Sociologia e música: “O meu Guri”, de Chico Buarque
Por Cristiano das Neves Bodart
O uso de letras de músicas pode estimular os alunos a se interessar pela Sociologia e suas ferramentas interpretativas da realidade (indicamos ler esse artigo AQUI), o que facilita o ensino de Sociologia.
Nessa postagem apresentamos uma sugestão de música e indicação como é possível utilizá-la na aula de Sociologia. Trata-se da música “O meu Guri”, de Chico Buarque.
A aula pode ser dividida em três momentos.
Primeiro momento: ouvir a música acompanhando a letra (vídeo e áudio no fim da postagem);
Segundo momento: aplicação de um questionário aos alunos (que pode ser realizado coletivamente, destinando oralmente à turma de alunos);
Terceiro momento: explanação de uma abordagem sociológica dos problemas sociais destacados na canção.
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Questionário (para o segundo momento) para trabalhar sociologia a música, no caso “o meu guri”
1.Quem é eu-lírico da música?
R: uma mãe ou talvez um pai (pelos presentes, é mais provável que seja uma mãe)
2. O que representa dizer que não era hora do rebento rebentar?
R: não era uma gravidez planejada
3. O que representa na música “e eu não tinha nem nome pra lhe dá”?
R: Duas leituras são possíveis: 1. evidencia a falta de planejamento ou; 2. a mãe/ou pai não tinha nem documento para ser um cidadão reconhecido diante do Estado.
4. O que representa a expressão “já foi nascendo com cara de fome”?
R: Já nascia em uma estrutura social precária (pobre)
5. Na meninice a condição social havia mudado?
R: Não. O trecho “uma dia ele me disse que chegava lá” evidencia que passado os anos ainda continuava pobre.
6. O que significa na música o trecho “fui assim levando, ele a me levar”?
R: Que a vida foi sendo improvisada, com dificuldades onde os dois se ajudavam. O que indica que se tratava de uma mãe solteira.
7. O que significa a expressão “chega lá”?
R: melhorar de condição financeira ou ganhar fama
8. Por que a música retrata que o guri usava muitas correntes de ouro no seu pescoço?
R: Era comum na periferia o uso de muitos cordões de ouro como status entre os traficantes (ver essa postagem)
9. Em quais trechos notamos que o guri havia entrado no mundo do crime?
R: “Traz sempre um presente/Pra me Encabular/Tanta corrente de ouro/Seu moço/Que haja pescoço/Pra enfiar /Me trouxe uma bolsa/Já com tudo dentro/chave, caderneta/Terço e patuá”
10. Onde moravam os personagens da música?
R: no morro/favela
11. O trecho “chega estampado/Manchete, retrato/Com venda nos olhos/Legenda e as iniciais” representa que situação?
R: noticiário de sua morte, ainda de menor de idade (com venda nos olhos e as iniciais de seu nome na legenda).
12. A mãe (ou o pai) percebe que o filho estava vivendo no mundo do crime?
R: há vários indícios de que sua não tinha percepção de seu envolvimento ou que não queria ter, nem mesmo enxergar que ele estava morto estampando o jornal, dizendo que ele havia chegado lá.
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Terceiro momento
O professor deve apresentar aos alunos algumas das possibilidades de interpretação da sociologia do fenômeno destacado na música: exclusão social, criminalidade e estrutura familiar.
Dica de abordagem: demonstrar as relações entre agência e estrutura, ou seja, de que forma as estruturas sociais influenciam, em certa medida, o destino e o comportamento das pessoas. Mostrar que por mais que ele queria “chegar lá”, as condições objetivas o impossibilitou, permitindo, num primeiro momento ir “levando” a vida e depois tentando conquistar (o que com trabalho não conquistou) por meio de crimes [pode ser citado a história do Mozart destacada por Norbert Elias]. Pode ser destacado a ausência na vida do guri de sistema importantes de coerção, tais como uma família estruturada, a religião e a escola.