Tag: Conceitos sociológicos

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  • Ensinando e aprendendo com jogo didático: uma relação entre Democracia, Cidadania e Direitos Humanos

    Ensinando e aprendendo com jogo didático: uma relação entre Democracia, Cidadania e Direitos Humanos

    Ensinando e aprendendo com jogo didático: uma relação entre Democracia, Cidadania e Direitos Humanos

    Gabriel Kroeff Ribas Ferreira Magalhães[1]

    Walace Ferreira[2]

     

    Tema: Democracia, Direitos Humanos e Cidadania;

    Recurso didático-pedagógico usado: Jogo de tabuleiro Online;

    Público: Estudantes do 3º ano do Ensino Médio;

    Duração: Duas aulas de 50 minutos, totalizando 1 hora e 40 minutos;

    Competências Gerais da BNCC: 1, 5, 6 e 7;

    Competências Específicas de C. H.S: 1, 5 e 6;

    Habilidades: EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS105, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS601, EM13CHS602, EM13CHS603, EM13CHS605, EM13CHS606.

    Apresentando o tema

    Abordaremos nesta proposta didática reflexões que relacionam os conceitos de democracia, cidadania e direitos humanos (recomendados este Podcast), na perspectiva de que os(as) estudantes observem que estes conceitos foram traduzidos na prática por meio de inúmeras lutas, levando-os a refletir, inclusive, que apenas uma Lei ou uma Declaração de Direito não implementa direitos automaticamente.

    O conceito de democracia deve ser compreendido levando-se em conta a História. Só assim entenderemos qual “povo” é contemplado com o poder a depender do contexto histórico que se encontra. Devemos lembrar que na Grécia antiga eram considerados “cidadãos” homens brancos e livres; na Idade Média feudal aqueles que detinham posse das terras ou possuíam vínculo com o Clero; e mesmo no capitalismo existem sociedades em que a democracia se restringe ao âmbito político (através do voto, principalmente), não alcançando as esferas econômicas e sociais (haja vista as diversas desigualdades que afligem inúmeros cantos do planeta, e o Brasil em particular: econômica, racial, gênero, etc).

    O intuito de apontar essas diferenças é fazer com que o(a) estudante se questione acerca do que é necessário para a existência de uma democracia. Apresentamos a eles(as), então, as três formas de democracia compreendidas pela Sociologia: Direta, Indireta/Representativa e Semidireta/Participativa. A direta ocorria na Grécia Antiga (em Atenas do século VI a.C os indivíduos considerados cidadãos discutiam e deliberavam sobre as demandas da cidade em praça pública, a chamada Ágora, por meio de decisões diretas). A democracia indireta (ou representativa) é a que conhecemos na maioria dos países modernos ocidentais, quando através do voto elegemos políticos para cargos eletivos, de modo que eles(as) representam as variadas pautas da sociedade. Já a democracia semidireta (ou participativa) ocorre com a frequente participação dos(as) cidadãos(ãs) na vida política de uma localidade ou de um país, através de plebiscitos e referendos, por exemplo, ou do orçamento participativo, ou ainda elaborando e propondo lei por meio de iniciativa popular.

    Na medida em que a democracia pressupõe a participação cidadã, nos conectamos ao conceito de cidadania. É importante trabalhar com os(as) estudantes como os direitos e deveres estão condicionados às ações em grupo, e principalmente entender que essa é uma categoria em permanente construção. Com os movimentos de luta, novos movimentos sociais reivindicam direitos dispostos nas legislações locais, particularmente nas Cartas Constitucionais (no Brasil, devemos observar a Constituição Federal de 1988). Se antigos movimentos sociais reivindicavam direitos econômicos diversos, por exemplo, hoje temos novos movimentos que dão luz a pautas feministas, raciais, ambientais, dentre outras.

    O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall é um autor importante no que concerne ao tema da cidadania. Ao estabelecer a divisão dos direitos de cidadania em três categorias (civis, políticos e sociais), Marshall (1950) lança mão de uma ordem que é questionada no caso brasileiro por José Murilo de Carvalho na obra “Cidadania no Brasil: o longo caminho” (2001). Se na Inglaterra historicamente os direitos civis levaram aos direitos políticos, que, por sua vez, levaram às conquistas sociais, no Brasil a pirâmide seria invertida. José Murilo de Carvalho explica que primeiro tivemos a implantação de direitos sociais (principalmente os trabalhistas) durante a ditadura varguista da década de 1930, contexto de supressão de direitos políticos e civis. Só com a redemocratização dos anos 1980 alcançamos direitos políticos por meio do voto, momento a partir do qual tem se dado diversas ações em busca de direitos civis (liberdade de ir e vir, de expressão, religiosa, etc).

    Chegando ao conceito de direitos humanos, que está atrelado a ações de cidadania, é importante que os(as) estudantes entendam sua consolidação pós Segunda Guerra Mundial, exatamente pela tentativa de o mundo evitar o horror daquele período, incluindo o Holocausto. A partir da Declaração dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (1948), há o estabelecimento teórico dos diversos direitos de cidadania, os quais deveriam pouco a pouco ser contemplados por legislações nacionais e internacionais, alcançando práticas sociais efetivas em prol de seus valores. A Constituição Federal de 1988, por exemplo, incorpora diversos direitos humanos previstos na Declaração de 1948.

    O foco é apresentar os direitos humanos como universais, inegociáveis e representativos de valores adquiridos pela civilização ocidental. São normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os indivíduos, independentemente de classe social, raça, nacionalidade, religião, cultura, profissão, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante. Os direitos humanos regem o modo como os seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles. Ao estabelecer que as desigualdades, os preconceitos e as injustiças são intoleráveis, o(a) estudante deve observar, ainda, que os direitos humanos são atacados por seletos grupos que insistem que as desigualdades e as opressões se façam presentes por razões de ordem econômica ou ideológica. Ilustram esta postura discursos pejorativos como “direitos humanos para humanos direitos” ou “direito dos manos”.

    A história dos direitos humanos, portanto, é uma história de luta e espaço visando que grupos minoritários e subrepresentados tenham suas vozes ouvidas. Os direitos não podem ser exercidos de forma parcial, e para isso estimulamos que os(as) discentes fiscalizem e reivindiquem a garantia dos mesmos nos mais diversos espaços sociais.

    Apresentando o recurso didático-pedagógico

    Após algumas aulas direcionadas à compreensão das questões teóricas acima abordadas, nos assentamos na proposta sugerida: trata-se de um jogo didático que abarca as ferramentas necessárias para trabalhar democracia e cidadania a partir dos Direitos Humanos. O jogo virtual “Diário de Amanhã”, criado pelo Senac (Disponível em: https://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/diariodeamanha/), consiste numa ferramenta inovadora, leve e criativa que contribui para o esclarecimento na defesa dos direitos humanos, ao fazer com que os(as) alunos(as) encontrem em seu cotidiano maneiras de não se calar frente às injustiças sociais.

    O jogo entrega o ensino visual que se torna mais palatável aos(às) discentes influenciados(as) pelas redes sociais e mídias, trazendo para a sala de aula o estranhamento e a desnaturalização recomendadas pelas Orientações Curriculares Nacionais de Sociologia (BRASIL, 2006). O recurso compreende a cocriação dos(as) estudantes ao participarem efetivamente do andamento da aula, com todos(as) tendo a oportunidade de somar seus prévios conhecimentos com o conteúdo ensinado anteriormente pelo(a) docente.

    Etapas da atividade

    A atividade deverá ser realizada em aproximadamente duas aulas de 50 minutos, totalizando 1 hora e 40 minutos, tendo como etapas:

    • Os(As) estudantes dividem-se em equipes de aproximadamente 5 componentes para a realização do jogo;
    • Os grupos fazem a escolha do avatar que os representará nas duas etapas seguintes;
    • A seguir é apresentado um vídeo com uma breve contextualização histórica dos direitos humanos que serve de suporte para a fase 1.
    • Na fase 1 há um Quizz com perguntas sobre os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos;
    • A fase 2 apresenta 12 missões a serem concluídas pelos avatares, dispostas em um menu para escolha dos grupos, que estão relacionadas ao respeito ou à violação dos artigos da Declaração dos Direitos Humanos.
    • Fechando a atividade, o(a) docente solicitará que os grupos criem uma autobiografia dos seus personagens. Ou seja, em um pequeno texto dissertativo eles devem discorrer sobre o caminho que seu avatar seguiu no tabuleiro, descrevendo a trajetória frente às missões apresentadas no jogo.

    Na aula seguinte, o(a) professor(a) deverá iniciar um debate com os estudantes sobre as principais conclusões e aprendizados do jogo para o nosso dia a dia, utilizando o texto escrito pelos(as) estudantes como ponto de partida de compreensão da relação entre democracia, cidadania e direitos humanos.

    Dicas de leitura

    • Como as democracias morrem (2018). Autores: Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.
    • Democracia, participação e cidadania (2006). Autora: Luisa Cecilia Pernalete.
    • Tem lugar ai pra mim? Um livro sobre Direitos Humanos e respeito à diversidade (2018). Autora: Fátima Mesquita.

    Outras dicas didático-pedagógicas

    • Filme “V de Vingança”. Inglaterra, 2006. Direção: James McTeigue.
    • Filme “Pureza”. Brasil, 2022. Direção: Renato Barbieri.
    • Música “Direitos Humanos”. Brasil, 1986. Banda: Cólera.
    • Música “Que país é este”. Brasil, 1987. Banda: Legião Urbana.

    Referências

    BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares Nacionais (Parte de Sociologia). Brasília, 2006.

    CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

    MARSHALL, Thomas Humphrey. Cidadania e classe social, 1950.

    O Diário de Amanhã – O jogo. Disponível em: <https://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/diariodeamanha/>. Acesso em: 15 ago. 2023.

    ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos>. Acesso em: 15 ago. 2023.

    SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. Moderna, São Paulo, 2016.

    Como citar este texto:

    KROEFF, Gabriel Ribas Ferreira Magalhães; FERREIRA, Walace. Ensinando e aprendendo com jogo didático: uma relação entre Democracia, Cidadania e Direitos Humanos. Blog Café com Sociologia. ago. 2023.

    Notas:

    [1] Graduando em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

    [2] Doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ e Professor Adjunto do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ).

    Vessão em PDF deste conteúdo AQUI

     

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  • Ep013 Podcast Café com Sociologia – Cidadania

    Ep013 Podcast Café com Sociologia – Cidadania

    Que tal Podcast Cidadania para elucidar melhor o assunto? Como a Sociologia ajuda a compreender a noção de cidadania? Neste podcast [veja os demais AQUI episódios ] trazemos as contribuições da Sociologia associadas a músicas variadas para entendermos aspectos relacionados ao tema. Trata-se de fundamental e este podcast visa ser uma possibilidade de recurso didático para aulas de Sociologia no ensino médio, trazendo uma abordagem inicial.

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    Repertório musical utilizado:

    • Lugar ao sol – Charlie Brown Jr.
    • Filho de Deus -Golpe de Estado
    • Canto das três raças – Clara Nunes
    • “Cidadão” – Zé Ramalho.
    • Negro Drama -Racionais
    • Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” – Geraldo Vandré
      -Podres poderes – Caetano Veloso
    • “Meu Guri” e “A carne “- Elza Soares
      -Imagine – John Lennon

    Usamos também o poema “Operário em construção”, de Vinicius de Moraes.

    Segue um fragmento do podcast cidadania:

    Na antiguidade, nem todos eram homens livres para poderem buscar o “seu lugar ao sol”, portanto, nem todos eram cidadãos. Afinal, as sociedades estavam estruturadas no trabalho escravo. Essa estrutura era tão forte na idade média europeia que o mundo religioso se estruturava a partir da noção de servo. Homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos deviam, nesse período, estarem em relação de servidão ao seu Deus ou deuses. Observe que a noção de servidão estava presente. É com a modernidade que o Estado deixa de representar a religião e passa a se guiar pelos interesses dos homens e mulheres, dando origem ao Estado em sua concepção laica. Sob essa nova concepção, os homens e as mulheres devem, assim, ser livres, inclusive para escolher seus credos.

    As primeiras noções de cidadania estiveram apoiadas nos estudos clássicos das civilizações antigas, sobretudo greco-romana, tendo sido, a partir de então, incorporadas e criados outros termos, que também se aprimoraram com os debates que se sucederam, tais como “democracia”, “participação popular” e “direitos”. Embora tenham sido gestados no período clássico, foram adquirindo os sentidos mais próximos dos de hoje.

    Durante os períodos clássico e medieval havia a ideia de que o Estado representava os interesses divinos, sendo ele, portanto, o representante dos deuses ou de Deus na terra. Os destinos de cada um estavam associados às vontades dos deuses.

     

    Produção de Roniel Sampaio-Silva e Cristiano Bodart, editores do Café com Sociologia.

     

    Caso tenha alguma dificuldade para reproduzir o audio, acesse aqui.

     

     

     

     

     

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  • Necropolítica

    Necropolítica

    O termo necropolítica está ganhando força como forma de descrever de políticas que priorizam a morte como meio de exercer o poder. Achille Mbembe, um filósofo dos Camarões, cunhou o termo em seu livro “Necropolítica” (2018). Mbembe afirma que as práticas violentas e a morte não são apenas efeitos colaterais do conflito político, mas sim táticas calculadas para sustentar o poder político.

    Achille Mbembe, um proeminente filósofo camaronês, introduziu o termo necropolítica para definir como o poder político é exercido através da vida e da morte. Mbembe afirma que esta estratégia de governação envolve a regulação das massas através do uso da força letal. Tal necropolítica não envolve apenas assassinatos, mas também assassinatos direcionados a grupos específicos.

    Exemplos de Necropolítica

    Ações de necropolítica são evidentes na África do Sul da era do apartheid, onde os negros foram sistematicamente excluídos e privados de recursos e serviços fundamentais, muitas vezes resultando em sua morte trágica. Da mesma forma, na Europa contemporânea, os imigrantes são frequentemente submetidos a duras políticas de deportação e criminalização, que os expõem a condições de vida perigosas e instáveis, aumentando o risco de mortalidade.

    A prática da necropolítica se estende para além da esfera política, manifestando-se em áreas de conflito armado onde a vida do inimigo é depreciada para manter o domínio. A invasão americana do Iraque durante a guerra é um exemplo claro, onde a morte de centenas de milhares de cidadãos iraquianos foi usada como ferramenta para controlar e dominar a região.

    A prática insensível da necropolítica se mostrou reiteradamente durante a pandemia de Covid-19 em curso, com algumas nações priorizando o comércio e o ganho financeiro sobre o bem-estar das pessoas. Isso levou a consequências devastadoras, causando perda significativa de vidas entre as comunidades mais desfavorecidas e marginalizadas.

    A necropolítica se manifesta de diversas formas ao redor do mundo, em diferentes contextos históricos e sociais. Um exemplo claro disso é o genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994, onde o governo da minoria tutsi orquestrou um massacre contra a maioria hutu, matando cerca de 800 mil pessoas em apenas três meses. A necropolítica também é evidente na história do colonialismo e da escravidão, que foram sustentados pelo extermínio e pela subjugação de povos inteiros.

    A necrópole também é uma realidade em outros países africanos, como a Nigéria, onde a violência do grupo islâmico Boko Haram já matou milhares, a maioria muçulmanos, desde 2009. A política de extermínio do Boko Haram, voltada para a criação de um estado islâmico, é um exemplo de como a necrópole pode se manifestar em contextos não ocidentais.

    A presença persistente da necropolítica é um fenômeno global, principalmente no Brasil, onde a brutalidade policial atinge desproporcionalmente jovens negros de favelas e periferias empobrecidas. O governo, por meio de políticas como a guerra às drogas, encarceramento em massa e estratégias brutais de despejo urbano, legitima essa opressão violenta contra comunidades vulneráveis. Esse fenômeno não é de forma alguma limitado ao Brasil e existe de várias formas nas sociedades em todo o mundo, inclusive no mundo ocidental.

    Para Mbembe, a necrópole é uma forma extrema de biopoder que busca exercer controle sobre a vida e a morte dos indivíduos. O biopoder é uma forma de poder cujo objetivo é gerir a vida a nível biológico e social. Os biodireitos se expressam por meio de políticas públicas destinadas a regular o nascimento, a saúde pública, a educação, a moradia e outros aspectos da vida social. A necropolítica, por sua vez, é uma forma extrema de biopoder que busca controlar a vida por meio da morte.

    Segundo esse autor, a necropolítica é uma forma de governança baseada na lógica da guerra, onde o outro é visto como um inimigo a ser eliminado. A necropolítica é assim uma forma de violência estrutural que opera através da assimilação da morte e da marginalização de certos grupos sociais. Em suma, a necropolítica é uma forma de governo que busca controlar a população por meio da ameaça e uso da violência letal. É uma política que não apenas mata pessoas, mas também as mata seletivamente de forma a atingir determinados grupos. A necropolítica é uma manifestação extrema do biopoder onde a vida é controlada pela morte. Manifesta-se em diferentes contextos históricos e sociais, mas é sempre acompanhada pela comum marginalização e violência contra grupos percebidos como inimigos ou ameaças. Para Mbembe, a oposição à necropolítica deve se basear na afirmação da vida, na valorização da diversidade e na oposição à marginalização e à opressão. Resistir à necropolítica deve, portanto, ser uma luta por igualdade e justiça social, visando a criação de uma sociedade mais inclusiva e democrática.

    Portanto, o conceito básico da necropolítica é entender como o poder político é exercido por meio do controle da vida e da morte. Manifesta-se em diferentes contextos históricos e sociais, mas é sempre acompanhada pela comum marginalização e violência contra grupos percebidos como inimigos ou ameaças. A oposição à necropolítica deve ser uma luta por igualdade e justiça social, visando a construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática.
    Referências
    MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 21-37, 2016.

     

  • Temáticas do ensino de  Sociologia – livro para baixar gratuitamente

    Temáticas do ensino de Sociologia – livro para baixar gratuitamente

    Temáticas do ensino é um livro lançado em 2022, no Congresso Nacional da Abecs, organizado por Sayoara Amorim e Marcelo Cigales.

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Olá professores(as) de Sociologia!

    A dica desta postagem é um livro lançado em 2022, durante o Congresso Nacional da Associação Brasileira do Ensino de Ciências Sociais (Abecs). A obra “Temáticas do Ensino de Sociologia na Escola Brasileira” é uma obra coletiva, organizada por Sayonara Leal Amorin (UnB) e Marcelo Cigales (UnB), que reúne artigos de diversos autores especializados no ensino da Sociologia. O livro aborda temas relevantes para a disciplina, trazendo um texto panorâmico sobre o ensino de Sociologia no Brasil, intitulado “A Sociologia Escolar no Brasil”, de minha autoria, seguido de um conjunto de capítulos temáticos que trazem propostas de atividades pedagógicas. Dentre os temas, encontram-se os seguintes: Era da Internet, Redes Sociais, Indústria Cultural, Ocupações Secundaristas de 2016, Graffiti, Identidade e Cidadania, Questões Raciais e Trabalho Informal.

    O objetivo da obra é contribuir para o aprimoramento do ensino de Sociologia, oferecendo reflexões teóricas e práticas que possam auxiliar os(as) professores(as) a desenvolverem suas aulas de maneira mais eficiente e envolvente para os(as) estudantes.

    A publicação está disponível para download gratuito, o que a torna uma excelente opção para professores(as), estudantes e demais interessados(as) em aprofundar seus conhecimentos sobre o ensino de Sociologia. Não perca a oportunidade de ter acesso a essa obra enriquecedora. Baixe agora mesmo!*

    Baixe AQUI

    Temas do ensino de SociologiaPrefácio:

    Seja qual for o campo disciplinar, desenvolver uma obra que abordatemáticas de forma aprofundada e qualificada se faz de suma relevância.Contudo, no campo disciplinar da Sociologia, presente há tão poucotempo no currículo escolar brasileiro (Lei nº 11.684/2008), podemosafirmar ser ainda mais pertinente.Partimos do argumento, já amplamente debatido nas pesquisase estudos da área de ensino de Sociologia, de que o curto período dadisciplina no ensino médio traz, ainda, inúmeros desafios para seusprofessores. Muitas práticas ainda se fazem presas a conteúdos demasiadamente teóricos e descolados da realidade imediata dos estudantes,especialmente porque a disciplina tem sido lecionada, em sua maioria,por professores de campos disciplinares distintos. Nunca é excessivodenunciar, mas apenas cerca de 30% dos professores que lecionam aSociologia no ensino médio têm, de fato, formação compatível – licenciatura em Ciências Sociais/Sociologia.Quando um professor tem acesso a possibilidades diversas de aprofundar e conhecer um pouco mais sobre as temáticas de sua disciplina ou que podem ganhar um olhar das Ciências Sociais, abre-se para ele – epara os estudantes do ensino médio (por que não?) – uma oportunidadede trabalhar e conhecer o tema de modo mais qualificado e interessante.

     

    Em parte, isso também se deve aos subcampos de conhecimentoque as Ciências Sociais/Sociologia Escolar apresentam – Antropologia,Ciência Política e Sociologia – que, cumpre destacar, possuem diferentes perspectivas teórico-metodológicas e um olhar específico para cadatemática. É possível identificar, facilmente, temáticas exclusivas dentrode cada subcampo das Ciências Sociais.Não que em outros campos disciplinares isso não ocorra, comoa cisão entre Geografia Física e Geografia Política, História Antiga eHistória do Brasil, Gramática e Literatura, mas sabemos que quantomais diversificados forem os subcampos, maior a possibilidade de queos professores tenham mais domínio em um do que em outro. E temoscerteza, leitor/professor, que você tem um subcampo no qual possui maiordomínio teórico-metodológico e que lhe propicia fazer transposiçõesdidáticas de forma segura e qualificada para trabalhar nas salas de aulada educação básica.Ademais, podemos destacar que as Ciências Sociais, assim comooutras áreas, têm objetos de conhecimento “vivos”, que estão em constante transformação. Isso requer de nós, professores de Sociologia, umolhar aguçado não apenas para o que está, muitas vezes, engessado eultrapassado no currículo escolar, mas para o que possui relevância social,em especial, para os estudantes do ensino médio. E está aí o diferencialda obra em tela – Temáticas do Ensino de Sociologia na escola brasileira.Destacamos nesta obra uma temática de fundo que alcança váriosdos capítulos apresentados – o avanço tecnológico e/ou das TecnologiasDigitais de Informação e Comunicação (TDICs), notadamente potencializado na pandemia.

     

     

    Cremos que boa parte de nós está bastante esgotada porviver remotamente – trabalho remoto, aula remota, socialização remota,vídeos, podcasts, lives etc. -, ainda que tenha sido o que tornou possívelmantermos uma “certa normalidade” ao longo dos dois últimos anos. Esim, isso se tornou possível pelo avanço tecnológico e das TDICs. Masfalar isso não é dizer sobre seus impactos positivos e negativos, quecertamente existem e que de alguma forma foram explorados nesta obra.Os meios de comunicação digitais influenciam na sociabilidade, namanifestação pública e política, na reorganização e aprofundamento dosefeitos da indústria cultural, na redefinição de identidades ou, até mesmo,na sua reverberação e, dentre outros aspectos, também no aprofundamento de desigualdades oriundas de um mundo “uberizado” e cada vez maisapoiado no trabalho informal. Antes mesmo da pandemia, isso tudo jáestava posto e também presente nos ambientes escolares. Aproveitar opotencial disso, seja como tema a ser analisado, seja como ferramentapara atividades pedagógicas, é o que vários dos capítulos que compõemo livro realizaram.Também importa destacar a abordagem desenvolvida em questõesde suma relevância social, como a questão ambiental, os efeitos da açãohumana e das políticas públicas orientadas para o setor.

     

     

    *Obra disponibilizada pelos organizadores ao Blog Café com Sociologia.

  • A Sociologia como esporte de combate

    A Sociologia como esporte de combate

    A Sociologia como esporte de combate

     

    Cristiano das Neves Bodart[1]

     

    “Eu digo frequentemente que a sociologia é um esporte de combate, um meio de defesa pessoal. Basicamente, você pode usá-la para se defender, sem ter o direito de utilizá-la para ataques covardes.” – Pierre Bourdieu (CARLES, 2001).

     

    A Sociologia foi comparada por Pierre Bourdieu a um esporte de combate. Pierre Bourdieu (1930-2002), um dos mais importantes sociólogos do século XX, fez uma analogia entre Sociologia e o esporte de combate que nos permite compreender como ele compreendia essa Ciência. Essa comparação foi título de um documentário sobre seu ofício (CARLES, 2001).

    O que marca um esporte de combate é o confronto; o contato direto com o oponente. Mas por que Bourdieu fez tal analogia? Assim como um esporte de combate, a Sociologia requer habilidades específicas, como a observação cuidadosa, os dados precisos, a análise crítica, a argumentação persuasiva e a defesa das próprias ideias. Assim como em um combate, o sociólogo precisa enfrentar oposição e resistência por parte daqueles que têm interesse em manter as estruturas sociais existentes ou modificá-las de acordo com seus próprios interesses.

    Bourdieu acreditava que a Sociologia deveria ser uma ferramenta de resistência contra as injustiças e desigualdades presentes na sociedade. Para ele, o papel do sociólogo é semelhante ao de um lutador, que usa seu conhecimento e habilidades para denunciar as estruturas de poder e lutar por mudanças sociais. Em suas pesquisas, Bourdieu problematizou a permanência do status quo e buscou entender por que as coisas não mudam e a quem interessa a inércia e a reprodução das desigualdades (BOURDIEU, 1970).

    Ao comparar a Sociologia a um esporte de combate, Bourdieu propunha uma reflexão crítica sobre as relações de poder no mundo acadêmico e como essas relações influenciam a produção do conhecimento. Seus estudos sobre o campo acadêmico (BOURDIEU, 2003; 2004) buscavam demonstrar a lógica de manutenção dos espaços sociais ocupados, mesmo diante de uma dinâmica de disputa constante. Ele acreditava que o papel do sociólogo é mobilizar seus conhecimentos específicos para explicar os problemas sociais e políticos de seu tempo (BOURDIEU, 2004), o que muitas vezes o coloca cara a cara com seus prováveis oponentes.

    A Sociologia é comparada a um esporte de combate, pois expõe as estruturas de dominação e reprodução das desigualdades sociais, o que gera muitos inimigos. Por essa razão, sua presença na educação básica é alvo de ataques. Os grupos dominantes não têm interesse que sejam formados cidadãos críticos que questionem suas próprias dominações, explorações e a estrutura social que permite a existência e manutenção dessas. O modelo neoliberal de educação presente no Brasil, ao ter seus interesses de classe desvelados, faz com que grupos empresariais se mobilizem para imprimir mudanças curriculares, como a Reforma do Ensino Médio (BUENO, 2022), como forma de excluir a presença de disciplinas críticas, como a Sociologia.

    O trabalho do sociólogo é frequentemente contestado e criticado, o que exige que ele esteja ciente das estratégias utilizadas por seus oponentes e tenha habilidades para se defender delas. Quando suas teorias não são de interesse dos poderosos, elas podem ser alvo de ataques vigorosos e até mesmo práticas de silenciamento. Essa realidade é evidente na mídia, onde sociólogos que denunciam as manipulações praticadas em busca de lucro são dificilmente convidados a participar de debates ao vivo. Inclusive, um dos temas explorado por Bourdieu foi a televisão (BOURDIEU, 1997).

    Para Bourdieu, a Sociologia não é uma atividade neutra e desinteressada, mas sim uma ciência crítica e política, sendo uma prática engajada e militante em prol da justiça, da igualdade e da busca pela verdade. Para ele, o objetivo da Sociologia não era apenas explicar o mundo, mas também transformá-lo.

     

    Referências bibliográficas

    BOURDIEU, Pierre; PASSERON, J. A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1970.

    BOURDIEU, Pierre. O campo científico”. In: ORTIZ, Renato (org.). A sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo, Olho d’Água, 2003. pp. 112-143.

    BOURDIEU, Pierre. Os Usos Sociais da Ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

    BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

    BUENO, Alana Lemos. Trajetória da política de reforma do ensino médio no Brasil (2013-2017). Maceió: Editora Café com Sociologia, 2022.

    CARLES, Pierre. A Sociologia é um esporte de combate: documentário sobre Pierre Bourdieu. 2h26. 2001. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=41W3RapeK5Q

     

     

     

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. A Sociologia como esporte de combate. Blog Café com Sociologia. fev. 2022.

     

    Nota:

    [1] Doutor em Sociologia (USP). Docente do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). E-mail: [email protected]

     

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  • Ep012 Podcast Café com Sociologia – Meio ambiente e sociedade

    Ep012 Podcast Café com Sociologia – Meio ambiente e sociedade

    Como a Sociologia ajuda a compreender as transformações no meio ambiente? Neste podcast [veja os demais AQUI episódios ] trazemos as contribuições da Sociologia ambiental associadas à músicas variadas.  O tema é de fundamental importância e este podcast visa ser uma possibilidade de recurso didático para aulas de Sociologia no ensino médio, trazendo uma abordagem inicial da relação entre meio ambiente e sociedade.

    Produção dos editores do Blog, Cristiano das Neves Bodart e Roniel Sampaio-Silva

    Conceitos/Temas/Teorias:

    Neste podcast você vai encontrar discussões direta ou indiretamente relacionados à: Sociologia ambiental, racismo ambiental, antropoceno, (pseudo)dicotomia preservacionismo versus progresso, agricultura familiar, agricultura patronal, povos da floresta, impunidade ambiental, êxodo rural, genocídio, fome, concentração fundiária, sustentabilidade e muito mais.

     

    Repertório:

    Evolução, de Tonho Matéria

    Passaredo, de Chico Buarque

    Cacimba de Mágoa, de Gabriel O Pensador, com part. Falamansa

    O Sal da Terra, de Beto Guedes

    Sobradinho, de Sá & Guarabyra

    Xote Ecológico, de Luiz Gonzaga

    Reis do Agronegócio, de Chico César

    Asa Branca, de Luiz Gonzaga.

    Herdeiros do futuro, de Toquinho

    Samba-Enredo 2005 – Josué De Castro: Ecoa Um Grito Contra a Fome, Pela Cidadania e Pela Paz Na Terra, de Independente da Praça da Bandeira

    e Agricultura Familiar, de Chico Antonio

     

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  • Cooperação sinônimo: perspectiva de Peter Kropotkin

    Cooperação sinônimo: perspectiva de Peter Kropotkin

    Cooperação sinônimo de colaboração, ajuda, apoio, assistência, auxílio, coadjuvação, amparo, contribuição, contributo, participação, solidariedade. Cooperação é uma processo social que relete à união de pessoas ou grupos em prol de um objetivo comum. Tal processo remete à ideia de que todos os segmentos participantes se beneficiem do esforço.

    A cooperação social é um fenômeno central nas interações humanas, e sua importância tem sido discutida por diversos teóricos ao longo da história. Um dos pensadores mais influentes nesse contexto foi Peter Kropotkin, um cientista social e anarquista russo do século XIX. Neste ensaio, exploraremos a visão de Kropotkin sobre a cooperação, destacando sua relevância para a compreensão da sociedade humana. Ao longo de sua obra, Kropotkin argumentou que a cooperação é um elemento fundamental para a sobrevivência e o progresso da humanidade, contrapondo-se à visão predominante de seu tempo, que enfatizava a competição e o egoísmo como princípios motores da sociedade.

    A Natureza da Cooperação

    Kropotkin via a cooperação como uma característica essencial dos seres humanos e também de outras espécies animais. Ele sustentava que, ao contrário da crença amplamente difundida de que a natureza é um campo de batalha onde apenas os mais fortes sobrevivem, as interações sociais são fundamentadas na cooperação mútua. Para Kropotkin, a cooperação era uma força motriz evolucionária, presente tanto nas sociedades humanas primitivas quanto nas sociedades mais complexas.

    Kropotkin argumentava que a cooperação não se baseia apenas no interesse individual egoísta, mas sim na solidariedade e na busca pelo bem comum. Ele via a cooperação como uma expressão natural do instinto humano de ajudar e apoiar os outros, uma vez que a sobrevivência de um indivíduo está inextricavelmente ligada ao bem-estar de sua comunidade. Para ele, a cooperação era o caminho para a prosperidade coletiva e para a superação das desigualdades sociais.

    Cooperação na História e na Sociedade

    Kropotkin acreditava que a história humana estava repleta de exemplos de cooperação social e que as conquistas mais significativas da humanidade foram alcançadas por meio da colaboração. Ele destacou as comunidades indígenas, as guildas medievais, os movimentos operários e os grupos anarquistas como exemplos de organizações sociais baseadas na cooperação e na solidariedade.

    Além disso, Kropotkin criticou a ideia de que a competição desenfreada e o egoísmo são inevitáveis na sociedade humana. Ele argumentava que as estruturas sociais e econômicas existentes, como o capitalismo, incentivavam a competição e o individualismo, mas que isso não refletia a verdadeira natureza humana. Para ele, a cooperação era a chave para superar as desigualdades e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

    Cooperação e Anarquismo

    Kropotkin era um defensor fervoroso do anarquismo, uma filosofia política que busca a abolição do Estado e a criação de uma sociedade baseada na cooperação voluntária e na autonomia individual. Para ele, o anarquismo era a expressão máxima da cooperação social, uma vez que a

    credibilidade e legitimidade das estruturas de poder tradicionais eram questionadas, e os indivíduos se organizavam de forma autônoma e horizontal para atender às suas necessidades coletivas.

    Na visão de Kropotkin, a cooperação era essencial para a formação de comunidades autônomas e auto-organizadas. Ele via a cooperação como uma alternativa viável ao Estado e às hierarquias de poder, que ele considerava opressivas e prejudiciais ao bem-estar humano. Para ele, a cooperação voluntária e solidária permitiria que os indivíduos se autogerissem, tomassem decisões coletivas e compartilhassem recursos de forma equitativa, sem a necessidade de uma autoridade central imposta.

    Kropotkin argumentava que a cooperação baseada na livre associação e no mútuo auxílio promoveria a justiça social e a igualdade. Ele via a cooperação como uma forma de resistência contra as estruturas de poder opressivas, pois ela permitia que os indivíduos se unissem para alcançar objetivos comuns, fortalecendo-se mutuamente e reduzindo a dependência das instituições hierárquicas.

    Relevância Contemporânea

    As ideias de Kropotkin sobre cooperação têm relevância mesmo nos dias de hoje. Em um mundo marcado por desigualdades sociais, conflitos e desafios globais, a cooperação continua sendo uma ferramenta poderosa para enfrentar esses problemas e construir uma sociedade mais justa e sustentável.

    A cooperação é fundamental para enfrentar desafios ambientais, como as mudanças climáticas. A busca por soluções colaborativas, envolvendo governos, organizações não governamentais e comunidades locais, é essencial para mitigar os impactos e garantir a preservação do meio ambiente para as futuras gerações.

    Além disso, a cooperação é fundamental para enfrentar questões sociais, como a pobreza, a exclusão e a desigualdade. Através da cooperação, é possível fortalecer a solidariedade entre os indivíduos e criar mecanismos de apoio mútuo, como redes de proteção social e economias solidárias, que ajudam a promover a justiça social e a inclusão.

    A cooperação também desempenha um papel crucial no fortalecimento da democracia e na construção de sociedades participativas. Quando os indivíduos se unem para tomar decisões coletivas e colaboram na resolução de problemas, a participação cidadã é estimulada, e os espaços democráticos são ampliados.

    Conclusão

    Em suma, a visão de Peter Kropotkin sobre cooperação social oferece uma perspectiva inspiradora e desafiadora para entender a sociedade humana. Ele nos lembra que a cooperação é uma força fundamental na história da humanidade e que sua prática pode levar a uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável.

    À medida que enfrentamos os desafios contemporâneos, é importante refletir sobre as ideias de Kropotkin e explorar maneiras de promover a cooperação em nossas vidas e comunidades. Ao fazer isso, estaremos seguindo o exemplo de um pensador que dedicou sua vida a advogar por uma sociedade baseada na solidariedade, no apoio mútuo e na emancipação individual.

    Podemos promover a cooperação em diversas esferas da vida, desde os relacionamentos interpessoais até as estruturas sociais e políticas mais amplas. No nível pessoal, podemos cultivar a empatia, a generosidade e a disposição para colaborar com os outros. Isso envolve ouvir ativamente, reconhecer a diversidade de perspectivas e trabalhar em conjunto para alcançar objetivos comuns.

    Nas comunidades locais, podemos promover a cooperação através da criação de espaços de diálogo e participação, nos quais os indivíduos possam discutir problemas, tomar decisões coletivas e implementar ações que beneficiem a todos. A formação de cooperativas e associações também é uma maneira de promover a cooperação econômica, compartilhando recursos e conhecimentos de maneira justa e igualitária.

    No âmbito político, podemos buscar formas de governança participativa e horizontal, nas quais a voz e a participação de todos sejam valorizadas. Movimentos sociais que lutam por justiça e igualdade são exemplos de como a cooperação pode ser um meio poderoso de mobilização e transformação social.

    É importante reconhecer que a cooperação não é um conceito ingênuo ou utópico. Ela exige esforço, comprometimento e superação de obstáculos. Desafios como desconfiança, individualismo arraigado e estruturas de poder consolidadas podem dificultar a prática da cooperação. No entanto, ao nos conscientizarmos desses desafios e trabalharmos para superá-los, podemos construir uma sociedade mais colaborativa e solidária.

    Em conclusão, a visão de cooperação de Peter Kropotkin nos desafia a repensar os fundamentos de nossa sociedade e a considerar a importância da solidariedade e do apoio mútuo. Ao adotar a cooperação como um valor central em nossas vidas, podemos construir uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável. As ideias de Kropotkin continuam a nos inspirar a buscar uma transformação social baseada na colaboração e na emancipação individual, lembrando-nos de que, juntos, podemos criar um mundo melhor.

  • Pode o(a) sulbalternizado(a) falar e ser ouvido(a)?

    Pode o(a) sulbalternizado(a) falar e ser ouvido(a)?

    O ensaio “Pode o subalterno falar?” foi escrito entre 1982 e 1983 e publicado em 1985, com o subtítulo “Especulações sobre o sacrifício das viúvas”. Após três anos da primeira publicação, em 1988, o texto republicado na coletânea Marxism and the interpretation of culture, onde teve grande repercussão (ALMEIDA, 2010)

    Pode o(a) sulbalternizado(a) falar e ser ouvido(a)? Considerações sobre o ensaio de Spivak

    Fabio Monteiro de Moraes[1]

    As contribuições de Spivak no âmbito dos estudos subalternos e pós-coloniais enriquece o debate acerca dos processos e motivos pelo quais os grupos subalternizados foram e continuam sendo silenciados dos diversos espaços sociais – onde deveriam poder falar e, principalmente, serem ouvidos. A autora faz, e propõe que seja feito por parte dos(as) intelectuais pós-coloniais, uma auto-críritica sobre suas práticas discursivas, acerca de quem pode ou não falar pelos (no lugar dos) outros e, por meio de representações, construírem um discurso contra-hegemônico. “Spivak alerta, portanto, para o perigo de se construir o outro e o subalterno apenas como objeto de conhecimento por parte de intelectuais que almejam meramente falar pelo outro” (ALMEIDA, 2010 p. 14). Na perspectiva crítico-reflexiva de Spivak, o papel dos/das intelectuais pós-coloniais, deve ser o de criar espaços, por meio dos quais os(as) subalternizados(as) possam falar, ao passo que, quando o fizerem, possam ser efetivamente ouvidos, sobretudo pelas instituições.

    Direcionando a maior parte de sua crítica à noção de que os(as) subalternizados(as) não precisam dos intelectuais para falarem por eles – conforme postulam Foucault e Deleuze -, a autora se contrapõe afirmando que o(a) subalternizado(a) não pode falar por si mesmo, pois, o processo social que envolve o ato de enunciar-se só acontece em um espaço dialógico de interação. Isto é, trata-se de uma espécie de negociação entre aquele(a) que fala e aquele(a) que ouve[2]. Todavia, diante das estruturas do imperialismo “esse espaço dialógico de interação não se concretiza jamais para o subalterno. Pois, este é desinvestido de qualquer forma de agenciamento, de fato, não pode falar” (SPIVAK, 2010, p. 15).

    Ela [Spivak] critica a postura “intelectual auto-abnegada” que Foucault e Deleuze (1977) adotam quando rejeitam falar pelos/as outros/as, alegando que sua posição supõe que os/as oprimidos/as possam representar de maneira transparente seus próprios interesses verdadeiros. De acordo com Spivak, a auto-abnegação de Foucault e Deleuze serve apenas para ocultar o poder autorizador real dos/as intelectuais em retirada, que, em seu próprio retiro, ajudam a consolidar uma concepção particular de experiência (transparente e autoconhecida). Assim, promover a “escuta”, em vez de falar, essencializa os/as oprimidos/as como sujeitos não- ideologicamente construídos (ALCOFF, 2020, p. 428-429).

    Nesse ensaio, embora o objetivo de Spivak seja tratar da história das viúvas de Calcutá no contexto de suas práticas religiosas de autoimolação, diante das intervenções imperialistas britânicas (vale dizer que o contexto para o qual a autora está olhando quando realiza essa pesquisa, é o domínio do império britânico na Índia, que durou até 1947), a autora opta por fazer uma longa digressão, levando o leitor a passear pelas análises críticas do lugar do investigador pós-colonial, a partir, principalmente, de Foucault, Deleuze, Marx e Derrida. A autora sustenta sua tese da impossibilidade de falar dos subalternizados(as) apoiada em alguns pressupostos marxianos, extraidos do 18 Brumário de Luís Bonaparte.

    Eles [os proletariados ou subalternizados] não são capazes de representar a si mesmos, necessitando, portanto, ser representados. O seu representante precisa entrar em cena ao mesmo tempo como o seu senhor, como uma autoridade acima deles, como um poder governamental irrestrito, que os proteja das demais classes e lhes mande chuva e sol lá de cima. A expressão última da influência política dos camponeses parceleiros consiste, portanto, no fato de o Poder Executivo submeter a sociedade a si próprio (MARX, 2011, p.143).

    Spivak (2010, p. 43) afirma que Marx, no 18 Brumário de Luís Bonaparte, discute “o princípio estrutural de um sujeito de classe disperso e deslocado: a consciência – coletiva ausente – de classe de um pequeno proprietário camponês que encontra seu ‘portador’ em um ‘representante’ que parece trabalhar no interesse de um outro.”

    Apoiada na Gramatotologia de Derrida, a autora propõe um caminho desconstrucionista que se aproxima de uma espécie de descolonização do pensamento, pois, “é no interesse de tais preocupações que Derrida não invoca que ‘se deixe o(s) outro(s) falar por si mesmo(s)’ mas, ao invés, faz um ‘apelo’ ou ‘chamado’ ao ‘quase-outro’ (tout-autre em oposição ao outro autoconsolidado), para tornar delirante aquela voz interior que é a voz do outro em nós” (ibidem, p.108).

    O ponto chave do discurso de Spivak é a capacidade de agência dos(as) subalternizados(as), como uma forma de ação legitimada pelas instituições. “Daí, a impossibilidade de se articular um discurso de resistência que esteja fora dos discursos hegemônicos” (ALMEIDA, 2010, p. 18).

    Vale ressaltar que somente a partir da seção IV, especificamente na página 110 do seu ensaio, Spivak aborda com algum grau de especificidade questões de raça e gênero, dando ênfase à questão de gênero. Ressalta-se também que na tradução brasileira, o título original em inglês “Can the subaltern speak?”, por escolha dos tradutores, sofreu uma inflexão que priviliegia o gênero masculino, silenciando o lugar de fala das mulheres subalternizadas, pois o temo “the subaltern” caracteriza-se por seu caráter neutro, podendo assim ser utilizado para se referir tanto aos subalternos (gênero masculino), quanto às subalternas (gênero feminino e pessoas), o que não acontece no título traduzido para o português.

    Durante todo o ensaio Spivak reforça a importância de se problematizar a presença e as implicações do imperialismo (divisão internacional do trabalho; terceirização internacional; exploração da força de trabalho; ausências de leis trabalhistas que regulem a exploração de mão de obra, etc.) a respeito do problema da representação e do silenciamento dos sujeitos, considerando a questão de raça, gênero e classe. Tais questões ficam claras quando Spivak aborda o problema da ausência dos testemunhos das mulheres nos relatórios policiais e na decisão, por parte do governo britânico, em abolir e criminalizar o ritual de autoimolação. Nesse contexto a autora diz que essa

    […] é mais uma questão de que, apesar de ambos serem objeto da historiografia colonialista e sujeito da insurgência, a construção ideológica de gênero mantém a dominação masculina. Se, no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade”(SPIVAK, 2010, p.85).

    Por fim, depois de um longo passeio pelos assuntos aqui brevemente pontuados, a autora aborda especificamente os problemas das viúvas hindu no contexto dos rituais de autoimolação, isto é, um tipo de autossacrifício praticado por mulheres indianas quando ficam viúvas. Nessa altura, a autora denuncia importantes aspectos sobre os silenciamentos sofridos pelas viúvas, pois, “nunca se encontra os testemunhos da voz-consciência das mulheres”, que poderiam ter sido usado para produzir uma contrassentença para a compreensão de que a abolição do ritual de imolação pelos britânicos tenha sido um caso de “homens brancos salvando mulheres de pele escura de homens de pele escura” (ibidem, p. 122). O que serviu para reforçar a imagem do imperialismo como estabelecedor da boa sociedade e salvador da mulher contra sua própria espécie.

    Apesar de criticar Foucault ao longo de quase todo texto, Spivak não se furta a pontuar trechos do pensamento do autor francês que ela julga serem pertinentes à sua análise. Esse é o caso em que Foucault diz ser “a episteme um mecanismo que possibilita separar não o verdadeiro do falso, mas do que não pode ser caracterizado como científico” (SPIVAK, 2010, p. 125 apud FOUCAULT, p. 197). Com essa recuperação, a autora aponta para outro aspecto importante do seu texto e que permanece atual em nossos dias: o problema da lógica da produção das ausências ou dos silenciamentos, que de acordo com Santos (2002), ocorre, entre outras, a partir da monocultura do saber e do rigor ciêntífico, que consiste na transformação da ciência moderna e da alta cultura em critérios únicos de verdade e de qualidade estética, respectivamente. Sobre essa questão, mais uma vez, a análise de Spivak aponta para o problema do imperialismo, dizendo que a histórica da lógica capitalista é a lógica ocidental e que o imperialismo é responsável por estabelecer uma universalidade da sua narrativa, como única narrativa credível, e ainda aponta que “ignorar [não escutar] o subalterno hoje é – quer queira, quer não – continuar o projeto imperialista” (SPIVAK, 2010, 127).

    Ao final do ensaio, Spivak, mais uma vez é objetiva em responder a questão levantada inicialmente, sobre a capacidade de falar dos(as) subalternizados(as): não há lugar nenhum a partir do qual os subalternizados(as) sexuados(as) e racializados(as) possam falar e, principalmente, serem ouvidos. E reforça a necessidade de se pensar o papel do intelectual nesse debate: “A representação não definhou. A mulher intelectual como uma intelectual tem uma tarefa circunscrita que ela não deve rejeitar com um floreio” (p. 126).

    Spivak (2010) postula, a partir de uma perspectiva marxista, haver uma forte influência das estruturas, impedindo os grupos subalternizados de falarem por si mesmos, ao passo que estão numa condição de sujeição política que os força a perceberem-se e a agirem, sempre como subordinados.

    Referências

    ALCOFF, Linda. O problema de falar pelos outros. Tradução de SILVA, Vinícius Rodrigues Costa da Silva; ZEFERINO, Hilário Mariano dos Santos; & CHAGAS, Ana Carolina Correia Santos das. Abatirá – Revista de Ciências Humanas e Linguagens, v. 1, n. 1, p. 409-438, jan./jun. 2020.

    ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Prefácio – Apresentando Spivak. In: SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

    MARX, Karl, O 18 de brumário de Luís Bonaparte. – São Paulo: Boitempo, 2011.

    SANTOS, Boaventura de Souza, Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 63, Out. p. 237-280, 2002.

    SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

     

    Como citar este texto:

    MORAES, Fabio Monteiro de. Pode o(a) sulbalternizado(a) falar e ser ouvido(a)? Considerações sobre o ensaio de Spivak.Blog Café com Sociologia, dez. 2022.

    Notas:

    [1]Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Especialista em Filosofia, Conhecimento e Educação pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) E-mail: [email protected]

    [2] Um exemplo dessa negociação entre aquele que fala e aquele que ouve pode ser visto na palestra-performance “Descolonizando o conhecimento” de Grada Kilomba, disponpivel em: https://youtu.be/iLYGbXewyxs?t=713

     

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  • O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias?

    O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias?

    O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias*

    Roniel Sampaio-Silva[1]

    Cristiano das Neves Bodart[2]

    Neste texto veremos duas coisas correlacionadas: a) a diferença entre Ciências Físicas e Ciências Humanas no que diz respeito a paradigma e; b) os elementos constituintes das abordagens da Ciência, com exemplificações relacionadas às Ciências Sociais.

    Assim como a Física tem seus recursos para a compreensão da realidade natural, as Ciências Sociais também os têm, sendo estes bases para a produção de conhecimento. Contudo, partem de uma lógica diferente de paradigma.

    Biblioteca de paradigmas

    Mas o que são paradigmas?

    Paradigmas são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência (KUHN, 1991, p.13). Ou seja, são concordâncias sobre determinados pontos de vista. O paradigma heliocêntrico, que demonstra que a terra gira em torno do sol, é bom exemplo.

    Desta maneira, pegamos, por exemplo, um fenômeno físico: a gravitação universal. A força gravitacional é um conceito que representa um fenômeno natural e, por isso, é simplificada pela expressão matemática F=M.A. Trata-se de um conceito “fechado”. O modelo de explicação da realidade é consenso entre todos os cientistas; um corpo que cai de um prédio, vai ter um “comportamento” que pode ser explicado a partir essa expressão matemática.

    E o comportamento das pessoas? É certo que também existe tendências, entretanto, as variáveis que influenciam nosso comportamento são bem complexas: a individualidade, a economia, a política, a cultura, as relações sociais etc. Isso faz com que existam muitas visões teóricas para determinados comportamentos. Tais visões geralmente não formaram um consenso universal, ou seja, um paradigma como nas Ciências físicas. As Ciências Humanas são pré-paradigmáticas, isso porque elas nunca conseguirão consolidar um paradigma no sentido apresentado por Tomas Kuhn e aplicado as ciências “duras”.

    Teorias, conceitos e temas

    Elementos constituintes das abordagens das Ciências

    A complexidade de elementos constituintes das abordagens científicas pode ser agrupada em conceitos, categorias, temas e teorias. Mesmo havendo discordância entre os sociólogos, antropólogos, cientista políticos etc., m torno dos pré-paradigmas, os estudiosos precisam delimitar seus objetos de estudo para permitir uma comunicação eficiente com seus pares (mas não só). É por isso, que independentemente da área existem categorizações, sendo eles: conceitos, categorias, temas e teorias.

    Conceitos

    Os conceitos são unidades que servem para delinear melhor um objeto de estudo. Eles “indicam algum objeto real pela determinação de alguns dos seus aspectos” (BERNARDES, 2011). Por esta razão são mais “precisos”, porém limitados a determinado recorte. Assim, o conceito é uma tentativa de definição do objeto através da linguagem. Seu uso facilita o diálogo entre os cientistas (mas não só) por simplificar em um termo um conjunto de aspectos que constitui o fenômeno em questão. Por exemplo, o conceito de “Exército de reserva” simplifica, grosso modo, o fenômeno que se manifesta como o excedente de mão de obra qualificado (desempregados) causado pela lógica capitalista que visa achatar os salários dos trabalhadores e garantir que os patrões possam ter maiores condições de “negociar” valores e condições de trabalho com seus assalariados. Assim, ao invés de explicar todo esse fenômeno, bata dizer “exército de reserva” que o interlocutor saberá exatamente do que está sendo falando. Nota-se que o conceito é algo bem definido e pontual, voltado a um fenômeno particular. Contudo, um conceito pode ser adaptado para fenômenos análogos, desde que “refeita” a exposição dos elementos ou dos fenômenos que o constitui.

    Categorias

    Quando se agrupa um conjunto de coisas a partir de aspectos previamente definidos, temos uma categoria. Mas não é um agrupamento qualquer. É fruto de aspectos conceituais ou teóricos, sendo organizado a partir do diálogo entre esses. Como os conceitos são limitados para explicar uma determinado fenômeno social se usa uma categoria para se referir a um conjunto destes conceitos. Por exemplo, o trabalho é uma categoria porque além de ser um conceito tem outros “sub-conceitos” os quais se articulam entre si. Trabalho escravo, trabalho doméstico, trabalho docente são conceitos que se agrupam em categorias. Para fazer uma analogia, observamos que motos, carros, caminhões são conceitos diferentes que, no entanto, se enquadram na categoria de veículos automotores.

    Temas

    Temas são elementos sem um recorte definido de tempo e espaço. Por isso, são mais abrangentes do que conceitos e categorias. Esses costumam ser apropriadas mais facilmente pelo senso comum por se menos complexo e exigir menos rigor conceitual, categórico ou teórico. A violência, por exemplo, é um assunto amplo e genérico que, sem um tratamento adequado, acaba se tornando vazio, mas ainda sim continua sendo um tema. A Sociologia usa destes temas como ponto de partida, para a partir deles fazer recortes mais específicos e com descrições mais pontuais e passíveis de discussões mais aprofundadas – o que se faz a partir de delimitações conceituais, categóricas ou teóricas.

    Teorias

    As teorias são pontos de vistas resultantes de reflexões e observações empírico-teórica-metodológicas amplas, envolvendo um conjunto de conceitos e/ou categorias. É uma forma de ver o mundo que adota conceitos, categorias e (às vezes) métodos próprios. As teorias são resultantes de um conjunto de conceitos e/ou categorias que são mobilizados de forma interrelacional, a fim de explicar uma realidade ou fenômeno. É importante contextualizar historicamente cada teoria, já que essas são criadas a partir de uma realidade ou fenômeno que envolvia o teórico. Como exemplo, podemos mencionar a Teoria Disposicionalista de Pierre Bourdieu, que a partir de vários conceitos (habitus, campo, capital simbólico, illusio, senso prático etc.) visa explicar os fatores nas ações sociais.

    Referências Bibliográficas

    KUHN, Thomas. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1991.

    BERNARDES, Antonio Henrique. Quanto as categorias e os conceitos. Formação (Online), v. 2, n. 18, 2011.

    Como citar este texto:

    SAMPAIO-SILVA, Roniel; BODART, Cristiano das Neves. O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias. Blog Café com Sociologia. dez. 2020. Disponível em:< https://cafecomsociologia.com/conceito-categoria-tema-teoria/> Acessado em: dia mês ano.

     

    Notas:
    • Originalmente publicado aqui em 23 de dezembro de 2020.

    [1] Mestre em Educação (UNIR) e professor do Instituto Federal do Piauí. Editor do Blog Café com Sociologia.

    [2] Doutor em Sociologia (USP) e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Editor do Blog Café com Sociologia.

     

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    Conheça essas obras de conceitos e categorias das Ciências Sociais:

    Conceitos e categorias do ensino de Sociologia, vol.1 Conceitos e categorias fundamentais do ensino de Antropologia Capa C.Politica frente scaled

  • Revolução Industrial 4.0

    Revolução Industrial 4.0

    A Revolução Industrial 4.0 é uma das transformações mais impactantes e profundas que a humanidade já experimentou. Ela representa uma convergência de tecnologias avançadas e sistemas inteligentes que estão transformando a maneira como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam. Neste post, vamos explorar o conceito da Revolução Industrial 4.0 e seus principais aspectos, à luz dos mais conceituados autores da temática.

    O termo “Indústria 4.0” foi cunhado na Alemanha em 2011, como parte de um projeto do governo alemão para promover a digitalização da indústria. Desde então, o conceito tem sido amplamente discutido e difundido em todo o mundo. Segundo Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, a Revolução Industrial 4.0 representa a fusão de tecnologias digitais, físicas e biológicas, que está transformando a maneira como as empresas operam e criam valor.

    De acordo com Schwab, a Revolução Industrial 4.0 é caracterizada por um conjunto de tecnologias avançadas, que incluem inteligência artificial, robótica, internet das coisas, impressão 3D, realidade virtual e aumentada, entre outras. Essas tecnologias estão mudando a forma como as empresas produzem, distribuem e comercializam seus produtos e serviços, criando novas oportunidades e desafios para as organizações.

    Alguns autores, como Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, do Centro de Estudos sobre a Tecnologia e a Mudança Social da Universidade de Oxford, destacam a importância da inteligência artificial e da automação para a Revolução Industrial 4.0. Eles argumentam que as máquinas estão se tornando cada vez mais capazes de realizar tarefas que antes eram exclusivas dos seres humanos, o que pode levar a uma mudança radical na forma como o trabalho é realizado.

    Outros autores, como Richard Susskind e Daniel Susskind, autores do livro “The Future of the Professions”, enfatizam a importância da inteligência artificial para a transformação dos serviços profissionais. Segundo eles, as tecnologias digitais estão permitindo que muitas tarefas realizadas por advogados, médicos e outros profissionais sejam automatizadas, o que pode levar a uma mudança significativa no modo como esses serviços são prestados.

    Além disso, a Revolução Industrial 4.0 também está transformando a maneira como as empresas se relacionam com seus clientes e fornecedores. Segundo Klaus Schwab, a internet das coisas está criando uma rede de objetos conectados que permitem que as empresas coletem e analisem dados em tempo real, o que pode levar a uma maior eficiência e personalização de produtos e serviços.

    Por outro lado, a Revolução Industrial 4.0 também apresenta desafios significativos para a sociedade. De acordo com Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson, autores do livro “The Second Machine Age”, a automação está levando a uma polarização do mercado de trabalho, com empregos de baixa e alta qualificação crescendo em detrimento de empregos intermediários. Eles argumentam que a solução para este problema envolve um esforço concertado para investir em educação e qualificação profissional, bem como políticas públicas que promovam a inclusão social e a redistribuição de renda.

    Além disso, a Revolução Industrial 4.0 também levanta questões éticas e de privacidade, especialmente no que diz respeito à coleta e uso de dados pessoais. Autores como Shoshana Zuboff, em seu livro “The Age of Surveillance Capitalism”, argumentam que a lógica do capitalismo de vigilância, baseada na coleta e monetização de dados pessoais, representa uma ameaça à liberdade e à autonomia individual.

    Diante desses desafios, muitos autores argumentam que é necessário repensar os modelos de negócios e a governança corporativa, de forma a garantir que a Revolução Industrial 4.0 seja orientada por valores éticos e sociais. Klaus Schwab, por exemplo, propõe a criação de um “Manifesto de Davos” que estabeleça princípios orientadores para a transformação digital das empresas e da sociedade.

    Portanto, a Revolução Industrial 4.0 representa uma transformação profunda e abrangente, que está mudando a forma como as empresas operam, como as pessoas trabalham e como a sociedade se organiza. Para entender essa transformação, é necessário considerar as múltiplas perspectivas dos autores que estudam o tema, desde a importância da inteligência artificial e da automação até os desafios éticos e sociais da coleta e uso de dados. O desafio para as empresas e a sociedade como um todo é garantir que a Revolução Industrial 4.0 seja orientada por valores éticos e sociais, promovendo a inclusão, a igualdade e o bem-estar humano.

    Referências:

    FREY, Carl Benedikt; OSBORNE, Michael. The future of employment. Oxford Press. 2013.

    BRYNJOLFSSON, Erik; MCAFEE, Andrew. The second machine age: Work, progress, and prosperity in a time of brilliant technologies. WW Norton & Company, 2014.

    SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Edipro, 2019.

    SUSSKIND, Daniel; SUSSKIND, Richard. The future of the professions. Proceedings of the American Philosophical Society, v. 162, n. 2, p. 125-138, 2018.

    ZUBOFF, Shoshana. The age of surveillance capitalism: The fight for a human future at the new frontier of power: Barack Obama’s books of 2019. Profile books, 2019.