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O desafio é enxergar além da aparência e da sombra das grandes personagens da política brasileira.

Por Vitor Amorim de Angelo*
Nas primeiras décadas do século XX, um grupo de historiadores franceses iniciou um movimento crítico à história política praticada até então. Essa forma de escrever e de pensar a história, dita tradicional, preocupava-se com as grandes narrativas, e nelas enfatizava o papel das personagens principais. Por principal se entendia aqueles que ocupavam os espaços de poder institucional: reis, primeiros-ministros, presidentes e afins. Para além deles, nada mais havia. Sozinhos, é como se fizessem a história acontecer.
Quase cem anos depois, a permanência dessa mesma visão tradicional não nos deixa notar a estrutura que existe ao redor das grandes figuras da politica, que, afinal, são as que aparecem. Assim, a relação Executivo-Legislativo no Brasil, por exemplo, com frequência se converte na relação entre Dilma Rousseff, de um lado, e Eduardo Cunha e Renan Calheiros, de outro. Nada mais.
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A capa da Isto É ilustrativa desse reducionismo.  Cunha, sozinho (!), sabota a República

Eduardo Cunha é um ótimo exemplo de como essa forma de enxergar a realidade anuvia a complexidade dos interesses que estão sobre a mesa. Ele preside uma Casa de 513 deputados, que o elegeu democraticamente. Porém, Cunha aparece como uma aberração, como um acidente, um estranho que se apoderou da presidência da Câmara. Vale lembrar que o deputado já está há mais de uma década na Casa e que foi eleito como seu presidente, em primeiro turno, com 52% dos votos. Medidas polêmicas por ele colocadas em pauta vêm sendo aprovadas com impressionante facilidade, como o texto-base que amplia a terceirização, com 324 favoráveis.

Quem são essas centenas de parlamentares que o elegeram? Essas centenas que votam nas medidas conservadoras que, de maneira reducionista, acabam sendo associadas exclusivamente a Eduardo Cunha e à sua vontade e capricho? O desafio é enxergar além da aparência e da sombra das grandes personagens da política brasileira.

*Doutor em Ciências Sociais (UFSCAR). Professor da Universidade de Vila Velha/UVV.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

1 Comment Deixe um comentário

  1. O Cunha é só um reflexo desse crescente cenário de políticos religiosos/conservadores, e são esses que votaram nele e apoiam suas posições, com apoio também de muitos lideres religiosos sedentos por possíveis benefícios que possam ser dados a esses "donos" de Igrejas, ele mal foi eleito presidente da câmara e já li matérias cogitando uma possível candidatura presidencial, sonho dos líderes evangélicos um presidente evangélico, pois se apenas com alguns deputados e senadores, já vemos aberrações anti-laicas como "bancada evangélica", e orações, símbolos e ritos religiosos em repartições públicas, imagine com um presidente evangélico conservador!? Isso chega a me dar calafrios e mesmo sendo cético, rogo que se deus existe, então que ele nos livre desse mal, amém!!!

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