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Eixo- Movimentos sociais/ cidadania/ democracia e políticas públicas
E um dos grandes problemas para o exercício da cidadania em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo. Ao nos preocuparmos apenas com nós mesmos, ao abandonar a defesa da coletividade, estamos enfraquecendo a cidadania em nosso país, assim como nossos próprios direitos
Voto de cabresto: aprenda a identificá-lo em nosso cotidiano
Primeiramente é necessário compreendermos o que é “voto de cabresto” para buscarmos identificá-lo em nosso cotidiano.O voto de cabresto tem esse nome para fazer alusão ao cabresto usado em animais, o qual é um instrumento cujo objetivo é guiá-los por onde o montador, geralmente cavaleiros e boiadeiros, desejar. Sob o uso do cabresto o animal perde sua capacidade de escolher por onde andar. Semelhantemente, o eleitor pode ser direcionado pelo político por meio de “cabrestos”, os quais são elementos que o torna praticamente obrigado a fazer o que deseja o político: votar nele ou em quem ele indicar. Originalmente o voto de cabresto ocorria nas fazendas, porém vendo os maus políticos que tal pratica os beneficia, estenderam para as áreas urbanas.“Encabrestar” o eleitor é o desejo e uma prática do político que não tem qualidades para ser eleito. “Encabrestar” o eleitor e torná-lo dependente do político ou em estado de devedor de um favor. Podemos dar vários exemplos de prática que “encabresta” o eleitor, tais como, oferecer a ele ajuda financeira em troca de voto ou apoio eleitoral; oferecer emprego em cargo comissionado em troca de voto e favores, tal qual em um ônibus e ir em um comício de um candidato apontado pelo político empregador; arrumar uma ambulância para levar um parente até a capital e torna-lo “grato” e devedor de retribuição. Há também o voto de cabresto do religioso, que sente-se obrigado a votar em seu pastor ou irmão de fé. Em todos esses exemplos o objetivo do político é indicar ao eleitor em quem votar, mantendo-o fiel, no seu cabresto.O cabresto muitas vezes vem pela troca contínua de voto por benefícios pessoais. Esse problema da troca de voto por favores ou recursos materiais não é um problema originário apenas por parte dos candidatos. Muitos eleitores tomam a iniciativa de procurar políticos a fim de vender o seu voto. Por outro lado, muitos políticos lançam a culpa sobre os eleitores a fim de justificar essa prática que lhes rende votos. A verdade é que o bom político, o profissional preparado para o cargo pleiteado, deve orientar os eleitores, mostrando que o assistencialismo e a venda ou troca de voto é prejudicial a todos, apresentando suas propostas, buscando convence-los de que é a melhor opção para que o futuro seja melhor e que amanhã esse eleitor não necessite mais de favores de políticos. Uma das coisas que levam o eleitor a se comportar desta forma é a falta de perspectiva de melhores governos e a crença de que se não “aproveitar o momento” nunca ganhará nada de um político. Infelizmente, em muitos casos, esse cidadão realmente não será diretamente beneficiado. Mas insisto em dizer que o bom político, saberá esclarecer que muitas das necessidades do eleitorado são de competência do poder executivo e se eles escolherem bem seus candidatos, os benefícios serão maiores do que uma consulta médica ou um saco de cimento.Um político honesto e sério ao se deparar com um eleitor necessitado de uma consulta médica, o ensinará o caminho para obter tal consulta, isso para que não dependa de ajuda de políticos em outros momentos. Mas a ideia e a prática de muitos é justamente o oposto, arrumar a consulta para que a cada eleição este, não sabendo o procedimento, retorne solicitando o “favor”.O retorno ao político é fundamental para a consolidação do voto de cabresto. Por isso, a manutenção da pobreza, da falta de acesso aos bens públicos e a desinformações sine qua non, sendo pontos estratégicos dos maus políticos.Por Cristiano BodartUma breve análise do Brasil: “bancamos” a festa e nosso povo ficou de fora.
Por Cristiano BodartNosso fracasso tem múltiplos motivos. Faltou planejamento, sobrou erros de juízes, excesso de dirigentes incompetentes e muitas vezes corruptos. A tradicional fé depositada, de quatro em quatro anos, sobre os ombros de um herói, um “salvador da pátria”, não foi até aqui suficiente. Perdemos… fracassamos…Nossa torcida é sempre no sentido de ver o Brasil brilhar. Sobra o desejo de expressar ao mundo nosso orgulho de ser brasileiro. De desfilar com nossa bandeira sob o grito de “eu sou brasileiro, com muito orgulho”.Erros sequenciais fizeram grande parte de nosso povo chorar, sofrer, perder a esperança, rasgar nossa bandeira… O nosso fracasso era esperado pelo mundo, mas nós acreditávamos. Sempre elegemos um herói para nos salvar, para nos trazer alegria. Depositamos nele nossa esperança, ainda que no fundo sabíamos que sozinho pouco poderia fazer. Esperávamos que com o decorrer dos dias tivéssemos uma equipe lutando pelo nosso país, nos representando com orgulho e desejo de nos trazer muitas alegrias.A realidade é que fracassamos e isso está estampado em jornais de todo o mundo. Vimos em nosso solo juízes não cumprindo seu oficio de forma esperada e nos prejudicando. Aqueles que escolhemos para que fossem nossos “heróis” foram os únicos que encheram os bolsos, ainda que o Brasil seja, ao seu povo, um fiasco. No quesito estratégia fomos ridicularizados por diversos momentos: o domínio e a superioridade dos países do velho continente foi latente e constante. Não trata-se de um pequeno apagão: estivemos em trevas por bastante tempo. Nossa defesa nunca funcionou, por isso os europeus “pintaram e bordaram” em nossa casa. Não apresentamos nenhuma organização mínima para resistir o abuso em solo brasileiro. Não tivemos, em todo esse tempo, planejamento. Até sabíamos que nosso desejo era ser “um campeão”, mas não tivemos foco, sobrou amadorismo dentre nossos dirigentes, quando não corrupção.O certo é que fracassamos. “Bancamos a festa” para outros e o povo brasileiro ficou de fora.Mudanças precisam acontecer. O primeiro passo é deixar de pensar que tudo se refere ao futebol, inclusive esse texto. Estamos tratando de coisas bem mais reais e importantes: falamos de Brasil e não de CBF.Juventude revolucionária? Será que não fazem jovens como antigamente?
Juventude revolucionária? Uma análise de culturas políticas e de perspectivas de gerações
Por Cristiano BodartJá ouvi diversas vezes a expressão que “não fazem mais jovens como antigamente”. Tomara que seja isso uma verdade, pois o “espírito jovem de ontem” parece ter data de validade.
Vemos figuras que antes eram jovens que, se preciso fossem, enfrentavam o Estado. Jovens que com suas bandas de música cantavam afrontas aos poderosos ditadores e denunciavam o status quo, mas que se tornaram velhos (e) reacionários de hoje. O espírito de juventude revolucionária foi-lhe arrebatado. Espírito que motiva e que nos faz indignados frente aos descalabros sociais.
Os filósofos afirmam que as crianças têm uma sensibilidade maior para observar e maior motivação para indagar. Os jovens, me parece, que têm uma sensibilidade maior frente às injustiças e maior motivação para se indignar. Será que Che Guevara morreu com o “espírito revolucionário” por que morreu jovem? De outra forma estaria ele com sua “boca, cheia de dentes, escancarada esperando a morte chegar”? Precisamos fazer jovens que não percam a capacidade de indignar-se concomitantemente com a perda de melanina de seus cabelos.
Essa semana, em São Paulo, um pai foi buscar o filho de 16 anos, que participava de um protesto de black blocs no Tatuapé, para levá-lo para casa. No encontro seguiu-se o diálogo:
– Deixa eu protestar. Eu não quero isso. Esse governo é errado. Eu tenho direito de protestar, dizia o jovem.
– Você vai ter o seu direito quando trabalhar e ganhar o seu dinheiro, tá? Eu sou seu pai, escuta o seu pai, dizia o “velho pai”.
Pegou o filho pelo braço, retirou dele sua máscara, dizendo “você não é criado para isso. Eu trabalho para te sustentar, não é para você esconder a cara” e o colocou para dentro de casa.
O jovem ainda retrucava:
– Eu quero escola, eu quero saúde. Deixa eu protestar. Minha avó quase morreu num hospital público. Você acha certo isso? Pelo amor de Deus, deixa eu correr atrás. Tanta gente morrendo. Deixa eu fazer a minha parte, ajudar um pouco. Eu sei que eu tenho 16 anos. Eu não vou me machucar, relaxa.
O velho em resposta dizia:
– Eu pago a sua escola. Eu e sua mãe trabalhamos para te sustentar. Vamos para casa, por favor, R****. Você não vai mudar o mundo. Meu filho, você tem 16 anos, não é a hora agora. Eu te amo, cara. Você é meu filho. Eu estou pedindo demais? R****, um passo de cada vez – implorava o pai, na presença da imprensa que cobria a manifestação.
O rapaz, ainda argumentando que tinha o direito de protestar, foi arrastado pelo pai. E ambos foram para o conforto de casa. Não era hora de protestar por ter apenas 16 anos. Deveria ele esperar ficar velho, como o pai. Um passo de cada vez, ensinou seu progenitor. Espero que esse jovem não tenha sido forjado “como os jovens de antigamente”, pois aqueles desistiram de mudar o mundo há tempo e reduziram suas vidas ao individualismo e ao trabalho… para sustentar… o status quo. Não quero dizer com isso que apoio o vandalismo, muito menos o militarismo, mas ficar sentado no sofá de casa ensinando o filho de que não vamos mudar o mundo em nada ajudará na construção de uma sociedade melhor por meio de uma juventude revolucionária.Brasileiro lê pouco, mas assiste muita TV, ouve muito Rádio e usa muito o Computador
Um recente pesquisa entre 30 países buscou identificar quantas horas semanais, em média, passa o cidadão assistindo TV, ouvindo rádio, usando o computador/internet (sem fins de trabalho) e lendo um livro.Duas coisas me chamaram atenção: o tempo de leitura semanal do brasileiro (obs: não trata-se de leitura de livros, mas qualquer uma, tais como jornal e revista) e o pouco tempo que “sobra” para as nossas relações pessoais.De acordo com a pesquisa, em relação ao tempo semanal de leitura, o brasileiro (5,2 horas) só é menor que, respectivamente Taiwan, Japão e Korea, ficando em 27º no ranking de 30 países. Estamos abaixo da média global (6,5).Outro problema é o pouco tempo que a modernidade nos “permite” ter com nossos amigos e familiares. Pense comigo. Uma semana tem 168 horas, desta, cerca de 49 horas passamos dormindo, e 40 horas trabalhando. Sobram 79 horas para todas as demais tarefas. 51 horas são destinadas a TV, ao Rádio, à Internet e à leitura. Quanto sobra para a família e os amigos?Os grandes “vilões roubadores” de tempo são a TV, o Rádio e a internet. Passamos, em média, 18,4 horas semanais assistindo TV, 17,2 horas ouvindo rádio e 10,5 horas em frente ao computador. Somados são 46,1 horas semanais.Tabela 1. Situação do Brasil em comparação com a média globalTVRádioInternet/computadorLeituraHorasRankingHorasRankingHorasRankingHorasRankingBRASIL18,4 horas8º17,2 horas8º10,5 horas9º5,2 horas27ºMÉDIA
GLOBAL*16,6 horas14º8 horas20º8,9 horas15º6,5 horas14ºFonte: NOP World Culture Score(™)
*Dentre a colocação dos 30 países analizados, foi realizado um estudo para identificar a média global e posteriormente comparar com os países em análise.Ranking: Horas semanais destinado à leitura:1. India — 10 hours, 42 minutes2. Thailand — 9:243. China — 8:004. Philippines — 7:365. Egypt — 7:306. Czech Republic — 7:247. Russia — 7:068. Sweden — 6:548. France — 6:5410. Hungary — 6:4810. Saudi Arabia — 6:4812. Hong Kong — 6:4213. Poland — 6:3014. Venezuela — 6:2415. South Africa — 6:1815. Australia — 6:1817. Indonesia — 6:0018. Argentina — 5:5418. Turkey — 5:5420. Spain — 5:4820. Canada — 5:4822. Germany — 5:4222. USA — 5:4224. Italy — 5:3625. Mexico — 5:3026. U.K. — 5:1827. Brazil — 5:1228. Taiwan — 5:0029. Japan — 4:0630. Korea — 3:06Quais conclusões são possíveis de serem extraídas dessa pesquisa, sobretudo em relação ao Brasil? Deixo essa questão como sugestão para reflexão.Redução da maioridade no Brasil: está na hora?
Por Cristiano BodartReduzir a maioridade, que hoje é de 18 anos, não é a solução para a criminalidade no Brasil, o que não significa que esta não pode ou não deve ser reduzida. São questões diferentes e que se misturadas geram confusões interpretativas da realidade brasileira..O tema, quase sempre, envolve um erro em sua reflexão: redução maioridade penal sendo entendida ou apontada como caminho para a redução do alto índice de criminalidade. A causa da criminalidade não é a idade, mas as condições materiais e educacionais do criminoso, somado aos diversos elementos coercitivos da sociedade – e não apenas o castigo via sistema prisional. Envolve estrutura familiar, condições socioeconômicas, acesso à cultura, lazer, esporte e a educação escolar...É certo que a pena prisional é um elemento coercitivo, porém, no Brasil isso acaba se configurando em uma “meia verdade”, haja vista que a eficiência e a eficácia da justiça brasileira é bastante debilitada; sua função inicial de inibidora bastante prejudicada.Ao afirmar que “reduzir a maioridade, que hoje é de 18 anos, não é a solução para o Brasil” estou buscando apontar que outros fatores são muito mais impactantes sobre o índice de criminalidade do que a maioridade penal. Fatores que se resumem em três pontos difíceis de serem solucionados: i) ao abandono social de muitos brasileiros pelo Estado; ii) as condições dos sistemas penal, policial e prisional brasileiro; iii) a ineficiência e pessoalidade do sistema judiciário. Reduzir nosso problema de criminalidade à redução da maioridade penal é o que mais querem os “responsáveis” por minimizar esse problema. Carecemos de políticas públicas, valorização da polícia, um sistema carcerário que, de fato, ressocialize o infrator e de uma justiça que não determine sentenças com base no criminoso, mas no crime..Enquanto tivermos uma polícia mal paga, despreparada e desvalorizada, dificilmente esta cumprirá eficientemente e eficazmente seu papel. Enquanto as crianças não forem educadas corretamente, tendo acesso à cultura, lazer e ao esporte, dificilmente conseguiremos impedi-las de se tornarem jovens ou adultos criminosos. Enquanto liberdades (condicionais ou não) forem dadas para reduzir as lotações dos presídios, dificilmente o sistema penitenciário cumprirá seu papel. Enquanto a justiça julgar pela “cara” ou pelo “bolso”, os verdadeiros malfeitores da sociedade continuarão nos cargos públicos desse nosso país. Enquanto essas questões não forem resolvidas, de nada adiantará reduzir a maioridade penal no Brasil..Não podemos nos apropriar do argumento de que em países desenvolvidos a maioridade penal geralmente é menor que no Brasil. Lembre-se, por lá eles já minimizaram os reais fatores da criminalidade. Por lá, a maioridade penal é uma discussão ética e não uma política pública de redução da criminalidade em si..Resolvidos ou minimizados nossos problemas, passamos a pensar a redução da maioridade penal. Lembrando que esta foi definida nos anos de 1940 no Brasil e carece de um debate e reavaliação, tendo por base o princípio que a norteia: “a partir de que idade um jovem tem consciência do que está fazendo e suas consequências”? Lembre-se, trata-se de uma discussão puramente ética e de justiça e não de política pública, como se isso fosse suficiente para solucionar nossos problemas..
Temos, para agora, vários problemas à resolver. Resolvidos, quem sabe amanhã teremos adultos mais sóbrios para trazer o tema à pauta?
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Democracia sim. Participação da sociedade não! Eis a lógica da elite.
Por Cristiano BodartO jornal Estado de São Paulo publicou um texto sem autoria identificável lançando ao vento aberrações típicas de uma elite que pouco se importa com maior parte do brasileiros. Me refiro ao texto “Mudança de regime por decreto”(ver aqui).O texto afirma que a presidenta quer mudar o regime. Igualmente afirma que ela não deixou para o parlamento a decisão se devemos ou não ampliar a participação social na esfera federal, sobretudo de movimentos sociais. Afirma que a presidenta quer dar um golpe ao buscar via decreto ações de reforma política. Todas essas afirmativas me parecem ser verdadeiras. Que bom! Ruins são os interesses por trás dos que criticam tal ação.Tenho muitas críticas a presidenta e a seu partido político, mas sua atuação nesse caso é de retirar de mim palmas. Palmas por se tratar de mudanças, ainda que pequenas, que maximizam a Democracia. O autor do texto, em síntese, defende uma coisa: A democracia representativa (exercida apenas pelo voto). Tal regime, em realidades como a brasileira, só beneficia a elite que possui condições financeiras de influenciar as decisões sem perder muito tempo com reuniões participativas e deliberativas com o povo. Deixar as decisões para o Parlamento é um caminho mais seguros para os lobbystas.O incômodo que tal decreto (ver aqui o decreto) causa à elite está, basicamente, em dois pontos centrais:1. No sistema puramente representativo a elite é beneficiada. Em um regime onde o financiamento de campanha é a base do sistema eleitoral, a representação da elite estará sempre garantida junto ao Parlamento. Mudar isso, pode vir a ser danoso aos seus interesses;2. Participação direta e movimentos sociais “é coisa de pobre e classe média baixa desfavorecida”. A elite quer continuar participando das decisões políticas via lobby político. Ampliar a participação direta significaria ter que deixar as atividades da vida individualista para participar das questões coletivas e isso seria, na concepção de quem está em situação confortável, perder tempo e dinheiro.Manter uma democracia sem a efetiva participação do povo é o que defendem os grupos [econômicos] de interesses que governam nosso país há anos. Aprofundar a democracia via maior participação é possibilitar a sociedade ter voz e aprender a ser mais politizada… o que não interessa a alguns, não é mesmo? Para que mudar o status quo, não é? Dizem defender a democracia, mas sem a participação do povo [se é que isso seja possível]. Pior que temos desfavorecidos concordando com tais aberrações. Esses são perdoáveis, porque não sabem o que fazem [a si mesmo].Música Disparada (1966) – Geraldo Vandré – Análise
Por Roniel Sampaio Silva*As músicas trazem uma grande possibilidade de interpretações. Neste sentido, trazemos uma possibilidade, dentre tantas para a Música Disparada de Geraldo Vandré. Tal música pode ser associada a um importante personagem brasileiro, Presidente Jango.Contexto Histórico:As músicas de Geraldo Vandré fazem parte de uma Brasil marcado pela contracultura juvenil num contexto de contestação política, perseguições, anseios de mudança, num mix de medo e esperança. É impossível disvincular a música Disparada (1966) ao contexto do golpe civil-militar daquela período.
Em linhas gerais, a música se refere a histórico de exôdo rural em que os jovens filhos das elites rurais buscavam de estudos nos grandes centros urbanos. Assim, estes passaram a dialogar mais com outros jovens e conhecer as ideias progressistas que desencaderam um projeto estrutural de mudança o qual não era bem visto pelos setores conservadores:
Prepare o seu coração prás coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradarA música disparada pode ser vista também como a experiência particular de Jango que teve irmãos e pai vítimas de enfermidade logo na juventude. A música também pode fazer alusão ao contexto de perseguição de jovens da época e a resistência dos transgressores do regime militar que não se intimidavam com as prisões, torturas e militaram juntamente com os movimentos sociais em favor das reformas de base:
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo prá consertarÉ possível que o protagonista da música seja o presidente Jango, filho de família rica passa a capitanear as terras do pai quando este falece:Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Como chefe das propriedades rurais do pai, passou a tornar-se homem influente na região antes dos anos 1930. Ingressou na política logo após a renúncia de Vargas que era amigo pessoal de seu pai, Vicente vargas. O trecho abaixo revela a habilidade de Jango em lidar com a política e com os negócios. A metáfora da “visão se clareando” pode fazer alusão à percepção de Jango sobre os problemas pontuais da nação naquela época. Foi então que se lançou candidato à vice-presidência da República. Com sua ascenção ao poder, seus sonhos de governar o país e implantar seus projetos de nação foram frustrados pelo golpe de 1964:
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um reiMesmo com seus projetos estruturais e suas contribuições marcantes para consolidação dos direitos sociais no Brasil, havia uma conspiração para tirá-lo do poder, em razão de Jango reconhecer algumas das bandeiras dos movimentos sociais. Infelizmente Jango não conseguiu reconhecimento das suas reformas de base juntas camadas médias da população brasileira…”não pude seguir valente em lugar tenente” . Com o golpe, Jango teve que buscar o exílio e “cantar noutro lugar”:
Não canto prá enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugarPra mim há uma forte alusão à desistituição do Presidente Jango, um país sem um governante eleito pelo povo e usurpado por forças civil-militares:
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse*Reconheço que a canção têm múltiplas interpretações e essa é apenas uma interpretação baseadas na história do Brasil e na biografia dos personagens. A análise feita aqui foi aprofundada a partir de análise feita por Hyago em 9 de dezembro de 2011 no site https://analisedeletras.com.br
A situação da cultura e a democracia no contexto brasileiro contemporâneo: teoria política em Gramsci & Habermas – o estado entre sociedade civil e esfera pública.
Por Camillo César Alvarenga*Ao começar a escrever este texto me vem à cabeça a lembrança de uma leitura que ainda não fiz. Falo do livro “A Sociedade contra o Estado”, do Pierre Claustres. No entanto, neste momento é necessário rever, ou seja, reler e reapresentar, o marxismo orto-heterodoxo frente à noção neo-hegeliana da Escola de Frankfurt, em seu primeiro momento com Adorno e Horkheimer, tomada aqui enquanto uma versão mais clássica desta vertente do pensamento alemão moderno. Nesse sentido os expedientes italianos de autores como A. Gramsci e N. Bobbio indicam reflexões sobre o conceito de democracia que expõem ao debate questões que envolvem elementos como o Estado político moderno e a ideologia (o conjunto das relações de poder envolvidas) diante da aparição em um ponto de vista crítico da sociedade civil – essa organização social e política – numa diferenciação da noção posta primeiramente por Hegel[1]. Na literatura brasileira o tema já foi amplamente discutido por Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, Marcelo Ridenti, Ivo Tonet e Jaldes.As articulações entre a ideologia, a cultura e a política revelam-se em Gramsci através das formas de disputa definidas por ele como “guerra de posição” e “guerra de movimento”, em A Questão Meridional, quando do caso de demonstrar como se dá a formação do bloco histórico no processo de desenvolvimento da organização política italiana. Por exemplo, quando explica os mecanismos de poder exercidos principalmente pela máfia italiana no exercício de hegemonia nas regiões do sul da Itália. O que, por sua vez, pode ser remetido aos fundamentos de dominação (social e política) praticados pelas elites rurais brasileiras sob o signo muito conhecido do coronelismo. Para continuarmos a discutir a visão gramsciana, é preciso pensar a sua concepção dialética da história num conjunto de relações de hegemonia e contra-hegemonia entre as classes, frações de classe e o Estado, no prisma da democracia que é construída com base na elaboração deliberada de um consenso a partir de instituições como a escola e a imprensa, entre outras.Pontuando sobre como se estabelece este consenso, Gramsci, nos Cadernos do Cárcere, indica que os intelectuais atuam no convencimento da visão de mundo dominante, a qual se torna hegemônica nos esquemas referentes ao funcionamento da democracia ocidental. Assim, para analisarmos o contexto histórico brasileiro baseado nessa linha de pensamento, é possível então aludirmos a um realinhamento estratégico e proposicional do contexto histórico no Brasil, no período conhecido Ditadura Civil/Militar, que durou (oficialmente) de 1964- 1985. Sobre períodos nefastos como esses na história das democracias nacionais no Ocidente, Hanna Arendt, escreveu um texto problematizando esses momentos, como a exemplo do “Tesouro Perdido da Revolução”.O Totalitarismo é posto então enquanto a expressão do desencantamento político nas democracias liberais. O que se torna latente com a ascensão do consumo, como no caso brasileiro, agravado pela ilusão de uma nova classe média, e o alto grau de alienação cultural derivado de uma total despolitzação nas artes, seja na música ou no cinema, resultante da força da Indústria Cultural. O que deixa para sociedade poucas alternativas de desalienação gerando uma forte sensação de indiferença e uma atitude blasé[2] pelas questões sociais – na expressão do H. Lefrebve: acabam deixando o “cérebro de molho”.Estipulando uma leitura da realidade brasileira atual, o quadro se configura enquanto a manifestação de uma “esfera pública” no sentido colocado por Habermas, onde se tem o seguinte sinóptico: as camadas mais intelectualizadas permanecem encasteladas sejam nos jornais ou nas universidades; a TV cumprindo o papel que teve o rádio nos anos 30; o futebol – com a eminência da Copa do Mundo de 2014 – novamente, como nos anos 50 e 70, retorna como apanágio e ponto de soerguimento político para o grupo em poder do Estado ante a anestesia dos movimentos sociais. Uma crise profunda no que diz respeito ao plano da “razão”, no esforço de construir uma teoria crítica para compreender, explicar e transformar a sociedade – qual fez Antony Giddens na Inglaterra com o New Labor. Ao mesmo tempo, que o senso comum é cada vez mais apartado do bom senso, que por sua vez distanciou-se da filosofia, depurando as vivencias e as práticas sociais sob a forma de uma ciência estéril, que despreza a cultura tradicional num país candente por uma cultura de esquerda que permanece a espera de uma crítica mais radical, ao passo que a cultura popular se encontra num situação posta entre a condição instrumental e a resistência de seu potencial emancipatório.Em síntese, ainda aberta, a “Ditadura” não acabou. Apenas revestiu-se de formas menos explicitas de dominação. A violência da polícia militar é um dos indicadores mais óbvios dessa situação. Para além das formas radicais de repressão contra as libertárias manifestações da sociedade civil em atos de contra hegemonia política e crítica social prática como os observados em junho de 2013, os órgãos da imprensa responsáveis pela construção, produção e reprodução da opinião pública ainda são os mesmos, como os grandes jornais de circulação nacional qual a Folha de São Paulo ou o Estadão além das principais redes de televisão do país – associações que abertamente colaboraram e contribuíram para a instalação e perpetuação da ditadura, e preservam e atualizam a memória deste Brasil totalitário e oligárquico até hoje.[1] Ver obras em que aparecem o conceito de sociedade civil hegeliana.[2] Como posto por Simmel no texto As metrópoles e a vida mental.**Camillo César Alvarenga é Bacharel em Ciências Sociais (UFRB) e atualmente é Mestrando em Sociologia (PPGS/CCHLA- UFPB).
Diálogo: A “pedra fundamental” para construir a sólida democracia
Diálogo como Pedra fundamental do processo democrático
Por Roniel Sampaio Silva
Diálogo é a base da democracia. A palavra democracia, no contexto moderno, está sempre em voga. Ela está associada a um imaginário social tão positivo que dificilmente você vai encontrar uma pessoa que diga abertamente “sou contra a democracia”. Todavia, se é algo tão bom assim e todos concordam ela, por que é tão difícil de implementá-la?
Inicialmente, é necessário debruçar-se sobre o conceito de democracia. Inicialmente podemos conceituá-la genericamente como: “ Tradição política que pauta-se na soberania popular exercida por efetiva participação social confrontadas por argumentos racionais”. Assim sendo, confronto é sinônimo de democracia? Não necessariamente, porque democracia é sobretudo diálogo. Mesmo com toda essa complexidade conceitual sem essa simples palavra, não há base sólida para democracia.
Antes de pensar a nível das instituições, vamos pensar no plano das microrrelações. Você e seu colega, por exemplo, são políticos independentemente de terem cargo político ou não. Obviamente vão divergir em algum momento porque têm diferentes interesses e opiniões, e isso pode levar a um confronto político.
Há duas maneiras de resolver tal confronto: 1- pelo conflito pessoal; 2- pelo diálogo consensual. Pelo conflito pessoal as ideias vão ficar num plano secundário e a discussão vai partir para difamação pessoal, as vezes de maneira indireta na forma de “fuxico” e de “fococa”. Além disso, o problema não será resolvido e as tensões serão aumentadas. Pelo diálogo racional consensual, a crítica vai ser direcionada no plano das ideias com argumentações lógico-racionais até que se chegue num encaminhamento prático. Pode até haver confronto, mas das ideias e não das pessoas. Entretanto, esse confronto, para ser democrático, deve ser mediado obrigatoriamente e fundamentalmente através do diálogo racional, que através do qual levará a uma contribuição, seja uma solução ou um aprendizado. Atire a primeira pedra quem nunca se deixou levar pelo primeiro exemplo, o que é um descaminho que nos afasta da democracia. Porém, a mesma mão que ora apedrejou ao outro pode, juntamente com o outro, fomentar a pedra fundamental do diálogo.
Democracia exige diálogo, diálogo exige maturidade, esta por sua vez, exige racionalidade. Portanto, já dialogou com as pessoas ao seu redor? Discorda das opiniões, das administrações e das posturas políticas no nosso país? Já procurou as pessoas responsáveis para dialogar para através disso chegar a um encaminhamento? Se sua opção for o conflito pessoal, na democracia isso te faz um dos principal prejudicado. Se não direcionarmos buscarmos a pedra fundamental da democracia, toda a estrutura ficará comprometida e os todos escombros cairão sobre nós.
Participação do EUA no Golpe Militar de 1964 no Brasil
Participação do EUA no Golpe foi confirmada em documentos abertos ao público. Um porta-aviões foi disponibilizado para garantir a ação. O golpe militar de 1964, que depôs o então presidente brasileiro João Goulart e instaurou uma ditadura no país que durou mais de duas décadas, é um dos episódios mais marcantes da história do Brasil. Embora seja um evento histórico bem conhecido, a participação dos Estados Unidos no golpe é frequentemente questionada e controversa. Neste texto, analisarei a participação dos EUA no golpe militar de 1964, usando as perspectivas de três autores diferentes para apresentar diferentes pontos de vista.
Participação dos EUA no Golpe de 1964
Para compreender a participação dos EUA no golpe de 1964, é necessário analisar o contexto político internacional da época. Durante a Guerra Fria, os EUA eram fervorosos defensores do anticomunismo e acreditavam que era seu dever combater a propagação do comunismo em todo o mundo. No Brasil, os EUA viam João Goulart como um líder comunista que representava uma ameaça à segurança do hemisfério ocidental.
De acordo com o historiador John W. F. Dulles, a CIA tinha uma longa história de envolvimento em operações secretas em países estrangeiros, incluindo a América Latina. Dulles argumenta que a CIA estava preocupada com a possibilidade de o Brasil se tornar um estado comunista e, portanto, trabalhou para desestabilizar o governo de Goulart e apoiar o golpe militar de 1964.
Além disso, de acordo com o historiador Peter Kornbluh, documentos desclassificados recentemente mostram que os EUA forneceram apoio financeiro e logístico aos militares brasileiros que planejavam o golpe. Kornbluh também aponta que os EUA treinaram os militares brasileiros em técnicas de tortura e repressão, que seriam usadas para silenciar a oposição política durante a ditadura.
No entanto, outros autores discordam da ideia de que os EUA desempenharam um papel decisivo no golpe. Segundo o historiador René Armand Dreifuss, embora os EUA tivessem interesse em derrubar Goulart, eles não tiveram um papel decisivo no golpe. Dreifuss argumenta que o golpe militar foi liderado principalmente por militares brasileiros que estavam descontentes com o governo de Goulart e buscavam manter seu poder e privilégios.
Conclusão
Em resumo, embora existam diferentes opiniões sobre a participação dos EUA no golpe militar de 1964, há evidências suficientes para sugerir que os EUA desempenharam um papel significativo no apoio aos militares brasileiros que planejavam o golpe. Documentos recentemente desclassificados mostram que os EUA forneceram apoio financeiro e logístico aos militares, treinaram as forças armadas brasileiras em técnicas de repressão e tortura e tinham um forte interesse em desestabilizar o governo de Goulart.
Embora as opiniões divergentes de diferentes autores sobre a participação dos EUA no golpe de 1964 possam gerar debates, é importante ressaltar que o fato de os EUA terem fornecido apoio financeiro, logístico e treinamento aos militares brasileiros na época do golpe é um dado histórico documentado. Deve-se levar em conta também o contexto político internacional da Guerra Fria, em que os EUA defendiam o anticomunismo e viam líderes de esquerda como uma ameaça à segurança nacional americana.
O golpe militar de 1964 teve consequências profundas para o Brasil, incluindo a instauração de uma ditadura que durou mais de 20 anos, o que resultou em milhares de mortes, torturas e perseguições políticas. É importante que a história do golpe e seus efeitos sejam estudados e discutidos para garantir que a democracia e os direitos humanos sejam protegidos em todo o mundo.
Referências:
DULLES, John W. F. The clandestine cold war in Asia and Latin America: a comparison. In: The CIA in Guatemala: The Foreign Policy of Intervention. University of Texas Press, 2005.
KORNBLUH, Peter. Brazil and the United States: The Limits of Independence, 1930-1964. Oxford University Press, 1993.
DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista do Estado: Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Vozes, 1981.