Ciências Sem Fronteiras: breves considerações acerca do boicote às Ciências Humanas

Por Roniel Sampaio Silva
O Programa Ciências Sem
Fronteiras foi criado pelo Governo Federal com a finalidade de levar estudantes
brasileiros à países estrangeiros para que pudessem ter acessos à conhecimentos
que fomentam a inovação, ciência e tecnologia. Entretanto, a área de Ciências Humanas
não foi contemplada pelo programa. A quem interessa isso? Este texto se propõe

a fazer uma breve análise sobre este fato.
Em primeiro lugar há de se convir
sobre a relevância oportuna que tem o programa. A mobilidade de estudantes de
graduação, mestrado e doutorado em vários países detentores de tecnologia de
ponta, o que pode proporcionar ao Brasil a inserção no ciclo científico
internacional e também contribuir para o intercâmbio de tecnologias. Tudo isso
a um investimento relativamente baixo. Por isso, o programa não deve ser
descredibilizado, porém a forma como o qual tem sido encaminhado pode
beneficiar um segmento do desenvolvimento científico em detrimento de outro.
OCiência Sem Fronteiras contemplou
apenas algumas áreas, sobretudo as de ciências naturais e engenharias. Daí surge
a pergunta: Por que não inserir também as áreas de Ciências Humanas? Na
ocasião, várias associações e grupos que representam o segmento de humanas
ingressaram com pedidos judiciais para que esta área fosse inserida. Até onde
tenho conhecimento todas solicitações judiciais foram negadas.
É fato que no Brasil o número de
profissionais dasCiências Humanas é maior do que das demais áreas. Entretanto,
o que está em questão não é a quantidade de profissionais e sim a qualidade
decorrenteda ampliação destas ciências por meio de intercâmbio internacional.
Outro argumento que tenta
justificar o boicote às Ciências Humanas está na falácia: “São áreas
estratégicas para o desenvolvimento do país”. Ora, a Sociologia e Educação, por
exemplo, são áreas que nada tem a contribuir com este desenvolvimento?Acredito
que quem faz tal afirmação não sabe a diferença entre desenvolvimento e
crescimento econômico. Com isso, fica a impressão que o tecnicismo a serviço do
lucro está acima de qualquer Projeto de Nação.
No período da Segunda Guerra Mundial,
a CIA encomendou da antropóloga americana Ruth Benedict um relatório sobre a
cultura japonesa. O resultado da sua pesquisa junto a imigrantes japoneses
residentes nos EUA deu origem à obra “O Crisântemo e a espada: os padrões da
cultura japonesa.” Nesse determinado contexto da história, as Ciências Humanas,
em especial a Antropologia, serviu como ferramenta daquele país para um projeto
de nação a serviço da guerra. A serviço da paz e do bem-estar social ela não
serviria?
Não é privilégio dos
profissionais das Ciências Humanas o exercício da criticidade, as demais áreas
também dispõe de profissionais extremamente competentes nisso; porém há de se
convir que as Ciências Humanas são eminentemente críticas em relação à aspectos
sociais e políticos. É de interesse dos políticos profissionais, que ora temos,
qualificar profissionais que poderão questionar suas ações no governo? Eis uma
de muitas questões que poderíamos levantar. 
Já repararam que as propagandas que se dizem “sem fronteiras” deixam tanto a desejar?

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

2 Comments

  1. Sem dúvida alguma as ciências humanas são um dos principais pilares do desenvolvimento das sociedades. Se o investimento de tecnologia basear-se apenas em questões materiais e o pensamento crítico não for formulado e comparado com outras culturas, estaremos fadados a uma nação mais alienada do que a atual, afinal, não será possível evoluir nos modelos tecnológicos se não solidifircamos o pensamento crítico que deveria ser, indispensavelmente, presente e discutido em todas as gerações.
    Um país sem grandes críticos é um país sem voz.

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