não serem subjulgados e viverem plenamente nos mundos que desejarem. Não é uma questão de romper com o “senso comum” dos estudantes, mas superá-lo, dotando-os de condições para “jogar” em pé de igualdade com os demais homens e mulheres, sobretudo com aqueles que possam tentar inferiorizá-los, coisificá-los ou dominá-los. O ensino de Sociologia realizado em diálogo visa fomentar o empoderamento, o que se dá com o respeito e reconhecimento das potencialidades de cada discente. Nenhum ensino depositário é respeitoso e reconhecedor das virtudes do outro. Na relação dialógica acessamos o universo temático (ou a temática significativa) dos homens (FREIRE, 2019) e dele tomamos os temas geradores[5]do processo de ensino-aprendizagem, este tornar-se-á mais significativo.

    Entendemos que o diálogo é como uma ponte que liga mundos. Considere que uma ponte – o diálogo – tem, ao menos, duas pontas cujas direções são de mão dupla. Por meio do diálogo o(a) professor(a) deve conhecer o mundo de seus discentes (sobretudo suas situações-limites), assim como conduzi-los ao outro lado; à outra ponta possível (ao inédito viável). Estamos falando em usar essa ponte em sua dupla direção. Embora pareça um mero jogo de palavra, inferimos que quem ensina sempre aprende e é aprendendo que se ensina. No diálogo possibilitamos a co-autoria do conhecimento produzido, dando-lhe mais sentido por torná-lo nosso. Assim, o ensino de Sociologia deixa de ser um colonizar o pensar do outro, o que seria, em alguma medida, uma espécie de invasão cultural. A prática de ensino-aprendizado enquanto diálogo se configura como o encontro dos homens para ser mais, como preconizava Freire (2019).

     

     

    Notas:

    * Texto originalmente publicado como apresentação do volume 4, número 1, dos Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS) (AQUI ou AQUI)

    [1] Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e do centro de Educação da Universiade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail:[email protected] 

    [2] Importa destacar que em geral o(a) pesquisador(a) é também educador-educando (FREIRE, 2019), atuando no ensino superior. Usamos o termo composto “educador-educando” cunhado por Freire (2019) por considerar que a docência dá-se no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, se ensina aprendendo e se aprende ensinando.

    [3] Grosso modo, inédito viável seria, para Freire (2015, p.50), “a superação desta percepção fatalista por outra, crítica, capaz de divisar mais além destas situações [de situações-limites]”. Ou ainda, “a materialização historicamente possível do sonho almejado. É uma proposta prática de superação, pelo menos em parte, dos aspectos opressores percebidos no processo de conhecimento que toma como ponto de partida a análise crítica da realidade” (FREITAS, 2005, p. 6).

    [4] Importa chamar atenção para o fato de que nem todo o saber que recorrentemente é denominado de senso comum é mágico ou ingênuo, sobretudo em contexto de popularização dos saberes científicos, o que vem ocorrendo de diversas maneiras, tais como por meio de programas de jornais, manifestações artísticas e redes sociais.

    [5] Por “temas geradores” compreendemos como sendo temas extraídos dialogicamente do universo temáticos dos educandos em forma de problematização, existindo neles, produto da relação deles com o mundo e que “brotam” justamente do mundo vivido dos homens. (FREIRE, 2019).

     

     

    Referências

    FREIRE,  Paulo. Cartas à Guiné-Bissau:  registros  de uma  experiência  em processo.  Rio  de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

    FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia😮 cotidiano do professor. Trad. Adriana Lopes. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

    FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 71º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.

    FREITAS, Ana L. S. Prefácio. In: FREIRE, Paulo (Org.). Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Paz e Terra, 2014. p. 39-45.

     

     

     

    COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO

    BODART, Cristiano das Neves. Precisamos dialogar sobre o (e no) ensino de Sociologia.Revista Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais. CABECS, Rio de Janeiro, v.4, n. 1, p.05-15, 2020.

     

     

     

     

  • Podcast: Hora Americana – EP2 – Pandemia na América Colonial

    Podcast: Hora Americana – EP2 – Pandemia na América Colonial

    As epidemias na América colonial e seus impactos sobre a colonização indígena.
    Desde os primeiros tempos na Terra, os seres humanos tiveram que lidar com inúmeros obstáculos para sua sobrevivência. Uma das principais ameças que vem colocando, há milênios, a vida de sociedades inteiras em risco não é, entretanto, algo que possa ser visto a olho nu. Moléstias dos mais variados tipos, causadas por vírus, bactérias, parasitas, fungos, entre outros micro-organismos, vem provocando, em diversos momentos da história, períodos de intenso sofrimento e mortandade.
    Hoje, mais uma vez, é uma doença, causada por um vírus até então desconhecido, que tem provocado profundas transformações em várias esferas de nossas vidas. O novo coronavírus se espalhou de forma incontrolável por todo o mundo e tem levado a uma reflexão sobre o impacto que as enfermidades podem ter sobre as diversas sociedades humanas ao longo da história.
    Na História da América, as doenças e epidemias estiveram presentes em variados contextos. Embora a arqueologia aponte para a existência de inúmeras moléstias na América pré-hispânica, é com a chegada dos europeus em 1492 que a situação se torna mais crítica.
    pandemia america
    Não bastassem os enfrentamentos militares, a fome, a escravização e a adoção de outras formas de trabalho compulsório, apenas para citar alguns dos motivos que provocaram um grande decréscimo das populações indígenas no século XVI, as epidemias são frequentemente apontadas pelos historiadores como uma das peças fundamentais para se compreender a vitória dos europeus no processo de Conquista da América.
    Por não possuírem anticorpos em relação a diversas moléstias originárias do Velho Mundo, como sarampo, cólera, varíola, entre outras, muitos indígenas não resistiram a esses inimigos invisíveis, sucumbindo não somente à espada dos espanhóis, mas também aos germes que vinham em seus navios.
    Além de contribuírem para o genocídio das populações indígenas da América, as doenças foram utilizadas, muitas vezes, para construir, no campo do discurso, imagens das populações autóctones como portadoras de corpos inferiores, mais sensíveis que os de europeus e africano.
    Em suma, o programa Hora Americana é um podcast quinzenal que discute temas relativos à História das Américas.
  • [Vídeo] O surgimento da Sociologia – parte 1

    [Vídeo] O surgimento da Sociologia – parte 1

    O vídeo apresenta uma explicação, a partir do sociólogo alemão Norbert Elias (1897 – 1990), sobre o surgimento da Sociologia.

    Uma pergunta é recorrente: por que é importante entender como se consolidou a Sociologia? Voltar a nossa atenção ao passado é fundamental para entendermos a Sociologia no presente. Por isso,  esse vídeo vai interessar ao professor. Adiantamos que ele tem a finalidade de contribuir na busca por respostas.

    Pontos que serão abordados no vídeo:

    Por que a Sociologia entrou em choque com os modos de intepretação que antes eram predominantes?

    Quais eram esses modos predominantes de analisar aquilo que acontecia na Sociedade?

    Qual era o papel da igreja e do Estado nesse contexto?

    Por que a Revolução Francesa foi importante para o surgimento da sociologia?

    Por fim, a ideia principal à luz da teoria elisiana que será apresentada no vídeo é a seguinte:

    As mudanças sociais são resultadas de um processo social não planejado e independente das vontades dos indivíduos. Governos poderiam planejar e mesmo assim o resultado ser diferente do planejado, pela primeira vez algumas pessoas tornaram conscientes do enigma peculiar da sociedade. Que o quer que acontecesse é resultado dos planos e ações das pessoas, mas seus efeitos são imprevisíveis. Nem estado e a igreja conseguiram controlar e explicar os fenômenos sociais. Assim, a Sociologia surge nesse contexto.

    Quem é o autor em questão?

    Norbert EliasPrimeiramente importa uma breve apresentação de Elias. O alemão Norbert Elias (1897 – 1990) de família judaica teve que fugir da Alemanha nazista, foi para França em 1933, mas foi na Inglaterra que consolidou a sua carreira anos depois. A obra de Norbert Elias demorou a ser reconhecida somente nos anos 70 que o autor passou a influenciar os estudos sociológicos Norbert Elias é considerado um dos maiores sociólogos da história. Sua obra ainda possuiu muita relevância nos estudos praticados na atualidade. O autor contribuiu com a discussão clássica da Sociologia acerca da relação indivíduo e sociedade. Em síntese: Para Elias um não pode existir sem o outro. Portanto, não podemos pensar indivíduo e sociedade de forma separada. Elias faleceu aos 93 anos de idade, mas suas ideias inspiram até os dias de hoje inúmeros sociólogos espalhados pelo mundo.
    Suas principais obras são:

    O Processo Civilizatório (1939);

    A Sociedade dos indivíduos (1987);

    A sociedade de Corte (1969);

    Os estabelecidos e os Outsiders (1965);

    Introdução à Sociologia (1980);

    A solidão dos Moribundos (1982) e;

    Os Alemães: luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX (1989).

     

    Conheça o participante do vídeo

    Caio dos Santos Tavares – Mestrando em Sociologia (UFAL). Atualmente desenvolve a sua dissertação que tem o intuito de compreender o senso prático sociológico de Fernando de Azevedo que o levou a produzir relevantes compêndios de Sociologia, mesmo não sendo formado em Ciências Sociais ou em Sociologia.Graduado em Ciências Sociais Licenciatura Plena (UFAL). Tem experiência na área de Educação e novas tecnologias, com ênfase em Ensino de Sociologia e Redes Sociais. Integra o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Sociais (XINGÓ/NEPECS) e o Grupo de Pesquisa sobre o ensino de conhecimentos das Ciências Sociais (Consciências-sociais).
    Saiba mais: http://lattes.cnpq.br/5013409226410089

    Conheça mais o Dialogando:

    O Dialogando é um canal do YouTube gerenciado por Caio dos Santos Tavares, Graduado em Ciências Sociais (ICS-UFAL) e mestrando em Sociologia (ICS-UFAL). Surgiu de uma necessidade de construir um material didático que teria a utilidade do cumprimento da carga horário do Programa de Residência Pedagógica que visa a imersão dos licenciandos no ambiente escolar contribuindo significativamente com o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Aos poucos o projeto foi ganhando forma e apoio de inúmeros alunxs e professorxs da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), especialmente do Instituto de Ciências Sociais (ICS). Nossa ideia foi a construir um dicionário de conceitos das Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia) e entrevista sobre teorias e temas que norteiam as preocupações dos cientistas sociais. Todo conteúdo áudio visual produzido pelo Dialogando teve com princípio trazer tais assuntos de uma forma clara e objetiva. Ao todo o projeto contou com a participação de 40 pessoas que se disponibilizaram a compartilhar conhecimentos das Ciências Sociais que possam contribuir com as aulas de Sociologia.

    Objetivos do canal

    Nosso canal oferece a oportunidade de uma aproximação entre a corpo docente e os discentes do ICS-UFAL com a Educação Básica. Portanto, sair dos muros da universidade e procurar transmitir o conteúdo das Ciências Sociais a sociedade civil. Assim, reforçando a importância do conhecimento das ciências sociais e eventualmente apresentando esse olhar de interpretar os fenômenos sociais a um público que não teve acesso em sua formação básica.

    Em cada vídeo é buscado, em uma forma rápida e dinâmica, apresentar conceitos e teorias fundamentais das Ciências Sociais. Esse recurso didático tem a finalidade de atingir o público do ensino médio (alunxs e professorxs).

    O Dialogando surge em um contexto de fortes ataques a permanência da Sociologia no ensino médio. Portanto, acreditamos que nossa iniciativa, mesmo que seja singela, possa de alguma maneira contribuir na resolução dos problemas que afligem cotidianamente a permanência da disciplina na educação básica.

    Não esqueça, semanalmente são disponibilizados vídeos no nosso canal no You Tube, por tanto, não deixe de segui-lo.

    O projeto conta com o apoio da Universidade Federal de Alagoas e do Blog Café com Sociologia.

    Contatos:

    Facebook: facebook.com/caiosantosdialogando
    E-mail: [email protected]

    Inscreva-se no canal no YouTube!
    DIALOGANDO ➡ #COMPARTILHANDOCONHECIMENTO?

     

    Veja também A Sociologia de Norbert Elias, por Cristiano Bodart (UFAL)

     

     

     

  • Entrevista com Nelson Tomazi: o humor e o ensino de Sociologia

    Entrevista com Nelson Tomazi: o humor e o ensino de Sociologia

    O humor vem sendo utilizado em diversos contextos e pode, igualmente ser uma estratégia de ensino-aprendizagem, seja para fomentar um discussão, questionar fenômenos sociais ou sintetizar, ao final de uma aula, um conteúdo. O blog Café com Sociologia, por meio de seu canal no YouTube (AQUI) traz uma entrevista com Nelson Tomazi, um grande colaborador ao ensino de Sociologia no Brasil, tendo oferecido aos professores um dos primeiros livros didáticos de Sociologia distribuídos nas escolas após a reintrodução da Sociologia enquanto disciplina obrigatória. Na entrevista são tratadas diversas questões que podem ajudar o professor a se apropriar do humor e utilizá-lo em sala de aula. O entrevistador é Cristiano Bodart, editor do Blog Café com Sociologia, que também é pesquisador do ensino de Sociologia (suas produções podem ser baixadas gratuitamente AQUI). Primeiramente, apresentamos o perfil profissional do entrevistado.

    Nelson Dacio Tomazi é, antes de mais nada, nacionalmente  reconhecido por sua colaboração ao ensino de Sociologia.

    Formação

    Tomazi se graduou em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná no ano de 1972. Em 1988 obteve o título de mestre em História Assis pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. No ano de 1996 alcançou o título de doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (1996).

    Atuação profissional

    Ao longo de sua carreira como professor, lecionou diversas disciplinas, dentre elas Sociologia, Ciência Política e Metodologia e Técnica de Pesquisa.

    Passou, como docente, pela Universidade Católica do Paraná (1973), Universidade Estadual de Londrina (1977-2003) e na Universidade Federal do Paraná (onde se aposentou). Ministrou cursos, como professor convidado, na Universidade Estadual de Maringá (1999-2000), Universidade Federal do Espírito Santo (2000-2001).

    Produção científica/acadêmica

    Dentre suas obras, destacam-se os livros “Sociologia para o ensino médio”, “Introdução à Sociologia” e “Sociologia da Educação”.

    Recentemente escreveu o prefácio da obra “Sociologia e Filosofia escolar” (2020), da Editora Café com Sociologia e organizado por Cristiano Bodart. Escreveu também o verbete “O ensino de Sociologia e o Humor”, na obra “Dicionário do ensino de Sociologia” (2020), também publicado pela Editora Café com Sociologia, e organizado por Antonio Alberto Brunetta, Cristiano Bodart e Marcelo Cigales.

    A entrevista

    A seguir, apresentamos uma entrevista realizada por Cristiano Bodart, editor do Blog Café com Sociologia. Nela Tomazi nos fala um pouco do humor e de seus possíveis usos no ensino de Sociologia. Aponta caminhos de uso, cuidados e uma sugestão de leitura.

     

     

    Assista, curta, siga o canal e compartilhe.

    Link para o canal: https://www.youtube.com/channel/UCeMdsMTvrZew9GUnbEavtvw

     

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    Registro de encontro entre os editores do Blog Café com Sociologia e Nelson Tomazi, em outubro de 2017, na cidade de Parnaíba, no Piauí, no Encontro Nacional do LEPES (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de Sociologia).

     

  • Que Sociologia queremos no Ensino Médio?

    Que Sociologia queremos no Ensino Médio?

    Sociologia no Ensino Médio

    Por Cristiano das Neves Bodart*

    Em um evento voltado à professores de Sociologia do ensino médio, onde proferi uma conferência de abertura, me deparei com uma inquietude daqueles professores de Sociologia, sobretudo dos que não são formados na área. Em sua maioria, a plateia era formada por pedagogos efetivados na cadeira de Sociologia.

    Na ocasião fiz uma exposição da trajetória do ensino de Sociologia no Brasil buscando destacar as mudanças ocorridas ao longo de seu histórico intermitente. Busquei evidenciar que nem sempre a Sociologia escolar foi crítica e que precisamos conhecer essa trajetória para sabermos qual sociologia ensinar, sem contudo entrar em maiores detalhes, pois na minha cabeça pareceria que essa questão já estava posta, respondida e superada. Engano meu! As especificidades da Sociologia e sua importância precisam ser repetidas exaustivamente, sobretudo para que nossa classe política dirigente e legislativa compreenda a Sociologia escolar para além de estereótipos absurdos que temos ouvido nos últimos dias. Essa compreensão é fundamental para o aprimoramento da prática docente, sua manutenção e consolidação no currículo escolar. 

    Após a exposição, uma professora fez uma importante pergunta: qual Sociologia ensinar? Na ocasião busquei formular uma resposta que tentarei aqui reproduzir por acreditar que ajudará muitos outros professores que possui tal dúvida, bem como evidenciar [ainda que de forma breve] a importância da manutenção dessa disciplina no ensino médio.

    Diferentemente de quando a Sociologia tornou-se componente curricular obrigatório no ensino secundário, nos anos de 1920, hoje deve ser crítica, assim como todas as demais Ciências Humanas. Mas essa não é a especificidade da Sociologia, muito menos “formar cidadãos conscientes”; criticidade e cidadania não são questões apenas de Sociologia, mas da Educação. Isto posto, qual seria a especificidade da Sociologia escolar?

    Prefiro iniciar dizendo o que não cabe à Sociologia escolar ou o que não é a “Sociologia que queremos”. Não é tarefa do professor de Sociologia resolver conflitos entre alunos (ou de alunos), como se fosse um assistente social ou psicólogo da escola. Não cabe o cabe lecionar algo do tipo “Moral e Cívica”, ditando o que é certo e o que é errado, ensinando-os a cantar o Hino Nacional, realizando projetos de comemoração cívica ou orientar os alunos a fazer fila para receber a merenda. É certo que ao conduzir os alunos à compreensão das diferenças sociais e culturais e do papel das regras de convivência, por exemplo, os conflitos podem vir a reduzir. Nesse sentido, a atuação do professor é indireta. Também não cabe ao professor de Sociologia escolar formar cientistas sociais, exigindo dos alunos do ensino médio a compreensão de teorias e conceitos complexos, nem leitura de textos clássicos (embora seja possível e indicado iniciá-los com fragmentos).

    Então, qual a Sociologia escolar que queremos? Desejamos aquela que promova nos alunos o desenvolvimento do estranhamento e da desnaturalização, bem como uma compreensão mínima das relações sociais, ou seja, desenvolver uma percepção relacional dos fenômenos e que tome como ponto de partida a realidade do aluno, seu mundo e suas inquietações.

    Por estranhamento entendemos, grosso modo, como sendo a capacidade de questionar as coisas como elas são, buscar compreender o porquê, para quê e como são os fenômenos sociais que se apresentam em nosso cotidiano. Estranhar no sentido de não observar com familiaridade os fenômenos sociais, como se já os conhecesse suficientemente bem e, por tanto, não carecendo de ser problematizado; ao contrário, olhar com curiosidade.

    Por desnaturalização chamamos a prática de olhar os fenômenos sociais justamente como sendo “sociais”, ou seja, fruto de relações sociais que se desenvolvem ao longo da História. Em outros termos, destacar que esses fenômenos não são natural (fruto das determinações da natureza), mas resultados de interesses, conflitos e cooperações sociais e, portanto, possíveis de serem modificados.

    Por percepção relacional dos fenômenos, entendemos como a competência de refletir os fenômenos sociais em suas relações com os demais fenômenos. Levar os alunos a compreender de que forma suas biografias individuais se ligam as biografias dos demais sujeitos e as estruturas materiais e simbólicas.  

    Juntamente com a preocupação de promover o desenvolvimento das competências de estranhamento, de desnaturalização e uma percepção relacional, é necessário oferecer aos alunos elementos teóricos e conceituais mínimos para que possam problematizar os fenômenos sociais para além do senso comum, compreendendo-os e sendo capazes de modificá-los, se assim acreditarem ser o melhor a fazer. Não se trata de romper com o senso comum, mas superá-lo; tomá-lo como ponto de partida.

    Uma Sociologia que ofereça aos alunos ferramentas conceituais e teóricas [no plural] mínimas para olhar seu cotidiano de forma relacional, com estranheza e de forma desnaturalizada é o que precisamos. Se avançarmos e conseguirmos introduzir os alunos à prática da pesquisa científica será, certamente, um grande ganho qualitativo; não com o compromisso de produzir Ciência, mas para que possam compreender com maior clareza a diferença entre o conhecimento das Ciências Sociais e o senso comum. É essa a Sociologia que queremos para o ensino médio e entendemos como fundamental para a formação dos nossos jovens.

     

     

    *Doutor em Sociologia (USP) e professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Que Sociologia queremos no ensino médio? Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em: < https://cafecomsociologia.com/que-sociologia-q…-no-ensino-medio/ ‎>. Acessado em: dia, mês, ano.

     

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