Blog

  • Preconceito

    A mísica “Quem planta preconceito”´é uma ótima opção para tratar da temática preconceito. Ao trabalhar a mísica é importante que o professor possua bases conceituais e teóricas (sugiro o livro Sociologia do Negro brasileiro, por exemplo) para que a aula não se limite ao senso cumum. O importante é partir da realidade do aluno para a construção de um conhecimento científico.
    Abaixo letra e vídeo da música.

    Quem Planta O Preconceito
    Natiruts

    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar…
    Lembra da criança
    No sinal pedindo esmola?
    Não é problema meu
    Fecho o vidro
    Vou embora…
    Lembra aquele banco
    Ainda era de dia
    Tem preto lá na porta
    Avisem a polícia…
    E os milhões e milhões
    Que roubaram do povo
    Se foi político ou doutor
    Serão soltos de novo
    Ooooooooooooh!
    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Impunidade, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Racismo, indiferença
    Não pode reclamar da violência
    Quem planta preconceito
    Impunidade, indiferença
    Não pode reclamar…
    -“Ainda há muito
    O que aprender
    Com África Bambata
    E Salassiê
    Com Bob Marley e Chuck D
    O reaggae, o hiphop
    Às vezes não é esse
    Que está aí
    Seqüela a violência
    Entrando pelo rádio
    Pela tela
    E você só sente quando falta
    O rango na panela
    Nunca aprende
    Só se prende, não se defende
    Se acorrenta, toma o mal
    Traga o mal, experimenta
    Por isso ainda há muito
    O que aprender
    Com África Bambata
    E Salassiê
    Com Bob Marley e Chuck D
    O reaggae, o hiphop pode ser
    O que se expressa aqui
    Jamaica
    O ritmo no pódium sua marca
    Várias medalhas
    Vários ouros, zero prata
    E no bater da lata
    Decreto morte é o gravata
    E no bater das palmas
    Viva a cultura rasta”
    Crianças não nascem más
    Crianças não nascem racistas
    Crianças não nascem más
    Aprendem o que
    Agente ensina…
    -“Por isso ainda há muito
    O que aprender
    Com África Bambata
    E Salassiê
    Com Bob Marley e Chuck D
    Todo dia algo diferente
    Que não percebi
    E na lição um novo
    Dever de casa
    Mais brasa na fogueira
    E o comédia vaza
    A moda acaba
    A gravadora trai
    E o fã já não
    Te admira mais
    Ainda há muito
    O que aprender
    Lado a lado, aliados
    Natiruts, GOG
    O DF, o cerrado
    Um cenário descreve
    Do Riacho a Ceilândia
    Cansei de ver
    A repressão policial
    A criança sem presente
    De natal
    O parceiro se rendendo ao mal
    Quem planta a violência
    Colhe odio no final”

  • Nos olhos da esperança: Documentário para trabalhar sobre o punitismo

    Jânio é um rapaz de vinte anos que foi preso na orla da praia da Cidade de Praia Grande confundido de fazer parte de um grupo de jovens que promoveram um arrastão. Mesmo sem provas ficou preso durante 11 meses. Leide e Francisco a mãe e o pai de Jânio precisaram lutar para provar a inocência do filho, enfrentando a principal dificuldade que esbarra num problema social ainda não resolvido no Brasil.
    “Ser pobre é ser culpado até que se prove ao contrário?”
    A criminalização da pobreza no Brasil é um processo histórico que se enraizou ideologicamente na cultura da sociedade brasileira desde o Brasil colônia. Ser pobre neste país além de ter de enfrentar tantas dificuldades para se viver com um mínimo de dignidade. Ainda tem que carregar o estigma de criminoso, de vagabundo… De ser representado de forma temerosa e até odiada pela elite brasileira.
    O caso da família Silva apresentado neste documentário nos olhos da esperança é um exemplo claro dentre milhares de outros neste país, onde pessoas são desrespeitadas, humilhadas e esquecidas pelas ruas, pelos hospitais, pelas prisões… Pelo simples motivo de viverem ao avesso da elite civilizada que impõe exigências estéticas e comportamentais, e quem não atende aos padrões é posto de lado, marginalizado, criminalizado e esquecido.

    O caso da família Silva

    No dia vinte e três de novembro de 2008, Jânio Nascimento da Silva de vinte anos morador da cidade de Praia Grande foi preso por policiais na orla da praia. Os policiais que o abordaram justificaram o ato da prisão dizendo que ele era um dos integrantes de um arrastão que havia acontecido algumas horas antes e foi identificado pelo sistema de monitoria de Praia Grande. Jânio disse para os policiais que estava acontecendo um engano. Duas senhoras que o conheciam e que estavam com ele, também tentaram argumentar com os policiais. No entanto, eles disseram que não poderiam fazer nada. Algemaram e o levaram para um posto de bombeiros para reconhecimento perante as vítimas e as testemunhas, depois o encaminharam a delegacia.
    Na delegacia Jânio foi acusado de formação de quadrilha, corrupção de menor e roubo qualificado. No entanto, nenhuma vítima o reconheceu, Jânio não aparece nas gravações do sistema de monitoria de Praia Grande e mais, dois guarda-vidas que viram o arrastão e tentaram ajudar uma mulher que estava sendo assaltada, também não o reconheceram. Neste dia a polícia também levou outros menores que a monitoria indicou como participantes do arrastão. Todos esses menores foram reconhecidos, menos Jânio. Mas, mesmo assim foi lavrado um boletim em que Jânio é supostamente acusado de o responsável pelos delitos, por ser maior de idade, enquanto os outros eram menores de idade.
    O filme nos olhos da esperança  conta que o pai de Jânio, Francisco Elias da Silva, ao saber da prisão foi à delegacia atrás do filho. Na delegacia disseram que não havia ninguém com o nome de Jânio preso. Rodando de uma delegacia a outra sem encontrar o filho, Francisco pediu ajuda para um amigo que era policial no Guarujá. Por fim, este amigo conseguiu a informação sobre onde estava Jânio. Disse que ele estava num corpo de bombeiros sendo identificado pelas vítimas e depois seria levado para a Delegacia de Polícia de Praia Grande da Vila Tupy. Quando chegou a delegacia novamente, Francisco tentou falar com a delegada Roberta Losada Correia, que não quis o receber, até que um policial disse que Jânio já estava no DP, mas que ele não veria o filho, pois o filho era maior de idade e responderia pelos atos. Francisco indagou que era o pai e que exigia ver o filho, mas o policial respondeu que ele agradecesse pelo filho estar vivo em vez de reclamar, depois do que ele fez, a polícia deveria ter o matado. Naquele dia Francisco voltou para casa sem ver o filho.
    Leide, mãe de Jânio ao saber da prisão do filho entrou em choque, segundo ela: “o impacto da prisão foi tão forte que me senti paralisada, sem saber o que fazer”.
    deixando que o marido cuidasse do caso e sem forças de ir ver o filho na prisão, para continuar vivendo Leide começou a tomar calmantes e antidepressivos sobre orientação médica e passar por um tratamento junto a um psicólogo.
    Para Adriano Neves Lopes, advogado que cuida do caso, existe arbitrariedade policial, por lavrarem um boletim de ocorrência baseado em suposições onde não existem provas e nem vítimas que o reconheçam, e diz que: “no boletim aparece que Jânio foi preso em flagrante, o que não existiu.”
    O caso foi para Ministério Público, o Advogado pediu a inépcia (cancelamento por falta de provas concretas) da denúncia por não haver liames seguros que possa decorrer uma ação penal, mas o caso sofreu indeferimento por se tratar de um crime hediondo, (aquele que a sociedade repudia pela barbárie)
    Com isso, por uma questão de segurança pública, Jânio foi mantido preso até o apuramento do inquérito policial. Ao completar oitenta e dois dias de prisão, o advogado entrou com um pedido de excesso de prazo, alegando que excedeu oitenta e um dias de prisão sem que nada tenha sido decidido e todas as tentativas de relaxamento de prisão foram indeferidas. O Juiz não aceitou, e disse que não existe excesso de prazo, pois é impossível finalizar um processo em curto espaço de tempo, as cidades da baixada santista sofrem com um alto índice de criminalidade por isso não colocará toda a população em risco por causa de um único indivíduo.
    Segundo o Advogado Lopes, ¨só pode haver um processo de descriminação no caso, pois manter alguém preso, o acusando de crime hediondo, sem provas, não há outra explicação! Qualquer leigo que leia o processo irá perceber isso. ¨
    O documentário nos olhos da esperança relata que após duas audiências de apuração do caso sem resultados, na terceira audiência, no dia vinte e nove de setembro de 2009 é concedido o relaxamento da prisão a Jânio, podendo ele responder pelos supostos crimes em liberdade, com a restrição de não poder sair do Estado e não poder sair após as dez da noite de casa.
    Caso ele for sentenciado como culpado, poderá pegar até quarenta anos de prisão (o Estado só permite trinta anos). Se for inocentado, será por insuficiência de provas. Sendo assim, os quase onze meses de prisão de Jânio e todos os impactos causados a família Silva ninguém nunca responderá por isso.
    Se houve um processo de criminalização neste caso, não são difíceis de encontrar os pontos de identificação. Afinal, não é preciso ser especialista em leis, somente ler o processo e analisá-lo, como poderia ter sido diferente a condução do caso desde o momento da prisão, ao lavramento do processo e o indeferimento do pedido de inépcia da denúncia se essa família tivesse condições financeiras e não trouxesse com ela o estigma da pobreza, que transforma essas pessoas em perigosas. E isso, é mesmo um discurso de defesa, porque infelizmente vivemos numa sociedade onde alguns podem queimar um índio que dorme num banco de ponto de ônibus e nada acontecer, enquanto outros são considerados culpados somente pelo fato de não corresponderem aos padrões esperados pela elite.
    Justiça, democracia e cidadania, onde estão? O que aconteceu com a família Silva foi uma criminalização que feriu os direitos de igualdade que é um direito inalienável do ser humano que antecede o direito de Estado.
    Mas que Estado? O de direito? Qual o direito? De ser culpado até que se prove ao contrário? Qual é o sentido do estado se ele não for instrumento de garantias?
    ¨Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro o fracasso de mais uma geração. ¨ Gilberto Cotrim.
    Essa é a sociedade em que vivemos, onde o caso da família Silva é somente mais um caso dentre milhares de outros neste enorme país onde muitos Jânios são esquecidos em celas, em corredores de hospitais, nas ruas… Criminalizados!
    Assistir o documentário nos olhos da esperança https://nosolhosdaesperanca.blogspot.com/
  • Dica de Música para trabalhar em sala de aula: Crítica à TV

    A TV tem sido muito criticada nos últimos anos. A música Televisão é um exemplo disso. A partir dessa música é possível discutir as vantegens e desvantagens da TV.
    Abaixo segue a letra e o vídeo da música.


    Televisão – Titãs
    Composição: Marcelo Fromes / Tony Belotto / Arnaldo Antunes

    A Televisão
    Me deixou burro
    Muito burro demais
    Oi! Oi! Oi!
    Agora todas coisas
    Que eu penso
    Me parecem iguais
    Oi! Oi! Oi!…

    O sorvete me deixou gripado
    Pelo resto da vida
    E agora toda noite
    Quando deito
    É boa noite, querida….

    Oh! Cride, fala prá mãe
    Que eu nunca li num livro
    Que o espirro
    Fosse um vírus sem cura
    Vê se me entende
    Pelo menas uma vez
    Criatura!
    Oh! Cride, fala prá mãe!…

    A mãe diz prá eu fazer
    Alguma coisa
    Mas eu não faço nada
    Oi! Oi! Oi!
    A luz do sol me incomoda
    Então deixa
    A cortina fechada
    Oi! Oi! Oi!

    É que a televisão
    Me deixou burro
    Muito burro demais
    E agora eu vivo
    Dentro dessa jaula
    Junto dos animais…

    Oh! Cride, fala prá mãe
    Que tudo que a antena captar
    Meu coração captura
    Vê se me entende
    Pelo menos uma vez
    Criatura!
    Oh! Cride, fala prá mãe!…

    A mãe diz prá eu fazer
    Alguma coisa
    Mas eu não faço nada
    Oi! Oi! Oi!
    A luz do sol me incomoda
    Então deixa
    A cortina fechada
    Oi! Oi! Oi!…

    É que a televisão
    Me deixou burro
    Muito burro demais
    E agora eu vivo
    Dentro dessa jaula
    Junto dos animais…

    E eu digo:
    Oh! Cride, fala prá mãe
    Que tudo que a antena captar
    Meu coração captura
    Vê se me entende
    Pelo menos uma vez
    Criatura!
    Oh! Cride, fala prá mãe…

    Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
    Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
    Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
    Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!

  • Dica de Música para trabalhar em sala de aula

    Dica de Música para trabalhar em sala de aula

    autonomia pecas

    A partir da música “Autonomia”, dos Titãs (composição de Marcelo Fromer / Arnaldo Antunes / Paulo Miklos) é possível identificar a temática Controle Social. Questões como “é importante o controle social?” “Somos livres em sociedade?” Seria possível vivermos em sociedade se todos fossem completamente autônomos?”.

    Abaixo vídeo da música “Autonomia” e letra.

    “Autonomia”, dos Titãs (composição de Marcelo Fromer / Arnaldo Antunes / Paulo Miklos)
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz
    Os pais são todos iguais
    Prendem seus filhos na jaula
    Os professores com seus lápis de cores te prendem na sala de aula
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz

    Ia pra rua, mamãe atrás s
    Ela não me deixava em paz
    Não aguentava o grupo escolar
    Nem a prisão domiciliar
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz
    Mas o tempo foi passando então eu cai numa outra armadilha
    Me tornei prisioneiro da minha própria família
    Arranjei um emprego de professor

    Vejo os meus filhos, Não sei mais onde estou
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz

    Os pais São todos iguais
    Prendem seus filhos na jaula
    Os professores com seus lápis de cores
    Te prendem na sala de aula
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz
    Ia pra rua, Mamãe atrás s
    Ela não me deixava em paz não aguentava o grupo escolar
    Nem a prisão domiciliar
    O que eu queria, o que eu sempre queria
    Era conquistar a minha autonomia
    O que eu queria, o que eu sempre quis
    Era ser dono do meu nariz
    Mas o tempo foi passando então eu ca¡ numa outra armadilha
    Me tornei prisioneiro da minha própria família
    Arranjei um emprego de professor
    Vejo os meus filhos, não sei

  • A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS DECISÕES ALOCATIVAS DE OBRAS PÚBLICAS DE INFRAESTRUTURA

    A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS DECISÕES ALOCATIVAS DE OBRAS PÚBLICAS DE INFRAESTRUTURA

     XIX Congresso Nacional de Estudante de Geografia             ENEG-UFES

    Slide1
    Trabalho a ser apresentado no dia 09 de Favereiro de 2011, no Congresso Nacional de Estudantes de Geografia, a ser realizado na UFES, ES.
    Abaixo o resumo do trabalho e os slides que estarei usando para a apresentação.

    A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS DECISÕES ALOCATIVAS DE OBRAS PÚBLICAS DE INFRAESTRUTURA
    Cristiano das Neves Bodart
    RESUMO
    O presente artigo objetiva trazer ao debate acadêmico a importância

    da participação social nas decisões alocativas de obras de infraestrutura no âmbito local. Após a descentralização político-administrativa brasileira desencadeada com a Constituição 1988, o poder local passou a apresentar maior capacidade de produção do espaço urbano a partir da alocação de obras de infraestrutura. Paralelo a tal descentralização, vem se desenvolvendo no país experiências de participação popular sobre os investimentos públicos, sobretudo aqueles relacionados às obras de infraestrutura, como é o caso dos orçamentos participativos. Busca-se aqui apresentar a potencialidade da alocação de tais obras na (re)produção do espaço urbano, sobretudo a partir das contribuições de Harvey (1980); Myrdal (1968) e Vetter e Massena (1979; 1981). Destaca-se ainda a importância da participação popular para a produção de um espaço urbano menos segregado, capaz de romper com as práticas políticas tradicionais, marcada pelo constante beneficiamento de áreas centrais e/ou privilegiadas da cidade.
    Palavras-Chaves: Descentralização Político-administrativa; Alocação de Obras de Infraestrutura; Causação Circular e Participação Social.
    Slide1 1Slide2
    Slide3

    Slide4

    Slide5

    Slide6

    Slide7

    Slide8

    Fica o convite para a participação no debate.
  • Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro

    Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro

    Os donos do poder

    datas61Dica de leitura. Quem não leu “Os donos do Poder” deve ler. Trata-se de um clássico da Sociologia brasileira.
    Abaixo um link para o e-book zipado do Raymundo Faoro: Os Donos do Poder
    https://www.4shared.com/get/4369973/72e22f42/raymundo_faoro_-_os_donos_do_poder__doc___rev_.html

    Caso queiram existe uma resenha/comentário realizado por Helga Iracema Landgraf Piccolo, disponível em
    https://www.ihu.unisinos.br/uploads/publicacoes/edicoes/1163186269.77pdf.pdf

    , ou ainda, os comentários de Gunter Axt, em https://www.tjrs.jus.br/institu/memorial/artigofaoro.php
  • Ser universitário negro

    Ser universitário negro

    img
     O relato abaixo ocorreu na Universidade Estadual de Londrina, em julho de 2010. Não se refere ao passado de nosso país, mas a um exemplo – infelismente – cotidiando. O irônico é o nome do livro que estava sendo entregue “O genocídio do negro brasileiro”. Trata-de de um relato denúncia realizada pelo Blog Coletivo pró-cotas. (coletivoprocotasuel.blogspot.com)
    No dia 27 de julho de 2010, no campus da Universidade Estadual de Londrina, André Luis Barbosa dos Santos, negro, após entregar o livro O Genocídio do Negro Brasileiro, na biblioteca setorial do CLCH emprestado por Mariana Ap. dos Santos Panta, profissional do Projeto LEAFRO – Laboratório de Estudos e Cultura Afrobrasileiros, da mesma Universidade, percebeu uma movimentação por parte dos seguranças e ouviu pelo rádio dos mesmos “O suspeito acaba de sair da biblioteca”. Sendo abordado por 12 seguranças que estavam de motocicleta, carro e a pé. Um dos seguranças de nome Mauro questionou André acerca do que ele estaria fazendo na Universidade, nesse momento surgiu um aglomerado de pessoas incluindo um funcionário da UEL que tentou intervir naquela situação e ouviu do mesmo segurança para calar a boca e voltar ao trabalho. André começou argumentar que ele poderia, sim, estar dentro da universidade, disse aos seguranças “Eu não posso ser um negro dentro da universidade? Eu só vim entregar um livro; eu poderia ser um estudante, mas por que fui confundido com um bandido? Por que sou negro?”. Os seguranças afirmaram que havia acontecido o roubo de um celular dentro do campus e que André se encaixava no perfil do assaltante, essa afirmação se deu em um tom de acusação, fazendo a situação vexatória, humilhante e constrangedora. Os seguranças se confundiram ao tentar enquadrá-lo no perfil, dizendo que a bicicleta do assaltante era amarela como a de André, mesmo a bicicleta de André sendo vermelha. Quando André tentou ligar para a polícia, um dos seguranças retirou seu crachá do bolso, colocando-o no rosto de André, no sentido de intimidá-lo, dizendo “se quiser fazer alguma coisa, ta aqui meu nome, corra atrás de seus direitos. Eu estava fazendo meu trabalho.” Mesmo muito nervoso e até mesmo chorando, André continuou a argumentação, então, os seguranças perceberam a dimensão do ocorrido e dispersaram sem pronunciar nenhuma palavra mais. André foi chamado para conversar dentro da biblioteca, recebeu apoio de alguns funcionários que concordaram que aquela situação havia sido grave e se dispuseram a testemunhar. Outra funcionária da biblioteca, mesmo mostrando ter compreendido a situação, pediu a André que este não tornasse público o ocorrido e para que o caso fosse abafado.
    Indignado, André se dirigiu à delegacia para registrar o fato. No caminho, recebeu uma ligação da Reitora da Universidade, Nadina, pedindo desculpas pela situação e pedindo para que eles se encontrassem em seu gabinete, no mesmo dia, para uma conversa. Essa conversa se deu no sentido de um pedido de desculpas por parte da Instituição e a Reitora mostrou-se compromissada com o caso.
    Por meio deste relato gostaríamos de tornar público o ocorrido, para que a comunidade interna e externa possa estar ciente de que problemas de racismo ainda existem na nossa Universidade; gostaríamos também de propor que, a partir desse fato, as pessoas façam a seguinte reflexão: até que ponto essa universidade está preparada para receber os negros?!
  • Desigualdade Social – Bauman

    “Este vídeo busca demostrar – de forma sintética – através de uma sequência de imagens, como o sociólogo Polonês Zygmunt Bauman, faz a sua leitura do processo de globalização o qual estamos vivenciando, sua origem, desenvolvimento e mecanismos, tendo como foco principal de sua análise o substrato humano. Para a produção deste video foi utilizado a sua Obra: Globalização: as consequências humanas. 1999, Jorge Zahar Editora – RJ”. Vídeo produzido por Luiz Gustavo Steinbrenner .

  • HOMENS NOVOS PARA UM MUNDO NOVO

    HOMENS NOVOS PARA UM MUNDO NOVO

    Texto de Fábio Konder Comparato Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.
    Democracia2520Direta2520e2520Indireta2520 2520BRASILESCOLA
    Trata-se de um texto bem elaborado, que perpassa por questões ligadas a participação cívica, a consciencia política, a cultura de massa, a democracia moderna, entre outros temas interligados.
    É um texto um pouco longo (dentro do que costumamos postar), mas vale a pena sua leitura atenta.
    Segue abaixo o texto:

    HOMENS NOVOS PARA UM MUNDO NOVO
    Fábio Konder Comparato*
    A legitimidade do poder
    Toda sociedade ou associação estável organiza-se em função do poder, que é a capacidade atribuida aos dirigentes de impor suas decisões, com base em princípios fundamentais, consensualmente aceitos.
    Na sociedade política, que engloba todas as demais, essa aptidão a impor decisões funda-se, em última instância, na disponibilidade da força pública, isto é, da organização dos meios de coerção, postos oficialmente à disposição dos governantes. Mas ela supõe, normalmente, uma obediência voluntária dos governados, obediência essa que se apoia, em última análise, no reconhecimento da legitimidade do poder; ou seja, na convicção geral de que ele é justo e necessário.
    Com efeito, em uma sociedade cujo poder organizador é tido como injusto pela maioria dos sujeitos, os dirigentes são obrigados, para se fazerem obedecer, a recorrer sistematicamente à força. É uma situação anormal, que não pode subsistir por muito tempo.
    Para manter inabalada a obediência voluntária dos governados, por conseguinte, importa sempre zelar pelo reconhecimento geral da legitimidade, quer do sistema de poder em geral, quer da pessoa de seus detentores em particular.
    Ora, esse juizo de legitimidade do poder nunca é feito intelectualmente, de modo abstrato, mas sempre concretamente, em função das preferências valorativas, dos sentimentos, das crenças e opiniões, que formam o que hoje se denomina a mentalidade social.
    O advento da sociedade de massas
    As sociedades do passado eram compostas de grupos sociais distintos e heterogêneos, até mesmo quanto ao seu estatuto jurídico. Em toda a Idade Média européia, por exemplo, as pessoas distinguiam-se pelo fato de pertencerem a um dos três estamentos distintos em que se dividia a sociedade: o clero (“os que rogam a Deus”), a nobreza (“os que portam armas”) e o povo.
    A partir das Revoluções do século XVIII – a industrial e as duas políticas, a norte-americana e a francesa – bem como da expansão mundial do capitalismo, esse panorama mudou radicalmente. Surgiu algo sem precedentes na História, qual seja a formação das primeiras sociedades de massas. Nelas, as diferenças estamentais foram suprimidas, e as classes sociais, embora afastadas entre si pela crescente desigualdade de níveis de vida, tenderam a fundir-se em uma massa homogênea sob o aspecto cultural, com o abandono dos costumes tradicionais e o enfraquecimento da fé religiosa.
    Assentou-se aos poucos um modo de vida voltado para o progresso material, com a inoculação daquilo que Max Weber, em ensaio célebre, denominou o “espírito do capitalismo”. Ele se funda na preocupação exclusiva com os interesses próprios e no descaso com a coisa pública, isto é, o bem comum do povo. Segundo a justificativa apresentada por Adam Smith1, até hoje largamente utilizada pelos próceres do capitalismo, a busca racional do próprio interesse acaba por realizar, involuntária mas necessariamente, o interesse coletivo.
    Os forjadores dessa mentalidade de egoismo racional – repito, sem precedentes na História – foram os empresários industriais modernos. Eles atuaram com um objetivo bem definido: legitimar a instauração do capitalismo, não apenas como sistema econômico, mas também como modo global de vida em sociedade, no qual tudo – a política, a religião, a família, a escola, as forças armadas – deve subordinar-se ao princípio da utilidade econômica.
    Com a instauração mundial do sistema de produção em série e de padronização do consumo, criaram-se rapidamente (ou seja, em menos de dois séculos) modos de vida homogêneos em todos os quadrantes da Terra. Em obra publicada em 2004,2 C. A. Baily traça um panorama impressionante da uniformidade mundial de vestuário, alimentação, registros horários, estrutura linguística, atribuição de prenomes às pessoas, práticas de esporte e lazer, a partir do século XIX, como efeito da expansão sem fronteiras do sistema capitalista. Toda essa camada cultural uniforme, contudo, passou a recobrir, ainda por efeito da expansão mundial do capitalismo, uma desigualdade cada vez mais pronunciada de níveis de vida, não apenas dentro do mesmo país, mas também entre paises desenvolvidos e subdesenvolvidos.
    Os mal chamados meios de comunicação de massa
    Nas sociedades de massas assim criadas, além do contato tradicional de pessoa a pessoa, criou-se um relacionamento impessoal e coletivo, mediante o envio de mensagens homogêneas a destinatários anônimos, para consumo em bloco e sem possibilidade de diálogo. É o que se denominou, segundo a expressão de origem anglo-saxônica, mass media communication; ou seja, um sistema englobando a grande imprensa, o cinema, o rádio e a televisão.
    Acontece que o vocábulo comunicação sofre, no caso, notável variação semântica. Na lingua matriz, communicatio e o verbo cognato communico, -are, significam pôr ou ter em comum, receber em comum, ou entrar em relações pessoais com alguém.
    Ora, no campo da mass media communication, a verdadeira comunicação foi excluida. A partir de determinados centros emitentes, cada vez menos numerosos, mensagens coletivas são enviadas impessoalmente a consumidores, que se comportam como recipientes puramente passivos.
    Em suma, instaurou-se nesse campo o mesmo sistema aplicado pelo capitalismo industrial com pleno êxito, no mundo todo: produção em série e consumo padronizado.
    Sem dúvida, a invenção da internet, agora interligada aos meios de comunicação móveis, como telefones celulares, i-pods e MP3, veio alterar o esquema original de comunicação de massa, ao criar um ambiente de diálogo coletivo a envolver um número crescente de pessoas, no mundo todo. Mas não extrapolemos inconsideradamente os efeitos de democratização que esse avanço tecnológico irá produzir. Lembremo-nos de que o público usuário desses engenhos eletrônicos pertence à minoria do estrato econômico superior da sociedade.
    Para que se compreenda bem a notável transformação social ocorrida com a introdução dos meios de comunicação de massa, é importante verificar a evolução da imprensa periódica a partir do início do século XIX. A esse respeito, o testemunho de Alexis de Tocqueville, que morou nove meses nos Estados Unidos na primeira metade daquele século, merece ser lembrado.
    Ao comparar as características fundamentais da sociedade norte-americana em relação à sociedade européia, ele apontou a multiplicidade de jornais locais, então existentes nos Estados Unidos. “Não há quase nenhuma aldeia que não tenha o seu jornal”, observou ele.3 Contrariamente ao que ocorria nos paises europeus, na América do Norte não se exigia nenhuma licença oficial para a criação de um periódico; e bastava reunir um pequeno número de assinantes, para que um só jornalista editasse o seu próprio jornal.
    Tocqueville acrescentou que, para os americanos mais esclarecidos, a razão da fraqueza da imprensa, nos Estados Unidos, residia exatamente nessa incrível disseminação dos jornais. “Constitui um axioma da ciência política, nos Estados Unidos,” observou ele, “que a única maneira de neutralizar os efeitos dos jornais é multiplicar o seu número.”
    Já no segundo volume dessa mesma obra,4 publicado dez anos depois do primeiro, Tocqueville não hesitou em dizer que a liberdade de imprensa constitui o modo mais seguro de se garantirem os direitos individuais, nas sociedades democráticas. “Nos nossos dias,” afirmou ele segundo o estilo grandiloquente da época, “o cidadão oprimido possui um só meio de defesa: dirigir-se a toda a nação e, se esta não o ouve, ao gênero humano”. E isto, concluiu, só pode ser feito por meio da imprensa livre.
    Menos de um século depois que essas linhas foram escritas, porém, operava-se nesse setor uma revolução de 180º. Percebeu-se simultaneamente, em todos os quadrantes do globo, que a junção da imprensa com o cinema, e em seguida com o rádio e a televisão, constituia o meio mais eficaz de se forjarem mentalidades novas e de se modificarem os costumes ancestrais, no sentido de levar as multidões a obedecer cegamente, senão de modo entusiástico, às orientações veiculadas por esses canais de difusão unilateral de mensagens.
    Na União Soviética e seus satélites, assim como na Alemanha nazista e demais Estados fascistas, todos os meios de comunicação de massa foram concentrados em mãos das autoridades políticas, para atuar na propaganda do regime. Essa organização autoritária persiste ainda hoje em alguns paises autoritários, como a China, o Irã e Cuba.
    Ao mesmo tempo, nas nações do chamado “mundo livre”, sob a batuta de grandes empresários capitalistas, iniciou-se um vigoroso movimento de rápida concentração do controle privado de jornais, emissoras de rádio e canais de televisão. Nos Estados Unidos, a pressão neoliberal logrou revogar em 1996 a lei de 1934, que estabelecia limites na concentração de controle empresarial desses veículos. No mesmo sentido, em 2003 a Federal Communications Commission eliminou as proibições então existentes para a participação cruzada no capital das empresas do setor. O resultado não se fez esperar: enquanto em 1983 havia no mercado de comunicação de massa 50 empresas de médio porte, hoje este é dominado por apenas cinco macroempresas.5
    No Brasil, assistimos ao mesmo fenômeno. Quatro grandes redes dominam todo o mercado nacional de televisão: a Globo controla 342 empresas; a SBT, 195; a Bandeirantes, 166; e a Record, 142.
    Com essa formidável concentração de controle empresarial, operou-se uma modificação de monta no grau de influência dos meios de comunicação de massa, sobre a sociedade em seu conjunto.
    Como salientei, quando Tocqueville visitou a América do Norte na primeira metade do século XIX, quase todos os municípios americanos tinham o seu periódico local, e cada um desses pequenos jornais divulgava notícias e comentários à sua maneira. Hoje, a grande maioria dos periódicos locais desapareceu, e os poucos jornais restantes de ampla difusão quase não se distinguem entre si quanto à sua orientação editorial.
    Por outro lado, as emissões de televisão e de rádio são hoje captadas nos Estados Unidos, respectivamente, por 98,3% e 99% das moradias. Tirante algumas diferenças de estilo sem maior importância, a escolha das notícias e o teor dos comentários difundidos por essas emissoras obedecem ao mesmo denominador comum: a defesa dos valores tradicionais da sociedade norte-americana, como a garantia das liberdades individuais, a intangibilidade da propriedade privada, a redução das atividades do Estado ao mínimo indispensável e o nacionalismo dominador nas relações internacionais.
    Quem quiser se manifestar contra essas posições dogmáticas, ao contrário do que sucedia no tempo de Tocqueville, encontrará fechadas todas as portas dos mass media communication.
    Pode-se dizer que um cenário análogo existe no Brasil há pelo menos meio século.
    Em pesquisa realizada em 2008, verificou-se que o consumo médio diário da televisão aberta, entre nós, é de quatro horas e quarenta e dois minutos por pessoa. Observou-se, aliás, que nos últimos 7 anos o brasileiro tem passado quase 30 minutos a mais por dia em frente ao aparelho de televisão. Quanto ao rádio, estima-se que 80% da nossa população ouvem as suas emissões pelo menos 15 minutos por dia.
    Na verdade, o nosso oligopólio privado de meios de comunicação de massa não surgiu espontaneamente, mas foi montado com o apoio direto das autoridades políticas, durante o regime militar. Tratava-se, de um lado, de demonstrar que o Estado autoritário, instaurado com o golpe de 1964, garantia a democracia, salvando-nos do terror comunista. Cuidava-se, de outro lado, de difundir em todas as programações o consumismo de massa, em benefício da expansão capitalista.
    Com isto, reforçou-se sobremaneira, no seio do povo, a tradicional mentalidade passiva e conformista, indiferente à política, considerada pelo vulgo como um jogo reservado exclusivamente àqueles que, na linguagem saborosa de Camões, nasceram não para mandados, mas para mandar.
    Como se percebe, o que Tocqueville estimara ser o melhor, senão o único meio de garantia dos direitos individuais contra o Estado, transformou-se, nos dias atuais, em novo poder político de natureza privada, capaz de ombrear-se com os órgãos públicos, ou de servir de principal instrumento de propaganda de regimes autoritários. Nos paises que se declaram paladinos da liberdade de expressão, estabeleceu-se, a esse respeito, uma partilha de competências: enquanto as autoridades estatais subjugam os corpos, os patrões da comunicação social, à semelhança dos chefes religiosos, dominam as almas.
    A nossa Constituição, em seu art. 220, proclama livres “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo”. Mas no campo da grande imprensa, dos serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens, essa liberdade só existe para os controladores das respectivas empresas.
    Curiosamente, ao final do segundo volume de Da Democracia na América,6 Tocqueville conjecturou sobre a possibilidade de surgir um novo despotismo nos tempos modernos, diverso daquele que se impôs nas sociedades antigas. “Ao que parece,” escreveu ele, “se o despotismo vier a se instalar nas nações democráticas dos nossos dias, ele apresentaria outras características: seria mais extenso e mais ameno, e degradaria os homens sem os atormentar.” Acrescentou que ele assemelhar-se-ia ao pátrio poder, se tivesse por objeto preparar os homens para a vida adulta. Mas o que ele busca, na verdade, é fixá-los irrevogavelmente em um estado de perpétua menoridade, de modo que os atos mais importantes da vida de cada um devam ser praticados sob a supervisão dessa autoridade tutelar.
    Não tenho dúvidas em afirmar que esse regime de despotismo aprazível existe entre nós, e se apresenta como um sistema de dupla face: sob a moderna fachada democrática, exposta na Constituição e louvada na imprensa, no rádio e na televisão, continua a vigorar a oligarquia tradicional. O povo somente é admitido à cena política no momento das eleições. Mas estas, em lugar de representarem o exercício normal da soberania popular, ocultam na verdade a sua alienação.
    Dois exemplos bastam para ilustrar a estrutura dúplice do nosso regime político.
    Ao forjar no século XVI o conceito moderno de soberania como poder absoluto e perpétuo, Jean Bodin enfatizou que “o ponto principal da majestade soberana e do poder absoluto consiste em dar lei aos súditos em geral, sem o seu consentimento”.7 Pois bem, é esse o privilégio reconhecido, entre nós, aos mal chamados representantes do povo: além de fazerem as leis, eles se atribuem a competência exclusiva para reformar a Constituição.
    Como se isso não bastasse, a nossa inventividade jurídica chegou ao extremo de exigir a prévia autorização do Congresso Nacional para a realização de plebiscitos e referendos, que a Constituição reconhece expressamente como expressões da soberania popular (Constituição, art. 14). Ou seja, o mandante precisa da permissão do mandatário para manifestar sua vontade soberana!
    Ora, no desenvolvimento desse enredo caviloso, a colaboração do oligopólio privado dos chamados meios de comunicação de massa não pode ser desprezada. O seu poder de pressão sobre o Congresso Nacional e os políticos em geral tem sido irresistível nos últimos decênios. A própria Constituição Federal de 1988 foi elaborada sob a influência dominante dos empresários do setor.
    Um programa republicano e democrático para os meios de comunicação de massa
    A magna tarefa que se impõe hoje, por conseguinte, no mundo inteiro, consiste em elaborar e instituir outra forma de relacionamento coletivo, pela qual os homens possam verdadeiramente se comunicar; isto é, pôr em comum suas ideias, sentimentos e opiniões. Sem isto, é inútil pretender ensaiar um verdadeiro regime democrático, pois ele pressupõe a capacidade do povo soberano de discutir entre si as grandes questões, de âmbito nacional ou internacional, sobre as quais deve decidir, e de interpelar constantemente os agentes estatais sobre as justificativas de sua conduta.
    Algumas diretrizes impõem-se, para tanto.
    Em primeiro lugar, é indispensável contar com uma alternativa fiável aos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, deve-se estimular a criação de blogs autônomos e das chamadas redes sociais na internet. Muito embora até o momento restritas à minoria rica, é incontestável que elas restabelecem um relacionamento pessoal e direto entre os homens, agora no plano macrossocial. Não se deve, aliás, esquecer que a eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, deveu-se em boa parte à ação dessas redes sociais.
    No terreno próprio das comunicações de massa, duas grandes diretrizes de reforma devem ser seguidas.
    A primeira delas consiste em superar a carência legislativa.
    Nunca é demais relembrar que a supressão das liberdades fundamentais pode ocorrer, tanto pelo excesso, quanto pela ausência de leis.
    Nos regimes totalitários ou autoritários, as prescrições normativas são abundantes e minuciosas, e muitas delas vigoram secretamente, ao arbítrio dos que comandam. De modo que os cidadãos jamais sabem, ao certo, o que podem fazer sem sofrer sanções repressivas.
    Mas o vácuo legislativo, tão louvado pelo liberalismo hodierno, provoca a mesma supressão das liberdades, porque o terreno social se abre então, amplamente, à dominação sem limites dos ricos e poderosos.
    Ora, em nosso País o setor de comunicação social encontra-se, há vários decênios, largamente desprovido de leis. Até hoje, permanece em vigor o Código de Telecomunicações de 1962, cujas disposições já foram em grande parte revogadas, e as que ainda se encontram formalmente em vigor são descumpridas. É o que ocorre, por exemplo, com as normas constantes de seus artigos 38, alínea h, e 124, que fixam em 5% e 25%, respectivamente, o tempo mínimo para a transmissão de informações e o tempo máximo para a publicidade comercial.
    Por outro lado, posto que promulgada a Constituição há mais de duas décadas, continuam sem regulamentação quase todas as suas disposições sobre a comunicação social; notadamente as que estabelecem as diretrizes gerais sobre a programação das emissões de rádio e televisão, e a proibição do estabelecimento em todo o setor, direta ou indiretamente, de monopólio ou oligopólio (artigos 220 e 221).
    Para completar esse quadro em branco, o Supremo Tribunal Federal, em lamentável decisão de 30 de abril de 2009, jubilosamente acolhida pelos patrões das grandes empresas do setor, julgou implicitamente revogada pela Constituição a lei de imprensa de 1967. Somos, assim, um caso raro no mundo, de país que se dá ao luxo de viver sem lei de imprensa.
    Diante dessa grave indigência legislativa, impõe-se a propositura, perante o Supremo Tribunal Federal, de uma ação de inconstitucionalidade por omissão, relativamente às disposições constitucionais pertinentes à comunicação social.
    A segunda diretriz geral a ser seguida para a reformulação do setor de comunicação de massa em nosso País diz respeito, especificamente, ao rádio e à televisão.
    Ambos utilizam-se, para as suas emissões, de um espaço público, ou seja, em boa etimologia e melhor doutrina, um espaço pertencente ao povo. Tratando-se de bem público, comum a todos, escusa lembrar que ele não pode ser apropriado por ninguém, nem pelo Estado nem pelos particulares. A função do Estado é simplesmente a de administrar a sua utilização em benefício do povo.
    É exatamente por isso que, tanto aqui como alhures, a prestação do serviço público de radiodifusão sonora e de sons e imagens depende de autorização, concessão ou permissão da autoridade administrativa competente (Constituição Federal, art. 21, XII, alínea a).
    Acontece que, entre nós, o decantado oligopólio empresarial que domina o setor atua na prática, e se considera em teoria, como proprietário desses canais de comunicação pertencentes ao povo. Chega-se até ao cúmulo do arrendamento de canais pelo seu concessionário. Ou seja, analogamente ao que ocorre com o soberano no campo político, aqui o legítimo dono é substituido por um usurpador que, a todo momento, alardeia seus pretensos direitos adquiridos e denuncia a censura estatal quando os Poderes Públicos procuram regulamentar o funcionamento desse serviço público.
    A gestão do espaço público de comunicação deve, por conseguinte, competir a um órgão igualmente público, isto é, não subordinado a nenhum Poder estatal e muito menos a particulares. O Conselho de Comunicação Social, criado por força do art. 224 da Constituição Federal, não preenche tais requisitos. De um lado, porque foi declarado órgão auxiliar do Congresso Nacional; de outro, porque a Lei nº 8.389, de 1991, que o regulamentou, dele fez uma entidade solenemente inútil.
    Importa assim criar, em todas as unidades da federação, um órgão regulador das atividades de comunicação social, que não seja mera agência estatal nem mandatário do oligopólio empresarial que domina o setor.
    Da mesma forma, a utilização do espaço público de comunicação há de ser reservado preferencialmente a entidades públicas, vale repetir, não estatais nem privadas.
    Sugiro, assim, que se crie, em todas as unidades da federação, sob a forma de fundação pública, um organismo de rádio e televisão, cujos administradores sejam designados pelo competente Conselho de Comunicação Social.
    Por outro lado, vale a pena repetir que, se as emissões de rádio e televisão constituem um serviço público, as empresas privadas somente podem ser admitidas a prestá-lo mediante regular contrato de concessão, com a observância das exigências normais, como a licitação prévia (Constituição Federal, art. 175), inclusive para a renovação do contrato.
    Escandalosamente, porém, não é o que ocorre no Brasil. Sob a pressão dos grandes empresários do setor, o Congresso Nacional inseriu na Constituição (artigos 223 e parágrafos) que as concessões de exploração de rádios e televisões sejam submetidas, em última instância, à decisão do próprio Congresso (Constituição, artigos 223 e parágrafos), o qual se revelou, nessa matéria, bem mais flexível que o Poder Executivo. Impõe-se, pois, a revogação dessas disposições aberrantes do sistema administrativo comum.
    Na concessão do serviço público de comunicação social, preferência deve ser dada às rádios comunitárias, que têm sofrido toda sorte de preterições e constrangimentos, inclusive sanções penais, por iniciativa das macroempresas do setor.
    É mister, além disso, suprimir o poder autocrático no seio das empresas privadas de imprensa, rádio e televisão, em razão do qual os patrões dispõem do privilégio de difundir suas opiniões pessoais na massa do público sobre todos os assuntos, e gozam até mesmo da prerrogativa de insultar impunemente seus desafetos! Em tais empresas, portanto, a partir de certa dimensão, a orientação editorial deveria competir a um conselho de administração composto, por metade, de representantes dos jornalistas que nela trabalham.
    Tudo isso, contudo, seria vão, se não se garantisse efetivamente, a todos, o direito fundamental de expressão nessa área.
    Proponho, com esse objetivo, duas medidas principais.
    A primeira delas consiste na criação, a par do direito tradicional de resposta, destinado a garantir o respeito à verdade e à honra individual, um direito de defesa de interesses coletivos ou difusos, a ser exercido por associações ou fundações, cujos estatutos contenham essa previsão.
    A segunda medida de reforço ao direito fundamental de expressão é a adoção do chamado direito de antena, já criado nas Constituições de Portugal (art. 40º) e Espanha (art. 20, alínea 3, in fine). Ele consiste na prerrogativa – a ser reconhecida, de preferência, a entidades representativas de setores dignos de proteção especial, como os grupos sociais vulneráveis – da livre utilização do rádio e da televisão, em tempo e horário fixados pela autoridade administrativa reguladora. Atualmente, esse direito existe no Brasil tão-só para os partidos políticos, por ocasião das campanhas eleitorais. Importa estendê-lo, permanentemente, aos grupos sociais relevantes da nossa sociedade civil.
    Conclusão
    Como arremate, permito-me voltar os olhos ao berço do regime democrático, a Atenas do século V a.C. Segundo o testemunho unânime dos grandes autores da antiguidade clássica, o traço fundamental da democracia ateniense era a liberdade de palavra, reconhecida indistintamente a todos os cidadãos (isegoria). Sócrates, por exemplo, um de seus críticos mais acerbos, queixou-se, no diálogo Protágoras de Platão, de que nas reuniões da Ekklésia, a assembléia do povo que decidia sobre as questões mais importantes da pólis, qualquer cidadão – carpinteiro, ferreiro, sapateiro, comerciante, armador – rico ou pobre, aristocrata ou plebeu, instruido ou ignorante, tinha o direito de usar da palavra e exprimir sua opinião. Na visão socrática, essa prerrogativa deveria ser reservada exclusivamente aos melhores cidadãos (aristoi).
    Ao reinventarmos a democracia nos tempos modernos, o pretexto ridículo da impossibilidade de se reunir o povo em uma só praça fez com que a liberdade de expressão passasse a ser garantida, doravante, tão-só aos governantes e controladores dos meios de comunicação de massa.
    Para abolir essa farsa, não basta, na verdade, criar as instituições adequadas, como sugeri nesta exposição. Elas são necessárias, mas não suficientes. É preciso também formar a consciência cívica do povo, segundo o princípio republicano e o ideal democrático.
    Eis a grande missão pedagógica, destinada a formar uma nova humanidade para um mundo sem precedentes na História.
    * Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.

    Texto recebido por e-mail. Colaboração de Matheus Gomes M. Ferreira, aluno do curso de Ciências Sociais da UFJF