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Sobre a questão que cobrou gênero no ENEM

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Por Alexandre Barbosa Fraga*
Há duas maneiras de explicar as diferenças existentes entre homens e mulheres:
1ª: Explicação de ordem biológica ou natural – Defende que é a natureza que estabelece as diferenças entre homens e mulheres.
2ª: Explicação de ordem cultural – Defende que é a sociedade que estabelece as diferenças entre homens e mulheres, ou seja, ninguém nasce mulher ou homem, torna-se mulher ou homem. Seria a formação social e cultural que ensinaria a cada um o papel que é socialmente esperado para seu sexo.

 

 

Apresentar esses dois caminhos aos alunos não é doutrinação. É conhecimento. Algo que, inclusive, para quem não sabe, é justamente o papel da escola.
Doutrinação é justamente o contrário: defender que determinados temas, como o feminismo, não possam ser cobrados. Estão proibidos. Não devem ser discutidos. “Não deixe ninguém saber que há uma explicação de ordem social e cultural. Todos precisam acreditar na explicação de ordem biológica ou natural”. Por quê? Porque é a que determinado grupo defende. Isso sim é doutrinação.
Por que o medo do pluralismo de ideias? Por que o medo do debate? Por que o medo de ser apresentado a diferentes visões sobre algo? Porque acaba com as certezas fáceis? Porque retira as pessoas do conforto das ideias aceitas por osmose?
É tosco uma pessoa se prender a uma visão sobre algo só porque desconhece as demais. Convicção mesmo é a pessoa continuar com a sua visão depois de ser apresentada a outras. Aí, sim, terá sido uma escolha, e não uma doutrinação, uma imposição.
Vamos estudar mais? Além de vagina ou pênis, o importante mesmo é termos cérebro. E é isso que anda em falta ultimamente.
Gênero precisa ser discutido na educação básica, sim. E os comentários que andam circulando pelas redes sociais só confirmam isso. Que bom que a Sociologia cumpre esse papel. Que bom que o ENEM este ano levantou essa questão, inclusive na redação.
Quem é contra o debate ou o desqualifica é porque prefere o caminho mais fácil: apegar-se a uma visão de maneira irrefletida e impedir a circulação de qualquer outra visão. Mais fácil e mais covarde.

 

*

Doutorando em Sociologia no IFCS/UFRJ e professor da SEEDUC-RJ.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

5 Comments Deixe um comentário

  1. "Vivi para ver isso", também: a Sociologia firmando o seu espaço. Conteúdos como A questão de gênero e Movimento Feminista fazem parte do currículo do segundo ano; e a frase de impacto de Simone de Beauvoir na obra O Segundo Sexo "Não se nasce mulher, torna-se mulher" é premissa para abordagem desses temas.

    Parabéns ao blog por todos os esclarecimentos com referência a esse tema!

  2. Foi bom para indicar a importância da Sociologia aos alunos de Ensino Médio, muitos tentando compreender "o que eu faço com o conhecimento produzido pela Sociologia?". Excelente reflexão dos responsáveis pelo Blog. Outros temas interessantes que poderiam ser tratados pela redação são "os grandes movimentos migratórios do mundo" ou Ética e Moral na Sociedade atual. Forte abraço em todos.

  3. "Vamos estudar mais? Além de vagina ou pênis, o importante mesmo é termos cérebro. E é isso que anda em falta ultimamente"

    E quando lemos em nossas timelines o que temos lido ultimamente sobre TODOS os assuntos de ordem social, essa certeza se cristaliza.
    Texto irretocável, Alexandre! Abração!!!

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O blog é uma das referências na temática de ensino de Sociologia, sendo acessado também por leitores de outras áreas. Há vários materiais didáticos disponíveis: textos, provas, dinâmicas, podcasts, vídeos, dicas de filme e muito mais.

Em 2019 o blog já havia alcançado a marca de 9 milhões de acessos.

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