Categoria: Teoria

Teoria sociológica

Teoria é um conjunto de posições logicamente inter-relacionadas e as implicações que dela derivam, usadas para explicar algum fenômeno. Implícito em qualquer teoria há um conjunto de suposições e métodos básicos que raramente são questionados, uma perspectiva teórica. (Johnson, 1997, p. 231)

As teorias são um ponto de vista baseado em uma observação empírico-teórica-metodológica que são mais amplas que os conceitos e categorias. É uma forma de ver o mundo que adota seus próprios conceitos e métodos para tal. Para melhor compreensão das teorias é interessante contextualizar historicamente essas teorias para que se entenda que o pensamento “não surge do nada”.

As teorias científicas são construídas com sério rigor científico. Porém cabe ressaltar que as teorias das ciências naturais serem uma lógica de separação clara entre sujeito e objeto de estudo, fato impossível para as ciências humanas.

Referências

JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 300p.

  • O pensamento de Manuel Bomfim sobre o Brasil

    O pensamento de Manuel Bomfim sobre o Brasil

    Manuel Bomfim e o Brasil

    O Dialogando desta semana vai apresentar as contribuições do sergipano Manuel Bomfim que foi um importante intelectual que pensou os problemas estruturais do Brasil. O autor foi um grande defensor que a Educação deveria ser universalizada aos mais pobres, sendo que o acesso educacional é fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Além disso, Manoel Bomfim diferente dos pensadores de sua época defendeu a miscigenação e refutou as teorias raciais que colocava a miscigenação como um problema. Essas e outras ideias serão explicadas pelo professor Fernando de Jesus Rodrigues – Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília. Então, veja o vídeo a seguir do Dialogando que é o canal do You Tube que o professor de sociologia encontra material didático para suas aulas.

    Conheça o participante do vídeo

    Fernando de Jesus Rodrigues – Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília.

    Professor e pesquisador do Instituto de Ciências Sociais e atualmente coordenador do Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS/UFAL).

    Visiting Fellow no Latin American and Caribbean Centre da London School of Economics (2018-2021). Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília.

    Líder do Grupo de Pesquisa Periferias, Afetos e Economia das Simbolizações (GruPPAES). Desenvolvo e oriento pesquisas que tratam de dinâmicas econômicas, políticas e culturais nas “periferias” urbanas. O conjunto de pesquisas atualmente em andamento foca-se na etnografia de práticas de diversão, mercados ilegais, dinâmicas de justiça e governos criminais a partir de trajetórias de jovens nas margens urbanas de pequenas, médias e grandes cidades. Faço campo em unidades de internação e em periferias urbanas, incluindo as viagens de Nordestinos para o Centro-Oeste e Norte do Brasil em busca de trabalho. Nas tramas dessas redes, observamos as dinâmicas afetivas, criminais e de alianças faccionais de grupos migrantes entre cidades alagoanas e regiões de fronteira.
    Saiba mais: http://lattes.cnpq.br/4624672840908277

    Conheça mais o dialogando

    O Dialogando é um canal do You tube gerenciado por Caio dos Santos Tavares, graduado em Ciências Sociais (ICS-UFAL) e Mestrando em Sociologia (ICS-UFAL).

    Surgiu de uma necessidade de construir um material didático que teria a utilidade do cumprimento da carga horário do programa de residência pedagógica que visa a imersão dos licenciandos no ambiente escolar contribuindo significativamente com o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Aos poucos o projeto foi ganhando forma e apoio de inúmeros alunxs e professorxs da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), especialmente do instituto de ciências sociais (ICS). Nossa ideia foi a construir um dicionário de conceitos das Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia) e entrevista sobre teorias e temas que norteiam as preocupações dos cientistas sociais.

    Todo conteúdo áudio visual produzido pelo dialogando teve com princípio trazer tais assuntos de uma forma clara e objetiva. ao todo o projeto contou com a participação de 40 pessoas que se disponibilizaram a compartilhar conhecimentos das Ciências Sociais que possam contribuir com as aulas de Sociologia. A final de contas, o conhecimento é um bem público!

    Objetivos do canal

    Nosso canal oferece a oportunidade de uma aproximação entre a corpo docente e os discentes do ICS-UFAL com a educação básica. Portanto, sair dos muros da universidade e procurar transmitir o conteúdo das Ciências Sociais à sociedade civil. Assim, reforçando a importância do conhecimento das Ciências Sociais e eventualmente apresentando esse olhar de interpretar os fenômenos sociais a um público que não teve acesso a esse conhecimento em sua formação básica.

    Em cada vídeo é buscado, em uma forma rápida e dinâmica, apresentar conceitos e teorias fundamentais das ciências sociais. Esse recurso didático tem a finalidade de atingir o público do ensino médio (alunxs e professorxs).

    Desta forma, o dialogando surge em um contexto de fortes ataques a permanência da sociologia no ensino médio. Nesse sentido, acreditamos que nossa iniciativa, mesmo que seja singela, possa de alguma maneira contribuir na resolução dos problemas que afligem cotidianamente a permanência da disciplina de Sociologia na educação básica.

    Não esqueça, semanalmente são disponibilizados vídeos no nosso canal no YouYube, portanto, não deixe de segui-lo.

    Agradecimento

    Agradecemos a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) pelo apoio e, igualmente, ao Blog Café com Sociologia que disponibiliza o espaço para a publicização de nossos vídeos.

    Contatos

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  • John Locke e a formação moral da criança

    John Locke e a formação moral da criança

    Aos que buscam explorar a temática formação moral da criança, o livro do professor Dr. Christian Lindberg Lopes do Nascimento (UFS), intitulado “JOHN LOCKE E A FORMAÇÃO MORAL DA CRIANÇA” é uma leitura obrigatória. Nesta obra o autor demonstra o pensamento John Locke sobre o tema, nos auxiliando na reflexão e compreensão de seus contributos para a Educação e para a Filosofia da Educação.  A obra pode ser adquirida nas livrarias online, inclusive AQUI, AQUIAQUI  

    Versão em PDF AQUI

    Livro físico AQUI

    Christian LindbergAPRESENTAÇÃO

    O livro “John Locke e a formação moral da criança” é fruto de pesquisa que realizada durante o doutorado em Educação na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O eixo que norteou a investigação foi a discussão em torno da formação moral da criança, a partir dos escritos educacionais de John Locke. O ponto de partida foi a relação aparentemente controversa entre a Ciência e a Religião que perpassa o conjunto da obra do filósofo inglês. A argumentação desenvolvida precisou, inicialmente, considerar o que Locke define por Ciência[1] e Religião.

    A Ciência é compreendida de três formas:

    1) A physiké ou filosofia natural é aquela que compreende o conhecimento das coisas, como elas são em si mesmas, nas suas relações e suas maneiras de operação;

    2) A segunda ciência é a praktiké, que estuda o que o próprio homem deve fazer, como agente racional e voluntário, para a obtenção de algo, principalmente a felicidade, ou seja, é a habilidade de aplicar bem as nossas próprias potências e ações com o fim de alcançar coisas boas e úteis; por fim,

    3) A semeiotiké ou doutrina dos sinais é aquela que compreende o caminho e os meios pelos quais nos comunicamos.

    Por Religião o filósofo inglês designa tudo aquilo que supõe tornar o homem capaz de conhecer a existência de Deus. Assim, a religião distingue a fé da razão, já que a fé é o assentimento a qualquer proposição estabelecida pela confiança do proponente, pois deriva de Deus e é desvendada pela revelação.

    Minha inquietação surgiu quando se constatou que o filósofo expressa – no Alguns pensamentos sobre a educação -, que a valorização dos conteúdos científicos precisa ser acompanhada do ensinamento daquilo que não é científico. Locke faz esta afirmação após definir o que é filosofia natural[2] e indicar que a criança deve aprender a Bíblia antes do estudo das ciências. Para Locke, a explicação da natureza requer algo mais que a própria matéria, sendo esta a justificativa para o estudo preliminar das Sagradas Escrituras.

    Assim, a formação moral da criança é caracterizada pela junção do conhecimento ofertado a ela pela Ciência, com aquilo que é ensinado por meio dos valores éticos descritos na Sagrada Escritura. Assim, Locke pretende demonstrar que a relação entre Ciência e Religião é capaz de constituir um indivíduo moralmente virtuoso, e habilitado para controlar as paixões através do correto uso da razão.

    Ao caracterizar a virtude, ele argumenta que é necessário imprimir na criança uma verdadeira noção de Deus, ou seja, que é importante amá-Lo e compreender que Ele é o Ser supremo e Criador de todas as coisas. Por isso, a criança deve ser habituada, desde cedo e de forma regular, a realizar atos de devoção a Deus. A relevância da virtude reside no fato de que a criança, ao ter uma noção exata de Deus, O estima e O tem como guia para as ações morais. Por outro lado, o Locke que advoga em favor de tais ideias é o mesmo que valoriza o ensino das ciências como componente dos conteúdos educativos, é o mesmo que revela uma preocupação minuciosa com a saúde física das crianças e o preparo para agir racionalmente.

    Por outro lado, a sociedade arquitetada por Locke tem na figura do gentleman a incorporação do verdadeiro agente moral, ou seja, aquele que, ao tornar-se adulto, estará apto a conduzir os assuntos de interesse coletivo da forma mais virtuosa possível preservando o contrato social estabelecido. Esse mesmo indivíduo, por conta de sua conduta moral, tornar-se-á exemplo para aqueles que não obtiveram educação semelhante.

    É bom destacar que Locke atribui à educação o papel de ser o principal meio responsável pela diferenciação existente entre os homens, já que eles são o que são graças à educação que recebem. Talvez isto explique o fato de que, ao aliar o ensino da Ciência e da Religião aos seus propósitos educativos, Locke não só pretendeu impedir que as crianças se tornassem ateias, como também edificar uma sociedade composta por indivíduos que praticassem a moral cristã.

    Diante do exposto, formulei a seguinte hipótese: A aparente controvérsia entre Ciência e Religião perpassa o conjunto da obra do filósofo, variando entre a defesa do cientificismo e a valorização da Religião no que se refere aos assuntos morais. Desse modo, o recorte educacional a ser feito, considerando as correntes que influenciaram as reflexões lockianas, torna-se um porto seguro para elucidar esta questão.

    Dito isto, o livro é dividido em quatro capítulos. No primeiro há a exposição do que identifico como os antecedentes filosófico-educativos de John Locke. Assim, demonstra-se a influência de Calvino, de Montaigne e de Bacon na obra educativa dele. No segundo capítulo adentra-se na análise das principais obras de Locke. Para tanto, divide-se em três momentos este exame. Na terceira parte averígua-se como se dá a relação entre o ensino da ciência e da religião nos escritos educativos de John Locke. É bom considerar que, nos três primeiros capítulos deste trabalho, o elemento norteador da argumentação é a discussão que gira em torno da moral, dando ênfase ao impacto que a ciência e a religião têm. Em certa medida, procura-se buscar elementos que possam subsidiar a discussão em curso, mais precisamente a aparente controvérsia existente entre o ensino da ciência e da religião na formação moral da criança. No último capítulo, busca-se demonstrar a hipótese levantada para este trabalho. Para tanto, inicia-se posicionando a reflexão educativa de Locke em torno de dois conceitos fundamentais para a educação: fala-se dos termos formação e infância. Em seguida, considerando as ideias apresentadas nos capítulos anteriores, busca-se fundamentar a hipótese, concluindo que a formação moral da criança, partindo da aparente controvérsia existente entre o ensino da ciência e da religião visa constituir uma sociedade moralmente cristã.

    [1] De acordo com Yolton (1996) a compreensão de ciência entre os séculos XV e XVII é distinta da que temos hoje. A ciência tinha um significado bem geral, compreendendo temas como a teologia, a ética, o direito e a política, como também a aritmética, a geografia, a cronologia, a história, a geometria. No Cyclopaedia: or an Universal Dictionary of arts and sciences, de autoria de Ephraim Chambers, o verbete ciência é compreendido como um claro e seguro conhecimento de qualquer coisa, fundado em princípios evidentes por si mesmos ou demonstrações, onde existe a ciência humana e a divina.

    [2] O termo filosofia natural é recorrente nas obras de Locke. No Alguns pensamentos sobre a educação, ele designa tudo aquilo que estuda os princípios, as propriedades e as operações das coisas, tais como elas são em si mesmas. Entretanto, nesta obra, ele divide a filosofia natural em duas partes: uma que compreende o espírito e a qualidade das coisas e a outra os próprios corpos, do ponto de vista físico. Em Elementos da filosofia natural, ele adota a mesma expressão para descrever os fenômenos naturais, apresentando suas características estritamente físicas.

    JOHN LOCKE E A FORMAÇÃO MORAL DA CRIANÇA

     

    SUMÁRIO

    13        Apresentação

    17        Prefácio

    CAPÍTULO 1

    21              Os antecedentes da educação lockiana

    21              1.1 A reforma religiosa e seus impactos educacionais

    39              1.2 Ceticismo e educação em Montaigne

    52              1.3 O realismo baconiano e sua repercussão na educação

    CAPÍTULO 2

    71        Ciência e religião na obra filosófica de John Locke

    72        2.1 Ciência e religião nos escritos de 1658-1688

    88        2.2 Ciência e religião nos escritos de 1689-1694

    103       2.3 Ciência e religião nos escritos de 1695 até as obras póstumas

    CAPÍTULO 3

    115       Ciência e religião nos escritos educacionais de John Locke

    118       3.1 Locke e a educação: escritos menores

    127       3.2 Locke e a educação: escritos maiores

    146       3.3 Ciência e religião nos escritos educacionais de Locke: leituras possíveis

    CAPÍTULO 4

    159       A formação moral da criança com vistas a uma sociedade cristã

    160       4.1 A noção de formação: entre a paideia grega e a bildung alemã

    177       4.2 Locke e a transição para o conceito moderno de infância

    193       4.3 A formação moral da criança e a construção de uma sociedade cristã

    205       Considerações finais

    213       Referências

    John Locke e a formação moral da criança

  • Pierre Bourdieu, “A Sociologia É Um Esporte De Combate”

    Pierre Bourdieu, “A Sociologia É Um Esporte De Combate”

    Eu digo frequentemente que a Sociologia é um esporte de combate, um meio de defesa pessoal. Basicamente, você pode usá-la para se defender, sem ter o direito de utilizá-la para ataques covardes.”

    bourdieu
    Biografia 

    Primeiramente, importa para os que desejam compreender as contribuições de Bourdieu, conhecer quem foi esse teórico. Testa forma, em síntese, Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês de grande impacto sobre a teoria social, principalmente sobre a Sociologia. De origem de família camponesa, Pierre Bourdieu teve uma trajetória acadêmica peculiar. Mais detalhes sobre sua biografia pode ser lida AQUI.

    Bourdieu é um dos autores mais profícuos da teoria sociológica, tendo pesquisado e publicado um volume considerável de trabalhos, nos quais tomou como objeto de pesquisa uma ampla variedade de fenômenos sociais.

    Veja um vídeo onde o professor, Dr. José Marciano Monteiro (UFCG), especialista em Bourdieu, apresenta de forma clara as principais contribuições desse autor AQUI.

     

    Sua acensão no campo acadêmico francês deu-se nos anos de 1960, tendo nos anos de 1980 e 1990 ganhado notoriedade internacional, estando, atualmente, suas obras presentes na grande maioria dos programas de pós-graduação de Sociologia e nos cursos de Ciências Sociais ofertados em todo o mundo. Pierre Bourdieu faleceu um ano depois do lançamento documentário A Sociologia É Um Esporte de Combate.

    O documentário

    O documentário A Sociologia É Um Esporte de Combate foi dirigido por Pierre Carles. Carles produz um relato a partir do acompanhamento do dia a dia de Bourdieu, o que se deu entre os anos de 1998 e 2001. O documentário busca demonstrar não só sua rotina (palestras, viagens, encontros com estudantes ou com seus colaboradores de pesquisa, etc.), como também parte de seu pensamento e seu engajamento político e seu envolvimento no campo sociológico.

     

    Dito tudo isto, indicamos que assistam o documentário:

     

     

    Conheça as principais contribuições de Pierre Bourdieu assistindo o vídeo a seguir:

     

    Bourdieu

  • Igualdade natural, desconfiança e o homem lobo na obra de Hobbes

    Igualdade natural, desconfiança e o homem lobo na obra de Hobbes

    Hobbes

    Por Caique de Oliveira Sobreira Cruz

    Versão em PDF AQUI
    Introdução

    Thomas HobbesOs três elementos citados no título deste artigo são aspectos presentes na tese do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588- 1679) acerca da questão política. Na ordem em que foram mencionados eles estarão entrelaçados e um vai gerar o outro, em uma relação de derivação, a “igualdade natural” vai fomentar a “desconfiança” e, por fim, esta vai fazer desaguar a famosa “guerra de todos contra todos”, uma cadeia de causalidade lógica que o autor montou, demonstrando um certo logicismo advindo da sua posição de “racionalismo jusnaturalista”, conforme visto em (BOBBIO, 2003, p. 82).

    A igualdade natural

    Para Hobbes, a humanidade até o seu período histórico, nos séculos XVI e XVII, teria vivido em dois estados políticos diferentes, o “Estado de natureza” e o “Estado civil”. O primeiro seria aquele no qual os homens são livres e iguais, tendo direito a todas as coisas que existem, sem nenhuma hierarquia, o autor chega a dizer, em Hobbes (2002, p. 29), que todas as desigualdades entre os humanos seriam causadas pelas “leis civis” que criamos por intermédio de um “pacto social”, ou seja, na natureza todos os homens teriam direito a tudo, como um “direito natural” e teriam as mesmas condições de conseguir, seja pela força, pela inteligência ou por se agrupar com outros para obter êxito em sua empreitada. Neste sentido que se fala na “igualdade natural”, jogados ao mundo natural sem estratificações sociais todos estão no mesmo patamar para o filósofo, vejamos:

    A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo. […] Quanto às faculdades do espírito […] encontro entre os homens uma igualdade ainda maior do que a igualdade de força. […] Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins (HOBBES, 2003).

    Já o “Estado civil”, seria uma entidade “artificial” criada pelos indivíduos para evitar o último estágio da “guerra entre todos”, com o homem sendo analogicamente um lobo que caça a sua própria espécie. Tal situação foi apresentado por Bodart (2013) aqui no Blog Café com Sociologia.

    De acordo com Bernardes (2002, p. 12), Hobbes é influenciado pela física de Galileu e a geometria Euclidiana com as suas verdades a priori. Segundo Hobbes, aquilo que está em repouso tende a ficar em repouso, e o que tende a estar em movimento continua sem parar. O movimento dos corpos humanos na direção das “satisfações” tende ao infinito, se não for freado. Todos os homens em movimento pelo “desejo” irão parar, pois se chocarão com outro objeto que também está inercialmente em movimento, qual seja, outro homem. Diante deste choque, os humanos começam a se associar uns aos outros para poderem continuar em movimento, atentando contra os que os impede. “Nenhum homem duvida da verdade da seguinte afirmação: quando uma coisa está em repouso, permanecerá sempre em repouso, a não ser que algo a coloque em movimento” (HOBBES, 2003, p. 17).

    Thomas Hobbes 3

    A desconfiança

    Justamente por essa dita igualdade, “inerente” à “natureza humana”, é que o autor vai pensar que isto vai levar os homens a terem “desconfiança” uns dos outros, pois se são iguais e tem condições paritárias, cada pessoa tem a possibilidade de conquistar tudo o que a outra conseguiu e até mesmo tomar tudo o que ela possui, neste ponto, por antecipação, os seres humanos teriam “desconfiança” de seus semelhantes, pois a qualquer momento poderiam ser saqueados, atacados e até mortos, então pensam em se prevenir e atacar antes para se precaver de serem atacados.

    Não havendo nenhum tipo de segurança, o desespero seria constante e iminente, cada um tentaria subjugar quantos fossem possíveis até que conseguisse alcançar um patamar de estabilidade que não poderia mais ser atingido pelos demais. Nas palavras do autor: “E contra esta desconfiança de uns em relação aos outros, nenhuma maneira de se garantir é tão razoável como a antecipação; isto é, pela força ou pela astúcia, subjugar a todos os homens que puder, durante o tempo necessário” (HOBBES, 2003).

    O homem lobo

    Portanto, a “igualdade natural” dos seres humanos no estágio do “Estado de natureza”, para Hobbes, iria gerar inexoravelmente a “desconfiança” entre todos os envolvidos e, por isso, estaríamos vivendo em um eterno ciclo de “guerra de todos contra todos” ou como ele mesmo denomina “o homem é o lobo do homem” (frase que já havia sido cunhada pelo romano Plauto (254-184 a.C), “homo homini lupus”), sem cessar, pela competição, desconfiança e glória, uma discórdia infinita. Com esses nexos causais, o homem como lobo alcança uma forma de quase inatismo em relação à ‘natureza humana”, sendo uma circunstância inevitável diante do quadro de sequências: igualdade, desconfiança e guerra entre todos. Os conflitos dados seriam, então, derivados da própria ganância humana e de seu espírito beligerante.

    Considerações finais

    Thomas Hobbes 2Hobbes conclui, desta forma, que seria necessário, para manter a segurança de todos os indivíduos e dos seus patrimônios, que houvesse, por meio de um “contrato social”, a construção de um “Estado civil” forte para impor “leis naturais” que pudessem garantir o desenvolvimento e a vida dos agrupamentos humanos. Sendo esta forma-política não uma criação divina ou um direito designado aos reis por forças sobrenaturais, mas sim, uma criação dos próprios homens instituindo um organismo “artificial” revestido de autoridade necessária para conter a guerra entre os indivíduos.

    Diante de todo o exposto, seria possível, enquanto atividade pedagógica, extrair uma espécie de conceito de “Justiça” das conclusões hobbesianas, comparando-o com a tese de “Glauco”, exposta no Livro II de “A república” de Platão, exemplificada através do “mito do anel de Giges” (anel que teria o poder de deixar pessoas invisíveis, neste caso, quem o usasse cometeria qualquer tipo de atrocidade, pois nunca seria descoberto e nem punido).

    Para “Glauco”, a “Justiça” deve ser fundamentada no medo da punição, caso contrário, todos irão agir para obter vantagens em detrimento dos demais, uma espécie de “homem lobo” que só pode ser parado por forças externas a ele, assim como visto em Hobbes. Estas e outras intersecções entre pensamentos são exercícios imprescindíveis para que se possa compreender qualquer conceito em sua devida complexidade, evitando a leitura de autores de maneira isolada, sem destacar elementos anteriores ou paralelos que podem ter dado base a algum conceito de sua teoria, complementando-a.

    Referências bibliográficas

    BERNARDES, Julio. Hobbes e a liberdade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

    BOBBIO, Norberto. O filósofo e a política. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.

    BODART, Cristiano das Neves. O homem nasce bom e a sociedade o corrompe ou o contrário? Blog Café com Sociologia, 2013.

    HOBBES, Thomas. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

    _______. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

     

     

     

     

     

     

    Sobre confiança e desconfiança entre os homens, indicamos o artigo CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DOS JOGOS, DA ESCOLHA RACIONAL E DO CONCEITO DE CAPITAL SOCIAL PARA O ESTUDO DA COOPERAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E PODER PÚBLICO LOCAL.

     

     

     

     

     

  • Sociologia da Cultura: algumas notas introdutórias

    Sociologia da Cultura: algumas notas introdutórias

    Por Fabio Costa Peixoto

    Fabio Costa Peixoto
    Fabio Costa Peixoto é doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Docente do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Muriaé.

    Desde o final do século XIX pensar a cultura como um objeto de estudo foi uma preocupação das Ciências Sociais que germinavam na Europa. Dentre elas destacamos a Antropologia, que inicialmente voltou-se aos estudos sobre sociedades dita primitivas na África e Ásia.

    A Antropologia nasceu com a intenção de compreender a dinâmica de funcionamento da cultura a partir de suas práticas cotidianas e suas interrelações. Para tanto, desenvolveu uma técnica de pesquisa inovadora e característica da Antropologia: a etnografia. Essa consiste em uma técnica que envolve a permanência no local de estudo que visa compreender a lógica interna de funcionamento de uma determinada sociedade

     

    Sociologia da Cultura

    No entanto, com o desenvolvimento da sociedade moderna – que tornou-se mais complexa, em com relações sociais mais conectadas – foi necessário articular novos conhecimentos para entender a cultura e as suas relações por meio de um novo ramo da Sociologia: a Sociologia da Cultura. Esta se dedica a compreender como a cultura é construída, sua relação com as classes e grupos sociais específicos que se utilizam da cultura para moldar a sua própria identidade. Em geral, a Sociologia da Cultura volta-se para as questões que apresentam certas regularidades, embora não apenas. Cabe destacar que a Sociologia da Cultura é uma grande devedora do arcabouço teórico-metodológico da Antropologia Cultural.

    Dois grandes contribuidores para a Sociologia da Cultura

    No campo da Sociologia da Cultura dois importantes sociólogos – que se destacaram em estudos sobre a cultura – trouxeram grandes contribuições para o avanço desse ramo da Sociologia. São eles: Norbert Elias (1897-1990) e Pierre Bourdieu(1930-2002). Ambos contribuíram para o desenvolvimento de uma abordagem sociológica que toma a cultura como fundamental para se entender a formação do indivíduo. 

    Norbert Elias

    Norbert EliasNorbert Elias em sua clássica obra “O Processo Civilizador volume 1 e 2” (1994) expôs a construção do indivíduo a partir da presença de uma determinada cultura. Um exemplo deste processo foi o “refinamento” dos hábitos das elites europeias a partir do século XV, que passaram a utilizar talheres nas refeições e demais itens de higiene; aspectos que passaram a ser socialmente considerável para a distinção entre as elites e as camadas populares.

     

    Pierre Bourdieu

    Pierre BourdieuJá a contribuição de Pierre Bourdieu, em sua célebre obra “A Distinção – crítica social do julgamento” (2007), está e trazer para o debate um conjunto de conceitos analíticos para os estudos culturais, tais como o habitus e o capital cultural; contribuições que nos ajudam a compreender as distinções sociais existentes na sociedade contemporânea. 

    Referências

    BOURDIEU, Pierre. A distinção – crítica social do julgamento, São Paulo, EDUSP/Zouk, 2007

    ELIAS, Norbert. O processo civilizador volumes 1 e 2, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994.

     

    Como citar este texto:

    PEIXOTO, Fabio Costa. Sociologia da Cultura: algumas notas introdutórias. Blog Café com Sociologia. mai. 2020.

     

     

  • Sociologia e Educação: debates necessários, v.1

    Sociologia e Educação: debates necessários, v.1

    Sociologia e Educação: debates necessários
    Título: Sociologia e Educação: debates necessários, v.1
    Ano: 2019
    224 páginas
     Esgotado

    2º edição disponível AQUI

    ou AQUI (Livro físico com frete mais barato)

     

     

     

    SUMÁRIO

    Apresentação
    Cristiano das Neves Bodart
    .
    CAPÍTULO 1
    A Sociologia da Educação e alguns caminhos para a pesquisa contemporânea: a escola desigual e a escola democrática
    Gustavo Cravo de Azevedo, Paula Britto Agliardi e Sara Esther Dias Zarucki Tabac
    .
    CAPÍTULO 2
    Marxismo e Escola
    Nildo Viana
    .
    CAPÍTULO 3
    Paulo Freire e a Sociologia Política da Educação
    Thiago Ingrassia Pereira e Carine Marcon
    .
    CAPÍTULO 4
    “Programa Escola sem Partido”: reflexões sobre a cidadania e o trabalho docente
    Tatiele Pereira de Souza, Beatriz Brandão e Thiago Gabriel Silva Gameiro
    .
    CAPÍTULO 5
    Preocupações didáticas em compêndios de Sociologia dos anos de 1930
    Cristiano Bodart e Elizandra Rodrigues da Silva
    .
    CAPÍTULO 6
    Escola e formação docente: narrativas plurais
    Joana Rower, Maria Alda de Sousa Alves e João Paulo Freitas Gomes
    .
    CAPÍTULO 7
    Ser jovem é diferente de ser aluno: uma leitura sobre escola e juventude a partir da Sociologia da Experiência
    Eduarda Bonora Kern
    .
    CAPÍTULO 8
    Você deseja ser professor? Motivação e renuncia à profissão docente
    Pércia Alves Silva, Andréa Giordanna Araujo e Elizabete Amorim de Almeida Melo
    .
    ***

    Conselho científico da obra

    Ana Maria Vergne, Doutorado em Estudos Sociais e Politicos da Educaçao pela Universitat Valencia, Espanha. Professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
    Andréia Orsato, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPL);
    Arilson Oliveira, doutor em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
    Bruno Durães, doutor em Ciências Sociais Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor de Sociologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB);
    Christian Lindberg Lopes do Nascimento, doutor em Educação Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS);
    Cristiano das Neves Bodart, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
    Diana Cerdeira, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ);
    Dirceu Benincá, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFB);
    Fernanda Feijó, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora da Rede Estadual de São Paulo;
    Leandro Raizer, doutor e Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
    Luis Flávio Godinho, doutorado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB);
    Maria De Assunção Lima de Paulo, doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
    Rodrigo Diego de Souza, doutor em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor substituto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC);
    Thiago Esteves, doutorado em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Campus de Nova Iguaçu;
    Thiago Fidelis, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professor da União das Faculdades dos Grandes Lagos;
    Tomás Menk, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Substituto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
    Walter Matias Lima, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
    Welkson Pires da Silva (Kim Pires), doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
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  • [Vídeo] A sociologia de Norbert Elias

    [Vídeo] A sociologia de Norbert Elias

    Conheça um pouco das contribuições de Norbert Elias para as Ciências Sociais. Nesse vídeo são apresentadas algumas de suas principais ideias, as quais atualmente influenciam a Sociologia contemporânea.


    ?ENTREVISTADOR : Caio dos Santos Tavares – Mestrando em Sociologia – UFAL
    ?ENTREVISTADO: Cristiano das Neves Bodart – Doutor em Sociologia – USP. Professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), fazendo parte do corpo de docentes do Centro de Educação (CEDU) e do Programa de Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS-ICS).

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  • Analisando o futebol a partir de Pierre Bourdieu [Vídeo]

    Analisando o futebol a partir de Pierre Bourdieu [Vídeo]

    O futebol a partir de pierre Bourdieu pode ser utilizado como analogia para a teoria do campo. O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) utilizou a teoria da habitus para analisar o futebol como uma expressão da estratificação social. Segundo Bourdieu, o habitus é um conjunto de disposições corporais, mentais e culturais adquiridas pelo indivíduo através de sua socialização, que influenciam suas ações e escolhas.

    Bourdieu argumentou que o futebol é um campo simbólico, isto é, um espaço social onde são produzidos, reproduzidos e disputados simbolos, valores e significados. No campo do futebol, os jogadores, os técnicos, os dirigentes e os torcedores são agentes sociais que possuem um habitus particular, influenciado pelo seu lugar na estratificação social.

    O futebol a partir de pierre Bourdieu é uma expressão da luta pela distinção social, onde os jogadores e os clubes buscam afirmar sua superioridade simbólica através de suas habilidades e de sua performance no campo. No entanto, essa luta pela distinção é influenciada pelo capital econômico, cultural e simbólico dos agentes sociais envolvidos no campo do futebol.

    Por exemplo, os jogadores de futebol que possuem um habitus cultivado em clubes de elite e escolas de formação têm mais chances de serem selecionados para times de primeira divisão e de participar de competições internacionais, o que lhes confere uma distinção simbólica superior. Da mesma forma, os clubes que possuem mais capital econômico têm mais chances de contratar os melhores jogadores e de conquistar títulos, o que lhes confere uma distinção simbólica superior.

    O futebol a partir de pierre Bourdieu é um campo simbólico onde são disputados simbolos, valores e significados, e onde os agentes sociais buscam afirmar sua superioridade simbólica através de suas habilidades e de sua performance no campo. No entanto, essa luta pela distinção é influenciada pelo capital econômico, cultural e simbólico dos agentes sociais envolvidos no campo do futebol.

    O futebol a partir de pierre Bourdieu: Teoria do campo

    A teoria do campo é uma das principais contribuições do sociólogo francês Pierre Bourdieu para a compreensão da sociedade e dos processos de dominação e poder. De acordo com Bourdieu, a sociedade é dividida em diferentes campos ou espaços sociais, cada um com suas próprias regras e lógicas. Esses campos incluem o campo político, o campo econômico, o campo da arte e o campo da educação, entre outros.

    Para Bourdieu, os campos são espaços de disputa e competição, onde os indivíduos e grupos lutam pelo poder e pela dominância. Cada campo é regido por suas próprias regras e normas, que determinam como os indivíduos e grupos podem agir e qual o tipo de poder e prestígio que podem alcançar. Além disso, cada campo possui suas próprias estruturas de poder e hierarquias, que definem a posição de cada indivíduo ou grupo no campo.

    Segundo Bourdieu, a posição de cada indivíduo ou grupo no campo é determinada pelo capital que possuem. O capital pode ser de diferentes tipos, como capital econômico, capital cultural ou capital social, e é um fator importante na determinação do poder e da dominância de um indivíduo ou grupo. Por exemplo, um indivíduo que possui muito capital econômico terá mais poder e influência no campo econômico do que um indivíduo com pouco capital econômico.

    Para Bourdieu, a teoria do campo é importante porque permite compreender como a sociedade funciona e como os processos de dominação e poder ocorrem. Ela também ajuda a explicar por que algumas pessoas e grupos têm mais poder e prestígio do que outras, e como essa desigualdade é reproduzida ao longo do tempo. Além disso, a teoria do campo também é útil para compreender como os indivíduos e grupos lutam pelo poder e pela dominância em diferentes campos sociais e como essas disputas afetam a sociedade como um todo.

    APRESENTAÇÃO: Caio dos Santos Tavares – Mestrando em Sociologia -UFAL

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  • Para você nunca mais comemorar o Dia Internacional das Mulheres da mesma forma!

    Para você nunca mais comemorar o Dia Internacional das Mulheres da mesma forma!

    Dia internacional das Mulheres: uma pausa para a para reflexão da dominação masculina em elementos sutis*

     

    Por Cristiano das Neves Bodart
     
    Datas internacionais são, em muitos casos, não momentos de comemorações, mas de denúncias de injustiças ainda latentes no mundo moderno; e o dia Internacional das Mulheres é uma dessas datas. No caso da dominação masculina, tais denúncias devem desnaturalizar a posição de inferioridade da mulher na sociedade.
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    A denúncia deve ter como foco desnaturalizar uma dominação masculina que se manifesta de forma sutil e que se materializa de forma concreta. A divisão entre sexos se manifesta, muitas vezes, de forma quase imperceptível, porém eficiente para reproduzir a dominação masculina objetiva (quero me ater a esse tipo de dominação). Tal dominação notamos presente, por exemplo, na casa, onde as partes são “sexuadas”, sendo algumas vistas como tipicamente masculinas (sala) e outras tipicamente femininas (cozinha).O mesmo vale para profissões.
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    woman 41891 960 720Quase não notamos a sutileza de muitas coisa e atividades que são sexualizadas, as quais marcam uma oposição camuflada entre masculino e feminino, como as noções de em cima/embaixo, frente/atrás, seco/úmido, quente/frio. Ao homem desejoso por sexo se diz: “você está pegando fogo”; à mulher, ao contrário, se diz que têm a capacidade de “apagar o fogo”, indicando quase sempre servidão ao homem, ou ainda “você está toda molhada”, como se lubrificação fosse de exclusividade das mulheres, embora a tenha com maior intensidade. Expressões como “ativo” e “passivo” está igualmente relacionada a dominação masculina, assim como por cima e por baixo. Ainda que em um relacionamento homoafetivo, o passivo será aquele que está em condição feminina. A ideia de possuir está associada ao masculino, assim como a ideia de poder e de tomar para si. Nas relações sociais em nossa machista sociedade, cabe ao homem possuir e a mulher jogar o jogo de se deixar ou não ser possuída. O ato sexual é visto, para os que estão em condições masculinas, como “conquista” e dentre as pessoas em condições femininas como “possuída”; por isso as comuns e horríveis expressões: “dar” e “pegar”.
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    Em uma sociedade onde o gozo masculino é, antes de tudo, gozo do gozo feminino, ou seja, do poder de fazer gozar, de mostrar-se viril, podemos afirmar que ela [a sociedade]está longe de ser igualitária. O ato de penetração, por exemplo, é símbolo de dominação, tanto que em casos de um homem ser forçado a receber penetração a dor maior se manifesta não de forma física, mas simbólica, pois ele foi “feito mulher”, perdeu sua posição de dominante e passou a ser dominado (pena comum aplicada por detentos à estupradores – “o fizeram mulherzinha”).
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    A questão da virilidade, que tem seu significado vindo da ideia de “qualidade da virtus, da honra”, que seria o princípio de conservação e do aumento da honra, está associada à prova masculina de potência sexual que se confirma muitas vezes com a defloração e com o apetite sexual aflorado. Para as mulheres o apetite sexual acentuado não é visto como virilidade, mas como um comportamento “pervertido”. No comportamento feminino, os braços devem estar cruzados sobre o peito e as pernas unidas simbolizando a barreia sagrada que protege seu órgão sexual socialmente constituída em objeto sagrado submetida a regras de acesso de contatos também sagrados. Assim espera-se das mulheres. Não que eu seja favorável a “libertinagem sexual” feminina, mas torna-se necessário denunciar a “libertinagem” masculina que, no fundo, é a manifestação e concretização de seu desejo de dominação sobre as “mulheres-coisas”.
     .
    Espero que não seja apenas no Dia Internacional da Mulher que venhamos a (re)pensar as formas de dominação, sobretudo as sutis, para que, entendendo as relações díspares de poder impregnadas por todos os lados, possamos realizar uma efetiva denúncia das práticas e dos símbolos que naturalizam a dominação masculina.

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    *Texto publicado originalmente no Jornal “Correio Regional”, em 08 de Março de 2013, p.2. (jornal impresso)

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  • [Breve apresentação] Coisas ditas, obra de Pierre Bourdieu

    [Breve apresentação] Coisas ditas, obra de Pierre Bourdieu

    Por Cristiano das Neves Bodart

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    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

    O livro Coisas Ditas, de Pierre Bourdieu, foi originalmente publicada em francês pela Éditions de Minuit, em 1987, cujo título original era “Choses Dites”. A primeira versão traduzida no Brasil foi publicada em 1990 pela Editora Brasiliense, reeditada em 2004 e reimpressa até 2015 por três vezes. O encargo de traduzir essa obra coube a Cássia R. da Silveira e a Denise Moreno Pegorim, tendo recebido os cuidados técnicos de Paula Monteiro.

    A obra, em sua versão portuguesa, contém 230 páginas, estando estruturada em três partes, além de contar com um prólogo. A versão que lemos foi uma cortesia do site quizlandia.club

    Primeira parte

    A primeira parte, intitulada “Itinerário”, traz uma entrevista concedida por Bourdieu a A. Honneth, H. Kocyba e B. Schwibs, em abril de 1985 na cidade de Paris; esse texto já havia sido publicado em Alemão, na revista Ästbetik und Kommunikation (v.16, 61-62, 1986). A entrevista envolve questões relacionadas as condições das pesquisas sociológicas nas décadas anteriores, assim como as do próprio Pierre Bourdieu. O segundo texto da primeira parte também é uma entrevista ao sociólogo francês. Esta foi realizada por J. Heilbron e B. Maso, em 1983, e originalmente publicada na revista Sociologisch Tijdschrift (x.2, out. 1983). Dentre os assuntos tratados estão a situação da Sociologia naquele momento, suas abordagens, métodos e referências (inclusive nos trabalhos de Bourdieu), assim como o diálogo com as demais Ciências e com a Filosofia.

    Segunda parte

    A segunda parte da obra, intitulada “confrontações” é constituída de sete textos. O primeiro é uma entrevista realizada por P. Lamaison, publicada em Terrain (n.4, 1985). Nela Bourdieu fala de suas pesquisas etnológicas como ponto de passagem para a Sociologia. Nesse ponto o autor apresenta uma reflexão em torno da “regra”, destacando que há uma falta de precisão se estaríamos nos referindo a um aspecto objetivo e consciente ou a aspectos subjetivo que envolve todos os que participam das regras de um dado campo social, apontando como alguns conceitos foram pensados por ele para fugir de uma visão objetivista da realidade social. A partir desse momento Bourdieu apresenta diversas questões relacionada a lógica de funcionamento dos campos sociais em contraposição a algumas das concepções do estruturalismo.

    O segundo texto, da segunda parte, é intitulada “A codificação”. Trata-se de uma conferência apresentada em Neuchâtel, em 1986, tendo sido originalmente publicado na revista Actes de la Recherche em Sciences (n.64, 1986). Nela Bourdieu destaca a importância de alguns conceitos para a decodificação da realidade social (para dar forma), destacando o que passou e designar por habitus.

    O terceiro texto dessa mesma parte tem um título bem sugestivo: “Sociólogos da crença e a crença dos sociólogos”. Nesse texto, resultado de uma conferência apresentada no congresso da Associação Francesa de Sociologia da Religião (1982), Bourdieu chama atenção para as dificuldades existentes ao se pesquisar a religião, indicando o necessário distanciamento e rigor científico e os perigos que envolvem os pesquisadores que estão emersos no campo religioso.

    O texto seguinte também é resultante de uma conferência, desta vez em Estrasburgo, a qual compõe discutir aspectos obra Homo Academicus(1984). Aqui Bourdieu destaca a importância e as dificuldades de objetivar o objeto estudado, evidenciando a luta existente em todo do saber o que é o mundo social.

    O texto sequente, intitulado “leitura, leitores, letrados, literatura”, é resultante de uma conferência de Bourdieu realizada em Grenoble, em 1981, tendo sido publicada em Recherches sur la Philosophie et le Langage no mesmo ano. Aqui Bourdieu trata da leitura, destacando que o intelectual é um leitor do leitor letrado e que é necessário não tomar o que ler dos letrados sem uma postura crítica epistemológica e sociológica. Chama atenção, ainda, para a necessidade de situar o texto e a leitura numa história de produção e transmissão cultural que envolve poder.

    Terceira parte

    Por fim, a terceira parte. Esta constitui-se de seis textos. No primeiro texto, resultante de uma conferência na Universidade de San Diego, em 1986, o leitor encontrará uma exposição em torno de dois conceitos caros à Sociologia de Bourdieu: espaço social e poder simbólico.

    O segundo texto, “O campo intelectual, um mundo à parte”, é uma entrevista concedida em 1985, na qual é tratada talvez o exemplo mais consistente de campo social problematizado por Bourdieu: o campo intelectual. Nessa entrevista o leitor encontrará alguns elementos para compreender como funcionam os campos sociais e alguns dos seus aspectos constitutivos.

    O texto seguinte, “Os usos do povo”, é a transcrição da conferência realizada em Lausanne, em 1982, em um colóquio sobre Sociologia, História e Arte. Nela destaca os vários usos das ideias de povo e de popular de acordo com as lógicas de funcionamento do campo social.

    No texto, “A delegação e o fetiche político”, conferência de 1983, Bourdieu explora a delegação de poder, a alienação, a não representação que pode geral a delegação. O penúltimo texto, intitulado “Programa para uma Sociologia do Esporte”, também resultado de conferência (1983), há uma exposição de alguns indicativos metodológicos e epistemológicos para o estudo do esporte, frisando a necessidade de não considerar um esporte em particular sem levar em conta o conjunto de prática de esportes, ou seja, observando a estrutura do campo que o esporte a ser estudado está inserido.

    Por fim, a obra traz seu último texto: “A sondagem – uma ‘ciência’ sem cientista”. Nesse texto, publicado em Pouvoirs (v.33, 1985), Bourdieu discute o fazer ciência, apontando as condições atuais – sobretudo pressionado pela lógica do mercado – que se impõem sobre a forma de coletar e analisar dados, especialmente sociais. Chama atenção para os problemas existentes em pesquisas de sondagem de opinião, sobretudo por não fazer as perguntas como exige o rigor científico, antes atendendo a demanda o mercado.

    Finalizamos essa breve exposição da obra “Coisas ditas” reafirmando sua importância para a compreensão dos múltiplas abordagens com constitui o arcabouço teórico de Pierre Bourdieu, se constituindo como um autorretrato intelectual que auxilia os interessados em compreender seu legado – um dos maiores da segunda metade do século XX.