Resultados da pesquisa para: “Durkheim”

  • ENEM INEP: como o cafécomsociologia pode te ajudar

    ENEM INEP: como o cafécomsociologia pode te ajudar

    O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma das principais portas de entrada para o ensino superior no Brasil e, por isso, desperta grande interesse entre estudantes de todo o país. Organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o ENEM vai muito além de um simples teste: ele é uma ferramenta para avaliar conhecimentos adquiridos ao longo da educação básica e uma oportunidade de transformar sonhos em realidade. Por isso, entender como o ENEM funciona e como se preparar da melhor forma é essencial para garantir um bom desempenho.

    Neste texto, vamos explorar o papel do INEP no ENEM, apresentar ferramentas úteis, como simulados, textos e vídeos, e destacar os principais autores e temas que podem ajudar você a construir um repertório rico e diverso. E o melhor: todo esse conteúdo está disponível gratuitamente no site do “Café com Sociologia”, um portal que tem ajudado milhares de estudantes a se prepararem para o exame de forma crítica e eficiente.

    O Papel do INEP no ENEM

    O INEP é responsável pela elaboração, aplicação e correção do ENEM. Ele define as diretrizes pedagógicas e os eixos cognitivos que estruturam o exame, garantindo que as questões abordem competências e habilidades essenciais para o desenvolvimento pleno dos estudantes. Além disso, o INEP busca alinhar o ENEM às demandas da sociedade, promovendo temas que estimulam a reflexão crítica, a inclusão social e a sustentabilidade.

    Um dos diferenciais do ENEM é a proposta interdisciplinar. As questões geralmente integram conhecimentos de diferentes áreas, como ciências humanas, linguagens, matemática e ciências da natureza. Essa abordagem exige que o estudante não apenas memorize conteúdos, mas também saiba contextualizá-los e aplicá-los em situações reais.

    Como o Café com Sociologia Pode Ajudar

    Para ajudar você a se preparar para o ENEM, o site “Café com Sociologia” oferece uma série de recursos exclusivos e gratuitos. Confira como essas ferramentas podem fazer a diferença nos seus estudos:

    Simulados

    Os simulados do “Café com Sociologia” são projetados para refletir a dinâmica do ENEM, com questões interdisciplinares que seguem o padrão do INEP. Ao realizar esses simulados, você pode:

    • Identificar seus pontos fortes e fracos;
    • Treinar a gestão do tempo durante a prova;
    • Familiarizar-se com o estilo de questões mais recorrentes.

    Além disso, cada questão vem acompanhada de um gabarito comentado, permitindo que você compreenda os erros e aprimore suas estratégias de resposta.

    Textos

    Nosso site oferece uma vasta coletânea de textos que abordam temas atuais e relevantes para o ENEM, como:

    • Desigualdade social;
    • Sustentabilidade ambiental;
    • Direitos humanos;
    • Tecnologia e sociedade.

    Esses textos são acompanhados de reflexões e análises que ajudam você a ampliar seu repertório sociocultural, essencial para a redação e para as questões de ciências humanas.

    Vídeos

    Para quem prefere aprender de forma mais dinâmica, o “Café com Sociologia” também disponibiliza vídeos explicativos. Neles, professores especializados abordam temas chave do ENEM, com:

    • Análises de questões anteriores;
    • Dicas de organização e planejamento de estudos;
    • Explicação de conceitos importantes de sociologia, filosofia, história e geografia.

    Esses vídeos são ideais para revisar conteúdos de forma leve e interativa, mantendo a motivação alta.

    Autores que Fazem Diferença

    Outro diferencial do “Café com Sociologia” é a seleção de autores e obras que podem enriquecer sua preparação. Alguns dos nomes mais recomendados incluem:

    • Karl Marx: A compreensão de conceitos como “luta de classes” e “modo de produção” é frequentemente cobrada em questões e redações.
    • Emile Durkheim: Suas análises sobre a sociedade e os fatos sociais ajudam a interpretar diversos fenômenos sociais.
    • Max Weber: O conceito de “racionalização” e suas reflexões sobre o capitalismo moderno são altamente relevantes.
    • Zygmunt Bauman: Autor de “Modernidade Líquida”, Bauman oferece insights sobre temas como globalização e relações humanas na contemporaneidade.
    • Paulo Freire: Referência em educação, Freire é essencial para questões sobre pedagogia e cidadania.

    Estudar esses autores não só ajuda na resolução de questões, mas também dá suporte para a construção de argumentos mais sólidos na redação.

    Dicas Extras para o ENEM

    • Estude temas transversais: O ENEM valoriza a capacidade de relacionar diferentes áreas do conhecimento. Por exemplo, você pode conectar biologia e geografia para falar sobre desmatamento e suas consequências.
    • Pratique redações: No “Café com Sociologia”, você encontra modelos de redação com temas variados, além de dicas para desenvolver uma argumentação consistente.
    • Crie uma rotina de estudos: Defina metas diárias e organize seu tempo para estudar todas as áreas do ENEM.

    O ENEM não é apenas um teste; é uma oportunidade de transformar sua vida por meio da educação. Com os recursos do “Café com Sociologia”, você tem à sua disposição uma plataforma completa para estudar de forma crítica e eficiente. Explore nossos simulados, textos, vídeos e autores recomendados, e prepare-se para o ENEM com confiança.

    Lembre-se: a dedicação de hoje será a chave para abrir as portas do seu futuro. Visite o site do “Café com Sociologia” e comece agora mesmo sua jornada rumo ao sucesso!

     

    Para acessar o site do ENEM INEP

  • As regras do método sociológico: alguns apontamentos

    As regras do método sociológico: alguns apontamentos

    Émile Durkheim, um dos fundadores da Sociologia como ciência, trouxe à luz conceitos fundamentais para entender o funcionamento das sociedades. Em sua obra “As Regras do Método Sociológico”, publicada em 1895, Durkheim estabeleceu as bases metodológicas que diferenciam a Sociologia de outras disciplinas. Vamos explorar os principais aspectos dessa obra revolucionária.

    Por Roniel Sampaio Silva


    1. O que são os fatos sociais?

    Durkheim define os fatos sociais como formas de agir, pensar e sentir que são externas aos indivíduos, mas que se impõem a eles com força coercitiva. Esses fatos não são produtos da consciência individual, mas sim fenômenos coletivos, regidos por normas sociais que moldam comportamentos e pensamentos.

    👉 Exemplo: A língua que falamos, os costumes, as leis e as tradições são exemplos de fatos sociais. Eles existem antes de nós e continuam existindo mesmo após nossa saída da sociedade.


    2. A sociedade como um “organismo”

    Inspirado pelas ciências naturais, Durkheim utiliza uma metáfora biológica para explicar a sociedade. Ele compara a sociedade à água, que é mais do que a soma dos gases que a compõem. Assim, a sociedade não é apenas a soma das consciências individuais; ela é um fenômeno sui generis, com propriedades próprias e independentes.

    👉 Conclusão: A sociedade não é a simples agregação de indivíduos, mas o resultado de interações complexas entre pessoas e instituições, gerando algo único.


    3. Classificação e evolução das espécies sociais

    Durkheim propôs um esquema evolutivo para compreender os tipos de sociedade:

    • Sociedades tribais (polissegmentárias simples): Formadas por clãs que se agrupam para formar aldeias.
    • Sociedades simplesmente compostas: União de várias sociedades tribais.
    • Sociedades duplamente compostas: Formadas pela fusão de sociedades simplesmente compostas.
    • Sociedades complexas: Resultado da combinação de diferentes espécies sociais, como as urbanas e industriais.

    👉 Perspectiva: Durkheim mostra que as sociedades mais complexas derivam de processos de evolução e fusão de formas mais simples, evidenciando uma organização progressiva.


    4. Explicando os fatos sociais: Causa e função

    Durkheim argumenta que, para compreender a origem de um fato social, é preciso analisar duas dimensões:

    • Causa eficiente: As condições que produziram o fato social.
    • Função: O papel que o fato desempenha na sociedade.

    👉 Exemplo: A religião, segundo Durkheim, não é apenas uma crença, mas uma força social que une os indivíduos, regulando comportamentos e fortalecendo a coesão social.


    5. O método comparativo

    Como é impossível realizar experimentos laboratoriais na Sociologia, Durkheim propõe o uso do método comparativo para identificar relações de causalidade. Ele utiliza o exemplo do suicídio para demonstrar que fenômenos sociais, como a taxa de suicídio, estão ligados a fatores estruturais, como o enfraquecimento da religião e das tradições.

    👉 Dica metodológica: Ao observar a correlação entre fenômenos (como “menos religião” e “maior taxa de suicídio”), é possível identificar uma causa comum – no caso, o enfraquecimento do tradicionalismo religioso.


    6. A objetividade na Sociologia

    Durkheim enfatiza que a Sociologia deve ser objetiva e científica. Ele propõe que os fatos sociais sejam tratados como “coisas”, ou seja, como objetos de estudo externos e observáveis. Isso garante que o pesquisador evite interpretações subjetivas e chegue a generalizações confiáveis.

    👉 Frase-chave: “O fato social é independente das consciências individuais e deve ser estudado com o mesmo rigor com que um físico estuda os fenômenos naturais.”


    Por que “As Regras do Método Sociológico” ainda é relevante?

    A obra de Durkheim é um marco para a Sociologia, pois:

    • Estabeleceu o método científico para a análise social.
    • Mostrou que a sociedade possui leis próprias que podem ser descobertas e compreendidas.
    • Influenciou gerações de sociólogos a estudar a sociedade de forma rigorosa e sistemática.

    Durkheim nos ensina que a Sociologia vai além do senso comum, oferecendo uma lente científica para desvendar os padrões ocultos que regem nossas vidas coletivas.

    Referências:
    Durkheim, Émile. As regras do método sociológico. Tradução de Maria Ferreira. Petrópolis: Vozes, 2019.

     

  • Temas de introdução à Sociologia no ensino médio

    Temas de introdução à Sociologia no ensino médio

    Temas de introdução à Sociologia no ensino médio

    Por Flávio Sarandy1

    Baixe a versão em PDF AQUI

    O texto a seguir é de finalidade exclusivamente didática para apoiar o ensino da Sociologia em cursos do Ensino Médio. Na verdade, é uma espécie de rascunho do que o autor explicava em salas de aula do Ensino Médio no início do ano letivo e nas primeiras três aulas (de 50 minutos cada); um material provavelmente ainda incompleto e que fez uso livre de leituras do autor. Ele precisa ser “preenchido” com exemplos e com o estilo de cada professor e professora. A intenção de publicá-lo é se servir de apoio na preparação das primeiras aulas do ano e, talvez, até mesmo como fonte de leitura complementar para os alunos – pode servir como base para um roteiro de aula, assim como pode ser enviado no todo ou em pequenos trechos para leitura e debate da turma. O objetivo didático era o de perturbar a perspectiva naturalizante da vida social e contrapor o conhecimento sociológico à perspectiva individualista, preparando os alunos e as alunas para aprofundar outras reflexões a partir de Durkheim, Marx e Weber, entre outros. Como está escrito o texto ainda é bastante teórico e não reflete os exemplos e atividades que o autor desenvolvia. Ficaria muito extenso fazer de outra forma. E esta é a razão pela qual deve ser apropriado, adaptado e completado por quem o desejar utilizar.

    Sociologia é o quê?

    Existem certas coisas que são evidentes aos olhos. Uma delas diz respeito à sociedade. Olhem pela janela, olhem quando andarem por aí, nas ruas, olhem dentro de suas próprias casas. E o que vocês veem? Que as pessoas que compõem a sociedade são diferentes. Elas não têm os mesmos gostos, não pensam do mesmo jeito, não vão à mesma igreja, não torcem pelo mesmo time, não votaram no mesmo candidato nas últimas eleições, não amam da mesma forma e talvez sejam tão diferentes que se torna quase impossível a convivência. É por isso que quando falamos de sociedade nos vêm à mente um montão de gente. E se as pessoas são assim tão diferentes, o que é mesmo a sociedade? Como permanecemos juntos? Será que existe esse algo que une cada um e todos? Na altura do campeonato você pode estar pensando: bem, talvez não exista algo que chamamos de sociedade, mas tão somente pessoas vivendo suas vidas juntas.

    Mas é aí que a coisa fica intrigante: isso a que chamamos de sociedade é algo que já existia quando nascemos, que nenhum de nós planejou ou pretendeu, nem mesmo todos nós em conjunto e que, apesar disso, é formado por nós mesmos. Isso pareceu complicado? Nem tanto. A questão é a seguinte: sem dúvida a sociedade é composta por todos nós, que estamos vivos, mas também pelos que já se foram e não vivem mais entre nós. Ao mesmo tempo, nenhum de nós decidiu sobre essa sociedade, muito menos todos nós juntos: a sociedade não é algo que foi planejado, pensado, pretendido ou decidido em assembleia. E continuará existindo depois de nós. Ainda assim, ela só existe e permanece porque muitas pessoas continuam a tocar as suas vidas. É para resolver esse enigma que estamos convidando você: e a Sociologia é a ciência que nos ajudará nesta tarefa.

    1. A sociedade é mais que uma coleção de indivíduos

    Vamos voltar um pouco ao início dessa nossa conversa: nem sempre aquilo que vemos é exatamente como aparenta ser; algumas evidências, afinal, são apenas aparentes evidências. Talvez esse seja o caso da palavra sociedade. Sem dúvida alguma que uma sociedade não pode deixar de conter pessoas, de tal modo que podemos afirmar sem erro que uma sociedade é uma sociedade composta de indivíduos, e isso é básico. Se não há gente, não há sociedade. Parece realmente correto pensarmos que são as nossas ações de cada dia, de cada hora, de cada instante que fazem com que a sociedade se perpetue ao longo dos tempos. Só que as pessoas reunidas em sociedade não estão todas na mesma situação, certo? Cada pessoa vive em circunstâncias diferentes. Algumas pessoas têm mais oportunidades do que outras. É como se o jogo já começasse com algumas peças em posições melhores que as outras. É importante entender que essa desigualdade não é algo que acontece por acaso. Ela é como um fio invisível que está sempre presente nas nossas interações. O modo como a sociedade está estruturada acaba por favorecer uns e impor obstáculos difíceis de superar para outros.

    Então aqui já temos duas observações importantes: sim, a sociedade é também uma coletividade de indivíduos, mas estes não estão na mesma situação nem contam com as mesmas oportunidades. No entanto, vamos um pouco mais devagar…

    Se a sociedade é composta por aquilo que fazemos, pensamos e decidimos diariamente, então como se dá realmente essa construção? Sim, porque precisamos compreender como que algo construído pelas ações de pessoas tão diferentes e, por vezes, tão distantes, por pessoas que vivem em Porto Alegre e em João Pessoa, pode assumir, ao mesmo tempo, uma vida própria e acabar nos impondo e nos exigindo coisas que não desejamos.

    Acompanhe um pensamento – que, aliás, não é nosso, mas de um importante sociólogo, Norbert Elias (1994, p.18):

    O que une os indivíduos não é cimento. Basta pensarmos no burburinho das ruas das grandes cidades: a maioria das pessoas não se conhece. Umas quase nada têm a ver com as outras. Elas se cruzam aos trancos, cada qual perseguindo suas próprias metas e projetos. Vão e vêm como lhes apraz. Partes de um todo? […] funcionando nesse tumulto de gente apressada, apesar de toda a sua liberdade individual de movimento, há também, claramente, uma ordem oculta e não diretamente perceptível pelos sentidos. Cada pessoa nesse turbilhão faz parte de determinado lugar. Tem uma mesa à qual come, uma cama em que dorme; até os famintos e sem teto são produtos e componentes da ordem oculta que subjaz à confusão. Cada qual dos passantes, em algum lugar, em algum momento, tem uma função, uma propriedade ou trabalho específico, algum tipo de tarefa para os outros, ou uma função perdida, bens perdidos e um emprego perdido.

    Pense um pouco sobre isso. Que ordem oculta é essa a que o texto faz referência? Podemos dizer que é uma ordem construída sobre a atividade dos indivíduos na sociedade. E também uma ordem fundada na função exercida por cada um. Mas esse contexto funcional pode variar bastante: entre uma sociedade de tipo feudal e uma sociedade industrial, por exemplo.

    E o sociólogo Norbert Elias (1994, p.18) continua:

    Como resultado de sua função, cada uma dessas pessoas tem ou teve uma renda, alta ou baixa, de que vive ou viveu; e, ao passar pela rua, essa função e essa renda, mais evidentes ou mais ocultas, passam com ela. Não lhe é possível pular fora disso conforme sua veneta. Não lhe é possível, simplesmente, passar para outra função, mesmo que o deseje.

    O que, afinal de contas, liga cada um e todos? Uma resposta aproximada: para que exista algo que denominamos por sociedade é necessário que exista uma interdependência entre todos os indivíduos de uma determinada sociedade. Interdependência não significa, no entanto, igualdade. Quem fez o pão que você comeu hoje? Quem cuida para que nós tenhamos as ruas limpas? E quem lhe serviu o pão? Ah, então você entendeu o problema! Estamos numa relação de dependência mútua com as demais pessoas, conhecidas ou não, próximas ou distantes, vivas ou já falecidas. Mais que isso, essas relações não se dão em posições de igualdade. É essa estrutura de relações sociais que nos une em posições desiguais e é capaz de orientar o nosso comportamento.

    Observe bem: não são as pessoas que estão em foco agora, mas as posições que ocupam numa determinada sociedade e, também, a função que desempenham. E se a cada um caberia um lugar na sociedade dependendo de onde se encontrasse nessa estrutura de relações sociais, esses lugares ainda que igualmente importantes para a existência ou manutenção dessa sociedade não seriam igualmente valorizados por todos, nem seriam indicadores de justiça social. Afinal, nas sociedades existe a disputa entre os seus membros ou a disputa entre grupos ou classes sociais, o que nos leva a um outro problema crucial: o da desigualdade e o da dominação de uns sobre outros.

    Muitas vezes, caímos em um engano comum ao pensar que somos completamente independentes do ambiente social ao nosso redor, como se pudéssemos viver “desconectados” e isolados do mundo! Às vezes é difícil pensar sociologicamente justamente por estarmos por demais apegados a esse modo de pensar que coloca o indivíduo no centro de tudo. Mas uma porção de pessoas vivendo juntas na Índia formam um tipo de sociedade diferente da encontrada em outros países, nos ensina Norbert Elias (1984).

    Pensar de maneira individualista significa acreditar que somos livres para decidir o que fazer com nossas vidas sem interferência de nada exterior. E isso acontece porque vivemos em uma sociedade que valoriza o individualismo. Por isso, geralmente rejeitamos ideias que colocam a sociedade acima do indivíduo, ou seja, que sugerem que não somos tão livres assim, mas sim influenciados por forças sociais. Essa outra forma de pensar é o que chamamos de perspectiva sociológica.

    Aliás, um outro sociólogo, Émile Durkheim (2007), nos ensina que por vivermos em sociedade temos a ilusão de sabermos tudo sobre ela – se fosse assim, a ciência Sociologia não seria necessária. Mas o fato de vivermos em sociedade, de experimentarmos as relações, normas, fenômenos e fatos da vida social geralmente torna difícil compreendermos as relações que orientam essas relações e fenômenos. Um exemplo disso que estamos dizendo – para que você entenda e que era o tipo de comparação que o próprio Durkheim fazia: nossa relação com a gravidade não nos leva a compreender as leis físicas que regem a gravidade. Todo mundo sabe que se você pular de um lugar alto isso vai te levar ao chão. Mas isso não significa que você sabe explicar exatamente porque. Esta é a diferença entre o que Durkheim chamou de senso comum e conhecimento sociológico.

    Imagine um comerciante que decidisse usar um bloco de papel e não o computador para fazer suas faturas, notas fiscais e pedidos. Suas operações levariam muito mais tempo e ele perderia clientes. E se ele se recusasse a usar dinheiro, ou simplesmente decidisse não seguir as regras estabelecidas para as atividades financeiras, como usar moeda, crédito etc.? Ele iria à falência rapidamente.

    Como nos lembra o sociólogo Marcel Mauss no livro Estudos de Sociologia (1981), há muitos aspectos da nossa vida econômica (ideias, leis, instituições, hábitos, valores e normas sociais) que não foram inventados por nós, mas que encontramos já estabelecidos desde o nascimento. Esses aspectos estão presentes até nas ações mais simples de um trabalhador ou de um comerciante. Eles não inventaram o lucro, o salário, o crédito, o preço ou o comércio internacional; eles simplesmente têm que se ajustar a essas coisas no sistema atual. Até mesmo sentimentos que parecem espontâneos, como o amor pelo trabalho, o gosto pelo empreendedorismo ou o desejo por lucro, não são universais e naturais para todos, pois não estão presentes em todas as sociedades ao longo da história.

    Por um lado, é inegável que a sociedade existe como um agregado de seres humanos porque ela não é apenas uma ideia. Assim como qualquer grupo de pessoas – seja uma classe social, grupo profissional, partido político, sindicato, ou outros – a sociedade é formada por indivíduos que agem e reagem uns sobre os outros. Como vimos no exemplo do comerciante, nenhuma pessoa sozinha pode definir o que é a sociedade ou as suas normas e valores. E uma primeira necessidade que todos os seres humanos têm é a de definirem sua vida em conjunto, o que gera uma série de questões que não estão diretamente relacionadas às necessidades de abrigo e alimento. Em outros termos, é pela interação entre os indivíduos, pela inter-relação e interdependência de suas funções na sociedade, que podemos compreender a vida coletiva. Durkheim (1999) ensinou justamente isso: que essa interdependência gera a coesão social – que ele denominou solidariedade social.

    Mas essa ordem subjacente à aparente confusão da vida coletiva não está apenas na estrutura de funções e papéis que envolvem as pessoas em uma sociedade. Para Karl Marx, outro importante intelectual para a Sociologia, que o que organiza nossa vida comum são as posições que ocupamos no modo como produzimos os bens necessários à nossa existência. Logo no início do livro O Capital, Marx (1980) nos sugere que o tipo de sociedade em que vivemos, capitalista, está organizada em torno da existência e da produção de mercadorias. E mais, ele define a mercadoria como algo que satisfaz as necessidades humanas, independente da “origem delas, provenham do estômago ou da fantasia”; o que significa dizer que a sociedade está construída para responder a necessidades bastante concretas de nossas vidas, mas que também existe em função do que imaginamos, desejamos e valorizamos.

    Dois exemplos para que você entenda bem este argumento: uma mercadoria pode ser uma utilidade que satisfaz nossa necessidade de comida, mas essa necessidade não explica todo o tipo de produtos da indústria de alimentos! Nossa necessidade básica de alimentação não justifica, por exemplo, a existência dos alimentos ultraprocessados, que contribuem para problemas como a obesidade. E continuamos a produzi-los. Portanto, a indústria de alimentos não existe porque precisamos comer, já que poderíamos dispensar determinados produtos em benefício de nossa saúde. Ela existe, segundo Marx, pela mesma razão de qualquer outra indústria produtora de mercadorias: para a acumulação sem fim de capital.

    Nossas necessidades materiais e orgânicas também não explicam a existência da agroindústria. Segundo o censo agropecuário de 2017 do IBGE, 77% dos estabelecimentos agropecuários foram classificados como de agricultura familiar, embora a sua produção tenha sido de 23% do valor total da produção no período. Essa parcela menor no total é devida entre outros fatores à distribuição desigual de terras. Enquanto isso, o agronegócio domina a maior parte das terras agrícolas mesmo não produzindo, necessariamente, alimentos para a população, porém insumos e mercadorias para exportação. Utilizam grandes extensões de terra para plantar grãos para ração de animais ou cana que se tornará combustível para a indústria. E ainda assim, a agroindústria concentra a maior parte da renda no setor. Esta disparidade reflete uma estrutura social marcada por desigualdades e dominação, como evidenciado pelo ensinamento de Marx sobre a disponibilidade desigual de mercadorias, que não atende a todos, mesmo aos que delas necessitam.

    Não podemos ser displicentes quanto ao fato de haver dominação de uns sobre outros. O fenômeno da dominação (econômica e política) é dos mais importantes para compreendermos as sociedades capitalistas modernas e ocidentais. O fato de seguirmos as normas sociais e os valores que predominam em nossa sociedade e que regem as relações sociais não exclui um outro fato, que é o dessas normas sociais e valores beneficiarem mais a uns do que outros indivíduos dentro da mesma sociedade. Em outras palavras, nem todos têm os mesmos privilégios: por exemplo, apesar das mulheres enfrentarem uma condição desvantajosa perante os homens (mesmo nas ditas sociedades livres e igualitárias, ocidentais), uma senhora de classe média alta, profissional liberal que dirige seu próprio carro a caminho do trabalho está em situação de vantagem sobre a empregada doméstica, pois ainda que ambas sofram discriminação por sua condição feminina, uma pode pagar a empregada para cuidar dos filhos enquanto trabalha.

    Daí porque o modo individualista de pensar não é adequado ou suficiente para explicar a vida humana em sociedade. Essa visão nos diz que o homem age em função da perseguição de seus próprios interesses e da utilidade das coisas (e das pessoas), mas não explica como esses interesses surgem, nem esclarece como se define a utilidade de algo.

    2. Da infância ao mundo dos adultos

    Quando nascemos, não sabemos nada sobre o mundo, nem como sobreviver. Nossa experiência é caótica num certo sentido, e é por isso que todo bebê parece sempre curioso, atento a tudo e a todos. Essa primeira experiência de vida nos coloca em contato com outros seres humanos e com isso aprendemos nossa primeira de uma série de lições: a de que estamos “ligados” aos outros, que nos fornecem alimento e proteção. Dependemos de outras pessoas para sobreviver, dependemos de outras pessoas para crescer, dependemos de outras pessoas para nos tornarmos parte do grupo. Tudo o que somos e o que sabemos é aprendido ao longo de nossas vidas. É por isso que podemos afirmar que nosso comportamento vai se construindo pela interação com os outros: pais, amigos, namoradas ou namorados, professores, ídolos da televisão, craques do futebol, estranhos, livros, Instagram, TikTok etc.

    Aprendemos a falar, a seguir as regras do trânsito, a usar o vaso sanitário, a andar, a agir dessa ou daquela maneira, a fazer nossa comida de um certo jeito e não de outro, a obedecer a determinadas regras de convivência pública, a trabalhar, a chorar e até mesmo a nos divertir. As coletividades sociais aprendem a partir dos problemas com os quais se deparam e transmitem esse aprendizado aos seus descendentes, às gerações que as seguem. Esse é um processo contínuo e ininterrupto.

    E sempre participamos de algum grupo social, ou melhor, de vários grupos ao longo de nossas vidas, cada um com suas regras que devemos seguir – ou códigos de conduta e comunicação. Por isso podemos dizer que cada um desses grupos nos socializa, isto é, nos integra e nos ensina aquilo que é importante para a vida social. Muitos grupos dos quais participamos dão sentido a nossa vida – pensem no caso de uma pessoa religiosa, onde seu trabalho na igreja é a sua vida ou, ainda, em pessoas que fazem de seu trabalho em sua empresa o seu projeto de vida etc. Não é possível imaginarmos que os grupos dos quais participamos não influenciam em nosso modo de ser no mundo.

    Vivemos integrados numa comunidade que é uma comunidade de valores, de crenças, de linguagem, de sentimentos e comportamentos que são compartilhados por todos. Ora, desde que nascemos, por toda a nossa infância e durante toda a nossa vida nós interiorizamos os valores, crenças e hábitos de nossa sociedade. Em Sociologia, chamamos isso de processo de socialização, ou seja, o modo pelo qual somos integrados à sociedade. É por isso que podemos afirmar que as crenças e os valores são construídos socialmente, porque são formados pela coletividade, pela rede de relações sociais da qual todas as pessoas fazem parte. E quando nascemos os valores e normas sociais já estão constituídos e são dados como prontos. Nós não inventamos a língua, por exemplo. Nascemos e aprendemos a utilizá-la sem questionarmos sua validade ou natureza. Quando crianças, o mundo é o que nos ensinam os adultos. Aliás, seguimos muitas normas sociais sem sequer nos darmos conta disso. É como amarrar o tênis: você faz isso todo dia sem pensar em cada movimento, em cada operação. Simplesmente faz. Por exemplo, a norma que diz que “não é qualquer um que pode tocar qualquer parte do corpo de qualquer outra pessoa, em qualquer momento e em qualquer lugar”. Ufa! Mas essa norma não está escrita em nenhuma lei. Apenas a seguimos. De modo que existe um modo que adotamos para nos cumprimentarmos que se restringe aos limites que a norma estabelece. Observe que a norma não diz que não se pode tocar o corpo do outro. O momento, lugar e o direito de tocar podem variar. Pense, por exemplo, numa sociedade patriarcal e marcada pela desigualdade de gênero, como a nossa. Claro que determinadas práticas estão mudando devido à luta das mulheres por igualdade (ainda bem!), de modo que homens não podem mais sentirem-se no direito (porque tinham privilégios) de tocar uma mulher quando bem entenderem.

    Nosso comportamento – e até mesmo nossa personalidade – é, em grande medida, resultado do ambiente no qual vivemos e nos formamos. E porque nós temos uma mentalidade individualista (nossa sociedade dá ênfase às ações individuais, à subjetividade, aos desejos) isso nos cria certa dificuldade em perceber o quanto somos determinados pela configuração social na qual estamos inseridos. Mas não podemos deixar de perceber que, ainda que façamos escolhas, elas são sempre limitadas pelos padrões que aprendemos com os outros de acordo com os grupos dos quais participamos.

    Para seguirmos um raciocínio de um outro sociólogo, Peter Berger (1976), observem que a criança descobre quem ela é quando descobre o que a sociedade é, ou seja, a sociedade e a personalidade são o verso e o reverso de uma mesma realidade. Na medida em que os outros significativos, isto é, as pessoas importantes para nós, que cuidam de nós na infância e às quais devotamos um grande afeto, vão dizendo para as crianças como elas devem agir, o que devem pensar, o que é o certo e o que é errado, ela vai aprendendo a agir em sua sociedade porque vai descobrindo como é sua sociedade. Os outros significativos vão se tornando o que, em Sociologia, denominamos de Outros Generalizados, isto é, a sociedade. Por meio do processo de socialização as estruturas da sociedade tornam-se as estruturas de nossa própria mente.

    E as crianças vão, ao mesmo tempo, criando uma identidade, aprendendo a usar a linguagem e aprendendo os seus papéis sociais. Podemos afirmar que a “natureza” humana não surge no momento do nascimento. Ainda segundo Peter Berger, os homens adquirem uma “natureza” ou uma identidade por meio de suas associações e podem perdê-la (ou ela declina) quando se encontram isolados. Ou seja, podemos perder nossa identidade se ela não for, conforme a idéia de reciprocidade, reforçada e atualizada pelos outros de nosso grupo social.

    O processo de socialização nunca é completo e perfeito. Se assim o fosse seríamos robôs, verdadeiros autômatos. E ninguém é capaz de ser socializado em todos os aspectos de sua sociedade. Imaginem em nossa sociedade complexa, tecnológica e industrializada: para a socialização ser completa teríamos que aprender tudo, vivenciar tudo, participar de tudo. Impossível! Ao mesmo tempo, e por isso mesmo, a socialização nunca termina. Estamos sempre sendo socializados, sempre aprendendo. A cada vez que ingressamos em um novo grupo social, talvez num novo emprego ou numa nova escola, nesse momento se inicia um novo processo de socialização onde aprendemos os códigos para bem atuarmos nesse grupo social.

    Obviamente, existem algumas determinações genéticas, uma psiquê humana e outros fatores de influência sobre o comportamento humano tratados por outras ciências. Mas, para o pensamento sociológico, o principal fator de formação da personalidade de um indivíduo é a sua socialização.

    Vamos acompanhar o que diz Peter Berger (1976, p.78):

    Ao chegarem a uma certa idade, as crianças ficam profundamente admiradas com a possibilidade de se localizarem num mapa. Parece estranho que a vida familiar de uma pessoa tivesse transcorrido inteiramente numa área delineada por um sistema de coordenadas impessoais (e até então desconhecidas) na superfície de um mapa. As exclamações da criança – “Estive aqui!”, “Agora estou aqui!” – revelam o assombro pelo fato de que o local de férias do verão passado, um local marcado na memória por fatos pessoais como a propriedade do primeiro cachorro ou uma coleção de minhocas, tenha latitude e longitudes específicas (…) Esta localização do “eu” em configurações concebidas por estranhos constitui um dos aspectos importantes que, talvez eufemisticamente, é chamado de “crescer”. Uma pessoa participa do mundo real dos adultos por possuir um endereço. A criança que talvez recentemente poria no correio uma carta endereçada “A vovô” agora informa a um colega caçador de minhocas seu endereço exato – rua, cidade, estado e o que mais for necessário – e vê sua tentativa de ingresso na cosmovisão adulta legitimada espetacularmente pela chegada da carta do amigo.

    Você se lembra de um dia, quando criança, ter se surpreendido com a descoberta de que todos temos um lugar no mundo? À medida que a criança ingressa no mundo dos adultos e continua aceitando a realidade que vão lhe ensinando, continua a colecionar “endereços” e outros marcadores que usará para elaborar a sua identidade. Dito de outro modo, o indivíduo vai se localizando no mundo e sua inserção num mundo social significa exatamente isso: adquirir uma localização particular. Desse modo, sou mecânico ou médico, moro numa região ou outra, sou católico, evangélico, candomblecista, umbandista etc. O adulto “normal” é aquele que vive dentro das coordenadas que lhe foram atribuídas. A localização de um indivíduo lhe informa o que ele pode esperar de sua vida. E o que a vida – a sociedade – espera dele. Isso não quer dizer que o mundo seja justo ou bom, mas simplesmente que não somos o que somos por obra do acaso, nem unicamente por escolha pessoal.

    3. A socialização: uma estrada de mão dupla

    Sabemos que socialização pode ser definida como o processo de tornar-se membro de uma sociedade (Berger e Berger, 1975). Nossas sociedades permitem diferenciações até ao nível individual, mas nem todas permitem. Desse modo, a socialização que ocorre em nossa sociedade é mais diferenciada do que em outras. O que significa dizer: também somos diferentes uns dos outros por termos uma história de vida diferente, pois ninguém é socializado exatamente da mesma forma, sendo que cada indivíduo participa de experiências distintas ao longo de sua vida.

    E, dessa forma, desenvolvemos as qualidades humanas necessárias à sobrevivência. São essas qualidades que nos permitem resolver problemas, são elas que explicam a diversidade de costumes entre os seres humanos e são elas, também, que nos permitem ser autônomos e livres. Parece uma contradição, mas não é. Significa que é justamente porque dependemos de outros no início de nossa vida que conquistamos um certo espaço de autonomia e liberdade, ainda que limitada pelas normas sociais. Seria mais ou menos assim: na medida em que eu aprendo com o outro quem eu sou ou o que devo ser, aprendo a pensar sobre mim mesmo e, desse modo, me liberto em parte daquilo que o outro quer de mim.

    Quando falamos em socialização dos indivíduos, estamos sugerindo que aquilo que nós somos é o resultado de um processo que aprendemos na convivência com outros seres humanos, com base em valores, ideias, atitudes e comportamentos comuns. Seus sentimentos, suas ideias, seu modo de falar e seu modo de vestir são aprendidos através do seu contato com as gerações anteriores. A primeira fase de socialização é chamada de socialização primária, ou seja, aquela que acontece com uma carga emocional forte, em relações pessoais diretas com pessoas muito importantes, significativas, a exemplo da socialização nas famílias. Já a aprendizagem junto a grupos de amigos, na escola, na igreja ou pela TV, por exemplo, é a chamada socialização secundária. Em todo o caso, socialização significa aprender a ser membro de uma sociedade.

    Já um papel social é um comportamento esperado de um indivíduo que ocupa uma determinada posição na sociedade, um comportamento padronizado. Existem os papéis de ser mãe, ser professor etc. Mas quer dizer, então, que cada um de nós não tem liberdade para decidir o que pensar ou o que fazer? Somos os papéis sociais que representamos? Não é bem assim. Para o sociólogo Durkheim (1999), por exemplo, à mediade que as sociedades vão se tornando mais complexas os papéis sociais vão se especializando e a sociedade alcança um grau muito alto de diferenciação interna, isto é, os indivíduos se individualizam cada vez mais. Fascinante, não? Portanto, no tipo de sociedade em que vivemos precisamos nos diferenciar uns dos outros, e isso seria uma exigência de nossa própria estrutura social – segundo os estudos de Durkheim.

    Existe um processo que os sociólogos denominam por objetivação e subjetivação. Parecem palavras complicadas, não é mesmo? Mas, nem tanto. Por objetivação os sociólogos querem falar da construção da vida social por parte dos indivíduos membros de uma determinada sociedade. Já por subjetivação, do modo como esses mesmos indivíduos apreendem ou interiorizam os códigos, normas, valores e símbolos produzidos numa determinada sociedade. Essas palavrinhas, objetivação e subjetivação, têm tudo a ver com o que você leu anteriormente, e por quê? Simplesmente porque o mundo que conhecemos é construído dia a dia por nós mesmos. Há cinquenta anos suas avós não poderiam nem pensar em ir à praia de biquíni. O que mudou desde então? Por diversas razões que não cabem discutir agora, outras ideias foram emergindo e se disseminando na vida social de um tal modo que as pessoas foram valorizando outros comportamentos, outras práticas. Daí que se a sua irmã ou namorada for à praia, hoje, de maiô de peça inteira, daqueles que suas avós usaram, que cobriam das coxas até quase o pescoço, com muita certeza seria objeto de risadas.

    A subjetivação também não é difícil de compreendermos, pois é justamente o fato de introjetarmos aquele traço de personalidade que a sociedade deseja para nós. Porque introjetamos aquilo que Durkheim (1999) denominou de “o meio moral no qual vivem os indivíduos”, isto é, os modos de ser, pensar e sentir próprios de nossa sociedade, naquele momento de sua história. E, obviamente, quem nasce numa determinada região do país ou numa classe social vai aprender coisas diferentes de outros indivíduos, de outras regiões ou de outras classes sociais. A cada lugar na sociedade correspondem aprendizagens distintas a que são submetidos os indivíduos. Em outras palavras, introjetamos uma sociedade “diferente” de acordo com o lugar social em que tivemos a sorte – ou o azar – de nascer.

    Existem “componentes” da estrutura social que servem exatamente ao processo de subjetivação discutido antes e esses são as instituiçõs sociais. As instituições, segundo o sociólogo por Peter Berger (1976), têm uma influência muito forte sobre os indivíduos, moldando-os com suas regras, normas e mecanismos de controle, que variam desde sanções até mesmo o uso da violência. No entanto, os indivíduos também têm o poder de atualizar ou mesmo de modificar essas instituições no seu dia a dia. Elas se constituem como complexos de papéis sociais e mecanismos reguladores da vida humana. Elas são independentes de nós e determinam em grande medida as nossas ações e expectativas, levando-nos a cumprir determinados papéis sociais sob o risco de enfrentar uma variedade de recursos de controle e sanções, incluindo isolamento, exposição ao ridículo, privação e, em casos extremos, violência.

    As instituições sociais, no entanto, são parte do modo como existimos. Por que somos seres sociais. Ao invés de instintos, temos instituições sociais. Elas fornecem mecanismos de controle e autocontrole. E também mudam. Vejamos o que os sociólogos Hans Gerth e Charles Wright Mills (1973, p.25-26) nos dizem sobre as instituições sociais:

    A função principal de uma instituição tem enorme importância para a vida psíquica dos demais membros da instituição. O que o chefe pensa a respeito deles (…) ou o que eles imaginam que pense, é interiorizado, isto é, absorvido (…) se em decorrência de mudanças na organização das instituições de uma sociedade, a família patriarcal perde a sua importância, a influência do pai como um fator de controle social na vida interna dos membros da família também declinará. Deste modo, o centro institucional de controle social no interior de nós mesmos, também pode variar. É isto o que acontece à medida que a criança atinge a maturidade, que cresce.

    Isso é estar localizado na sociedade, ou seja, estar na interseção de forças sociais específicas. Existem muitos meios de coerção social que agem para garantir esse processo de localização. Talvez o mais antigo, e bastante eficaz, seja a violência física. Não existe um Estado político que não esteja fundamentado nele. Estes meios servem para que elementos indesejáveis sejam eliminados e para que outros sejam “educados”. Claro, existem outros meios de coerção social e o próprio sistema político e jurídico (Leis, Constituição, Poder Judiciário etc.) exerce outras formas de controle. Mas existem meios ainda mais eficazes. A moralidade, os costumes e as convenções sociais são, provavelmente, os mais eficazes instrumentos de coerção social de que dispõem as sociedades. Isto porque nós internalizamos as regras morais de nossa sociedade. Por isso elas têm mais força, não aparecem como imposições, mas nos aparecem como aquilo que nós mesmos desejamos. Nos aparecem como o “normal”, o que deve ser. Nesse sentido, a sociedade está em nossas cabeças, não fora delas. Como o ridículo, a vergonha, a difamação, o disse-me-disse e o embaraço que frequentemente surgem na vida cotidiana, são eles também uma forma de coerção social. Os indivíduos controlam-se uns aos outros, tanto quanto cada um possui um mecanismo de autorregulação. E nem por isso devemos deixar de reconhecer o tanto de violência e intimidação que existe nesses processos. Afinal, todos esses meios de controle social indicam claramente os conflitos que regem as sociedades. Poderíamos, ainda, citar vários outros meios de coerção social como o de natureza econômica (desemprego, greve etc.), a religião, a educação, a psiquiatria – o indivíduo que não satisfaz os critérios de normalidade ou é isolado ou é submetido a tratamento “para se ajustar” – e o próprio sistema ocupacional ou profissional – porque, afinal, é o emprego ou a ocupação de uma pessoa que decidirá o que ela poderá fazer na maior parte de sua vida.

    Observe que a própria Sociologia, ao nos ajudar a compreender melhor a sociedade em que vivemos e as relações sociais das quais participamos, tem o efeito de aumentar a nossa liberdade. Assim como em toda a ciência, o conhecimento aumenta a nossa liberdade. No início do século passado os humanos viviam muito menos. Mas com investimento em medicamentos, vacinas e saneamento básico, aumentamos a expectativa média de vida: isso devido à ciência.

    4. A sociedade como reciprocidade

    Para mostrar como interagem esses dois pólos – sociedade e indivíduo – e como são faces de uma mesma moeda, mais uma vez vamos seguir as pistas do sociólogo Marcel Mauss (1981); especialmente vamos analisar seus dois conceitos fundamentais: a idéia de fato social total e a noção de Dádiva ou Dom.

    Para Mauss, o que ele chama por Dom ou Dádiva explica boa parte das relações sociais. E o que é a dádiva senão tudo aquilo que contribui para a coesão social, isto é, para que se mantenham os laços sociais existentes? Desse modo, Mauss, ao estudar longamente as sociedades tribais australianas, americanas, entre outras ditas “arcaicas”, percebeu que em todas sempre existiu uma espécie de troca que ele resumiu na “obrigação de dar, receber e retribuir”. E essa troca se dá de modo ritualizado, com cerimônias especiais onde tribos trocam presentes, ou simplesmente os consomem, como em algumas festas em que toda a produção de um ano é totalmente consumida ou simplesmente destruída. Muitas vezes essas cerimônias contém um forte componente de luta, de conflito travado entre as tribos ou agrupamentos humanos, o que Mauss denomina por dádiva agonística (conflituosa). Pela troca se estabelecem alianças que evitam guerras. Pela troca cria-se uma obrigação recíproca e constante, já que quem recebe deve dar mais do que recebeu. Pela dádiva, enfim, fundam-se as sociedades.

    Segundo Mauss, o que define a vida humana coletiva é, digamos, uma “lei”, que nos leva a estabelecer trocas com outros indivíduos, grupos ou tribos, isto é, que nos leva a dar, a receber e a retribuir. E não apenas em sociedade tribais encontramos os ritos da dádiva, porém entre nós mesmos, como nas trocas de palavras e saudações, tanto quanto nos casos da doação de órgãos, de sangue, na troca dos presentes de natal ou, para não ficarmos nos exemplos óbvios, na disputa política. Sim, pois é sabido que a política se define em grande medida por essa relação em que se trocam lealdades, votos e benefícios de todo o tipo.

    Ficou difícil acompanhar até aqui? Então que tal simplificarmos um pouco a idéia do Mauss e a levarmos a uma situação cotidiana?

    Imagine a situação de uma troca de presentes. Se você vai a um aniversário sabe que deve dar um presente. E se o aniversariante é alguém que no seu aniversário lhe deu um presente caro, raro ou muito desejado, então as coisas podem realmente se complicar, não é mesmo? O que comprar de presente que tenha o mesmo valor, ou superior, ao recebido anteriormente? É assim que pensamos. Analise a linguagem que usamos: quem recebe, diz “obrigado”, o que indica a obrigação em que se fica por se ter recebido algo, a obrigação em se retribuir aquilo que se recebeu. Mas manda a etiqueta que se retribua com algo de valor equivalente ou superior do que se recebeu, não é mesmo? Ao mesmo tempo, quem dá deve responder “por nada”, pois assim liberta o outro da obrigação, mesmo que ela permaneça de fato, escondida em nossa mente, para que ao se retribuir o recebido aquele que retribui possa fazê-lo também de modo espontâneo, não “por mera obrigação”. É justamente nesse jogo que se estabelecem solidariedades entre as pessoas que tendem a durar.

    O problema é que quem dá deve dar livremente. Por isso há na troca de presentes entre as pessoas ao mesmo tempo obrigação e liberdade, interesse e desinteresse, aliança e competição (de presentes, por exemplo: quantas vezes não vimos isso se repetir em nosso cotidiano, em nossos natais, tanto como quantas vezes não vemos isso nas ações de políticos que disputam “quem faz mais pelo povo”?). Desse modo, a regra social que nos leva a dar, receber e retribuir constitui um pacto entre as pessoas, pacto que atende às exigências da obrigação e da espontaneidade. Espontaneidade porque o dar deve ser feito de modo espontâneo, ainda que essa seja uma obrigação própria da vida social.

    Um paradoxo? Vejamos: essa obrigação não é exercida do exterior do indivíduo, como que imposta pela sociedade ou por alguém, pois sempre se pode ser desleixado o suficiente para se esquecer de comprar aquele presentinho de aniversário da sogra. São os próprios indivíduos que, ao darem, mantém o ciclo infinito da troca e de sua regra, recriando-a e atualizando-a incessantemente no seio da sociedade. De tal modo que a troca cria uma dívida constante (às vezes, crescente) entre os indivíduos, mas a espontaneidade da doação e da retribuição se deve exatamente para que a dívida não seja vista como dívida e para que o ciclo da troca sempre tenha um novo começo, como se fosse uma invenção original e livre.

    Então existe uma regra social que nos impulsiona a dar, receber algo ofertado e retribuir algo recebido, para que estabeleçamos laços sociais. Mas essa regra social não pode ser vista como é: uma regra. De tal modo que, mesmo se a entendermos como regra, ainda assim, ela dependerá de nossa decisão em cumpri-la. Por que se assim não for o caráter de liberdade, de originalidade, de incondicionalidade e de espontaneidade se perde e nós sabemos bem que não há nenhuma graça e nenhum mérito em se dar um presente pela mera obrigação, certo?

    A exigência social do “dar, receber e retribuir”, que acontece numa simples troca de presentes, acontece em todas, ou quase todas, as situações de troca numa sociedade. Por isso é que podemos afirmar que as sociedades se fundamentam numa exigência (ou numa obrigação, como queiram) de dar, receber e retribuir, mas de se fazer isso com espontaneidade, liberdade e incondicionalmente.

    Em outros termos, diríamos que as sociedades são fundadas justamente por essa exigência em se estabelecer laços sociais. O que expressa uma aposta humana na confiança, na aliança e na continuidade desses laços. E eu estou falando em aposta, pois de algum modo nós estamos submetidos às normas sociais – como à exigência em se estabelecer laços sociais ou o “dar, receber e retribuir” –, porque as temos apoiado cotidianamente. E nesse jogo, nesse drama social, se estabelecem solidariedades que tendem a durar e que evitam os conflitos. Mas essa obrigação deixa de ser exercida do exterior do indivíduo, como que imposta pela sociedade, já que entre o indivíduo e a sociedade não há mais um hiato, mas uma relação de tradução recíproca.

    A alternativa à aliança promovida pela troca é a guerra aberta, o conflito, a vingança. Daí que freqüentemente a troca, de presentes ou outra coisa qualquer – incluindo-se as trocas comerciais –, ritualiza o conflito, pois que com ela muitas vezes se lança um desafio que desemboca numa competição, como foi dito acima. Ao mesmo tempo gera-se um ganho generalizado, pois quem recebe, concretamente recebe mais do que dá (como determina a etiqueta: retribuir mais do que se recebe). Com a troca se aposta no ato incondicional de dar, pois na aliança se deve dar tudo ao amigo, o que não exclui a possibilidade de recair, a qualquer momento, na desconfiança; se aposta na doação incondicional que condiciona a retribuição, mas uma aposta que necessariamente não se efetivará sempre.

    Esse caso simples da troca de presentes nos mostra, então, que a vida humana contém um quê de probabilidade, de incerteza, de indefinição. Nesse espaço ambíguo se constituem as relações que podem variar da competição/ conflito à aliança/ consenso – onde quem dá não tem realmente garantias de encontrar retribuição – especialmente se dá um presente para aquele cunhado mala que nunca lembra do seu aniversário. Portanto, sempre há a possibilidade de ruptura, de mudança (até mesmo de revolução). E também sempre há a possibilidade de desejarmos as coisas como são, e continuarmos apostando nossas fichas na vida como ela tem sido.

    Desse modo percebemos que a necessidade material e os valores são constituintes simultâneos da ação humana. Percebemos que a vida humana é, “ao mesmo tempo” e não “uma coisa ou outra”, necessidade prática e expressão simbólica, conflito e consenso, ação interessada e desinteressada, obrigação e liberdade, escolha individual e coerção social. Na fragilidade da vida humana coletiva percebemos que não há como se fazer uma radical separação entre o sociológico e o psicológico já que o que constitui um plano (social) é passível de tradução no outro (individual).

    Eis as duas lições primordiais da idéia de dádiva de Mauss: a vida social é constituída pela exigência de dar, receber e retribuir – exigências de sociabilidade que geram interdependência entre os seres humanos – e os seres humanos fazem escolhas, ainda que dentro de contextos previamente constituídos, mas que podem sempre ser alterados. A reciprocidade estudada por Mauss nos revela o tipo de ligação existente entre o indivíduo e a sociedade.

    Daí chegamos à idéia de fato social total, que para Mauss expõe a complexidade do social em suas múltiplas dimensões. Nesse sentido, a economia, a psicologia e a sociologia distinguem-se não porque na “realidade” haja fatos exclusivamente econômicos, psicológicos e sociológicos, mas porque nossa sociedade assim os classifica. E Mauss vai mais longe ao propor que o econômico e o simbólico, assim como o político e o psicológico não são compartimentos estanques, porém estão imbricados, presentes em todos os fatos sociais, ou ainda, em toda a ação social, pois que para ele, “o que é verdadeiro, não é a oração ou o direito, e sim o melanésio de tal ou tal ilha”, ou seja, o indivíduo concreto existente.

    5. Afinal, precisamos viver em sociedades?

    Bem, se não houvesse sociedade, se não aprendêssemos com outras pessoas o que precisamos para nos orientar na vida, seríamos uma monstruosidade, um caso psiquiátrico perdido, um caos. Alguns animais já nascem andando e fazendo coisas necessárias à sua sobrevivência, mas o ser humano não, ele precisa aprender. Até mesmo boa parte de nossos sentimentos são “configurados” pela sociedade – não é em todo momento que rimos ou choramos, nem por qualquer coisa, mas não sabemos disso ao nascer. E por quê? Porque nascemos com um organismo “incompleto”, ainda em formação e sem sabermos falar, andar, nos comportar junto a outras pessoas. Devemos aprender isso na vida social.

    É por isso que podemos mesmo afirmar que a necessidade da vida social para o ser humano possui um fundamento biológico. O ser humano possui uma abertura para o mundo que lhe possibilita ser quase qualquer coisa que escolher. Fazemos parte de uma espécie que possui uma enorme plasticidade, isto é, a capacidade para se moldar a condições bem diversas de vida. Seres humanos vivem tanto em desertos muito quentes quanto nas extremidades mais frias do planeta, tanto em cidades cheias de gente e barulho, quanto em densas florestas selvagens. Mas, por ter um organismo incompleto e por ter essa capacidade de aprender, essa plasticidade (ou sua abertura para o mundo), se não vivesse em grupo e aprendesse com o grupo, os seres humanos sucumbiriam aos desafios da natureza. Não podemos voar com os recursos que a natureza nos forneceu, mas inventamos outras formas de fazer isso, porque aprendemos.

    No entanto, essa abertura precisa ser relativamente fechada por meio de padrões de conduta e formas de pensar que o ser humano aprende com outros seres humanos. Temos poucos instintos, porém temos instituições sociais. O ser humano, como espécie animal, possui alguns instintos básicos para sua sobrevivência – como no caso dos bebês que choram quando estão com fome. Mas diferentemente de outras espécies animais, seus instintos ajudam muito pouco. Ele não pode depender de uma programação genética que, a rigor, não possui. Devido a essa abertura para o mundo, devido a ter um organismo biológico extremamente generalista, isto é, capaz de adaptações numa escala muito ampla, o ser humano supre essa carência com a construção de instituições sociais que regem as mais diversas áreas de sua vida por meio de rituais, valores e normas sociais específicas: o casamento, o modo de preparar os alimentos e de comê-los, o Estado, a justiça, as formas de tomarmos banho – e sua frequência –, o modo como namoramos e nos divertimos etc. Esses rituais e normas sociais são o que denominamos de padrões sociais. E é por isso que podemos dizer que somos “bichos” sociais.

    Cada um de nós desenvolve ideias, princípios, valores, objetivos, interesses, talentos, emoções e tendências para atuar no mundo que dependem da nossa biografia, isto é, de nossa história de vida. E é a interação que direciona essas qualidades individuais. Até para ser um indivíduo precisamos da vida social. Se observarmos outras sociedades, veremos que a ideia de indivíduo não existe para todas. O indivíduo concreto, empírico, de fato existe. Porém, o indivíduo enquanto construção moral e social, enquanto sujeito, relativamente autônomo e auto regulado não existe para todas as sociedades. Como nós o pensamos, ele é uma construção ocidental moderna. Nossas sociedades permitem diferenciações até ao nível individual, mas nem todas permitem. Se isso não ocorre do mesmo modo em qualquer lugar do planeta é porque algo em cada sociedade nos permite ser isso e não aquilo.

    Por ora, esperamos que você tenha ficado curioso sobre o que a Sociologia pode nos dizer sobre o mundo em que nós vivemos e sobre as pessoas que vivem nele. Se isso aconteceu, certamente você gostará de continuar estudando Sociologia. Por enquanto o único objetivo deste texto foi o de apresentar algumas pistas que a Sociologia nos oferece para resolver o enigma da sociedade. Você pode seguir essa investigação. Topa o desafio?

    Bibliografia

    BERGER, Peter L. Perspectivas Sociológicas – uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 3a edição, 1976.

    BERGER, Peter L. e BERGER, Brigitte. Sociology – a biographical approach. Nova Iorque: Basic Books, 2a edição, 1975.

    DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

    DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

    ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.

    GERTH, Hans e MILLS, Charles Wright. Caráter e Estrutura Social. A psicologia das Instituições Sociais. Coleção Perspectivas do Homem. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1973.

    IBGE. “Censo Agro 2017: população ocupada nos estabelecimentos agropecuários cai 8,8%”. Acessado em 05/04/2024.

    MARX, Karl. O Capital: crítica da Economia Política. Livro I: O Processo de Produção do Capital, v.I, 6.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

    MAUSS. Marcel. Estudos de Sociologia. São Paulo: Perspectiva, 1981.

    Como citar este texto:

    SARANDY, Flávio. Temas de introdução à Sociologia. Blog Café com Sociologia, mai. 2023. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/temas-de-introducao-a-sociologia/


    1 Professor na Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected]

  • Normas sociais: entre coesão social e dominação

    Normas sociais: entre coesão social e dominação

     Normas sociais: entre coesão social e dominação

    Cristiano das Neves Bodart1

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    Uma das tarefas mais importantes da Sociologia tem sido explicar o que torna possível vivermos em coletividade e formarmos sociedades. Dentre os esforços empreendidos vamos encontrar sociólogos que se dedicam a pensar o papel das normas sociais. Contudo, as respostas apresentadas, embora partindo de uma matriz comum, a presença da coercitividade, apontam perspectivas diferentes. Para exemplificar, tomemos as contribuições de autores como Émile Durkheim (1858-1917), Parsons (1902-1979), Karl Marx (1818-1883) e Michel Foucault (1926-1984).

    A coerção social é um conceito que também possui variadas perspectivas científicas, estando associado as noções de repressão, controle, dominação, constrangimentos, orientação, controle, etc. (Pereira, 2021). As normas sociais para terem funcionalidades dependem da sua capacidade de coerção social, que pode ocorrer a partir da força física ou simbólica.

    Em síntese, as normas são regras socialmente estabelecidas, constituindo-se em expectativas que orientam o comportamento dos indivíduos dentro de um grupo, o que faz por meio da coerção social. Elas podem ser explícitas ou implícitas, ou seja, estarem expressas em placas, cartazes, manuais, etc., ou simplesmente serem conhecidas por todo o grupo sem que se fale delas – geralmente desdobramentos de outras normas explícitas. Por exemplo, estando explicitamente estabelecido que não é permitido entrar em uma igreja católica sem camisa, fica implicitamente compreendido que também não se pode entrar no mesmo local com uma revista com conteúdos pornográficos.

    Nas sociedades complexas, existe uma tendência das normas serem legitimadas pelo Estado, tornando-se códigos sociais. O código social é um tipo de norma, sendo conjuntos mais amplos de normativas juridicamente instituídas. Os exemplos mais conhecidos de códigos sociais são a Constituição e o Código Civil. Tanto normas quanto códigos preveem coerções e punições aos infratores, isso porque a matriz comum é a presença da coercitividade, como afirmado.

    Sendo as funções das normas interpretadas divergentemente, vamos aqui centrar nossa atenção aos extremos. De um lado, encontramos pensadores que entendem as normas como um mecanismo social importante para a manutenção da harmonia social, evitando conflitos que podem desintegrar a sociedade. Dentre eles está Durkheim e Parsons. Por outro lado, identificamos figuras como Marx e Foucault que entendem as normas como meios de dominação e manutenção do status quo.

    A perspectiva conservadora

    Numa perspectiva conservadora, as normas e os códigos devem ser observados para que a vida coletiva seja possível. Trata-se de um “contrato social” que visa garantir a ordem. Sociólogos como Émile Durkheim e Talcott Parsons dedicaram-se ao estudo das normas sociais. Vamos notar que Durkheim (1999), por exemplo, via as normas como elementos essenciais para a coesão social, argumentando que elas são parte integral da “consciência coletiva” que une membros de uma sociedade. Ele afirmava que sem normas compartilhadas, a sociedade se desintegraria em um estado de anomia, onde a falta de expectativas claras levaria ao desregramento e ao conflito. Parsons (2011), por sua vez, analisou como as normas funcionam dentro de sistemas sociais, enfatizando o papel da socialização na internalização dessas normas pelos indivíduos, o que permite a estabilidade e a previsibilidade das interações sociais.

    A perspectiva crítica

    No pensamento sociológico crítico, as normas e códigos são entendidos como regulamentos que visam à proteção da propriedade privada e à manutenção do status quo estabelecido pela Revolução Burguesa que estabeleceu o Estado Moderno, fiel representante da burguesia. Visando garantir a manutenção do poder político e econômico, normas e códigos sociais são estabelecidos de cima para baixo, segundo os interesses burgueses. Michel Foucault (2014) destacou que as normas são frequentemente utilizadas para exercer poder e controle social, moldando não apenas as ações mas também os pensamentos e desejos dos indivíduos. Na sociedade gerida pelo Estado burguês, a polícia, o judiciário e o legislativo estarão sempre a serviço da manutenção da ordem, favorecendo os grupos dominantes. Quando os dominados questionam ou não obedecem às normas ou aos códigos, são duramente reprimidos, ao contrário do que ocorre quando o infrator pertence à elite política ou econômica. Karl Marx (2013) apontou que a manutenção dos privilégios burgueses, especialmente a exploração da forma de trabalho, depende de mecanismos de manipulação das ideias, levando a classe trabalhadora a acreditar que as normas são resultados de um contrato social que visa o bem coletivo, quando na verdade são mecanismos de controle.

    Considerações finais

    A análise das normas sociais sob diferentes perspectivas sociológicas revela a complexidade subjacente à sua função e significado dentro das sociedades. Enquanto alguns teóricos, como Émile Durkheim e Talcott Parsons, enfatizam o papel das normas na manutenção da coesão social e na prevenção de conflitos, outros, como Karl Marx e Michel Foucault, destacam sua utilização como instrumentos de dominação e controle, especialmente nas mãos das elites políticas e econômicas. Essa dicotomia entre a visão conservadora e crítica das normas reflete não apenas divergências teóricas, mas também diferentes agendas políticas e ideológicas que moldam as interpretações e aplicações das normas na prática social.

    Ademais, a compreensão das normas como dispositivos sociais dinâmicos, sujeitos a contestações e reinterpretações ao longo do tempo, ressalta a importância de uma abordagem crítica e reflexiva nos estudos sociológicos das instituições e grupos sociais. O estudo das normas sociais continua a ser uma área dinâmica de investigação sociológica, oferecendo perspectivas variadas para pensarmos as dinâmicas das interações sociais.

    Referências bibliográficas

    DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

    MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes, 2014.

    PARSONS, Talcott. O Sistema Social. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

    PEREIRA, Thiago Ingrassia. O que é coerção social? In: BODART, Cristiano das Neves. Conceitos e categoriais fundamentais do ensino de Sociologia. Maceiío: Editora Café com Sociologia. vol.1. 2021. p.53-56. [Coleção Conceitos e categoriais fundamentais do ensino das Ciências Sociais].

    Dicas de atividades pedagógicas

    Atividade 1: Debate em Grupo

    Objetivo: Promover uma reflexão crítica sobre as diferentes perspectivas sociológicas em relação às normas sociais.

    Instruções: Divida a turma em grupos e atribua a cada grupo uma das seguintes abordagens sociológicas apresentadas no texto: funcionalismo (Durkheim e Parsons) e teoria crítica (Marx e Foucault). Os grupos devem discutir as principais ideias dos autores atribuídos e elaborar argumentos para defender ou contestar suas visões sobre as normas sociais. Em seguida, promova um debate em sala de aula, onde os grupos apresentarão suas análises e responderão a perguntas dos colegas.

    Atividade 2: Análise de Casos

    Objetivo: Aplicar os conceitos discutidos no texto a situações do cotidiano.

    Instruções: Apresente aos estudantes casos reais ou hipotéticos envolvendo questões relacionadas a normas sociais e sua aplicação na sociedade. Os casos podem incluir dilemas éticos, conflitos culturais ou situações de desvio de normas. Os estudantes devem analisar cada caso sob a perspectiva das diferentes teorias sociológicas discutidas no texto e discutir em grupos como cada abordagem explicaria o fenômeno em questão. Em seguida, compartilhem suas análises com a turma e debatam as diferentes interpretações.

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Normas sociais: entre coesão social e dominação. Blog Café com Sociologia, mai. 2023. Disponível em:


    1 Doutor em Sociologia (USP). Docente do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). E-mail: [email protected]

     

     

     

     

     

  • Sociologia do Marcelo, marmelo, martelo

    Sociologia do Marcelo, marmelo, martelo

    O convite para realizar a recepção das calouras e calouros do curso de Ciências Sociais da UFPR veio com um desafio: tentar explicar “o que é a sociologia”, em vinte minutos.  No dia em que recebi o pedido, minha filha, Clara, me pediu para ler “Marcelo, marmelo, martelo”, da Ruth Rocha (2011) – e a coincidência foi obra do destino.

    Texto de Rodolfo Lobato[*]

     

    Poucas pessoas sabem, mas Ruth Rocha é socióloga, ex-aluna de Sérgio Buarque de Holanda. Arrisco dizer que, talvez, seja a cientista social brasileira mais lida. Mas permanece num limbo daqueles que resolveram fazer ciências sociais tal como São Francisco de Assis, que pregou a palavra de Deus para os animais. Ela fez sociologia para as crianças. De início espero que isso sirva de lição, a sociologia é um artesanato, que está nos artigos científicos, podcasts, blogs, teses, assessoria aos movimentos sociais ou em livros infantis.

    No livro de Ruth Rocha podemos perceber a importância das perguntas e da dúvida. De início, o protagonista indaga por que se chama Marcelo, e não martelo ou marmelo? Ele pensa: “Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador…” (p. 13).  No dia seguinte, no café da manhã, ele pede aos pais para passar o “mexedorzinho” e o “suco de vaca” – ou seja, a colherinha e o leite, respectivamente.

    Um primeiro ponto importantíssimo para um sociólogo em formação: o desprendimento do pensamento sobrenatural, a indagação racional, o emprego sistemático da observação, ou seja, um método científico. O Marcelo empregou a razão, que se diferencia do argumento teológico da “revelação” como uma atitude intelectual, ou seja: a realidade não “é” simplesmente, mas passa por filtros de interpretação. Essa é uma herança da Revolução Francesa e do iluminismo.

    Voltemos à Ruth Rocha, quando o pai reage: “Marcelo, todas as coisas têm nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome, porque, senão, ninguém se entende. (…) Deixe de dizer bobagens, menino!” (p. 16-17). Vocês verão durante a graduação como há nessa mensagem do pai uma corrente do pensamento social que interpreta as regras sociais como coercitivas, sem espaço para a individualidade, o “vetor epistemológico” subordinaria o individual ao coletivo.

    Um dos primeiros dilemas da sociologia é a tensão entre a negação e a afirmação da realidade, o conservadorismo/estabilidade e o progresso/mudança. Ao não aceitar as convenções sociais, Marcelo começou a provocar vergonha nos pais quando recebiam visitas. Assim como no dilema doméstico, desde a Revolução Industrial começamos a colocar as transformações da sociedade como um “problema” a ser investigado, não é à toa que, em grego, a tradução mais correta para “regras da casa” é “oikonomia”, ou, economia.

    “Marcelo” é único, carrega consigo uma complexidade em sua trajetória, particularidades históricas nem sempre dedutíveis de fórmulas gerais. Então, podemos falar do indivíduo também como “objeto” da sociologia, seus valores, o que orienta sua ação. Ruth Rocha nos apresenta outro “vetor epistemológico”, que é do indivíduo para o social, do nosso poder de construir novas regras, novas nomenclaturas.

    A história continua, quando Marcelo grita em desespero: “Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo!” (p.22) – ou seja, estava pegando fogo a casinha de cachorro do Godofredo. O pai demorou a entender a mensagem, e o filho, triste percebeu que: “Gente grande não entende nada de nada, mesmo!” (p.23).

    Assim como na história onde as palavras se misturam e se transformam, na Sociologia nós nos deparamos com a complexidade do mundo social, um verdadeiro emaranhado de relações, ideias e conceitos. Importante esse detalhe para refletirmos o quanto os jovens estudantes são introduzidos a uma nova gramática, um novo vocabulário, que é o acadêmico.

    No fim, Ruth Rocha nos apresenta mais um vetor epistemológico, mais complexo, dialético, que é a tensão permanente entre o indivíduo e a sociedade. Diante da tristeza do filho, o pai de Marcelo diz que fará uma nova “moradeira” para o “latildo” – reconhecendo as expressões do filho, e a família passou a tentar entendê-lo. Não se incomodavam mais com o que as visitas pensam, ou seja, a mudança é possível.

    Escrevendo esse texto pensei em até que ponto, a autora não tentou fazer alusão, metaforicamente, aos teóricos clássicos da sociologia. Apesar de “Marmelo” ser uma fruta, passa a ideia de um doce, marmelada, e relembra Émile Durkheim quando falava sobre coesão social, de uma consciência coletiva. Weber nos lembrava que cada “Marcelo” carrega consigo uma complexidade única, a diversidade dentro da particularidade. E, Marx, que nos convidou a explorar as dinâmicas da luta de classes, pode ser um verdadeiro “Martelo”, para a mudança social.

    Como as ferramentas que transformam materiais brutos em obras de arte, a Sociologia nos capacita a desvendar as camadas mais profundas da sociedade. E se hoje vocês, jovens estudantes, se interessam pelas Ciências Sociais, algo os incomodou e alguma coisa não está fazendo sentido. Peço que guardem a ideia de que a sociologia vem a ser uma resposta intelectual diante da profundidade das transformações em curso, seja no século XVIII, XIX ou XXI. Lembrem-se sempre de que vocês são únicos e tem um papel vital na construção do conhecimento sociológico. Voltando à pergunta que mobilizou esse pensamento (“o que é a sociologia?”), eu diria que é a arte de aprender a ser “Marcelo, marmelo, martelo”.

    Referência:

    ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo. São Paulo: Moderna, 2011.

    Rodolfo Lobato

    Departamento de Sociologia

    Universidade Federal do Paraná

  • As Ciências Sociais e os Primeiros Sociólogos [slide] [download]

    Quando pensamos nas origens das Ciências Sociais e nos primeiros sociólogos, somos levados a uma jornada fascinante que nos ajuda a compreender como essa disciplina fundamental se desenvolveu e evoluiu ao longo do tempo. Neste artigo, vamos explorar o nascimento das Ciências Sociais e os principais contribuintes que moldaram a Sociologia como a conhecemos hoje.

    O Surgimento das Ciências Sociais

    O século XIX foi um período de grandes mudanças em todo o mundo. A Revolução Industrial transformou as economias, as cidades cresceram rapidamente, as sociedades se tornaram mais complexas e a urbanização alterou radicalmente a forma como as pessoas viviam e interagiam. Diante desse cenário de transformações profundas, surgiram questionamentos sobre a sociedade, a cultura e o comportamento humano que desafiaram os paradigmas estabelecidos até então.

    Foi nesse contexto que as Ciências Sociais começaram a emergir como uma resposta à necessidade de entender a nova realidade social. Historiadores, filósofos, antropólogos e outros pensadores começaram a investigar as complexidades da sociedade humana de uma maneira mais sistemática e científica.

    Auguste Comte: O Pai da Sociologia

    Auguste Comte é frequentemente considerado o pai da Sociologia. Ele foi um filósofo francês que cunhou o termo “Sociologia” no início do século XIX. Comte acreditava que a sociedade era governada por leis sociais semelhantes às leis naturais que regem o universo. Ele argumentou que a Sociologia deveria ser uma ciência positiva baseada na observação empírica e na análise sistemática dos fatos sociais.

    Uma das contribuições mais importantes de Comte foi a ideia de que a Sociologia poderia ser usada para melhorar a sociedade. Ele enfatizou a importância de aplicar os princípios sociológicos para resolver os problemas sociais e promover o progresso humano.

    Émile Durkheim: Criador da Sociologia enquanto ciência

    Émile Durkheim, um sociólogo francês contemporâneo de Comte, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da Sociologia como uma disciplina acadêmica. Durkheim é conhecido por sua teoria dos “fatos sociais”, que são fenômenos que existem fora do indivíduo e exercem controle sobre ele. Ele argumentava que os fatos sociais são a base da Sociologia e devem ser estudados de forma objetiva.

    Durkheim também é lembrado por seus estudos pioneiros sobre o suicídio. Ele demonstrou que o suicídio não era apenas um ato individual, mas também era influenciado por fatores sociais e culturais. Isso mostrou como a Sociologia poderia ser usada para entender e explicar fenômenos humanos complexos.

    Max Weber: A Compreensão da Ação Social

    Max Weber, um sociólogo alemão, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da Sociologia ao enfatizar a importância da compreensão da “ação social”. Ele argumentava que a Sociologia deveria se concentrar na compreensão dos significados e motivos por trás das ações individuais e coletivas.

    Weber também introduziu o conceito de “ação social racional com relação a fins” e “ação social afetiva”. Essas categorias ajudaram a entender melhor como as pessoas tomam decisões e se comportam em diferentes contextos sociais.

    Karl Marx: A Sociologia do Conflito e da Classe Social

    Karl Marx, um filósofo e economista alemão, é conhecido por suas contribuições à Sociologia por meio de sua análise das relações de classe e do conflito social. Ele argumentou que a sociedade era moldada pelas lutas de classe entre a classe trabalhadora e a classe capitalista. Marx influenciou profundamente a Sociologia ao destacar a importância das estruturas econômicas na formação da sociedade.

    A obra de Marx, como o “Manifesto Comunista” e “O Capital”, ainda é amplamente estudada e debatida nos dias de hoje, e suas ideias continuam a influenciar a Sociologia crítica e a análise das desigualdades sociais.

    Conclusão: O Legado dos Primeiros Sociólogos

    Os primeiros sociólogos, como Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, desempenharam papéis cruciais na formação da Sociologia como uma disciplina acadêmica e na compreensão da sociedade. Suas teorias e conceitos ainda são amplamente estudados e debatidos, e continuam a influenciar a forma como vemos o mundo e suas complexidades sociais.

    Ao examinarmos o legado desses pioneiros, podemos apreciar como a Sociologia evoluiu ao longo do tempo, expandindo seu escopo para abordar questões contemporâneas e desafios globais. A Sociologia continua a ser uma ferramenta valiosa para a compreensão da sociedade e para abordar as questões sociais que enfrentamos atualmente, e seu futuro promete ainda mais avanços e descobertas.

     

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  • Sobre ser professor: Doze posturas essenciais para ensinar

    Sobre ser professor: Doze posturas essenciais para ensinar

    Sobre ser professor traz uma retrospectiva pessoal da qual me orgulho. Minha experiência de vida e leituras no campo da educação me ajudaram a refletir sobre minha prática e pensar em alguns tópicos que podem ser aplicados para refletir sobre ser professor cujo magistério inspira.  Algumas das experiências foram conquistadas com muita leitura e reflexão e outras foi observando outros colegas a partir de toda minha tragetória acadêmica.

    Por Roniel Sampaio Silva

    Para ensinar  o professor deve ter um perfil diferenciado para ser um ótimo professor. Engajamento, curiosidade e dedicação são essenciais para transformar teorias, leituras em aprendizados e experiências de ensino marcantes.

    1- Domínio das teorias fundamentais
    Um bom professor de qualquer área precisa conhecer muito bem os clássicos do campo de conhecimento. No caso de nós da Sociologia deve ser Durkheim, Marx e Weber. Eles são bases teóricas fundamentais para compreender como se deu o desenvolvimento do pensamento do nosso campo de estudo.

    2- Didática
    Saber o conteúdo não é o suficiente para ser um bom professor. É necessário tornar o assunto compreensível e claro. O grande desafio do professor de sociologia é transpor os resultados de uma disciplina tradicionalmente “academicista” em uma “saber sábio”, primando pelo rigor teórico e ao mesmo tempo proporcionar a compreensão do assunto. Isso requer planejamento tendo em vista que um exemplo mal dado ou uma explicação rebuscada e não-linear pode comprometer o aprendizado.

    3- Contextualização
    Relacionar os conteúdos aprendidos com os eventos históricos do país e do mundo fortalecem o aprendizado e fomenta mais interesse para aprender a pensar sociologicamente. Relacionar com outras áreas do conhecimento Também potencializa a experiência de aprendizado.

    4- Posicionamento
    Para o professor posicionar-se é importante. Isso encoraja outros alunos a manifestarem suas visões e refletir sobre elas.  Não de uma maneira cegamente militante, mas de uma forma crítica e flexível. Primeiro porque o posicionamento é uma forma honesta de mostrar aos alunos que o professor tem suas preferências e isso deve ser considerado pelo público para um filtro mais adequado. Segundo porque posicionar-se problematiza pontos de vista e fomentam um debate que enriquece e enaltece os envolvidos.

    5- Respeito aos pontos de vista
    Entender que existem pontos de vistas diferentes pode ajudar a enxergar vários cosmovisões diferentes de uma forma ampla é fundamental. É também fundamentalmente necessário que o professor tenha a compreensão que muitos dos estudantes são de realidades e têm referências distintas as quais lhes dão leituras e percepções diferentes. No bojo dessa dialética, o professor deve mostrar como seu campo de conhecimento pode contribuir para visualizar os problemas de forma mais ampla, sistemática e crítica.

    6- Disposição para buscar conhecer o que discorda
    O debate faz parte da natureza das ciências. Nas ciências sociais o debate é ainda mais intenso porque se relaciona com percepções e leituras de leigos e especialistas. Por essa razão, o debate faz parte do crescimento profissional do professor e para que haja um constante desenvolvimento a zona de conforto do fortalecimento de uma teoria predileta atrapalha. Portanto, torna-se fundamental que o professor de sociologia leia também o que ele discorda a fim de enriquecer seu repertório e conhecer outras leituras sobre a realidade a qual está acostumado.

    7- Gostar de ler
    Esse hábito não é apenas relativo a professores de sociologia, mas para todo e qualquer pessoa que deseja ser um bom profissional. Ler diariamente ajuda a expandir o repertório acadêmico tão necessário para ensinar bem qualquer assunto.

    8- Gostar de escrever
    Essa é uma das grandes vantagens de um bom professor de sociologia. Escrever ajuda a organizar ideias e exercita a imaginação e criatividade, fundamentais para qualquer atividade intelectual. Ler e escrever são habilidades relacionadas as quais potencializam o desenvolvimento intelectual.

    9- Criatividade
    “Criatividade é a inteligência brincando”. Quando o repertório de teorias, conceitos e categorias é marcante, o professor sente mais necessidade de compartilhar o que aprendeu de maneira criativa. A criatividade é a necessidade de fazer uma aula diferente, produtiva e inovadora. Isso além de motivar os alunos motiva o professor e dá um sentido diferenciado a sua prática.

    10- Curiosidade
    A curiosidade é uma vantagem não apenas para o excelente professor de sociologia, como também para qualquer profissional das ciências. A curiosidade é a força que move o indivíduo a buscar fazer perguntas cujas respostas se transformam em repertórios os quais serão debatidos e aplicados em sala de aula.

    11- Domínio do método científico
    A sociologia é uma ciência e como tal demanda uma problematização científica dos seus resultados. Para tanto, é necessário que as discussões incentivem os alunos a buscarem interpretação da realidade para validar os que está sendo ensinado. Tal validação não deve ser subjetiva, deve seguir o crivo do método científico: comparar e analisar dados, avaliar métodos de levantamento de dados a fim de ir além das percepções subjetivas.

    12- Valorização de experiências de vida
    Compreender que as nossas biografias pessoais interagem com a de outros indivíduos e também com a estrutura social proporcionam uma campo fértil para o desenvolvimento da imaginação sociológica. Neste sentido, as biografias podem e devem ser objeto de análise da sociologia, observando o método científico e buscando contextualizar o que está sendo aprendido não apenas de maneira geral, mas também a partir da vivência de cada sujeito social. Enfim, colocar fomentar a autonomia intelectual dos alunos para que eles consigam fazer boas leituras da realidade social.

  • O que estuda a sociologia?

    O que estuda a sociologia?

    A Sociologia é uma ciência social que estuda o comportamento social, relações sociais e processos sociais nas sociedades criadas a partir da Modernidade capitalista. Neste sentido, tem como objetivo estudar a sociedade, suas instituições, normas, valores, relações sociais e processos sociais. Ela se preocupa em compreender como as pessoas vivem em sociedade, como interagem e como as relações sociais são organizadas. O presente texto tem como objetivo apresentar o objeto de estudo da Sociologia, destacando suas principais contribuições teóricas.

    O OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA: O que estuda a sociologia?

    O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade. De acordo com Durkheim (1895), a Sociologia é a ciência que se ocupa do estudo dos fatos sociais, que são as maneiras coletivas de agir, pensar e sentir que são impostas às pessoas pela sociedade. Os fatos sociais são externos ao indivíduo e independem da vontade individual. Eles são produto das instituições e das relações sociais, e afetam a vida das pessoas de maneira profunda e duradoura.

    Para Weber (1904), a Sociologia é a ciência que se ocupa da ação social. A ação social é todo comportamento humano que é orientado pela presença dos outros, ou seja, é influenciado pela relação social que está sendo estabelecida. Weber destaca que a ação social pode ser compreendida a partir de quatro tipos ideais: ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação racional com relação a fins.

    Já para Marx (1867), a Sociologia é a ciência que se ocupa das relações sociais que se estabelecem no processo de produção. Marx destaca que a sociedade é dividida em classes sociais, e que a luta de classes é o motor da história. A Sociologia deve, portanto, estudar as relações entre as classes sociais e as formas de exploração que se estabelecem nesse processo.

    A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE DURKHEIM

    Durkheim é considerado um dos pais da Sociologia e sua contribuição teórica é fundamental para a compreensão de o que estuda a sociologia. Durkheim destaca que a sociedade é composta por uma série de instituições sociais, como a família, a religião, a educação, entre outras, que são responsáveis por regular o comportamento humano. Essas instituições são externas ao indivíduo, mas são capazes de influenciar sua vida de maneira significativa.

    Para Durkheim, a Sociologia deve se preocupar em estudar os fatos sociais de maneira objetiva, ou seja, sem se preocupar com a subjetividade dos indivíduos. Ele defende que os fatos sociais devem ser estudados como coisas, ou seja, como entidades independentes dos indivíduos que as produzem. Essa perspectiva de estudo é fundamental para a compreensão da Sociologia como ciência.

    A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE WEBER

    Weber é outro pensador fundamental para a Sociologia. Sua contribuição teórica se concentra na análise da ação social. Weber destaca que a ação social pode ser compreendida a partir de quatro tipos ideais: ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação racional com relação a fins.

    A ação tradicional é aquela que é guiada pelos costumes e tradições. A ação afetiva é aquela que é guiada pelas emoções e sentimentos. A ação racional com relação a valores é aquela que é guiada por princípios morais e éticos. E a ação racional com relação a fins é aquela que é guiada por objetivos racionais, como alcançar um determinado resultado.

    Weber também desenvolveu o conceito de burocracia, que é uma forma de organização que se caracteriza pela divisão do trabalho, hierarquia de autoridade, regras e regulamentos e impessoalidade. Essa forma de organização é muito comum nas instituições modernas, como empresas, governos e universidades.

    A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE MARX

    Marx é um dos principais pensadores da Sociologia e sua contribuição teórica é fundamental para a compreensão da disciplina. Marx destaca que a sociedade é dividida em classes sociais, que se estabelecem a partir das relações de produção. Ele defende que a luta de classes é o motor da história, ou seja, as mudanças sociais ocorrem a partir dos conflitos entre as classes sociais.

    Para Marx, a classe dominante detém os meios de produção e explora a classe trabalhadora, que não possui esses meios e é obrigada a vender sua força de trabalho para sobreviver. Ele defende que o capitalismo é um sistema econômico que se baseia na exploração da classe trabalhadora pela classe dominante.

    CONCLUSÃO

    O que estuda a sociologia? Em conclusão, a Sociologia é uma disciplina que tem como objetivo estudar a sociedade e suas instituições, relações sociais e processos sociais. Durkheim destaca a importância dos fatos sociais, Weber se concentra na análise da ação social e das formas de organização burocráticas, e Marx destaca a luta de classes e as relações de produção como fundamentais para a compreensão da sociedade.

    As contribuições teóricas desses pensadores são fundamentais para a compreensão da Sociologia como ciência e para a análise da sociedade contemporânea. A Sociologia é uma disciplina que permite compreender as mudanças sociais e os conflitos que ocorrem na sociedade, contribuindo para a formulação de políticas públicas e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

    MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

    WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

  • Conceito de capital: Marx, Weber e Bourdieu

    Conceito de capital: Marx, Weber e Bourdieu

    O capital é um conceito central para entender as relações sociais, políticas e econômicas na sociedade moderna. Nas últimas décadas, o debate sobre o capitalismo se intensificou, especialmente no que diz respeito às desigualdades sociais e econômicas que ele gera. Nesse sentido, a sociologia fornece ferramentas teóricas importantes para a compreensão do capital e seu impacto na sociedade. O objetivo deste trabalho é discutir o conceito de capital, suas diversas formas e como importantes pensadores como Pierre Bourdieu, Karl Marx e Max Weber lidam com ele.

    Por Rogerio Tineu 

    Conceito de capital em Marx
    No ensaio intitulado Estratificação Social e Estrutura de Classes, de 1962, Rodolfo Stavenhagen (1977, p. 133-134) afirma que o tema das classes, como elemento da estrutura social, ocupava um lugar de destaque na sociologia clássica no qual as classes sociais são vistas como elementos da estrutura social. Na sociologia latino-americana o conceito de classes sociais identificou-se com o da estratificação social e, em Marx e Engels, e na escola marxista, deram ao conceito de classes seu fundamento científico e o integraram como parte primordial do seu sistema sociológico e econômico. Nas últimas décadas houve uma perda do sentido original do conceito de classe que se confundiu com o de estratificação social.Com o olhar atento sobre a vasta obra de Marx, especialmente em relação ao fenômeno classe social, é possível fazer duas constatações importantes sobre esse fenômeno segundo Stavenhagen (1977, p.147-148): a primeira constatação, “não se encontra uma definição exaustiva sobre as classes e que a análise sistemática do tema no último livro de O Capital não chegou a ser concluída”; a segunda, “através das diversas obras de Marx aparecem diferentes interpretações do fenômeno que nem sempre são concordantes, mas que de maneira alguma se contradizem”. Isso resulta da aplicação do método dialético aos fenômenos sociais conjugado à maturação do conceito na própria mente do autor. O conceito de classe social para Marx se forma a partir de três aspectos: o filosófico, o econômico e o histórico, ou seja, uma abordagem estrutural-funcional e dinâmica. Para Stavenhagen essa abordagem implica em uma série de questões, expostas a seguir:
    a) Os estratos (camadas ou classes no sentido de uma estratificação) constituem categorias descritivas e estáticas. Já as classes sociais constituem categorias analíticas, ou seja, fazem parte da estrutura social com a qual mantêm relações específicas. Seu estudo conduz ao conhecimento das forças motrizes da sociedade ao permitir passar da descrição à explicação no estudo das sociedades.
    b) A classe social é uma categoria histórica, isto é, as classes sociais estão ligadas à evolução e ao desenvolvimento da sociedade, sendo encontradas no interior das estruturas sociais construídas historicamente. Por isso é que faz pouco sentido os sociólogos da escola da estratificação falarem de classes altas, médias e baixas em todas as sociedades em todos os tempos. Ainda, as classes sociais não são imutáveis no tempo, formam-se, desenvolvem-se e modificam-se à medida que a sociedade também se transforma.
    c) Desde que Weber distinguiu as dimensões econômicas, política e social, certos autores só reconhecem no conceito de classe uma base econômica, sendo esta posição geralmente atribuída ao marxismo. Vale lembrar que a concepção que Weber tinha sobre a ordem econômica não corresponde à de Marx. Para alguns autores “as semelhanças culturais, mentais, morais e de conduta dos membros de uma classe social são devidas à base objetiva de suas posições profissionais, econômicas e legais semelhantes de seus membros” (SOROKIN apud STAVENHAGEN 1977,p. 150). Mas, para Marx, “a classe era um princípio único e dominante… e quando um sistema social se estabelece as três dimensões convergem e as hierarquias econômicas, política e cultural se identificam” (MARSHALL apud STAVENHAGEN 1977, p. 150). Para a posição marxista, não é a ocupação, renda ou estilo de vida que constitui o principal critério para a formação de uma classe social, embora todos constituam critérios secundários que vigoram em casos particulares. A política, as ideologias e a cultura conjuntamente às questões de ordem econômica são fatores determinantes para o processo de constituição da classe social. Se por um lado, o que Weber separa a partir dos conceitos de ordem social e ordem econômica, do outro lado Marx integra em uma mesma totalidade complexa, materialmente determinada, a organização da produção social da existência. A noção de economia está assentada sobre a organização da produção material, o que explicaria o uso do conceito mesmo para sociedades nas quais não há predominância do mercado. Para o marxismo, a base econômica da constituição das classes sociais é a relação com os meios de produção.
    d) As classes sociais não existem de maneira isolada, mas como parte de um sistema de classes, o que define e distingue as classes sociais são as relações específicas que se estabelecem entre elas. De acordo com Lênin, são essas posições diferenciais que permitem que uma classe social se aproprie do trabalho de outra determinam que os interesses objetivos das classes não sejam distintos, mas, sobretudo, contrários e opostos.

    e) A consciência de classe é o elo que permite a passagem da classe “em si”, agrupamento com interesses objetivos e latentes, à classe “para si”, grupo de poder que tende a organizar-se para o conflito ou luta política com interesses objetivos claros e declarados. Contudo, a consciência de classe não surge espontaneamente a partir de uma situação de classe. São necessárias duas fases consecutivas para que ocorra o desenvolvimento da consciência de classe. Na primeira, uma classe social respeita outra classe devido à sua posição na organização socioeconômica. Na segunda fase, a classe tomou consciência de si mesma, de seus interesses e de sua missão histórica, como um grupo de ação política com efetivo papel nas lutas sociais ao contribuir para as mudanças sociais e para o desenvolvimento da sociedade. f) Luta de classes – expressa pelas contradições do próprio sistema socioeconômico. A contradição entre as forças de produção e as relações de produção é o motor da luta e dos conflitos de classes. Se de um lado encontra-se a classe dominante, proprietária dos meios sociais de produção e representante das relações de produção estabelecidas, do outro está a classe dominada, cujo trabalho é apropriado pela classe dominante. Mias cedo ou mais tarde as novas forças de produção entram em contradição com o sistema de relações vigente, estabelecendo-se assim relações conflituosas de interesses antagônicos entre as classes. g) Para alguns autores como Gurvitch e Sorokin, as classes são fenômenos recentes na história, originando-se a partir da Revolução Industrial. No sistema feudal era o Estado e as ordens que determinavam a estrutura social do mundo ocidental. Já para o marxismo, as classes constituem um fenômeno quase universal, característico de qualquer sociedade baseada na exploração de uma parte da população pela outra, ou seja, o escravismo, feudalismo ou capitalismo. Outra interpretação dos autores é de que a sociedade de classes decorre da divisão funcional do trabalho associado ao industrialismo ao invés de considerarem a sociedade de classes como fato central de um sistema determinado de exploração econômica. Dessa feita, a abolição das classes estaria sujeita ao fim do industrialismo, proposição falaciosa pela visão marxista, já que o industrialismo é um tipo de produção material e não um tipo de estrutura socioeconômica. É, por fim, o resultado do progresso técnico da humanidade e não das relações específicas que se estabelecem entre homens tendo por base determinadas forças de produção.h) Quantas e quais são as classes sociais no sistema capitalista? Nas obras de Marx são encontradas, tanto a visão dicotômica (senhores feudais e servos; burguesia e proletariado), quanto esquemas em que aparecem múltiplas classes nos cenários histórico e social. As diferentes visões não são contraditórias, pois a primeira abordagem permite a elaboração de modelos teóricos e a segunda, análises concretas de situações históricas particulares. Assim, em alguns países subdesenvolvidos, a produção industrial capitalista limitada coexiste com um sistema semifeudal de grandes latifúndios. Os sociólogos dedicaram parte de seus esforços ao problema das chamadas classes médias, ou ainda, a uma suposta classe de diretores e gerentes, ou tecnocratas, como um novo fenômeno novo proveniente do industrialismo. Stavenhagen analisa essa questão da seguinte maneira: para os estudiosos da estratificação há uma hierarquização dos estratos e, por conseguinte, sempre haverá classes médias entre os estratos superior e inferior da sociedade. Mas é evidente, segundo o autor, que esse procedimento não corresponde à concepção estrutural-funcional e dinâmica das classes sociais. Na concepção marxista de classe social, as categorias intermediárias podem ocupar posições determinadas, ou seja, o cruzamento de diversas divisões dicotômicas pode produzir uma terceira categoria, exemplo: entre aqueles que empregam sua própria força de trabalho e os que empregam a força de trabalho de outros, o resultado é uma terceira categoria, aqueles que possuem os meios de produção, mas não empregam mão de obra alheia (artesãos, propriedade agrícola familiar, trabalhadores autônomos).

    Nas obras de Marx, essas categorias intermediárias, às vezes, recebem o nome de pequena-burguesia e, em determinadas situações, podem transformar-se em classes sociais. Já a chamada classe tecnoburocrática também denominada de classe média decorrente do industrialismo é composta pelos diretores, gerentes e burocratas da sociedade capitalista, pretende-se, contudo, que tenha vindo substituir os capitalistas como classe dominante da sociedade e que constitui, por isso mesmo, a prova da negação do marxismo no século XX.Cabe assinalar, segundo Marx apud Lukács (1977, p. 16) que “o capital não é uma coisa, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada pelas coisas”. O indivíduo ao compreender que ele não deve ser medido por coisas ou mesmo ser coisificado e o lança para um estágio anterior ao da consciência de classe. Ele precisa agora estabelecer relações com seus iguais, aqueles como ele que são oprimidos por sua condição de classe, ou ainda, por sua condição étnica, fundamentalmente por sua cor de pele, constituem-se em uma totalidade. A consciência de classe é descrita por Lukács (1977, p. 18-21) como sendo uma reação adequadamente racional que deve ser transferida a uma determinada situação típica no processo de produção. A consciência de classe é uma totalidade, não é, portanto, nem a soma nem a média do que os indivíduos que formam a classe pensam ou sentem. A consciência de classe ao se refletir em seu par dialético a ação e por sua vez a ação refletir-se na consciência de classe, considera-se, portanto, a ação decisiva da classe como totalidade e está determinada por essa consciência e não pelo pensamento do indivíduo. Essa ação não pode ser conhecida a não ser a partir dessa consciência. Lukács indaga “em que medida a totalidade da economia de uma sociedade pode ser percebida do interior de uma sociedade determinada a partir de uma posição determinada do processo de produção”. Ele responde que assim como se pode estar acima das limitações que fazem os indivíduos sofrerem os preconceitos inerentes à sua condição de vida, ao mesmo tempo eles não podem ir além do limite imposto pela estrutura econômica da sociedade de sua época e pela posição que nela ocupam. A classe dominante é que organiza, a partir de seus próprios interesses e sua consciência de classe, o conjunto da sociedade. Essa imposição organizativa acirra os conflitos de classe e a luta de classes se estabelece a partir da violência originada da classe dominante. Um exemplo é a acumulação primitiva do capital (espoliação da mão de obra e das colônias ao longo dos séculos XVI ao XVIII).

    Em segundo lugar, é justamente no enfrentamento conflituoso e violento entre as classes para a determinação de sua existência que emerge a consciência de classe. Na constituição de uma classe social legítima uma parte dos indivíduos deve estar completamente organizada e a outra parte quase organizada de acordo com Sorokin (1977, p. 85) em sua visão mais formalista. Ao se completar essa organização é que surge a consciência de classe entre os membros do grupo, consciência esta formada e composta pelos significados, valores e normas. Porém uma mera ideologia de classe fomentada por qualquer teórico não assegura a existência objetiva de uma classe.A dialética da consciência de classe, segundo Lukács (1977, p. 38-39), “repousa na oposição insuperável entre o indivíduo capitalista, o indivíduo segundo o esquema do capitalismo individual, e a evolução submetida às leis naturais necessárias, isto é, que escapam, por princípio, à consciência”. É justamente essa contradição dialética interna na consciência da classe burguesa acrescida da organização positiva e necessária da produção como forma a manter o domínio da sociedade que determina seu par dialético, o proletariado. Essa situação da burguesia é que determina a função, o papel que deve desempenhar a consciência de classe na luta pela dominação da sociedade. Como essa dominação não é exercida somente pela classe burguesa, mas também no interesse dela própria, é que se dá a condição contra o que não se pode vencer no sentido de manter a condição do regime burguês. É necessário que as outras classes se iludam ao permanecerem com uma consciência de classe confusa. Ou seja, o gerente ou o burocrata que por uma pseuda condição ético-estética considera-se capitalista, e se vê somente como dono dos meios sociais de produção sem mesmo sê-lo, absorveu para si a consciência de classe do outro.
    Conceito de capital em Weber

    Antes de entrar na questão central deste item é importante conhecer um pouco as preocupações sociológicas de Weber e seus tipos ideais, no sentido de compreender com mais clareza as ideias de Weber sobre classe social e grupo de status. A ação humana é social na medida em que, em função da significação subjetiva que o indivíduo que age lhe atribui, toma em consideração o comportamento dos outros e é por ele afetada no seu curso. A função da sociologia para Weber é investigar a ação social e ressaltar os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico da sociedade.

    No método da compreensão social todo indivíduo, ao agir, age guiado por motivações que, por sua vez, são baseadas em valores. O cientista deve descobrir os possíveis significados ou sentidos da ação humana presente na realidade social que interessa estudar. O indivíduo age sempre em função de sua motivação e da consciência de agir em relação a outros indivíduos sendo impossível descartar-se das pré-noções, como queria Durkheim. Existe uma parcialidade na análise sociológica. Não há, portanto, neutralidade científica. Para Weber a sociedade é uma totalidade constituída de uma multiplicidade de interações sociais.O tipo ideal é um instrumento de análise proposto por Weber para a compreensão das ações sociais na construção de um tipo ideal. O sociólogo seleciona aspectos da ação humana que considera culturalmente relevantes para o estudo e o faz segundo seus próprios valores, configurando uma construção teórica abstrata do tipo ideal ou do tipo puro. Weber divide o tipo ideal ou puro em duas categorias básicas; a primeira constitui-se na tipologia da ação social e a segunda na tipologia da dominação legítima.Tipologia da ação social: os tipos a seguir se apresentam com intensidade diferenciada em diferentes sociedades. Nas sociedades antigas a tradição e afetividade eram dominantes, prevalecendo a família e a religião. Já as sociedades modernas são marcadas pela racionalidade em relação aos valores e aos fins. a) Ação tradicional: determinada por um costume arraigado como a troca de presentes no Natal, no dia das mães ou dos namorados; b) Ação afetiva: especialmente emotiva e determinada por afetos e estados sentimentais atuais como os encontrado nas torcidas de futebol; c) Ação emocional com relação a valores: determinada pela crença consciente em valores de cunho ético, estético, religioso ou qualquer outra forma, exemplo é o trabalho voluntário; d) Ação racional com relações afins: determinada por expectativas, condições ou meios para alcançar fins próprios, racionalmente perseguidos, exemplo é a empresa capitalista.Tanto a ação afetiva quanto a tradicional produzem relação entre pessoas e são coletivas e comunitárias ao promoverem a noção de comunhão e o conceito de comunidade. Na concepção de Durkheim, a comunidade é anterior à sociedade, ou melhor, a comunidade se transforma em sociedade. Já para Weber comunidade e sociedade coexistem. A comunidade existe no interior da sociedade, como por exemplo, a família que existe dentro da sociedade.

    Tipologia da dominação legítima: aqui a questão central é o poder e o porquê um determinado indivíduo ou conjunto de indivíduos detém a capacidade de dirigir a sociedade, ou ainda, por que é dado ao Estado o direito de estabelecer e aplicar as leis e controlar os meios de controle social. O Estado ou alguém detém a capacidade de dominar a sociedade porque são reconhecidos como legítimos pelos indivíduos. Essa abordagem é tipificada por Weber da seguinte maneira: a) Dominação tradicional: baseada no patrimonialismo e refere-se à autoridade pessoal do governante, investida por força do costume; b) Dominação carismática: baseada no carisma, ou seja, na capacidade excepcional de liderança de alguém; c) Dominação racional-legal: baseada na burocracia, no direito que se liga aos aspectos racionais e técnicos de administração.Weber (1977, p. 61-62) em Classe, Status, Partido, texto publicado postumamente, discorre a respeito do poder determinado economicamente e a ordem social. Antes mesmo de explicar esse dois pontos é importante explicar o significado da palavra “status”, de acordo com o tradutor da obra: “Em alemão ‘stände’. Há quem prefira traduzir por ‘estamentos’, estados, e mesmo ‘estratos de status’”. O mesmo cuidado o tradutor teve com o termo “partido”: “Frequentemente com esse termo Weber se refere, de forma ampla, a grupos corporativos orientados politicamente ou a estratos de poder, o que inclui, além de partidos políticos, também facções, grupos de pressão etc.”. O termo “estratificação social” será utilizado por alguns autores não significando, de forma alguma, classe social. Voltando à questão do poder Weber afirma que o poder condicionado economicamente difere do poder como tal, pois o surgimento do poder econômico pode ser decorrente de um poder que tenha outro fundamento. Ele afirma também que o homem não luta pelo poder apenas para se enriquecer. O poder econômico nem sempre é reconhecido com base na honra social. Nem é o poder, de forma geral, a única base da honra social. Reforça Weber, que a honra social ou prestígio pode até ser o fundamento do poder político e econômico. Tanto o poder (político ou econômico) como a honra podem ser garantidos pela ordem legal, contudo não se constituem em sua fonte principal.Já a ordem social, que difere da ordem econômica, é a forma pela qual a honra social se distribui numa comunidade entre seus diversos grupos. A ordem social e a ordem econômica estão ambas relacionadas à ordem legal. A ordem econômica é apenas a forma pela qual os bens e serviços são distribuídos

    e utilizados. A ordem social é condicionada a ordem econômica que por sua vez reage a ela.Conclui Weber: “(…) classes, grupos de status e partidos são fenômenos de distribuição de poder dentro duma comunidade” (1977: 62).Para Stavenhagen (1977, p. 134): “Aceita-se universalmente que todas as sociedades humanas estejam estratificadas de uma ou de outra maneira. Isso significa que os indivíduos ou grupos estão dispostos hierarquicamente numa escala”. Para testar sua premissa, Stavenhagen (Idem, p.135-142) elabora quatro problemas referentes ao estudo da estratificação:a) O primeiro problema é se essas hierarquizações existem realmente na sociedade ou se são apenas construções abstratas de investigação para serem usadas como instrumento de classificação na pesquisa social. Stavenhagen busca respostas em Davis & Moore (1977) que afirmam que as estratificações são universais e representam a distribuição desigual de direitos e obrigações numa sociedade, a base para diferentes estruturas sociais, constituídas pelo prestígio diferencial das diversas posições na sociedade e das pessoas que as ocupam, sendo que a determinação dessa base de prestígio depende do critério adotado.b) O segundo problema é o de determinar quais são os fatores empregados para estabelecer as hierarquias sociais. Davis & Moore (1977) constatam que existem dois fatores de uma hierarquia – a sua importância ou função para a sociedade e o treinamento ou talento necessário para ocupá-la.c) O terceiro problema relaciona-se a se são os indivíduos os hierarquizados segundo certos atributos individuais ou se a estratificação implica a hierarquização de grupos sociais bem definidos e delimitados. Davis & Moore (1977) respondem da seguinte maneira: no caso de ser o indivíduo, o status do indivíduo é o resultado de uma série de atributos individuais baseados nos fatores de hierarquização, ou seja, a posição de um indivíduo num sistema de estratificação é considerada como seu status social. Para o caso de ser um grupo social bem definido (também chamado de estrato, camada ou classe) é geralmente categoria estatística organizada em um conjunto de pessoas que têm em comum um número determinado de características mensuráveis, ou seja, um status comum. Portanto, o conceito de classe social implica em agrupamentos discretos, hierarquizados num sistema de estratificação.

    d) O quarto problema – qual a relação existente entre a estratificação e a estrutura da sociedade principalmente em relação às mudanças sociais. A resposta é dada por Weber (1977, p. 61-63) ao relacionar o poder determinado economicamente e a ordem social que organiza a estrutura social. Weber, portanto, faz distinção entre as três dimensões da sociedade: a) ordem econômica, representada pelas classes; b) a ordem social, representada pelo status; c) a ordem política, representada pelo partido. Cada uma dessas dimensões possui uma estratificação própria: na dimensão econômica, a estratificação é dada pelos rendimentos, bens e serviços de que o indivíduo dispõe; na social, é de prestígio e honra que o indivíduo desfruta, e na política é o poder que o indivíduo ostenta.Paralelamente ao conceito de classe, Weber desenvolve o conceito de grupos de status que são formados em uma comunidade a partir do prestígio e da distinção social que se formam pela honorabilidade, estima social e outros valores de nobreza social. Esse conceito contrasta com o de classe, designado a partir de um viés econômico. Portanto, os grupos de status podem acionar outras fontes de poder pelo fato de possuírem um determinado estilo de vida e uma cultura própria garantida por relações familiares, de educação, de amizade e casamento.O desenvolvimento de grupos de status a partir da segregação étnica não constitui para Weber (1977, p. 75-76) um fenômeno normal. Ele entende ser justamente o contrário, pois a segregação étnica deve ser percebida como diferença racial objetiva não se constituindo, de forma alguma, “básica para todo sentimento subjetivo de uma comunidade étnica, o fundamento inicial de raça da estrutura de status depende, absoluta e justificadamente, do caso concreto individual”. Não raro, um determinado grupo de status é utilizado como referência para a produção de um tipo antropológico puro.Os grupos de status podem ser formados a partir de um processo seletivo ao escolher os indivíduos mais aptos e qualificados. Porém, a seleção não é o único modo de formação de grupos de status. Também se formam a partir da participação política ou da situação de classe. Assim sendo, a situação de classe, de longe, é o fator predominante, pois a possibilidade de um estilo de vida que se espera dos membros de um grupo de status é normalmente condicionada pela condição econômica. Weber (1977, p. 63) não define as classes sociais como comunidades, entretanto considera que elas sejam bases possíveis para a “ação comunal”.A classe

    é definida, sob o ponto de vista econômico, de acordo com as três características descritas a seguir: a) como um grupo de pessoas que possuem em comum um componente causal específico de suas oportunidades de vida; b) na medida em que esse componente causal é representado exclusivamente por interesses econômicos ligados à posse de bens e oportunidades de rendimentos; c) é representado sob as condições específicas do mercado de produtos ou de mercado de trabalho. Portanto, a classe social para Weber, baseia-se na ordem econômica, não sendo mais do que um aspecto da estrutura social.Mesmo definindo classe por meio de um critério exclusivamente econômico, Weber não enfatiza a produção, mas o mercado no qual e pelo qual os indivíduos compartilham as mesmas oportunidades e recursos, que não são, exclusivamente, o capital econômico e o trabalho, pois incluem outros recursos como as habilidades específicas que advêm da experiência e do treinamento profissional.Stavenhagen (1977, p. 142-143) faz críticas à teoria weberiana por definir classe somente sob o ponto de vista econômico. Em primeiro lugar, o autor afirma que a classe baseada na ordem econômica não seria mais do que um aspecto da estrutura social, aspecto esse que segundo Marshall (apud Stavenhagen 1977: 142) “está perdendo sua importância na sociedade moderna, diante da importância do status como elemento primordial da estratificação social”. O conceito de classe tem por sinônimo estrato em qualquer tipo de estratificação e não somente na estratificação econômica. Em segundo lugar, é necessário destacar ser difícil ver como “os esquemas de estratificação que mostram status ou classes superiores, médias e baixas, com todas as suas variações, podem ser integrados à estrutura social, caso não sejam considerados outros fatores”. Em terceiro lugar, a estratificação não vai além do nível da experiência por se tratar de simples descrições estáticas e que conduzem aos estereótipos e não à compreensão das estruturas.Contudo, para Stavenhagen (1977, p. 165-166) existem estratificações que não se baseiam nas relações de classe, pelo menos à primeira vista. Exemplo são as categorias profissionais de prestígio ou certas hierarquias baseadas no pertencer racial ou étnico. A discriminação dos negros nos Estados Unidos, mesmo ignorando-se suas implicações econômicas, tem sua origem na escravidão combinada com o desenvolvimento do capitalismo industrial, logo após a abolição da escravidão desse país no ano de 1863. Portanto, a estratificação racial dos Estados

    Unidos, assim como no Brasil, baseia-se em uma situação de classe, ao menos em sua origem. A esse respeito, o autor chama a atenção e toma o cuidado ao lembrar que a tese da discriminação racial nos Estados Unidos é produto da exploração econômica considerada, por muitos sociólogos estadunidenses, um anátema. Eles preferem ver a discriminação racial somente pela ótica do irracionalismo humano.
    Conceito de capital em Bourdieu

    Bourdieu define classe social como sendo:(…) conjuntos de agentes que ocupam posições semelhantes e que, colocados em condições semelhantes e sujeitos a condicionamentos semelhantes, têm, com toda a probabilidade, atitudes e interesses semelhantes, logo, práticas e tomadas de posições semelhantes. (BOURDIEU, 1998, p.136)O estudo efetivo da classe social depende, segundo Bourdieu, de um necessário rompimento com Marx. O primeiro rompimento é com a substância ou aquilo que há de permanente nas coisas mutáveis. Classe não é um grupo real e sim um conjunto de relações, e para Bourdieu é necessário romper com a substância e privilegiar as relações. A segunda ruptura é com o economicismo passando a considerar o espaço multidimensional. Por fim, romper com o objetivismo e privilegiar as lutas simbólicas nos mais diferentes campos.Silva (1995, p. 30) afirma ser útil considerar as duas maneiras que Bourdieu (1987) utiliza o conceito de classe; ele faz uma distinção entre classes teóricas ou prováveis e classes concretas ou reais. As classes teóricas ou prováveis – essas classes são definidas a partir de uma avaliação das disponibilidades que indivíduos ou grupos têm das formas básicas de poder (capital econômico e capital cultural). Na concepção de Bourdieu são várias as formas de poder e o indivíduo é visto como ocupante de um determinado ponto num espaço social multidimensional e as classes são os grupos que ocupam posições próximas neste mesmo espaço. Essa concepção, de acordo com Silva (1995, p. 31) sugere uma imagem gráfica (Figura 1 – Representação gráfica das classes teóricas de Bourdieu) das classes como estruturas prováveis de estilo de vida designado pelo capital provável sendo este o resultado das inter-relações do capital econômico, do capital cultura e do capital social, pelos quais cada indivíduo pode estar imerso e exposto. Embora a Figura 1 apresentada em Silva (1995, p. 31) não seja utilizada por Bourdieu e até, de certo ponto, viole

    suas propostas, ela é um recurso didático-visual que facilita compreender a ação conjunta dos capitais.A expressão capital cultural é uma expressão cunhada por Pierre Bourdieu com o objetivo de analisar as diversas situações de classe. Silva (1995, p. 24) destaca que em certa medida o capital cultural serve para caracterizar subculturas de classe ou setores de classe. Grande parte da obra de Bourdieu é dedicada à descrição minuciosa da cultura em seu sentido mais amplo, como: os gostos, os estilos de vida, os valores, habitus etc. decorrentes das condições de vida específicas das diferentes classes, moldando as suas características e contribuindo para distinguir, por exemplo, a burguesia tradicional da nova pequena burguesia e esta da classe trabalhadora.A representação gráfica das classes teóricas de Bourdieu é construída a partir de um espaço tridimensional e em cada um dos seus eixos são designados três poderes distintos na forma do capital econômico, capital social e capital cultural. FIGURA 1 – Representação gráfica das classes teóricas de BourdieuFonte: Silva (1995, p. 31)Sobre as classes concretas ou reais Bourdieu apud Silva (1995, p. 31) afirma que os indivíduos, em geral, que ocupam posições próximas nesse espaço tridimensional têm maior probabilidade de formar grupos concretos, conforme segue:

    ..agentes que ocupam posições vizinhas nesse espaço … estão sujeitos aos mesmos fatores condicionantes; consequentemente eles têm toda a chance de desenvolver as mesmas disposições e interesses e de produzir as mesmas práticas e representações. Aqueles que ocupam posições semelhantes têm toda a chance de desenvolver o mesmo habitus … (BOURDIEU 1987, p. 5).Entretanto, não há nesta abordagem ao conceito de classe em Bourdieu uma relação determinística causal entre a classe provável e as classes reais. Se fosse, valeria a máxima de que todos aqueles que descendem de um indivíduo rico (filhos, netos, bisnetos etc.) serão inevitavelmente ricos e cultos. A recíproca também seria verdadeira se a expressão partisse de um indivíduo pobre. Equivale afirmar que o movimento da probabilidade para a realidade não é dado, pois depende de outros princípios e fatores aglutinadores e formadores de valores e identidades grupais. As classes reais ou concretas têm características semelhantes visíveis: gosto artístico-cultural e estilo de vida similar; compartilham local de moradia e práticas culturais; agem em função de seus próprios interesses etc. Possuem gosto legitimado pelo prestígio, também são legitimadores do gosto de nobreza relacionado à arte, cultural e moda por darem valor simbólico às coisas. O capital cultural, portanto, se destaca em Bourdieu tanto na concepção das classes prováveis quanto na formação das classes reais. A partir do exposto, Silva (1995, p. 31) com o intuito claro de relacionar as teorias de Marx e Weber as de Bourdieu faz o seguinte questionamento: “Como essa concepção de classe e esse destaque dado à cultura se inserem nas teorias clássicas de Marx e Weber?” A autora afirma que Bourdieu frequentemente é associado à corrente neomarxista, por adotar um estilo radical e fazer uso de termos e conceitos familiares à abordagem marxista, como por exemplo: o capital como princípio constitutivo das classes, as classes como prioridades de análise e a ênfase em mecanismos utilizados pela classe dominante para garantir a sua reprodução na forma de luta de classes como lutas simbólicas ou lutas de classe simbólicas. Para Marx, as condições sociais típicas de uma classe estão associadas a dimensões psicológicas e culturais, como a consciência de classe e a utilização das ideias da classe dominante como instrumentos de dominação.Neste sentido, de acordo com Gramsci, a classe dominante é que detém o poder hegemônico quando sua ideologia penetra nas massas. Quem detém o poder simbólico, o gosto nobre, o privilégio e a cultural legítima possui a hegemonia. Entretanto, como já visto anteriormente, a análise de Marx se reduz ao nível das relações econômicas, especificamente, a esfera de produção e as relações capital e trabalho já que é a infraestrutura econômica ou a base material da sociedade que determina a superestrutura em suas dimensões artísticas, culturais, sociais, religiosas, legais e ideológicas.Em relação à teoria weberiana foi visto que as classes são determinadas estritamente pela ordem econômica, não sendo a ênfase na esfera da produção, e sim o mercado no qual os indivíduos compartilham as mesmas chances de vida, os mesmos recursos que não são exclusivamente o capital trabalho, pois são incluídos outros recursos como as habilidades específicas que advêm do treinamento e da experiência profissional. Weber também desenvolve o conceito de classe social paralelamente ao conceito de “grupos de status” ou grupos concretos formados a partir do prestígio, da honra e da estima. Por essas características os grupos de status se constituem comunidades e não classes sociais. Silva (1995, p. 31) afirma que tanto pelo conceito de classe, em que são destacadas as chances de vida e não a relação capital trabalho, quanto pelo conceito de grupo de status como forma de estratificação social que aciona recursos simbólicos e culturais, a teoria de Bourdieu tem sido considerada mais weberiana do que marxista. O próprio Bourdieu relaciona a passagem das classes teóricas às classes reais com a formação dos grupos de status em Weber e também parece haver certa similitude entre as classes como chances de vida e as classes prováveis de Bourdieu. Da mesma forma, as classes e os grupos de status de Weber se assemelham aos grupos concretos de Bourdieu.Bourdieu, pelo viés weberiano, se torna mais weberiano que o próprio Weber ao incluir a dimensão cultural e simbólica na definição das chances de vida ou classe provável e não apenas na formação de grupos reais. Portanto, Silva (1995, p. 33) conclui que em Bourdieu: O capital que estabelece essas classes teóricas não é apenas econômico, mas também social, cultural e simbólico. Ao se identificar tanto com Marx quanto com Weber, ou mais com Weber do que com Marx, a teoria de Bourdieu não se mostra inconsistente ou reacionária, mas, ao contrário, segue a tendência convergente que caracteriza abordagens mais recentes à teoria de classe.
    O gosto legítimo, o gosto de nobreza ou a cultura legítima em Bourdieu se assemelham à dominação legítima de Weber por não haver a incidência ou necessidade do uso da violência como forma de dominação. O poder é reconhecido pela condição de classe social privilegiada (de nobreza ou aristocrática) tem em legitimar o gosto cultural, já o controle social ocorre também devido à tradição, ao carisma e à burocracia
  • Avaliação escolar: o que é e quais os tipos?

    Avaliação escolar: o que é e quais os tipos?

    Apresento aspectos básicos em torno da avaliação escolar. Isso mesmo, no plural. Irei direto ao ponto. Busco responder duas perguntas: o que são avaliações escolares? Quais os principais tipos de avaliações escolares? Importa destacar que cada tipologia de avaliação é orientada por uma perspectiva pedagógica e mobiliza diferentes técnicas e instrumentos, mas isso seria assunto para outro texto

    Avaliação escolar: o que é e quais os tipos?

     

    Cristiano das Neves Bodart[1]

    Cristiano Bodart
    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP).

    Conceituando

    As avaliações escolares referem-se àquelas realizadas pelo(a) docente para aferir a aprendizagem dos(as) estudantes ou avaliar suas próprias práticas docentes. Por meio delas é possível direcionar a prática docente visando potencializar o desempenho dos(as) estudantes.

    Grosso modo, podemos categorizar as avaliações em dois tipos, sendo elas, respectivamente, avaliação da aprendizagem e avaliação de ensino. A avaliação da aprendizagem, como indica o termo, visa diagnosticar o quanto os(as) estudantes estão aprendendo. Já a avaliação de ensino se volta a analisar o desempenho das ações docentes no processo de ensino.

    Infelizmente há docentes que utilizam as avaliações como instrumento de dominação autoritária sobre os(as) estudantes. Há gestores públicos que as utilizam como meros dados estatísticos. Contudo, trata-se de uma prática fundamental no processo de ensino-aprendizagem e o(a) docente não pode abrir mão de utilizar.

    Como prática formalmente organizada e sistematizada, a avaliação escolar possui objetivos escolares implícitos ou explícitos, que se baseiam em valores e normas sociais (CHUEIRI, 2008), tornando a escola uma instituição reprodutora dos sistemas sociais estabelecidos. Seja no sentido durkheimeano de reproduzir as normas, valores, signos, etc., que permite a coexistência entre os indivíduos que forma a sociedade; ou no sentido bourdieusiano, sendo a escola responsável pela manutenção do status quo e, consequentemente, reproduzindo as desigualdades de classe. O fato é que, em geral, a escola mais reforça a estrutura social do que a transforma; ainda que hajam práticas que visam uma educação libertadora.

    Como destacou Chueir (2008), historicamente a avaliação escolar tem sido utilizada no propósito de: medir para avaliar; examinar para avaliar; avaliar para classificar ou regular e; avaliar para qualificar. Para tanto, foram desenvolvidos diversos tipos de avaliação da aprendizagem, dos quais destacarei alguns a seguir.

    Tipos de avaliação da aprendizagem

    Avaliação formativa:

    Avaliação formativa ocorre no processo de ensino e não ao final dele. É realizada ao como objetivo fornecer feedback aos estudantes e aos(às) docentes sobre o desempenho dos(as) estudantes e a eficácia do processo de ensino. Por meio dela é possível “mudar a rota” ainda durante o processo de ensino-aprendizagem. O(A) docente desenvolve meios de realizar registros e acompanhamento dos(as) estudantes, devendo favorecer o exercício de duas das funções principais desse tipo de avaliação:

    A função de diagnosticar o progresso do aluno, registrando e apreciando seus pontos fortes e fracos de forma contínua, como parte do processo interativo em sala de aula, de modo a oferecer orientação ao aluno enquanto ele aprende;

    A função de encorajar o estudante, fornecendo feedbacks positivos que orientem seus processos cognitivos, favoreça sua auto-avaliação e seu envolvimento e responsabilização pessoal no desenvolvimento de tarefas que o levarão a uma aprendizagem efetiva (GREGO, 2013, p. 4)

    Avaliação somativa

    Avaliação somativa é realizada ao final de um período de ensino, como no final de um trimestre ou semestre, e tem como objetivo avaliar o desempenho geral dos(as) estudantes e fornecer informações para a tomada de decisões sobre a promoção serial ou não dos(as) estudantes (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983), por isso facilmente utilizada para impor punições aos estudantes. As avaliações possuem um conceito ou nota a ser alcançado pelos(as) estudantes. Quem alcança é promovido e quem não atinge a nota ou conceito estabelecido é retido no sistema seriado. É o tipo de avaliação mais comum no Brasil, inclusive em avaliações de grande escala, tal como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

    Avaliação diagnóstica

    Avaliação diagnóstica é realizada no início de um período de ensino, com o objetivo de identificar as habilidades e conhecimentos prévios dos(as) estudantes, para que os professores possam planejar seu ensino de forma mais eficaz. Para Luckesi (2003, p. 47), “a sala de aula é o lugar onde, em termos de avaliação, deveria predominar o diagnóstico como recurso de acompanhamento e reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exames como recursos classificatórios.

    Na avaliação diagnóstica o(a) docente busca identificar o nível de conhecimento e habilidades dos(as) estudantes antes do fim de um período, de um conteúdo ou mesmo no seu início. Ela é realizada com o objetivo de identificar as necessidades de aprendizagem dos(as) estudantes e planejar a metodologia e definir os conteúdos de ensino de acordo as necessidades observadas. Por meio desse tipo de avaliação, o(a) docente tem por objetivo principal compreender as dificuldades e os pontos fortes dos(as) estudantes, para poder planejar sua atividade docente de modo mais produtivo.

    Avaliação por projetos

    Avaliação por projetos é um tipo de avaliação na qual os estudantes são desafiados a desenvolver um projeto baseado em um tema ou problema específico criado pelo(a) professor(a). Ela é uma abordagem de ensino-aprendizagem que valoriza a participação ativa dos estudantes no processo educativo e a solução de problemas reais ou não. Trata-se de uma avaliação que envolve atividades individuais ou em grupo. A avaliação por projetos permite aos estudantes mostrar seus conhecimentos, competências e habilidades. Esse modelo de avaliação está alinhado aos moldes neoliberais, focando competências a serem promovidas, mais especificamente, “aprender a ser”, “aprender a conviver”, “aprender a fazer” e “aprender a conhecer” (CHAVES, 2009).

    Avaliação por observação

    Avaliação por observação é um tipo de avaliação na qual o desempenho dos(as) estudantes é avaliado através da observação de suas ações e comportamentos durante as atividades de ensino-aprendizagem. As observações podem ser formais, como observações planejadas e registradas pelo professor, ou informais, como observações feitas durante a rotina diária da sala de aula. É uma forma de avaliação mais imediata, pois permite ao(à) professor(a) ver o desempenho do(a) estudante em tempo real e tomar decisões educacionais baseadas nessa observação. É um modelo de avaliação muito presente quando o professor precisar elaborar um plano que será avaliado em um concurso cuja duração é de apenas uma aula.

    Segundo Aranha (2007) há três momentos que integram a observação avaliativa, sendo eles: a) a pré-observação; b) observação e; c) pós-observação. Em síntese, o(a) docente ao adotar esse tipo de avaliação precisará previamente sistematizar o que será observado e posteriormente deverá sistematizar as observações realizadas e mensurar/avaliar cada aspecto notado.

    Avaliação [instrumento] por portfólio e por diário do bordo

    Por fim, cito o portfólio e o diário de bordo (ou de campo). O portfólio e o diário de campo são compreendidos como técnicas de aprendizagem ou instrumentos avaliativos. Devido seu uso recorrente, destaco aqui como possibilidade de avaliação. Os usos de portfólio ou diário de campo para avaliar a aprendizagem podem ser combinados com outros tipos de avaliações, tal como avaliação por pesquisa.

    Na avaliação por portfólio os(as) estudantes coletam e(ou) selecionam amostras de seus trabalhos produzidos ao longo de um período (bimestre, semestre ou ano) e apresentam ao(à) docente ou à turma ao final de um processo (DEY; FENTY, 1997). Essas amostras são organizadas e presentadas em um portfólio (daí o nome da avaliação), que é avaliado pelo(a) professor(a) ou pelos(as) próprios(as) estudantes, tornando-se uma estratégia de autoavaliação.

    Com as TICs, as possibilidades de formatos dos portfólios ou diário de bordo não inúmeras. Tem sido comum professores(as) adotar a produção de um material (não necessariamente um livro) em forma de coletânea produzido e organizado pelos(as) estudantes.

    Operacionalização da avaliação

    Sua “aplicação” ocorre no contexto de escolarização, o que não significa que esteja subordinada aos limites da sala de aula, ou mesmo ao espaço escolar. Por meio delas o(a) docente afere o rendimento dos(as) estudantes em relação ao conteúdo ensinado, o que pode acontecer em dois momentos: a) durante o ensino do conteúdo; b) após o fim do ensino do conteúdo.

    As estratégias e ferramentas de avaliação podem variar de acordo com o tipo, conteúdo envolvido, objetivos educativos e a perspectiva pedagógica adotada. Mas dentre as estratégias e ferramentas mais utilizada destaco o questionário, trabalhos escritos, entrevistas, observações, debates, entre outras formas.

    Independente do tipo de avaliação adotada pelo(a) docente, o fato é que “a melhoria da instrução está condicionada a uma avaliação eficiente e eficaz da organização [e] o desenvolvimento pessoal só se concretizará se houver parâmetros que incentivem e motivem o processo de crescimento” (SANT’ANNA, 2013, p. 13-14). Não há uma avaliação melhor ou pior, há avaliações mais ou menos adequadas à certas circunstâncias.

    Considerações finais

    Como apresentado, a avaliação é parte importante na atividade escolar, sendo uma forma de acompanhar, avaliar, mensurar a aprendizagem dos(as) estudantes e a prática docente. É bom deixar claro que não há uma avaliação melhor que a outra, uma vez ela deve ser adotada de acordo com a perspectiva pedagógica do(a) docente, os objetivos da aula e as necessidades dos(as) estudantes. É possível, por exemplo, usos combinados de tipos de avaliações visando alcançar os objetivos educacionais desejados.

    O que nós, docentes, não podemos fazer é tomar a avaliação como uma ferramenta de persuasão e de autoritarismo na relação estudante-docente. Sob tal uso pouco agregará ao direcionamento da atuação profissional e à aprendizagem dos(as) estudantes.

     

    Referências bibliográficas

    ARANHA, A. (2007). Observação de aulas de Educação Física. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

    BLOOM, B.; HASTING, T.; MADAUS, G. Manual de avaliação formativa e
    somativa do aprendizado escolar.
    São Paulo: Editora Pioneira, 1983.

    CHAVES, Paloma. Aprendizagem por Projetos: O Desafio da Avaliação. EduTec: Blog da Professora Paloma, 2009.

    CHUEIRI, Mary Stela Ferreira. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008.

    DEY, Eric L.; FENTY, Joseph. M. Avaliação em Educação Superior: técnicas e instrumentos de avaliação. In: MACHADO, E. C.B.S. Técnicas e instrumentos de avaliação. Brasília: UnB/Cátedra UNESCO, 1997.

    GREGO, Sonia Maria Duarte. A avaliação formativa: ressignificando concepções e processos – volume 3 – D29 – Unesp/UNIVESP – 1º edição, 2013.

    LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando
    conceitos e recriando a prática. Salvador: Malabares Comunicação e
    Eventos, 2003.

    SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Comoavaliar?: critérios e instrumentos. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Avaliação escolar: o que é e quais os tipos? Blog Café com Sociologia. jan. 2023.

    Nota:

    [1] Doutor em Sociologia (USP). Docente do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). E-mail: [email protected]

     

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