Por Cristiano Bodart
O governo lançou uma propaganda conscientizando o uso da camisinha. Até ai tudo certo. O problema é que ao fazer isso, trata com normalidade à traição entre casais. Utilizando-se de frases do tipo, “ao pular a cerca, use camisinha”.
Ao tentar resolver seu problema com a saúde pública, no caso com a redução de casos de contaminação com o HIV, ela colabora para naturalizar relações sexuais extras. Sabemos que a traição entre casais é algo corriqueiro, mas considero uma patologia que deve ser
tratada.
tratada.
A referida propaganda dar a entender que problemas como esse (traição) não tem jeito, então pelo menos a população deve se prevenir do HIV. Imaginem se em todos os campos de nossa vida encarássemos as coisas desta forma. Como estaria, por exemplo, a educação do país?
Em muitos casos a traição é mais impactante sobre o traído do que a contaminação com o HIV.
Não sabe o governo que um relacionamento extraconjugal também é um problema de grande gravidade. Muitas vezes sendo o ponto de partida para o fim do casamento e, conseqüentemente, para a ruína e descrédito dessa instituição tão importante na formação do caráter dos indivíduos. O governo parece não saber que a traição pode desencadear doenças emocionais, que tanto assola a população brasileira é tão custosas quanto às demais doenças. Sem contar que relacionamentos extraconjugais, por muitas vezes acabam em tragédias.
Podem me acusar de moralista, mas não colaboro para a infelicidade de casais que um dia se uniram pensando em serem companheiros fiéis até o fim de seus dias. Valorizo à família!
É uma pena que o Governo ao tentar reduzir um problema, incentiva a infelicidade de muitas famílias, especialmente de nossos filhos!
Também penso assim, professor. Achei uma pena a tentativa de resolver um conflito, ignorando outro.Ou melhor: naturalizando.
Um abraço.
As vezes me pergunto: esse é o mundo moderno? Se for, prefiro viver um mundo mais arcaico.
desculpe o tom da crítica, mas para um blog que nos convida a tomar café com Sociologia, falta um pouco de análise sociológica nessa questão. Confundir moralidade com normalidade é comum, mas para a Sociologia é necessário um pouco mais. Até o velho Durkheim com o seu fato social já tentava diferenciar o normal e a opinião moral. Dizer que não colabora com a traição vai além do entendimento da questão e passa a ser apenas um valor de juízo. É uma práxis que não se assume como tal. E Acho que cabe mais ao líder religioso e aos jornalistas de plantão. Nos cabe muito mais entender o porquê do acontecimento e como se dá a sua normalidade histórica. Além de quê traição com HIV é um caso de saúde e traição sem HIV é uma questão de opinião individual/social/religiosa/etc.
Gosto muito do Blog e espero que ele não caia na tentação de deixar de ser uma contribuição sociológica para se tornar apenas oposição sem reflexões profundas dos temas que tenta levantar.
Caro Jorge, primeiramente obrigado pela participação. Assim temos o debate esperado (agora podemos tomar Café com Sociologia.rsrsrs).
Você tocou em um ponto chave para as ciências sociais em geral. Acredito que o discurso de imparcialidade deve ser repensado. Acredito que o papel das ciências humanas não deve se limitar a analisar, conhecer, reconhecer e compreender os fenômenos sociais. Compreender as patologias sociais e não apontá-las como indesejáveis é viver uma irrealidade (muitas vezes a academia parece não estudar o mundo real, com seus problemas urgentes por soluções/intervençoes). Neutralidade é importante em muitos casos, em outros acredito ser “moralmente” aceito e importante fazer alguns julgamentos. Se não fosse assim, deveríamos, sob a capa da imparcialidade, abominar as derrubadas das ditaduras pelo mundo a fora. Defender princípios que acreditamos é ser político. Se ser um bom sociólogo é ser frio e neutro frente as mazelas sociais, a ampliação do uso das drogas ilícitas, frente a ruína da família e da fidelidade, quero ser um péssimo cientista social!
Ao longo de minha formação tive contato com grandes obras que fortaleceram em mim tal posição. Marx não queria apenas compreender as relações de exploração, queria eliminá-la. Paulo Freire, antes de entender os problemas educacionais da América Latina, queria propor uma ação libertadora. Habermas não quis apenas compreender o mecanismo de interação política entre os homens, mas apontar uma alternativa mais igualitária. David Harvey não queria apenas compreender o capitalismo e suas mazelas, mas apontar novos caminhos, sem citar Guiddes, Bauman, entre outros. Eu poderia citar vários autores que corroboraram para minha formação, mas encerro reforçando o que vá afirmei: Se ser um bom sociólogo é ser frio e imparcial, quero ser o pior cientista social que esse país já teve.
Talvés o post não tenha buscado analizar profundamente a ação do Governo, mas desta vez não era a intenção. Apenas resolvi gritar um pouco. Não é essa sociedade que desejo para os meus filhos e netos. Alguém tem que gritar. Quem será? Cabe aos mais informados!
Um abraço. Se deesejar, pode replicar. Aprendo muito com as críticas, seja solidificando ainda mais minhas ideias, seja renovando-as… Como dizia Raul Seixas: "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela opinião formada sobre tudo".
Ou, talvez, possamos aproveitar o ensejo para debater a questão dos pressupostos/juízos de valores/"metafísica" na própria atividade científica. Estariam as ciências humanas tão distantes da realidade a ponto de seus "schoolmen" reivindicarem para si uma "perspectiva a partir de ponto algum"?
Alexandro, acredito que essa é a questão que deve ser debatida e repensanda. As contribuições de Strauss (me refiro ao relativismo cultural) para as ciências humanas é incontestável, mas daí adotar sempre um discurso distanciado acho muito ireal frente as necessidades atuais.
O que acha?
Caro Cristiano,
Naresposta ao meu comentário vc disse para eu me sentir a vontade caso quisesse replicar. Fiz uma réplica mas não a vejo aqui nos comentários. Gostária de vê-lo aqui (sem a necesidade que este que escrevo agora também esteja) para que não fique a impressão de que acredito na neutralidade científica e para reforçar o comentário que fiz ao 6tom moralista da do texto postado no blog . Um abração e continue dando sujestões de trabalhos com músicas (vídeos). os alunos gostam muito.
Caro Jorge, desculpe mas não recebi seu comentário (não consta em minha caixa de email). Por favor, refaça-a para que seja deviamente publicada.
"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las" Voltaire"
Eis o princípio da liberdade democrática de expressão!
Cristiano,
Eu creio que ainda subsista um certo positivismo na atividade científica nacional que impede o reconhecimento de pressupostos na própria atividade. A existência de tais pressupostos não é um problema, que se encontra muito mais no não-reconhecimento dos mesmos.
A propaganda é pra alcançar tudo o que, talvez, não fosse pra ser comum, mas trás uma perspectiva ainda maior. Como a traição hoje é fato, é natural hoje ver a banalização do sexo tendo expressões ainda maiores, precisa sim de propaganda para pessoas que praticam a traição, que talvez, nem seja traição, mas a realização de um desejo. Mas quero aqui firmar, que é necessário a propaganda de todas as formas.
Obrigado pelo espaço grandioso…
João Herbert, calouro 2011.1
Prezados,
Ao meu ver a questão do objeto de estudo e sua relação com o cientista social é um velho dilema para a sociologia.Diferente das demais ciências em que os cientistas são indiferente ao objeto de estudo analisado.
Penso que o tema traição deva ser analisado com um olhar de estranhamento e deixando o olhar da normalidade de lado como fica evidente nas propaganda de prevenção de HIV, onde o sexo e apresentado como somente instintivo desconsiderando as demais questão sociais implicada nas relações.
Concordo plenamente com o professor Cristiano Bodart, cabe a nós como professores formadores de onpiniões termos princípios, valores, e não simplesmente nos mantermos "neutros" diante dos fatos etc. Assim é muito fáci!