revista veja

Quanto vale o que você lê?

Por Marcela Tanaka*
revista veja
Não é engraçado uma revista que vende fofoca, alienação e distribui preconceito gratuito custar, a assinatura por 2 anos, R$823,50 (somente impressa), enquanto que uma outra que vende conhecimento, de fato, e a realidade posta a vistas custar R$142,20 por 3 anos?
Ok, argumentem, a Veja sai toda semana, então tá, um cálculo rápido diz que, supondo 2 anos possuírem 100 semanas, então, cada exemplar custa R$8,95. Enquanto a Sociologia, cada exemplar custa R$7,90. E chega desses papos numéricos.
É incrível como o desprezo pelas ciências humanas é em demasia, e digo isso porque a lei de mercado da oferta e da procura diz que a Veja só é mais cara porque é mais procurada. Não faz sentido isso! Não faz sentido o ser humano gastar mais dinheiro pra ficar mais estúpido, menos inteligente, em palavras mais populares, você
paga para emburrecer. Não faz sentido!
Aliás, minto, faz todo sentido, Foucault já dizia que saber é poder, e vamos combinar, a burguesia não quer que você tenha poder, portanto, não quer que você saiba. É por isso que ela te enfia goela abaixo esse tipo de lixo que você vê nas bancas, nos outdoors, na televisão. E claro, lucra em cima de você.
É escandalizantemente óbvio que ninguém vai estimular a compra de uma revista que tem, exatamente, a fórmula contrária a ser vendida pela mídia, contrária a todos os preceitos que regem esse mundo descoordenado em que vivemos e, principalmente, que possui a fórmula para entender todos os problemas em que passamos – fome, desigualdade, preconceito, opressão, machismo, violência, etc. – rever nossos conceitos de modo de vida american way of life , pior de tudo, nos faz questionar a cerca de tudo isso, levantar questionamentos que VEJAmos, não faz bem fazer. 
É uma revista que faz barulho, incomoda, cutuca quem há muito tenta calar aqueles poucos que fazem de tudo para ter o mínimo de atenção, é aquela que te deixa incomodado, que te faz perceber o quão acomodado com o mundo você está. Aí reside o perigo, ninguém quer que você se dê conta disso, porque vai que você decide questionar demais, sublevar-se demais…
VEJAmos, ninguém quer subverter essa ordem tão lucrativa não é mesmo?
As fontes:

Marcela Tanaka* é aluna de graduação em Ciências Sociais/UNICAMP e mantém o blog “Crítica Nossa de Cada Dia”, onde originalmente foi publicado o presente texto.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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História do Café com Sociologia

O blog foi criado por Cristiano Bodart em 27 de fevereiro de 2009. Inicialmente tratava-se de uma espécie de “espaço virtual” para guardar materiais de suas aulas. Na ocasião lecionava em uma escola de ensino público no Estado do Espírito Santo. Em 2012 o Roniel Sampaio Silva, na ocasião do seu ingresso no Instituto Federal, tornou-se administrador do blog e desde então o projeto é mantido pela dupla.

O blog é uma das referências na temática de ensino de Sociologia, sendo acessado também por leitores de outras áreas. Há vários materiais didáticos disponíveis: textos, provas, dinâmicas, podcasts, vídeos, dicas de filme e muito mais.

Em 2019 o blog já havia alcançado a marca de 9 milhões de acessos.

O trabalho do blog foi premiado e reconhecido na 7º Edição do Prêmio Professores do Brasil e conta atualmente com milhares de seguidores nas redes sociais e leitores assíduos.

Seguimos no objetivo de apresentar aos leitores um conteúdo qualificado, tornando os conhecimentos das Ciências Sociais mais acessíveis.

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