A Sociologia de Émile Durkheim tem grande relevância para consolidação dessa disciplina enquanto ciência uma vez que esse autor criou o que chamamos de método sociológico. (…) a sociologia, enquanto disciplina, constitui-se no século XIX, no contexto da consolidação da sociedade capitalista burguesa. Assim se explica a preocupação dos chamados “clássicos da sociologia”, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim; Marx ocupado em estabelecer a partir do seu engajamento concreto com os Movimentos Operários o caminho de superação daquele modelo de sociedade, rumo a uma organização realmente igualitária; a Weber interessava compreender e explicar o porquê de o Modo de Produção Capitalista só ter se tornado dominante na Europa do século XIX, já que o comércio, a busca do lucro e até mesmo a noção de assalariamento já haviam acontecido em outros momentos da história. Seu foco são as particularidades históricas; Durkheim, (…) hoje, estava preocupado em entender em que se sustentaria a coesão de uma sociedade que surge do questionamento das tradições, da religião, etc. em prol do indivíduo – referência à ideologia individualista, isto é, a crença que o indivíduo, nesta nova realidade, poderá ir até onde seus méritos determinam e não é mais de acordo com o sobrenome que carrega ou outra barreira parecida.
A partir de diversos estudos sobre o suicídio, a vida religiosa e sobre a divisão do trabalho, sobretudo neste último, Durkheim concluiu que nas sociedades ditas primitivas onde a divisão do trabalho era menos complexa, as pessoas eram praticamente intercambiáveis (uma substitui a outra) e, por isso mesmo, aproximavam-se por semelhança. Assim a identidade do grupo se fortalecia. A isso o autor chamou solidariedade mecânica.
Na sociedade capitalista, no entanto, com a valorização do indivíduo e da individualidade, diante da complexa divisão do trabalho e da evidência de que as pessoas ocupam posições muito distintas e com preocupações diversas, como esta sociedade manter-se-ia íntegra? O que ligaria os indivíduos nesta sociedade? A resposta da primeira pergunta já conhecemos; dentre outras, a Educação desempenharia um papel fundamental ao “conformar” os indivíduos à sociedade. Mas a segunda pergunta o autor de Da divisão
do trabalho social responde da seguinte maneira, a ligação se dará pela interdependência, como cada um tem uma função específica, dependerá sempre dos outros. Assim voltamos à concepção organicista de sociedade. Este tipo de coesão foi classificado como solidariedade orgânica, um tipo, no mínimo, estranho de solidariedade, dada sua assimetria, a alguns cabe dar muito mais do que receber.
Além dessa interdependência, o cimento que liga os tijolos é constituído pela argamassa da consciência coletiva, isto quer dizer que, embora possuamos a consciência individual, existe uma padronização da conduta e dos pensamentos, aquilo que é tido como importante ou inadmissível, belo ou feio, é algo decidido fora do indivíduo, ainda que às vezes percebamos como sendo escolha exclusiva de cada um de nós.
Ainda segundo a Sociologia de Durkheim, infringir essas regras ou fugir dos padrões é algo que acontecerá em todas as sociedades, é, portanto, normal. O que, no entanto, não seria visto do ponto de vista da normalidade é que não haja uma reação/sanção da sociedade em relação àqueles que extrapolam os limites impostos por ela. Na concepção do autor, a ausência de sanções significa um estado de anomia, isto é, não se pune porque não se tem clareza sobre as regras.
De todo modo, deve ficar claro que em sua análise, o autor presume que tais regras e padrões, as leis e as punições aos que as infringem, pesam sobre todos igualmente, são coercitivas, exteriores e gerais, isto é, serão impostas às classes capitalistas e aos trabalhadores, a homens e mulheres, etc. Ou seja, em sua teoria, desconsidera as relações de dominação e poder existentes entre grupos dentro da sociedade.
Por MARCELA M. SERRANO
BIBLIOGRAFIA:
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
COSTA, Maria Cristina C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.