Movimento Social? Entendendo o Papel e a Diversidade dessas Ações Coletivas

movimento social o que é

Movimento social soa estranho pra você? Por que a palavra que costumamos ouvir relacionada ao tema é “movimentos sociais”? Por causa da diversidade. Os movimentos sociais são, sem dúvida, uma das manifestações mais importantes das sociedades modernas. Eles emergem como resposta a demandas sociais, políticas, econômicas e culturais que ultrapassam os limites individuais e se tornam questões coletivas. Para os professores de Sociologia, compreender e ensinar sobre esses fenômenos é essencial, pois eles representam não apenas uma forma de organização social, mas também uma ferramenta de transformação da realidade.

Neste texto, exploraremos o conceito de movimentos sociais, suas características fundamentais e como eles se diversificam ao longo da história, abordando tanto os movimentos tradicionais quanto os chamados novos movimentos sociais. Nosso foco será humanizar a compreensão desse tema e destacar sua relevância no ensino de Sociologia.

O que são movimentos sociais?

Maria da Glória Gohn (2011) define os movimentos sociais como ações coletivas de caráter sociopolítico e cultural que permitem à população organizar-se e expressar suas demandas. Esses movimentos são fruto de determinadas conjunturas históricas, representando respostas articuladas por diferentes classes e camadas sociais.

Alain Touraine, um dos principais teóricos do tema, estabelece três princípios fundamentais para que uma organização seja reconhecida como movimento social:

  1. Princípio da identidade: O movimento social precisa definir quem representa e quais interesses defende. Essa identidade é essencial para unir seus membros e comunicar suas demandas ao restante da sociedade.
  2. Princípio da oposição: Os movimentos sociais sempre enfrentam algum tipo de resistência ou bloqueio, seja ele institucional, social ou cultural. A luta contra essas oposições é o que impulsiona as ações desses movimentos.
  3. Princípio da totalidade: Embora representem grupos específicos, os movimentos sociais buscam causas que transcendam interesses particulares, promovendo valores universais e mudanças coletivas.

Esses princípios ajudam a entender por que os movimentos sociais são tão relevantes. Eles não apenas refletem demandas específicas, mas também moldam a sociedade em que estamos inseridos, atuando como agentes de mudança.

Movimentos sociais clássicos e novos movimentos sociais

Historicamente, os movimentos sociais podem ser divididos em duas grandes categorias: os clássicos e os novos.

Movimentos sociais clássicos

Até meados do século XX, os movimentos sociais estavam fortemente associados à luta de classes. Esses movimentos tinham como foco os conflitos de base econômica e eram resultado direto das desigualdades geradas pelo capitalismo. O movimento operário, surgido no século XVIII, é um exemplo marcante desse período. No Brasil, destacam-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Esses movimentos organizavam-se de forma hierárquica, geralmente em sindicatos e associações, e tinham como objetivo principal transformar as condições materiais de produção e trabalho, reduzindo as desigualdades econômicas.

Novos movimentos sociais

A partir da segunda metade do século XX, emergem os novos movimentos sociais, caracterizados por demandas que não se restringem à luta de classes. Esses movimentos abordam questões relacionadas à identidade, diversidade e direitos individuais e coletivos.

Seguindo as ideias de Afrânio Silva et al. (2016), os novos movimentos sociais possuem as seguintes características:

  • Organização em redes: Em vez de estruturas hierárquicas, atuam como redes de trocas de informação e cooperação.
  • Base social diversa: Reúne ativistas de diferentes posições sociais em torno de uma causa comum.
  • Pluralidade ideológica: Ausência de uma ideologia unificadora, substituída por ideias pragmáticas e orientadas para reformas específicas.
  • Novas dimensões de identidade: Foco em questões como gênero, etnia e orientação sexual, como nos movimentos feministas, negros e LGBTQIA+.
  • Estrutura descentralizada: Organização segmentada e menos burocrática, promovendo maior participação.

Os novos movimentos sociais também se destacam pelo uso de tecnologias digitais para mobilização e organização, ampliando seu alcance e impacto.

Movimento social:Unidade e diversidade

Uma das questões mais intrigantes sobre os movimentos sociais é sua capacidade de unir grupos tão diversos em torno de objetivos comuns. Como destacou Marx (1983), “o real é a unidade do diverso”. Isso significa que, embora cada movimento social tenha especificidades únicas, todos compartilham a essência de lutar por transformações sociais.

Por exemplo, os movimentos feministas e negros possuem bases sociais distintas, mas ambos compartilham o objetivo de combater desigualdades estruturais. Da mesma forma, os movimentos ambientais e estudantis se organizam a partir de situações específicas, mas promovem mudanças que beneficiam a sociedade como um todo.

A diversidade dos movimentos sociais também reflete as diferentes formas como grupos sociais vivenciam a modernidade e se relacionam com as estruturas de poder. Essa pluralidade é uma força, pois permite que as demandas sejam abordadas de maneira mais abrangente e inclusiva.

Movimento social: Ensinando na sala de aula

Para os professores de Sociologia, os movimentos sociais são uma porta de entrada para discutir temas como desigualdade, poder, cidadania e mudança social. Aqui estão algumas sugestões de abordagem:

  1. Estudo de casos: Analise movimentos sociais específicos, como o MST, o Movimento Feminista ou o Black Lives Matter, destacando suas causas, organizações e impactos.
  2. Debates: Promova debates sobre os princípios que fundamentam os movimentos sociais, incentivando os alunos a refletirem sobre sua relevância

Movimento social: O papel das novas tecnologias

As novas tecnologias desempenham um papel central na organização dos movimentos sociais contemporâneos. Plataformas como redes sociais, blogs e aplicativos permitem que grupos mobilizem rapidamente um grande número de pessoas, promovam suas causas e pressionem governos e instituições.

No entanto, é importante lembrar que a tecnologia é apenas uma ferramenta. O sucesso dos movimentos sociais depende de sua capacidade de conectar pessoas, construir alianças e promover mudanças concretas. Para os professores de Sociologia, essa é uma oportunidade de explorar como a tecnologia pode ser usada para ampliar a participação cidadã e fortalecer a democracia.

Metodologias ativas: Incorporar metodologias ativas, como dramatizações, mapas conceituais e simulações, pode ajudar os estudantes a se colocarem no lugar dos atores sociais envolvidos nos movimentos. Isso promove empatia e compreensão das complexidades das lutas sociais.

Conexão com a realidade local:
Incentive os alunos a identificar e estudar movimentos sociais que impactam diretamente sua comunidade ou região. Essa abordagem ajuda a aproximar o tema da realidade dos estudantes, tornando o aprendizado mais significativo.

Tecnologia como recurso pedagógico:
Utilizar ferramentas digitais para explorar os movimentos sociais pode enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Vídeos, documentários, podcasts e até mesmo as redes sociais podem servir como recursos para ilustrar como os movimentos sociais atuam e evoluem.

Considerações finais

Os movimentos sociais, ao longo da história, desempenharam um papel transformador na luta por direitos e na construção de uma sociedade mais justa. Seja através de mobilizações locais ou de redes globais, esses movimentos continuam a moldar as estruturas sociais, políticas e culturais. Como existem uma infinidade de pautas, há também uma infinidade de movimentos sociais, por isso, que não pode haver apenas um movimento social, singular.

Para os professores de Sociologia, ensinar sobre movimentos sociais vai além de transmitir conceitos teóricos: trata-se de incentivar o senso crítico, a empatia e a participação cidadã dos estudantes. É um convite para que eles reconheçam seu papel como agentes de mudança em uma sociedade repleta de desafios.

Assim, ao explorar a diversidade e a unidade dos movimentos sociais, enfatizamos não apenas a luta por justiça e equidade, mas também a importância de valorizar a pluralidade de vozes que compõem esses movimentos. Como dizia Paulo Freire, “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas, e as pessoas transformam o mundo”. Que possamos inspirar os estudantes a fazerem parte dessa transformação.

Referências:

FILHO, Alberto Alvadia; FERREIRA, Walace. O que são Movimentos Sociais? Blog Café com Sociologia. mes. ano. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/o-que-e-movimento-social/

GOHN, M. G. Sociologia dos movimentos sociais. 2 ed. São Paulo, Cortez Ed., 2014.

SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016.

 

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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