Folclore

Sempre houve uma divergência entre os estudiosos e os próprios folcloristas em torno do conceito “folclore”. A “queixa” é a que, para os folcloristas, o Folclore é uma manifestação cultural tradicional do povo para o povo, são seus costumes nos contos e canções populares. Contudo, o termo Folclore possivelmente surgiu em meados do século XIX quando, em 1846, o inglês William Thoms (1803-1885) inventou o termo folk-lore, (folk = povo e lore = saber, então, o “saber do povo”).

Brandão em seu livro, O que é Folclore, discute sobre a dificuldade de se conceituar e diferenciar os termos Folclore e Cultura Popular. Mas, apresenta que no caso brasileiro, foi em 1950, com a intenção de efetivar as pesquisas e o estudo sobre as manifestações populares, na Carta de Folclore Brasileiro, redigida no I Congresso Brasileiro de Folclore, que pela primeira vez se buscou definir o que era o Folclore, e como tal fenômeno se expressa:

“Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica” (BRANDÃO, 1982: 31).

Cultura popular e folclore são dois termos que, para muitos antropólogos, inclusive para Brandão, possuem o mesmo significado, pois, não são formas culturais estáticas e irreversíveis, mas que fazem parte das construções sociais, e por isso é dinâmica. No Brasil, vão além dos ritos, característicos das culturas africanas e indígenas, configuram também, a religiosidade, as danças, os pratos típicos de diferentes regiões, vivências e costumes regionais e tradicionais do povo. Ao manter a sua própria expressão cultural, a classe popular trabalhadora está se opondo à cultura dominante e oficial, fazendo com que as tradições populares permaneçam não somente no imaginário das pessoas, mas tornando-as cada vez mais reais em seu cotidiano. (sugerimos o texto de Roberto Benjamin)

Por outro lado, a grande tendência de padronização cultural está fazendo com que as expressões culturais populares caiam no esquecimento ou quando muitas vezes é vista pelo próprio povo e a sociedade em geral, como uma cultura “pitoresca”. Uma outra crítica levantada com relação à padronização, é que quando as expressões culturais populares são planejadas, possuindo datas e regras para acontecerem, já não estão mais no controle e organização do povo para si mesmo no seu cotidiano (Sugerimos, para uma compreensão crítica, a obra “A invenção das tradições”, de Eric Hobsbawm).
O folclore torna-se nesse processo um instrumento de manipulação e controle social quando deixa de ser uma manifestação popular e passa a servir de “apaziguamento” entre grupos e classes sociais, como por exemplo, o carnaval, as festas religiosas, superficialmente demonstram uma integração harmônica das classes. Mas que na realidade cotidiana vivem em conflitos sociais.

Dica de atividade para aula de sociologia

1) Destaque três manifestações folclóricas de sua região.

2) Qual(is) a(s) importância(s) do folclore existente em sua cidade/região para a sociedade?

3) De que forma o folclore é percebido pela comunidade? Como meio de promover a identidade, o turismo local, a religião ou/e preservação dos costumes? Explique como isso ocorre.

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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