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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Redes sociais como tribunal: A Alta Idade da Mediocridade e a cruzada contra a racionalidade II: As redes sociais como tribunal da mediocridade”

    Redes sociais como tribunal: A Alta Idade da Mediocridade e a cruzada contra a racionalidade II: As redes sociais como tribunal da mediocridade”

    Redes sociais como tribunal são instrumento de juilgamento para que que os julgadores se sintam melhores, em superioridade.  Cabe ao júri um ritual de sacrifício em favor do Deus mercado.

    Por Roniel Sampaio-Silva

    Redes sociais como tribunal em favor do Deus mercado
    No período das últimas cruzadas, a Europa passou por várias transformações sociais e econômicas, as quais intensificaram o circuito comercial, dando origem ao Mercantilismo e as Grandes Navegações. Com isso, houve uma grande fermentação cultural, política e econômica. Esse período ficou conhecido com humanismo. Paralelo a isso, a Igreja Católica começou a combater alguns dos efeitos dessas transformações sociais. O fluxo comercial, o diálogo com outros povos e a necessidade do desenvolvimento científico e tecnológico favoreciam ao desenvolvimento de um espírito crítico que ameaçavam a hegemonia política e cultural da instituição. O resultado foi imediato, a instauração do Tribunal do Santo Ofício, conhecido como Inquisição.

    Milhares de anos depois, as redessociais online tornaram-se um espaço de encontro de diferentes ideias,ideologias, crenças e valores e passaram a ser um espaço de circulação deideias e crenças as quais colocaram em um mesmo espaço pessoas ricas e pobres,acadêmicos e pouco letrados etc. As velhas hegemonias da “nova Igreja”, “Agrande mídia”, tornaram-se questionáveis, a audiência e os lucros diminuíram eos discursos tornaram-se mais plurais. Como resultado tem havido uma novainquisição cultural, pautada no conspiracionismo e maximização do sentimento demedo, terror com uma pitada de pseudo-nacionalismo.

    A nova “Santa Instituição” passa a ser a Grande Mídia, a qual tem amplos poderes no nosso tempo, se dizendofalar em nome do “Povo” e alertando para as heresias contra o seu Deus: O Capital. A doutrina precisa ser preservada, para isso é convocado sacerdotes,guardião das tradições.  As escriturassagradas passam a ser Von Mises, Constantino, Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho. Milhares de seguidores são recrutados pela televisão e pelos jornaisque direcionam os seus telespectadores a buscarem os sites dos profetas. Essassão as novas rotas das cruzadas.

    Onde o exército sagrado e os “infiés” se encontram? Nas redes sociais online; onde o confronto se acirra. Os “infiés” que usam referências empíricas e leituras acadêmicas e contra esses os inquisidores repetem jargões e liberam a sua moral mais irracional para combater o “mal”.
    Vale lembrar que grande parte das multidões que perseguiam os acusados de “bruxaria” eram iletrados ou pouco letrados no período da Inquisição. O letramento na época não era enojado, a Reforma Protestante que tentou fomentar o letramento para que os próprios fiés pudessem ler e interpretar as escrituras foram chamados de “hereges”. Na nossa “Nova Inquisição” não é muito diferente. Enquanto o julgamento e sentença cabia a instituição
    Religiosa, hoje os soldados da inquisição são a população medíocre e quem julga é a Grande Mídia. Tudo com as bênçãos do “Deus Mercado”.
    Aos que escapavam da morte na inquisição, poderiam ser excomungados. Hoje o “Deus Mercado” excomunga quem não paga em dia suas dívidas onerosas através dos serviços de proteção ao crédito. Agora, cabe aos “cidadãos de bem”, especialmente rotulados como classe média, reforçar o poder ideológico dominante para usar a tribuna (redes sociais online) a fim de defender as novas instituições hegemônicas… Cuidado ao divergir deles, você corre o risco de ser excomungado, ou ser bloqueado nas redes sociais de seu círculo de amizade. Ou ainda, sua crítica pode ser exporta ao ridículo baseado na mediocridade geral.
  • A Alta Idade da Mediocridade e a cruzada contra a racionalidade

    A Alta Idade da Mediocridade e a cruzada contra a racionalidade

    Por Cristiano das Neves Bodart

     

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    Um fantasma ronda o Brasil – o fantasma da racionalidade. Todas as potências da velha mediocridade unem-se numa aliança para conjurá-lo: a grande mídia e seus “soldados” reprodutores e propagadores de suas ideologias, sobretudo, os “filósofos de redes sociais” e suas diversas variações de “patente” .
    No período atual, por alguns chamados de “Alta Idade da Mediocridade”, contemplamos uma nova Cruzada; agora contra a racionalidade. Há um ataque sistemático a discussões racionais. Um argumento racional postado no facebook, por exemplo, é logo atacado por frases prontas construídas por informações que não se sabe a fonte. Se cobrares a fonte de tais informações será identificado em poucos segundos como herege, pois onde já se viu querer discutir um assunto de natureza social, política ou econômica, por exemplo, a partir de dados confiáveis! É o segundo pecado capital! O primeiro é não reproduzir e levar à frente as informações medíocre que se espalham pelas redes sociais, sobretudo as imagens simplificadoras da “realidade”.
    A regra é ser medíocre. Está determinado pelas formas celestiais que não se deve sair da média das ideias. A ordem é ser mediano. Informado exclusivamente pela grande mídia; pois, medíocre que se preze é aquele que nunca leu um livro sobre o assunto, mas que possui muitas considerações sobre ele, além de ter um repertório (reduzido, é verdade) de “adjetivos esteriotipados” para usar nos “debates”.
    Exigir nas redes sociais fontes confiáveis em um debate sobre política ou economia tornou-se um grande pecado nesses dias; com direito a ser queimado em um fogueira. “Filósofos, Sociólogos, Cientistas Políticos do facebook” uní-vos! Queimem todos os livros acadêmicos e sua pecaminosas universidades. Não falem (muito menos escrevam) a palavra “embasamento”, esta atrai demônios do passado. Não esqueçam de assassinar exemplarmente em praça pública os professores hereges… sobretudos os que tiverem gravados o símbolo da besta disfarçado de titulação. E comece a inquisição…
    Referências Bibliográficas:
    Obs: fontes não mencionadas por medo de ser interpretado como herege.
  • Dia Internacional das Mulheres: uma pausa para reflexão da dominação masculina em elementos sutis*

    Dia Internacional das Mulheres: uma pausa para reflexão da dominação masculina em elementos sutis*

    Igualdade de Gênero

    Dia Internacional das Mulheres: uma pausa para reflexão da dominação masculina em elementos sutis*

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Igualdade de Gênero: Datas internacionais são, em muitos casos, não momentos de comemorações, mas de denúncias de injustiças ainda latentes no mundo moderno; e o dia Internacional das Mulheres é uma dessas datas. No caso da dominação masculina, tais denúncias devem desnaturalizar a posição de inferioridade da mulher na sociedade.
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    A denúncia deve ter como foco desnaturalizar, uma dominação masculina que se manifesta de forma sutil e que se materializa de forma concreta. A divisão entre sexos se manifesta, muitas vezes, de forma sutil, porém eficiente para reproduzir a dominação masculina objetiva (quero me ater a esse tipo de dominação). Tal dominação notamos presente, por exemplo, na casa, onde as partes são “sexuadas”, sendo algumas vistas como tipicamente masculinas (sala) e outras tipicamente femininas (cozinha). O mesmo vale para profissões.
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    Quase não notamos a sutileza de muitas coisa e atividades que são sexualizadas, as quais marcam uma oposição camuflada entre masculino e feminino, como as noções de em cima/embaixo, frente/atrás, seco/úmido, quente/frio. Ao homem desejoso por sexo se diz: “você está pegando fogo”; à mulher, ao contrário, se diz que têm a capacidade de “apagar o fogo”, indicando quase sempre servidão ao homem, ou ainda “você está toda molhada”, como se lubrificação fosse de exclusividade das mulheres, embora a tenha com maior intensidade. Expressões como “ativo” e “passivo” está igualmente relacionada a dominação masculina, assim como por cima e por baixo. Ainda que em um relacionamento homoafetivo, o passivo será aquele que está em condição feminina. A ideia de possuir está associada ao masculino, assim como a ideia de poder e de tomar para si. Nas relações sociais em nossa machista sociedade, cabe ao homem possuir e a mulher jogar o jogo de se deixar ou não ser possuída. O ato sexual é visto, para os que estão em condições masculinas, como “conquista” e dentre as pessoas em condições femininas como “possuída”; por isso as comuns e horríveis expressões: “dar” e “pegar”.
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    Em uma sociedade onde o gozo masculino é, antes de tudo, gozo do gozo feminino, ou seja, do poder de fazer gozar, de mostrar-se viril, podemos afirmar que ela [a sociedade]está longe de ser igualitária. O ato de penetração, por exemplo, é símbolo de dominação, tanto que em casos de um homem ser forçado a receber penetração a dor maior se manifesta não de forma física, mas simbólica, pois ele foi “feito mulher”, perdeu sua posição de dominante e passou a ser dominado (pena comum aplicada por detentos à estupradores – “o fizeram mulherzinha”).
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    A questão da virilidade, que tem seu significado vindo da ideia de “qualidade da virtus, da honra”, que seria o princípio de conservação e do aumento da honra, está associada à prova masculina de potência sexual que se confirma muitas vezes com a defloração e com o apetite sexual aflorado. Para as mulheres o apetite sexual acentuado não é visto como virilidade, mas como um comportamento “pervertido”. No comportamento feminino, os braços devem estar cruzados sobre o peito e as pernas unidas simbolizando a barreia sagrada que protege seu órgão sexual socialmente constituída em objeto sagrado submetida a regras de acesso de contatos também sagrados. Assim espera-se das mulheres. Não que eu seja favorável a “libertinagem sexual” feminina, mas torna-se necessário denunciar a “libertinagem” masculina que, no fundo, é a manifestação e concretização de seu desejo de dominação sobre as “mulheres-coisas”.
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    Espero que não seja apenas no Dia Internacional da Mulher que venhamos a (re)pensar as formas de dominação, sobretudo as sutis, para que, entendendo as relações díspares de poder impregnadas por todos os lados, possamos realizar uma efetiva denúncia das práticas e dos símbolos que naturalizam a dominação masculina. 

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    *Texto publicado originalmente no Jornal “Correio Regional”, em 08 de Março de 2013, p.2. (jornal impresso)

     

  • Valores: Enquanto uns têm preços, outros têm valor

    Valores: Enquanto uns têm preços, outros têm valor

    Valores são crenças e princípios fundamentais que orientam as ações e escolhas das pessoas. São bússulas que guiam nossas ações. Eles representam o que é importante para cada indivíduo, família, organização ou sociedade, e podem variar de acordo com a cultura, educação, experiências e circunstâncias de vida de cada um.Os valores são adquiridos ao longo da vida, desde a infância até a idade adulta, e são influenciados por diversos fatores, como a família, amigos, escola, religião, mídia, entre outros. Eles são a base da ética, da moral e da conduta social, e são essenciais para uma convivência harmoniosa e justa entre as pessoas.

    Por Cristiano das Neves Bodart
     
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    Preço e valor são coisas completamente diferentes, muito embora alguns as tenham erroneamente por sinônimo. Isso vale tanto para o mundo dos negócios, quanto para as demais relações sociais. O problema maior dessa confusão é quando o que está em questão são pessoas.
     
    Nos negócios, o preço está relacionado a dinheiro, enquanto que valor está relacionado aos benefícios agregados ao produto, tais como sentimento de pertencimento, utilidade e sentimento a ele relacionado (possui valor agregado). Quando estamos falando de pessoas, notamos que o sentido é semelhante, porém sua confusão é mais danosa.
     
    Preço é quanto vale, em dinheiro, o produto, objeto ou até mesmo uma pessoa. Este está relacionado as suas características próprias, sem nenhum outro agregado. Já o valor não é definido pelas características próprias do produto, objeto ou pessoa, mas pelo que ele agrega.
     
    As pessoas têm seus valores definidos a partir do que agregam ao longo de suas vidas. Seus valores dependem da educação, dos tipos de relações sociais vivenciadas. O homem nem nasce mau, como atestava Hobbes, nem mesmo bom, como aferia Rousseau; apenas nasce homem… sem valores, apenas com preço de homem.
     
    Enquanto uns apenas têm preços, outros têm valores. O caráter destes últimos não está à venda e não pode ser mensurado por meio de “preço”, seja ele pago em dinheiro, com fama ou com poder. O seu valor não está em si, mas no que agregou ao longo da vida. Por outro lado, enquanto uns tem valores, outros têm apenas preços. Alguns destes etiquetados, aguardando um comprador; expostos em vitrines, muitas vezes em promoção. Vendem-se, trocam-se sem nenhum valor agregado. Na verdade, vende-se por preços que nem mesmo valem. Quem compra, logo percebe que uns valem muito menos que 30 moedas de prata.
     
  • Em meio aos gritos “Ditadura Já”, surge a seguinte questão: afinal, o que é ditadura?

    Em meio aos gritos “Ditadura Já”, surge a seguinte questão: afinal, o que é ditadura?

    Em meio aos gritos “Ditadura Já”, surge a seguinte questão: afinal, o que são ditaduras?

     

    Por Cristiano das Neves Bodart
     

    Afinal, o que são ditaduras? Muitos gritam “ditadura já!” sem ao menos saber do que se trata e quais aspectos envolvem esse conceito tão recorrente nos dias atuais.

    O político e historiador inglês Lord Acton dizia que “o poder tende a corromper e o poder absoluto tende a corromper absolutamente”. Nesse sentido, ditaduras são sempre maléficas, sejam elas de direita ou de esquerda.
    Ainda que o termo “ditadura” seja uma expressão bastante ampla, alguns aspectos comuns são visíveis em um regime ditatorial. A ditadura caracteriza-se, dentre outros aspectos, pelo comando político arbitrário, estando o líder, ou o grupo que está no poder, acima de qualquer direito jurídico (sobretudo constitucional*) que possa existir, ainda que se procure mascarar sua natureza totalitária com uma fachada de nobreza e justiça, apresentando-se, quase sempre, como “salvador(es) da pátria”. Na ditadura não há respeito a divisão dos poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo), sendo marcadas pela coerção sobre os meios de comunicação e partidos políticos, quando esses não são extintos. Outra característica comum são as violações dos Direitos Humanos.
    A partir de colaborações weberianas conceituais e categorizadoras, podemos destacar, basicamente, três tipos de ditadores (líderes). Seriam ele: carismático; tradicional e; racional.
    O ditador carismático busca sua legitimação a partir de atributos pessoais, tais como Maduro e Chaves. Esses buscam se aproximar do povo como seus legítimos representantes, quase sempre, implantando um governo supostamente nacionalista e voltado à sociedade que mais carece de apoio do Estado. O ditador tradicional tem sua legitimação pautada na tradição, comum nas ditaduras monarquistas e/ou hereditárias. Nessas, a preocupação com a imagem é reduzida, uma vez que a tradição é aclamada como legitimadora da concentração de poder. Já o ditador racional busca sua legitimação no argumento utilitarista, afirmando que sua ditadura é importante para o desenvolvimento, a segurança ou outro desejo socialmente instituídos no seio do povo. Um exemplo de ditadura racional foi a ditadura militar brasileira, a qual se teve como útil no combate ao avanço da esquerda e na preservação dos bons costumes e da moral.
    As ditaduras podem, ainda, ser classificadas como “ditaduras revolucionárias” e “ditaduras conservadoras”. Por ditadura revolucionária entende-se aquela que busca substituir a ordem vigente por um novo modelo. Já a ditadura conservadora tem por característica manter a ordem estabelecida. Essa definição é um tanto problemática, pois à longo prazo todas as duas acabam buscando a manutenção de um ordem estabelecida. O exemplo de Cuba é bastante esclarecedor. Quando se deu a tomada do poder pela esquerda cubana, presenciou-se uma alteração da ordem até então vigente. Estabelecida uma nova ordem, a ditadura cubada passou a buscar a manutenção dessa ordem estabelecida, podendo ser, agora, considerada conservadora.
    Outra classificação recorrente usada é a distinção entre ditadura militar e ditadura civil. Enquanto a primeira caracteriza-se pela presença de militares no poder, na segunda o ditador é um civil. No Brasil, presenciamos os dois tipos, sendo exemplo de ditadura civil o primeiro mandato do governo de Getúlio Vargas e, como exemplo de ditadura militar tivemos os sucessivos governos do período de 1964 a 1985. Em todos, sobrou desrespeitos aos Direitos Humanos, a liberdade de expressão e a manipulação ideológica.
    Ainda que diferentes, todas essas tipologias de ditaduras possuem em comum a concentração do poder e seu uso indiscriminado e arbitrário (muitas vezes violento) na busca por sua manutenção. É importante destacar que nem sempre uma ditadura tem sua origem em um golpe de Estado, como ocorreu em 1964 no Brasil. O que caracteriza uma ditadura não é a forma de implantação do governo, mas a maneira como este se estabelece e se mantém no poder.
    Talvez a maneira mais objetiva e fácil de compreender o que são ditaduras é partindo da seguinte premissa: Ditadura é marcada pela contrariedade aos preceitos democráticos. Desta forma, estaríamos partindo de uma realidade conhecida e próxima em direção a um conceito não tão próximo e vivenciado hoje no Brasil, ainda que nossos ouvidos estejam sempre a mercê de gritos de frases prontas, como “Ditadura já”. Frente aos “gritadores”, somos forçados a plagiar a frase: “perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Não sabem nem que se assim se sucedesse, não poderiam mais gritar.

    *Uma exceção foi a Ditadura Constitucional Romana – “Dictator est qui dictat” (ocorrida por volta de 500 a.C). Como citar esse texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Em meio aos gritos “Ditadura Já”, surge a seguinte questão: afinal, o que são ditaduras? Blog Café com Sociologia. 2015. Disponível em: Link aqui . Acessado em: dia mês ano.

  • Superestrutura e ideologia: tomando como exemplo as ideias difundidas sobre o Programa Bolsa Família

    Superestrutura e ideologia: tomando como exemplo as ideias difundidas sobre o Programa Bolsa Família

    Por Cristiano das Neves Bodart
    Primeiramente é bom iniciar dizendo que poucos realmente conhecem o programa, mas quase todos tecem críticas a ele, sejam elas boas ou más. Tais opiniões nos possibilita pensar e repensar sobre as relações destacadas por Marx, no século XIX, entre superestrutura e ideologia.

     

    Extraí de uma postagem na rede social facebook que solicitava espontâneas opiniões a respeito do programa (perguntando o que pensavam dele) alguns trechos escritos por internaltas em forma de comentearios.

    Alguns comentários colaboram para demonstrar alguns juízos de valores que evidenciam parte das ideias que predominam na sociedade brasileira.A proposta desse texto não é argumentar entorno desse tema, antes deixarei o leitor a tirar suas próprias conclusões. A proposta é pensar a relação entre superestrutura e ideologia. Para isso, vamos a trechos selecionados dos comentários (notem que estão afinados com diversas charges que se espalham pela internet):

     
    ***
    – “[…] Acredito que de cada dez beneficiários, nove votaram no PT”.
    eleitor
    – “Voto cabresto!”
    – “Na minha opinião o bolsa família não ajuda em nada o que é 70 hoje em dia? Nada! ainda mais com tanto imposto. […] Em vocês do bolsa familia deveria existir uma distribuição de cestas básicas” (sic).
    bolsa esmola
    – “Como os antigos diziam, não adianta dar o peixe e sim ensinar a pescar”.
    – “É preciso ensinar o povo pescar e não dar o peixe pronto. […] Quem luta para ganhar seu próprio pão sabe quanto custa cada migalha assim como eu” (sic).
    pescar
    – “É notável a dependência que as pessoas criam em torno do benefício”.
    – “É uma maneira de manter os pobres dependentes de uma mísera esmola mensal com a qual o governo os manipula através da política do medo… medo de perder a pequena renda que ljes é oferecida… (sic)”
    dependenciapolitico
    – “Eu acho que devia era ter emprego e profissionalizaçao, não esmola” (sic).
    esmola
    – “se fizessem do jeito certo seria bom mas desse jeito não estimula o beneficiado a trabalhar e nós que pagamos caro” (sic).
    – “é simplismente uma forma do malandro ficar em casa coçando saco o dia inteiro ao invés de procurar um emprego” (sic).
    emprego bolsa
    ***
    Seriam as charges as formadoras de opinião da classe média ou estas reflexo de suas opiniões? Seria uma construção conjunta/simultânea?
    Marx estava certo que a superestrutura é a responsável pela formação das ideologias?

     

  • Nada importante quanto mamilos e bumbum. Apenas um “ficha suja” é reeleito presidente do Senado.

    Nada importante quanto mamilos e bumbum. Apenas um “ficha suja” é reeleito presidente do Senado.

    Por Cristiano Bodart

     

     

    virando a pagina da dieta

    Desculpe se eu tiver sendo insano em querer tratar de algo tão sem importância: um “ficha suja” sendo reeleito presidente do Senado brasileiro.

    Eu deveria estar escrevendo sobre os mamilos que insistem em pular para fora das blusas na casa mais vigiada do Brasil, ou sobre as nádegas da Paolla Oliveira, mas estou aqui tratando de algo insignificante, algo que acontece em uma casa pouco vigiada. Poderia estar, talvez, retomando fatos realmente marcantes para a sociedade brasileira, como o retorno de Luiza do Canadá, ou ainda tecendo elogios as tantas músicas representantes de nosso desenvolvimento cultural, tais como “eguinha pocotó, “ai se eu te pego” ou outras tão clássicas. Ou ainda as mais recentes, como “Ela é top” ou “Como é bom ter vida loka”. Isso sim seria um assunto de muito interesse.

    Embora existam temas mais sérios como “quem será eliminado do BBB”, se a Paolla Oliveira irá aparecer novamente com o corpo quase descoberto, estou aqui escrevendo sobre uma bobagem que interessa a apenas alguns poucos chatos: a necessidade de um impeachment de Renan Calheiros, ainda antes de assumir. Ao invés de buscar saber quando será a prova do líder do Big Brother Brasil, estou insistindo em mencionar que agora um “ficha suja” é reeleito líder do senado. Desculpe, não sei o que me deu hoje; sendo brasileiro deveria estar falando de fantasia de carnaval, já que ele se aproxima Perdão…

    Esqueça política. Isso não é importante. Vamos falar de carnaval, seleção brasileira e outras coisas mais importantes. Bumbum acho um bom tema. Então vamos tratar do bumbum da Paolla Oliveira. Deixaremos o Renan Calheiros de lado, afinal temos que ser recíprocos com ele. Além do mais, temos assuntos mais urgentes e importante para o futuro da nação. Vamos tratar de bumbum “global”, mas por favor, sob o som de “Como é bom ser vida loka” para que meu cérebro funcione devidamente dentro do padrão brasileiro; enfim…

    paola oliveira

     

    Do bumbum de quem mesmo iríamos falar? Ops, viu como a música é inspiradora?
  • Boaventura de Sousa Santos: Privatização e Privataria

    Boaventura de Sousa Santos: Privatização e Privataria

    Boabventura
    Segue um trecho bem esclarecedor da posição do sociólogo Boaventura de Sousa Santos* a cerca do processo de privatização. O trecho foi extraído do seu texto intitulado “Privatización y piratería”, disponível no site “Página/12” e traduzido** para o português.
     
    “Privatizações não são necessariamente “privataría”. São quando os interesses nacionais são prejudicados intencionalmente para permitir enriquecimento sem causa daqueles que estão em posições de autoridade ou favor político de comando, ou influência negociações e decisões em nome de interesses privados. 
    Privatizações não tem nada a ver com a racionalidade econômica. Elas são o resultado de opções oferecidas pelos discursos ideológicos que escondem suas verdadeiras motivações. No Brasil, o discurso foi de transformar as privatizações em uma “situação do país para a modernidade”. Em Portugal, o discurso é o interesse nacional, protegido pela troika, em reduzir a dívida e melhorar a competitividade. Em ambos os países, a motivação real é a criação de novas áreas de acumulação e lucro para o capital. No caso Português, isso acontece para a destruição tanto do Estado como do setor empresarial e do Estado-Providência. Neste último caso, especialmente, é uma escolha ideológica daqueles que usam a crise para impor medidas que jamais poderia legitimar através das eleições. Para se ter uma ideia da carga ideológica por trás da privatização em Portugal, supostamente necessário para reduzir a dívida pública, basta um olhar para o orçamento para 2013: total de receitas das privatizações, de 2011 a 2013, será 3,7 bilhões de euros, ou seja, menos de 2 por cento da dívida pública …”
    *Doutor en Sociologia do Direito. Professor das universidades de Coimbra (Portugal) y Wisconsin (Estados Unidos).
    **Tradução de Cristiano Bodart.
     
    O texto integral e pode ser acessado aqui
     
  • Ditadura da Beleza

    Ditadura da Beleza

    Por Gláucia Iara*
    É constante em nossa sociedade a preocupação que as pessoas têm com o corpo e a beleza. Até então, nada demais, pois cuidar-se faz parte da boa saúde, tanto física quanto mental. Porém, para tudo existe limite, todavia, algumas exageram, buscando a todo custo obter a perfeição corporal.
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    Atribuindo-se de vários métodos, tais como: Dietas, plásticas, utilizando medicamentos inibidores de apetite, malhando exageradamente, sendo que, na maioria das vezes dispensam acompanhamento nutricional, desta forma incorreta, acabam por não obter os resultados esperados.
    Sem dúvida, a boa aparência torna-se um aliado importante dos indivíduos em suas conquistas profissionais, afetivas, interpessoais, porém não é o essencial. Essa fixação pela aparência externa é difundida através da mídia reverenciando o culto ao corpo ideal, exposto em novelas, comerciais de carro, perfumes e revistas fitness, ostentando nas capas mulheres possuidoras de esplendorosa formosura.
    Ou seja, tudo o que sabemos sobre venusticidade está programado por esses meios de comunicação. Perante esse aspecto, podemos afirmar, a beleza exterior sobrepõem a interior, pois se tem julgado as pessoas pelo que elas aparentam ser e não pelo que são de fato, rotulando-as, quase sempre.
    Os obesos, principalmente sofrem altamente com esses padrões impostos socialmente, ocasionando desmotivação dos mesmos. Levando-os ao complexo de inferioridade, não aceitando a situação na qual se encontram,sentindo-se excluídos.
    Ante isso, se isolam de tal modo á esquivar-se do convívio social, precisando procurar ajuda profissional. Esse processo não é nada fácil para o paciente, principalmente aqueles que fazem redução de estomago, todavia, eles têm que se adequar á uma nova rotina, passando pelo processo de reeducação alimentar.
    Porém, não são apenas as pessoas acima do peso que sofrem preconceito. As muito magras, por exemplo, também são vítimas de piadas, trazendo consigo complexos psicológicos. A grande verdade, é que grande parte das pessoas não se aceitam como são e buscam os mais variados mecanismos para serem aceitas socialmente.
    As formas de ditadura da beleza não param por aí. Vão além das exigências estabelecidas quando se trata do peso em si. Referindo-se aos modismos, como a depilação corporal, a imposição de ter que depilar todo o corpo, o cabelo tendo o mesmo que ser chapado ou feito progressivo,bem como tendências de cor, corte, enfim, obviamente tudo que remete ao consumismo humano.
    Senso assim, nos cabe a seguinte pergunta: Onde estaria então a verdadeira essência da beleza? Teria se perdido com o tempo ou oculta em meio a diversos padrões? Difícil de responder essa complexa pergunta.
    Mas creio que, contudo,verdadeiramente o que é belo está em se gostar,desta forma, a pessoa torna-se irradiante, bela aos olhos de quem á vê.
    *Graduanda em Ciências Sociais/Dourados-MS
  • A sociedade do espetáculo e a coisificação do homem

    A sociedade do espetáculo e a coisificação do homem

    Coisificação – sociedade do espetáculo

    A sociedade do espetáculo e a coisificação do homem

    Por Cristiano das Neves Bodart

     

    Eu poderia gritar pelas ruas: tornei-me uma coisa! Tornei-me descartável! Sou um objeto de consumo imediato! A verdade é que o homem vem se transformando em coisa, em meio a tantas outras descartáveis! Claro que, se assim eu fizesse estaria consolidando ainda mais minha posição de coisa… de espetáculo aos curiosos.

    Um caso ocorrido há algum tempo, de venda de virgindade parece ser alarmante: a lei da oferta e procura definindo quanto vale a virgindade de uma pessoa. Tal comercialização não é uma transação comercial ilegal, realizada na escuridão da noite, nos becos das áreas urbanas… nas casas noturnas. Trata-se de uma comercialização aberta em rede mundial de computadores. Isso, e muitas outras coisas, indicam que viramos uma “coisa”!
     
    O homem passou a ser um objeto necessário ao funcionamento do sistema de mercado (inclui-se aqui as mulheres, que talvez e infelizmente, vêm se tornando mais “coisa” que os homens). Nesse sistema ambos
    tornaram-se também mercadorias. Seu preço? Variando conforme o prazer ou benefício temporário capaz de proporcionar, ou ainda à sua capacidade de criar outras coisas.
     
    Vivemos um processo de coisificação (ou objetificação) dos homens e das mulheres. Os elementos da vida social perderam seu valor essencial e passaram a ser avaliados como “coisa”, ou seja, quanto à sua utilidade e capacidade de satisfazer certos interesses de outros. O homem desumaniza-se e vira mero espetáculo a outros igualmente desumanizados. Ora, há muito já se denunciava que vivemos na “sociedade do espetáculo”, mas agora maximizado pelo próprio espetáculo. Mortes são vistas como entretenimento televisivo. Desempregados são tratados como meras estatísticas informativas do noticiário.

    A objetificação (ou coisificação) é um termo que foi cunhado no início dos anos 1970 a fim de voltar-se para os indivíduos a nível de objeto, desconsiderando seu estado emocional ou psicológico. Originalmente, foi um conceito pensado para compreender o sujeito como resultado da história e da estrutura social em que estava inserido. Contudo, o conceito passou a ser adotado para a compreensão da desumanização dos homens em processo de transformação em “coisas”, objetos a serem valorizados ou desvalorizados na “sociedade midiática”.

    Chamamos a atenção para o fato de que, como bem colocou Foucault, embora os corpos dos homens sejam transformados cada vez mais em coisas, estas não podem ser compreendidas como objetos inertes, mas como construção histórica. Parece contraditório à princípio, mas as relações históricas no contexto do Capitalismo que produzem essas “coisas” a partir de interesses e relações de poder, geralmente poder econômico.

    Pesquisas são feitas apenas para “matar a curiosidade” dos leitores, estes também coisificados. Quanto mais desgraças, mais os jornais vendem, mais “ibope” para a TV!

    Norbert Elias explicou, em certa medida, o processo civilizatório. Cabe agora explicar o processo de coisificação que está em marcha… Gritar que somos coisas seria apenas mais uma forma de sermos meros espetáculos? Ops: acho que acabei de ser um…

     

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