Existe uma nova Classe média?
Por Roniel Sampaio Silva
A obra do economista do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Márcio Pochmann tem por objetivo discutir conceitualmente e empiricamente a problemática da expressão em voga “Nova classe média” a partir da análise do trabalho na base da pirâmide social brasileira. Com base nisso, o autor analisa a estrutura social brasileira e o perfil do trabalho, principalmente com dados da década de 1980, 1990 e 2000. Logo no início da obra ele apresenta sua tese central de que não existe nova classe média:
“Mesmo com o contido nível educacional e a limitada experiência profissional, as novas ocupações de serviços, absorvedoras de enormes massas humanas resgatadas da condição de pobreza, permitem inegável ascensão social, embora ainda distante de qualquer configuração que não a da classe trabalhadora. Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média.” (POCHMANN, 2012, p. 20)
Para o economista, a ideia de nova classe média foi criada artificialmente para fins de que um grupo de trabalhadores incluídos por meio das políticas de emprego fossem orientados politicamente e economicamente. Assim sendo “A interpretação de classe média (nova) resulta, em consequência, no apelo à reorientação das políticas públicas para a perspectiva fundamentalmente mercantil.” (idem). Desta maneira, a propaganda é que essas pessoas mudaram substancialmente na estrutura social e que por conta disso, e que agora deveriam buscar serviços privados de saúde, educação, assistência social em detrimento dos serviços públicos. Além disso, o discurso de classe média faz o trabalhador se distanciar do pertencimento de sua própria classe social, que aliado ao despreparo das instituições democráticas promove “o escasso papel estratégico e renovado do sindicalismo, das associações estudantis e de bairros, das comunidades de base, dos partidos políticos, entre outros.”(idem)
E
Eis os principais tópicos do livro:
Trabalho na base da pirâmide social brasileira Trabalho para as famílias Trabalho nas atividades primárias autônomas Trabalho temporário Trabalho terceirizado
O que aconteceu com a economia para se falar em nova classe média?
Durante muito tempo a economia brasileira tinha a seguinte expressão como lema: “É preciso crescer o bolo para dividi-lo depois” . Essa expressão foi popularizada no país durante o governo civil-militar de Figueiredo e até poucos anos atrás era muito forte. No axioma citado, significava que era primeiro crescer a economia, para depois haver distribuição de renda. Isso foi “cláusula pétrea” durante muito tempo no país. A partir do começo dos anos 2000, como podemos ver no gráfico abaixo, as macro políticas públicas e econômicas, impulsionando a economia e diminuindo o índice de desigualdade social (índice GINI), contrariando a tese anteriormente hegemônica.
últimas três década. Recomendamos a leitura.POCHMANN, Márcio. Nova classe média? São Paulo: Boitempo, 2012.
Apesar de ainda não ter tido acesso a essa obra de Pochmann, partindo apenas da resenha, me forço a pensar sobre o perfil de atuação do governo brasileiro. Com muitas das perspectivas propagandísticas voltadas à "nova classe média", cria-se uma comoção entorno da ascensão social como um resultado das políticas intervencionistas, forçadamente atreladas a um possível wellfare tupiniquim. Com as colocações apresentadas nessa resenha de Pochmann (que participou ativamente do governo petista) observa-se as mesmas politicas sociais sob um prisma liberal, com fito de desatrelar do Estado a responsabilidade com investimentos públicos. Essa sempre foi uma proposta muito clara do PT, a qual sempre foi alvo de críticas da esquerda radical. Contudo, o aspecto neoliberalista dessas políticas estatais (do mesmo modo que ocorre com as políticas de ensino superior) se esvaiu da opinião pública, o que tanto fortalece a direita 'stricto senso' quanto dificulta uma crítica mais sociológica das contradições entre a propaganda wellfare e a efetividade liberalista das políticas. Reiterando o fato de eu não ter lido o livro ainda, posso falar desse tema apenas no nível da especulação, que trago comigo e compartilho agora. Mas assumindo a dicotomia entre partidos nessas próximas eleições, é de fato preocupante a estupidez de muitos argumentos direitistas que vejo sendo abertamente professados nas redes sociais. Seja pela debilidade em assumir que o paradigma neoliberal euro-estadunidense possa ter validade para a continuidade do desenvolvimento sócio-econômico brasileiro, seja pela infâmia de classificar as ações do governo de forma vulgar e leviana. Com isso, o espaço para a crítica efetiva se torna vacante, e se perdem as oportunidades para a construção de um discurso que poderia incidir sobre o que de fato precisaria de aprimoramento.