o que é eugenia?

O que é eugenia?

abril 26, 2024

O que é eugenia? O termo tem gerado grandes aversões e debates acalorados. E há fundamento histórico nisso. Ela  diz respeito a uma teoria pseudo-científica que defende a intervenção seletiva na existência e na reprodução humana a fim de melhorar geneticamente a espécie. Tal termo, deriva do grego e “eu” significa “bom ou gem”, enquanto “genos” se refere à raça ou origem. Tal conceito de eugenia tem uma longa história e é frequentemente associado a políticas discriminatórias e, em alguns casos, até mesmo genocidas, embora possa parecer atrativo à primeira vista.

Medidas contraceptivas que melhoram a qualidade da população não são uma ideia nova. Mas no final do século XIX, a eugenia ganhou uma base sólida como movimento organizado. Foi promovido por figuras famosas como Francis Galton, primo de Charles Darwin, e Augusto Weismann. Em 1883, Galton cunhou o termo eugenia, que propunha a aplicação dos princípios da seleção natural aos humanos. Tais ideias até hoje fundamental práticas capacitistas.

A perspectiva histórica sobre o assunto está repleta de exemplos lamentáveis. Certos países, incluindo um na América do Norte, adotaram políticas eugenistas no início do século passado. Tais programas, voltados para a esterilização compulsória, tinham como alvo grupos rotulados como “indesejáveis”, englobando indivíduos com limitações físicas ou mentais. Na Europa, a eugenia foi levada a extremos horrendos durante um período sombrio, resultando em eventos de proporções devastadoras e inimagináveis.

As ideias eugênicas são criticáveis tanto do ponto de vista biológico como sociológico. Biológico porque a seletividade genética vai contra a ideia de miscigenação, que é benéfico para a diversidade genética que cria resistência contra patógenos. Já do ponto de vista sociológico é criticável porque pressupõe a ideia de uma raça superior ou perfeita com base dos critérios de seletividade.Do ponto de vista científico geral, a eugenia tem sido alvo de reprovação por sua tendência a simplificar em demasia a complexa natureza da genética humana, negligenciando os diversos fatores ambientais e sociais que influenciam o desenvolvimento individual.

Mesmo que o apoio às ideias relacionadas à este conceito tenham enfraquecido com a derrocada dos regimes nazi-fascistas na europa, essas ideias perduram no tempo. A exemplo disso disso, temos grupos de supremacistas raciais do mundo todo que defendem a existência de uma raça superior e o subjulgamento das demais raças. Ainda existe práticas médicas questionáveis que vão além dos preceitos éticos e tendem a se alinhar com visões de mundo pautadas na eugenia.

Eugenia e Darvinismo social

O Darwinismo social é uma corrente de pseudo-ciência muito próxima da eugenia. A relação entre o darwinismo social e a eugenia é intrínseca e complexa, uma vez que ambas as ideologias surgiram em contextos académicos e históricos semelhantes e partilham alguns princípios básicos. Aqui estão alguns pontos-chave que destacam a associação:

  1. Base na Seleção Natural: A teoria da seleção natural de Charles Darwin teve influência tanto no darwinismo social quanto na eugenia. O darwinismo social aplicou esses princípios à sociedade humana, argumentando que certos grupos eram naturalmente superiores e outros inferiores. Por sua vez, a eugenia propunha a aplicação dos princípios da seleção natural à reprodução humana, visando melhorar geneticamente a população.
  2. Hierarquização da Sociedade: Ambos os pontos de vista apoiavam a noção de que existe uma hierarquia natural na sociedade, com grupos considerados mais qualificados, desenvolvidos ou superiores do que outros. No darwinismo social, essa hierarquização foi baseada em características sociais, econômicas ou raciais, enquanto na eugenia baseava-se em características genéticas.
  3. Justificação da Desigualdade: Tanto o darwinismo social quanto a eugenia foram usados para legitimar e perpetuar a desigualdade social. A eugenia diz que alguns grupos devem ser incentivados a se reproduzir, enquanto outros devem ser desencorajados ou impedidos de fazê-lo. O darwinismo social defendeu que a desigualdade social e econômica é causada pela “lei natural” da competição e sobrevivência dos mais aptos.
  4. Aplicação Política e Institucional: Tanto o darwinismo social quanto a eugenia foram aplicados às políticas públicas e institucionais. Na eugenia, isso incluiu políticas de imigração seletiva, restrições ao casamento e programas de esterilização forçada. Isso pode se manifestar no darwinismo social como políticas econômicas favoráveis à classe dominante ou programas de higienização social destinados a “limpar” a sociedade de coisas consideradas indesejáveis.
  5. Críticas e Consequências: Ambos os sistemas foram criticados por suas implicações morais, científicas e éticas. O darwinismo social foi usado para justificar o colonialismo, o imperialismo e o racismo, enquanto a eugenia foi associada ao genocídio e aos abusos de direitos humanos. Além disso, tanto o darwinismo social quanto a eugenia foram desacreditados cientificamente porque ignoravam a complexidade da natureza humana e os impactos dos fatores sociais e ambientais.

A eugenia é uma ideologia trágica e controversa que levanta questões importantes sobre ética, justiça social e direitos humanos. A sua popularidade pode ter sido notável no passado, mas o seu impacto ainda é evidente hoje. O legado da eugenia deve ser examinado criticamente e devem ser feitos esforços para criar uma sociedade mais justa e inclusiva, baseada no respeito pela dignidade e autonomia de cada ser humano.

Referências

Galton, F. Hereditary talent and character. Macmillan’s Magazine,12, p. 157-66, 318-27, 1865. _____. Experiments in pangenesis, by breeding from rabbits of a pure variety, into whose circulation blood taken from other varieties had previously been largely transfused. Proceedings of the Royal Society of London, 19, p. 393-410, 1871. Disponível em:http://www.galton.org/bib/JournalItem.aspx_action=

Roniel Sampaio Silva

Doutorando em Educação, Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Teresina Zona Sul.

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