Desigualdade o que é?

A desigualdade é um fenômeno multifacetado que se insere profundamente na organização das sociedades modernas, afetando as relações sociais, políticas e econômicas. Este texto tem o propósito de analisar, a partir de uma perspectiva das ciências sociais, os contornos históricos, teóricos e práticos da desigualdade, buscando compreender suas origens, impactos e possíveis caminhos para a sua transformação. Ao longo deste estudo, serão abordadas diferentes dimensões da desigualdade, desde as estruturas de poder e as relações de classe até os aspectos culturais e simbólicos que reforçam a divisão social. Dessa forma, o presente trabalho dialoga com autores clássicos e contemporâneos, contribuindo para uma compreensão integrada e didática do tema.

1. Introdução à Desigualdade

A compreensão da desigualdade passa, necessariamente, por uma análise histórica que revele as bases de sua constituição e as transformações pelas quais passou ao longo do tempo. A partir do advento da modernidade e do processo de industrialização, novas formas de organização social surgiram, propiciando o aprofundamento das divisões entre ricos e pobres, entre o centro e a periferia, e entre diferentes grupos étnicos e culturais. De acordo com Santos (2007), a desigualdade não pode ser entendida apenas como um descompasso na distribuição de renda, mas também como um fenômeno que permeia a construção de identidades, a reprodução de valores culturais e a manutenção de relações de poder assimétricas.

O estudo da desigualdade exige a articulação entre diversas áreas do conhecimento. A sociologia, por exemplo, propõe uma abordagem que transcende o mero quantitativo, enfatizando os processos simbólicos e culturais que legitimam determinadas hierarquias sociais (Bourdieu, 1998). Nesse sentido, o presente texto busca integrar diferentes vertentes teóricas para oferecer uma visão abrangente e contextualizada sobre o que é a desigualdade, identificando suas raízes históricas e seus desdobramentos na contemporaneidade.

2. Dimensões Históricas da Desigualdade

2.1. Origem e Evolução

Historicamente, a desigualdade está intrinsecamente ligada à formação dos Estados modernos e ao surgimento do capitalismo. No período pré-moderno, embora já houvesse distinções sociais, a rigidez das estruturas feudais limitava as possibilidades de ascensão social. Com a transição para a modernidade, a expansão do comércio e o desenvolvimento das cidades contribuíram para a emergência de novas formas de estratificação social (Weber, 1922). Esse processo foi marcado por profundas transformações econômicas e políticas que favoreceram a concentração de riquezas em determinados grupos, enquanto outros foram progressivamente marginalizados.

A revolução industrial, ao transformar as relações de trabalho e promover uma urbanização acelerada, intensificou as disparidades sociais. Conforme apontam autores como Caldeira (2001), a modernização trouxe consigo não apenas avanços tecnológicos, mas também o aprofundamento de desigualdades históricas, evidenciadas na segregação espacial, na diferenciação de acesso à educação e na precarização das condições de trabalho. Dessa forma, o estudo das origens da desigualdade possibilita identificar os mecanismos que perpetuam as disparidades até os dias atuais.

2.2. O Papel do Capitalismo

O capitalismo, enquanto sistema econômico, tem sido frequentemente apontado como um dos principais responsáveis pela intensificação das desigualdades sociais. Segundo Piketty (2014), a dinâmica capitalista tende a concentrar a riqueza nas mãos de poucos, o que gera um ciclo de acumulação que se autoalimenta e dificulta a mobilidade social. Esse fenômeno pode ser observado não apenas na distribuição de renda, mas também na concentração de poder e na influência exercida sobre as instituições políticas.

A crítica de autores como Marx (1867) evidencia que o sistema capitalista, ao explorar a força de trabalho e ao criar uma divisão social do trabalho, estabelece as bases para uma estrutura social desigual. Mais recentemente, a análise de Castells (1999) amplia essa perspectiva ao mostrar como a globalização e a tecnologia intensificam as assimetrias de poder e riqueza, criando um cenário em que a desigualdade se torna uma característica intrínseca das sociedades contemporâneas.

2.3. Perspectivas Culturais e Simbólicas

Além das dimensões econômicas e políticas, a desigualdade se manifesta também no campo cultural e simbólico. Bourdieu (1998) propõe que os capitais – econômico, social e cultural – são distribuídos de forma desigual, influenciando o acesso a oportunidades e a reprodução das hierarquias sociais. Assim, o gosto, a educação e os hábitos culturais passam a funcionar como mecanismos de distinção e exclusão, reforçando a marginalização de determinados grupos sociais.

Essa dimensão simbólica da desigualdade é particularmente relevante quando se analisa a forma como os discursos e representações sociais contribuem para a legitimação de certas estruturas de poder. Conforme apontam autores como Foucault (1998), o saber e o poder estão interligados, de modo que o controle sobre os discursos pode servir para manter a ordem estabelecida, dificultando a emergência de alternativas que possam reduzir as disparidades sociais.

3. Abordagens Teóricas sobre a Desigualdade

3.1. Perspectiva Estruturalista

A abordagem estruturalista, fortemente influenciada por autores como Gramsci (1971), enfatiza a importância das estruturas sociais na formação e reprodução das desigualdades. Segundo essa perspectiva, as relações de poder e as instituições desempenham um papel central na manutenção das diferenças sociais, ao promoverem uma hegemonia que naturaliza as desigualdades. Essa visão permite compreender que a desigualdade não é um fenômeno acidental, mas sim o resultado de um processo histórico e estrutural que se perpetua por meio de mecanismos institucionais e culturais.

Gramsci (1971) defende a ideia de que a luta pela hegemonia é essencial para transformar as relações de poder. Dessa forma, a superação das desigualdades depende não apenas de mudanças econômicas, mas também de uma transformação dos discursos e práticas culturais que legitimam as diferenças sociais. Essa abordagem enfatiza, portanto, a necessidade de uma intervenção que abarque tanto o campo material quanto o simbólico.

3.2. Teorias da Modernidade e Globalização

As transformações sociais decorrentes da globalização têm gerado novos desafios para o entendimento da desigualdade. Castells (1999) destaca que, na era da informação, as novas tecnologias e a integração dos mercados globais potencializam as assimetrias existentes, ao mesmo tempo em que criam novas formas de exclusão. A globalização, ao permitir a livre circulação de capitais e a reestruturação das cadeias produtivas, contribui para a intensificação das disparidades regionais e a emergência de uma elite global com acesso privilegiado aos recursos.

Neste contexto, a desigualdade assume contornos dinâmicos, que se articulam com fatores locais e globais. As disparidades de acesso à tecnologia, à educação e aos serviços de saúde evidenciam a complexidade do fenômeno, exigindo uma abordagem que considere tanto as dimensões macro quanto micro das relações sociais (Santos, 2007). Assim, o estudo da desigualdade na modernidade requer uma compreensão integrada dos processos de globalização e das políticas públicas que visam reduzir as disparidades.

3.3. A Perspectiva Interseccional

Outra vertente teórica que tem ganhado destaque na análise das desigualdades é a abordagem interseccional. Essa perspectiva enfatiza que as desigualdades não se dão de forma isolada, mas se entrelaçam em múltiplas dimensões – como raça, gênero, classe e orientação sexual –, formando matrizes complexas de exclusão. Segundo hooks (2000), a interseccionalidade permite identificar como diferentes formas de opressão se combinam para agravar a exclusão de determinados grupos, criando um cenário de marginalização que vai além das simples diferenças econômicas.

A aplicação da perspectiva interseccional na análise da desigualdade amplia o campo de investigação das ciências sociais, ao destacar que os processos de exclusão estão intimamente ligados a contextos históricos e culturais específicos. Dessa forma, torna-se possível identificar não apenas os mecanismos que produzem desigualdade, mas também os fatores que podem contribuir para a sua superação por meio de políticas públicas integradas e ações afirmativas.

4. Análise Empírica e Dados Contemporâneos

4.1. Indicadores de Desigualdade

A mensuração da desigualdade envolve a utilização de diversos indicadores que refletem a distribuição de renda, a concentração de riqueza e o acesso a serviços públicos essenciais. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de organismos internacionais, como o Banco Mundial, apontam para a persistência de uma disparidade significativa entre as classes sociais, mesmo em países que apresentam avanços em termos de desenvolvimento humano (Piketty, 2014). Tais indicadores evidenciam que a desigualdade é um fenômeno multidimensional, cuja análise requer a integração de aspectos econômicos, sociais e culturais.

Entre os principais indicadores, destacam-se o índice de Gini, que mede a desigualdade na distribuição de renda, e os índices de pobreza e exclusão social. Estes indicadores permitem não apenas diagnosticar a situação de desigualdade, mas também monitorar os efeitos de políticas públicas voltadas à inclusão e à promoção da equidade. Conforme enfatiza Sen (1999), a análise dos indicadores sociais deve ser acompanhada por uma reflexão crítica sobre os mecanismos que os produzem e os efeitos que geram na vida das populações.

4.2. Desigualdade no Contexto Brasileiro

No Brasil, a desigualdade apresenta características históricas e contemporâneas que a tornam particularmente complexa. Desde o período colonial, marcado pela exploração e pela escravidão, o país vem enfrentando desafios relacionados à distribuição desigual de recursos e oportunidades. A persistência de disparidades regionais, étnicas e de gênero evidencia que a desigualdade no Brasil está enraizada em processos históricos de exclusão (Caldeira, 2001).

Estudos recentes indicam que, apesar de avanços em políticas de inclusão e programas sociais, a desigualdade de renda e de acesso a serviços públicos ainda é elevada. Dados do IBGE mostram que as regiões Norte e Nordeste apresentam níveis de pobreza significativamente superiores aos das regiões Sul e Sudeste. Além disso, a concentração de renda permanece alta, com uma pequena parcela da população detendo a maior parte dos recursos econômicos (Piketty, 2014). Esses dados reforçam a necessidade de uma abordagem que contemple tanto a análise dos indicadores quantitativos quanto a compreensão dos processos históricos e culturais que alimentam a exclusão social.

4.3. Impacto da Globalização e das Novas Tecnologias

A globalização e o avanço das novas tecnologias têm transformado radicalmente as relações sociais, impactando a forma como a desigualdade se manifesta. Castells (1999) argumenta que a revolução digital não só amplia o acesso à informação, mas também cria novas formas de exclusão, ao restringir o acesso a tecnologias e a redes de conhecimento para parcelas significativas da população. Em um cenário globalizado, o diferencial competitivo passa a ser medido não apenas pela capacidade produtiva, mas também pelo acesso a recursos tecnológicos e à educação de qualidade.

Essa transformação implica que os processos de inclusão e exclusão se intensificam, ao mesmo tempo em que oferecem novas possibilidades para a mobilidade social. A tecnologia, quando utilizada de forma inclusiva, pode ser um instrumento poderoso na redução das desigualdades; entretanto, quando concentrada nas mãos de poucos, tende a aprofundar as disparidades já existentes. Assim, a análise empírica dos efeitos da globalização destaca a importância de políticas públicas que promovam o acesso universal às novas tecnologias e incentivem a formação de capital humano qualificado.

5. Impactos Sociais e Culturais da Desigualdade

5.1. Consequências na Coesão Social

A desigualdade afeta diretamente a coesão social e a qualidade das relações interpessoais. Quando a diferença entre os grupos sociais se amplia, surgem barreiras que dificultam a convivência e a solidariedade. Segundo Putnam (2000), a diminuição da coesão social pode levar a um enfraquecimento das instituições democráticas, pois a fragmentação do tecido social reduz a capacidade de mobilização e de construção de consensos.

Nesse sentido, a desigualdade se manifesta não apenas no campo econômico, mas também no cultural e no político. As disparidades de acesso a bens culturais, como educação e lazer, contribuem para a construção de uma sociedade hierarquizada, na qual determinados grupos possuem vantagens acumuladas em termos de capital cultural e social. Essa concentração de recursos intangíveis, por sua vez, legitima as estruturas de poder e dificulta a emergência de uma cidadania plena e participativa (Bourdieu, 1998).

5.2. Efeitos na Saúde e no Bem-Estar

Diversos estudos apontam que a desigualdade tem efeitos diretos sobre a saúde e o bem-estar dos indivíduos. A falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, associada às condições precárias de moradia e trabalho, contribui para a disseminação de doenças e para a redução da expectativa de vida, especialmente entre as camadas mais vulneráveis da população (Sen, 1999). Esses efeitos são particularmente evidentes em contextos de elevada concentração de renda, onde a marginalização social e econômica se refletem em indicadores de saúde alarmantes.

A literatura da área da saúde pública enfatiza que a promoção da equidade passa pela implementação de políticas que garantam o acesso universal e igualitário a serviços essenciais. Assim, a redução da desigualdade é vista como um componente fundamental para a melhoria das condições de vida e para o fortalecimento do sistema de proteção social. A relação entre desigualdade e saúde revela a necessidade de uma abordagem integrada, que contemple não apenas os determinantes biológicos, mas também os fatores sociais e econômicos que influenciam o bem-estar (Castells, 1999).

5.3. Impactos na Educação e na Mobilidade Social

A educação é frequentemente apontada como um dos principais instrumentos para a promoção da mobilidade social e a redução das desigualdades. Entretanto, o acesso desigual aos recursos educacionais reforça a reprodução das hierarquias sociais. Conforme apontam Giddens (1991) e Santos (2007), a desigualdade educacional reflete e reproduz as disparidades existentes no mercado de trabalho, contribuindo para a consolidação de uma elite que detém o capital cultural e econômico necessário para manter sua posição privilegiada.

Além disso, a qualidade da educação oferecida em diferentes regiões do país e em instituições públicas e privadas varia significativamente, o que agrava o fosso social e dificulta a ascensão de grupos historicamente marginalizados. Dessa forma, políticas de inclusão e de melhoria da qualidade do ensino são essenciais para combater a desigualdade e promover a justiça social. A democratização do acesso à educação de qualidade se configura como uma estratégia indispensável para a construção de uma sociedade mais equitativa e para o fortalecimento do senso de cidadania entre os indivíduos.

6. Caminhos para a Redução da Desigualdade

6.1. Políticas Públicas e Intervenções Estruturais

A redução da desigualdade exige um conjunto de políticas públicas que atuem de forma integrada nos campos econômico, social e cultural. Uma das estratégias fundamentais consiste na promoção de políticas redistributivas, que visem reduzir o abismo entre os extremos da pirâmide social. Conforme Piketty (2014), medidas como a progressividade tributária e a ampliação do acesso a serviços públicos podem contribuir para a redistribuição de renda e para a promoção de maior justiça social.

Além disso, intervenções estruturais que promovam a inclusão dos grupos marginalizados – por meio de programas de capacitação, acesso à educação e à saúde – são essenciais para romper o ciclo da exclusão. Políticas de ação afirmativa, por exemplo, têm se mostrado eficazes na promoção da diversidade e na democratização do acesso a oportunidades, contribuindo para a formação de uma sociedade mais plural e inclusiva. A implementação de tais medidas requer um comprometimento político e social que reconheça a complexidade das desigualdades e que busque soluções que integrem os diversos aspectos do fenômeno.

6.2. A Importância da Participação Social

A participação ativa da sociedade civil é outro elemento crucial para a construção de alternativas que promovam a redução da desigualdade. Movimentos sociais, organizações não governamentais e coletivos comunitários desempenham um papel fundamental na articulação de demandas e na pressão por mudanças estruturais. De acordo com Mouffe (2005), a democracia participativa permite que os cidadãos se envolvam ativamente na definição das políticas públicas, contribuindo para a construção de consensos que reflitam as necessidades e aspirações da população.

Esse engajamento é especialmente importante em contextos marcados por profundas disparidades, pois fortalece a legitimidade das ações governamentais e amplia o alcance dos benefícios das políticas públicas. A construção de espaços de diálogo e de participação efetiva pode servir como um contraponto às estruturas de poder tradicionais, promovendo uma redistribuição mais justa dos recursos e a ampliação dos direitos sociais. Assim, a participação social se revela como um pilar indispensável para o enfrentamento da desigualdade e para a consolidação de uma sociedade democrática e plural.

6.3. Inovação Social e Novos Modelos de Desenvolvimento

Em um mundo em constante transformação, a inovação social surge como uma ferramenta poderosa para repensar as formas de organização das sociedades e propor novos modelos de desenvolvimento. Nesse sentido, iniciativas que estimulem a economia solidária, o empreendedorismo social e a criação de redes colaborativas podem contribuir para a redução das desigualdades ao promover a inclusão e a geração de oportunidades para todos os segmentos da população (Santos, 2007).

A integração de novas tecnologias com práticas comunitárias e sustentáveis permite a criação de soluções inovadoras que dialogam com as demandas locais e globais, contribuindo para a construção de uma economia mais justa e equilibrada. A promoção de políticas que incentivem a inovação social, aliada a uma regulação que garanta a distribuição equitativa dos benefícios do progresso tecnológico, representa um caminho promissor para enfrentar as desigualdades estruturais e promover a coesão social.

7. Desafios e Perspectivas Futuras

7.1. Complexidade dos Processos de Exclusão

A análise dos desafios impostos pela desigualdade revela a complexidade dos processos de exclusão que se entrelaçam em diferentes dimensões da vida social. A multiplicidade de fatores – históricos, culturais, econômicos e políticos – exige que as intervenções sejam articuladas e integradas, considerando as especificidades de cada contexto. Segundo Bourdieu (1998), os mecanismos de exclusão se manifestam de forma sutil e simbólica, perpetuando um ciclo de dominação que se reproduz de geração em geração. Essa complexidade torna imperativa a formulação de políticas públicas que, além de atuar na redistribuição de recursos, promovam a transformação dos discursos e práticas culturais que legitimam as desigualdades.

7.2. O Papel da Educação e da Cultura

O investimento em educação e cultura é um dos caminhos mais promissores para o enfrentamento das desigualdades. A educação não se resume à transmissão de conhecimentos técnicos, mas desempenha um papel fundamental na formação de cidadãos críticos e conscientes, capazes de identificar e questionar as estruturas de poder que sustentam a desigualdade. Conforme defendem Giddens (1991) e Santos (2007), a democratização do acesso ao conhecimento é crucial para a construção de uma sociedade em que a justiça social e a igualdade de oportunidades sejam prioridades. A promoção de políticas educacionais inclusivas e de qualidade é, portanto, uma estratégia indispensável para a superação dos desafios impostos pela desigualdade.

7.3. Perspectivas para a Regulação Econômica

A regulação dos mercados e a implementação de políticas de bem-estar social são elementos centrais para a construção de sociedades mais justas. A concentração de renda e a acumulação de capital em poucas mãos são desafios que exigem medidas regulatórias eficazes, capazes de promover a redistribuição de recursos e garantir a proteção dos direitos sociais. Piketty (2014) argumenta que a implementação de políticas tributárias progressivas e a ampliação do acesso a serviços públicos são fundamentais para mitigar as disparidades econômicas e fomentar um desenvolvimento sustentável e inclusivo. Dessa forma, a construção de um arcabouço legal que contemple a proteção dos direitos dos cidadãos e a promoção da justiça distributiva é essencial para o enfrentamento da desigualdade no cenário contemporâneo.

8. Conclusão

A reflexão sobre o que é a desigualdade e os seus desdobramentos na sociedade revela um fenômeno de caráter multifacetado e dinâmico, que se articula em múltiplas dimensões – econômica, social, cultural e política. A partir de uma perspectiva das ciências sociais, percebe-se que a desigualdade é resultado de processos históricos complexos, que remontam à formação dos Estados modernos e ao surgimento do capitalismo. Autores como Bourdieu (1998), Castells (1999) e Piketty (2014) demonstram que o fenômeno não pode ser reduzido a uma mera distribuição de renda, mas envolve também a construção de identidades, a legitimação de hierarquias e a reprodução de práticas culturais que perpetuam a exclusão.

Diante dos desafios apresentados, a superação da desigualdade passa pela articulação de políticas públicas integradas, que promovam a redistribuição de recursos, o fortalecimento da educação e da cultura, e a participação ativa da sociedade. A inovação social e a implementação de novos modelos de desenvolvimento também se mostram caminhos promissores para a transformação das estruturas de poder e para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

A análise apresentada evidencia que a compreensão da desigualdade exige uma abordagem interdisciplinar e a integração de diferentes perspectivas teóricas. Essa complexidade impõe o desafio de se formular estratégias que sejam capazes de articular as dimensões material e simbólica das relações sociais, promovendo não apenas a inclusão econômica, mas também a transformação dos discursos e práticas culturais que sustentam a exclusão. Nesse contexto, o enfrentamento da desigualdade se revela como uma tarefa que envolve tanto a ação do poder público quanto o engajamento da sociedade civil, em um processo contínuo de transformação social.

Por fim, a reflexão sobre a desigualdade aponta para a necessidade de uma reconfiguração dos modelos de desenvolvimento e de regulação econômica que contemple a pluralidade dos sujeitos e das experiências de vida. A democratização do acesso a recursos essenciais – como educação, saúde e tecnologia – e a promoção de uma cultura de direitos e solidariedade emergem como pilares fundamentais para a construção de um futuro mais inclusivo. Assim, o debate sobre o que é a desigualdade e como enfrentá-la não se restringe a uma análise teórica, mas se configura como um imperativo ético e político, orientado pela busca de uma sociedade em que a justiça social seja efetivamente realizada.

Referências Bibliográficas

BOURDIEU, Pierre. A Distinção: Crítica Social do Julgamento. São Paulo: Edusp, 1998.

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GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. São Paulo: Unesp, 1991.

HOOKS, bell. Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

MOUFFE, Chantal. A Arte da Política: Em Defesa da Democracia Plural. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. São Paulo: Intrínseca, 2014.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência. São Paulo: Cortez, 2007.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1922.


Este texto procurou apresentar uma visão abrangente sobre a desigualdade, articulando elementos históricos, teóricos e empíricos que evidenciam sua complexidade e os desafios que impõe à sociedade contemporânea. A análise enfatiza a importância de se adotar uma abordagem interdisciplinar para a compreensão e superação das disparidades sociais, destacando a necessidade de políticas públicas integradas, a promoção da educação de qualidade e o fortalecimento da participação social. Dessa forma, o debate sobre a desigualdade se torna um ponto central na construção de um futuro mais justo e inclusivo, onde a redistribuição de recursos e a transformação dos discursos possam efetivamente contribuir para a construção de uma sociedade democrática e plural.

A reflexão crítica e a integração das diversas dimensões da desigualdade demonstram que as soluções para esse problema complexo exigem um compromisso conjunto entre Estado, sociedade civil e o setor privado. Por meio da articulação entre políticas redistributivas, ações afirmativas e iniciativas de inovação social, é possível vislumbrar caminhos que conduzam à redução das disparidades e à promoção de uma cultura de direitos e solidariedade. Assim, o enfrentamento da desigualdade se configura não apenas como um desafio teórico, mas como uma demanda urgente para a construção de um novo paradigma social, capaz de incorporar os valores de justiça, equidade e inclusão.

Em síntese, o estudo da desigualdade, ancorado em referências teóricas e em dados empíricos, revela a complexidade dos processos sociais que geram e reproduzem as disparidades. A análise interdisciplinar aqui apresentada, fundamentada em autores consagrados e em uma reflexão crítica sobre as transformações históricas e contemporâneas, aponta para a necessidade de se repensar os modelos de desenvolvimento e de regulação econômica vigentes. Ao reconhecer a interseccionalidade dos fatores que alimentam a exclusão, torna-se possível identificar estratégias que promovam a inclusão social e a efetivação dos direitos humanos.

Portanto, a compreensão de “desigualdade o que é” vai além de uma simples mensuração econômica e adentra o campo das relações sociais, dos discursos e das práticas culturais que moldam a vivência dos indivíduos na sociedade. Somente por meio de uma abordagem integrada e comprometida com a transformação estrutural será possível construir um cenário onde a justiça social seja mais do que um ideal, mas uma realidade vivida e consolidada na experiência cotidiana de todos os cidadãos.

Roniel Sampaio Silva

Doutorando em Educação, Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Teresina Zona Sul.

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