O termo necropolítica está ganhando força como forma de descrever de políticas que priorizam a morte como meio de exercer o poder. Achille Mbembe, um filósofo dos Camarões, cunhou o termo em seu livro “Necropolítica” (2018). Mbembe afirma que as práticas violentas e a morte não são apenas efeitos colaterais do conflito político, mas sim táticas calculadas para sustentar o poder político.
Achille Mbembe, um proeminente filósofo camaronês, introduziu o termo necropolítica para definir como o poder político é exercido através da vida e da morte. Mbembe afirma que esta estratégia de governação envolve a regulação das massas através do uso da força letal. Tal necropolítica não envolve apenas assassinatos, mas também assassinatos direcionados a grupos específicos.
Exemplos de Necropolítica
A prática da necropolítica se estende para além da esfera política, manifestando-se em áreas de conflito armado onde a vida do inimigo é depreciada para manter o domínio. A invasão americana do Iraque durante a guerra é um exemplo claro, onde a morte de centenas de milhares de cidadãos iraquianos foi usada como ferramenta para controlar e dominar a região.
A prática insensível da necropolítica se mostrou reiteradamente durante a pandemia de Covid-19 em curso, com algumas nações priorizando o comércio e o ganho financeiro sobre o bem-estar das pessoas. Isso levou a consequências devastadoras, causando perda significativa de vidas entre as comunidades mais desfavorecidas e marginalizadas.
A necropolítica se manifesta de diversas formas ao redor do mundo, em diferentes contextos históricos e sociais. Um exemplo claro disso é o genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994, onde o governo da minoria tutsi orquestrou um massacre contra a maioria hutu, matando cerca de 800 mil pessoas em apenas três meses. A necropolítica também é evidente na história do colonialismo e da escravidão, que foram sustentados pelo extermínio e pela subjugação de povos inteiros.
A necrópole também é uma realidade em outros países africanos, como a Nigéria, onde a violência do grupo islâmico Boko Haram já matou milhares, a maioria muçulmanos, desde 2009. A política de extermínio do Boko Haram, voltada para a criação de um estado islâmico, é um exemplo de como a necrópole pode se manifestar em contextos não ocidentais.
A presença persistente da necropolítica é um fenômeno global, principalmente no Brasil, onde a brutalidade policial atinge desproporcionalmente jovens negros de favelas e periferias empobrecidas. O governo, por meio de políticas como a guerra às drogas, encarceramento em massa e estratégias brutais de despejo urbano, legitima essa opressão violenta contra comunidades vulneráveis. Esse fenômeno não é de forma alguma limitado ao Brasil e existe de várias formas nas sociedades em todo o mundo, inclusive no mundo ocidental.
Para Mbembe, a necrópole é uma forma extrema de biopoder que busca exercer controle sobre a vida e a morte dos indivíduos. O biopoder é uma forma de poder cujo objetivo é gerir a vida a nível biológico e social. Os biodireitos se expressam por meio de políticas públicas destinadas a regular o nascimento, a saúde pública, a educação, a moradia e outros aspectos da vida social. A necropolítica, por sua vez, é uma forma extrema de biopoder que busca controlar a vida por meio da morte.
Segundo esse autor, a necropolítica é uma forma de governança baseada na lógica da guerra, onde o outro é visto como um inimigo a ser eliminado. A necropolítica é assim uma forma de violência estrutural que opera através da assimilação da morte e da marginalização de certos grupos sociais. Em suma, a necropolítica é uma forma de governo que busca controlar a população por meio da ameaça e uso da violência letal. É uma política que não apenas mata pessoas, mas também as mata seletivamente de forma a atingir determinados grupos. A necropolítica é uma manifestação extrema do biopoder onde a vida é controlada pela morte. Manifesta-se em diferentes contextos históricos e sociais, mas é sempre acompanhada pela comum marginalização e violência contra grupos percebidos como inimigos ou ameaças. Para Mbembe, a oposição à necropolítica deve se basear na afirmação da vida, na valorização da diversidade e na oposição à marginalização e à opressão. Resistir à necropolítica deve, portanto, ser uma luta por igualdade e justiça social, visando a criação de uma sociedade mais inclusiva e democrática.