O preconceito linguístico é resultado, segundo Pierre Bourdieu, de um arbitrário cultural. Arbitrário cultural é um conjunto de crenças e práticas consideradas normativas e aceitas como “naturais” ou “corretas” em uma sociedade, mas que são, de fato, resultado de processos históricos e sociais específicos. Ao definir e legitimar o que é considerado melhor e pior, belo e feio, cria-se uma estrutura valorativa hierárquica que estabelece o que é uma linguagem correta e errada, culta e popular. Essa divisão não apenas reflete desigualdades sociais, mas também as reforça, marginalizando as variantes linguísticas que não se enquadram no ideal normativo.
É certo que há um padrão de norma culta que deve ser seguido em determinados contextos; porém, o preconceito linguístico busca ignorar e sobrepor todos os demais contextos. Cabe destacar que existem várias maneiras de expressão linguística para além da gramática normativa. Tais formas revelam biografias socioculturais que são plurais. Tentar inferiorizar as pessoas a partir de um modelo único de falar ou escrever é ignorar a diversidade linguística. Assim, definir esse modelo único de cultura é impositivo e um sutil de mecanismo violência de uma classe dominante na visão de Bourdieu. Portanto, ridicularização, preconceito e estigma são mecanismos de inferiorização de outras formas de falar na busca de uma padronização socialmente imposta; violência que Bourdieu denomina de simbólica.
Para combater o preconceito linguístico, é necessário inicialmente reconhecer que a multiplicidade de trajetórias sociais não nos permite falar de uma forma única e que existe uma hierarquização por meio do referido arbitrário cultural. Portanto, reconhecer a diversidade cultural e suas respectivas maneiras de comunicação é uma das maneiras de se respeitar o outro e superar o preconceito linguístico.