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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Reflexão sobre o ENEM ai… e agora José?

    Reflexão sobre o ENEM ai… e agora José?

     

    Por Cristiano Bodart

     

    e agora jose

    O Exame Nacional do Ensino Médio/ENEM é uma preocupação para muitos jovens que sonham cursar o Ensino Superior em um Universidade Pública ou conseguir uma bolsa de estudos em uma instituição privada. Esses passam quase todo o Ensino Médio pensando no ENEM, buscando preservar na memória tudo que os professores mencionam nas aulas para que os “x” sejam marcados nos lugares corretos.

    O terceiro ano do Ensino Médio é para muitos um tormento, por um lado a ansiedade de fazer a prova do ENEM, por outro o medo de não obter uma nota suficiente para alcançar seu objetivo. Fim de ano… e agora José… o ENEM está ai…

    Por outro lado há aqueles que não estão tão preocupados com a inclusão no Ensino Superior, sobretudo em instituições de qualidade. Para esses há coisas mais importantes:

    seus bolsos. Em síntese, estão “ENEM ai” para isso.  Não estou falando dos educandos vitimados pela Educação Básica de péssima qualidade, me refiro aos nossos políticos que não estão “ENEM ai” para a sociedade. A maior prova disso é a existência do próprio ENEM.

    Frente a incapacidade de ofertar a todos os cidadãos o acesso à universidade (porque não é prioridade), cria-se provas de seleção. Tais provas possuem um mecanismo ideológico capaz de lançar ao jovem a culpa de não conseguir entrar no Ensino Superior. Assim, o ENEM e seus correlatos são, na prática, um instrumento de culpabilizar o jovem por não entrar na universidade, camuflando a realidade histórica de nosso país, marcado por políticos não estão “ENEM ai”… e agora José?

  • De gata borralheira a soberana: a sociologia e o efeito ENEM

    De gata borralheira a soberana: a sociologia e o efeito ENEM

    Aconteceu de novo. Nem posso dizer que fui pego de surpresa. Eu já sabia! Ao folhear a prova de ciências humanas e suas tecnologias do efeito Enem 2014 (aplicada no último sábado), percebi como a sociologia está a cada ano mais presente nesta avaliação, chegando a figurar em pelo menos 80% das questões elaboradas. Mas, apesar de ficar muito feliz com isso, faço mais uma vez críticas – e busco algumas respostas – em relação a alguns equívocos que teimam em se repetir ano a ano.  Eis algumas do efeito ENEM:

    1. Porque a maior parte das instituições de ensino não valoriza a sociologia, tanto em aspectos simbólicos quanto à alocação de carga horária? Há ainda um estranhamento em relação ao fato de a sociologia se colocar enquanto disciplina obrigatória nos currículos escolares. Tal fato pode ser comprovado pelas inúmeras tentativas em retirar a obrigatoriedade por parte de parlamentares ligados a uma elite conservadora e autoritária que não vê com bons olhos o apelo que a disciplina faz ao pensamento crítico. Infelizmente tal pensamento está presente no cotidiano escolar, expresso em discursos de inferiorização da sociologia diante de disciplinas há muito estabelecidas nos currículos, tanto por professores quanto por gestores que teimam em vê-la como disciplina decorativa, facilmente inteligível e que dispensa maiores esforços dos alunos no sentido de compreendê-la.

    2. Partindo desse pressuposto, alunos assimilam tais preconceitos e passam a ignorar o potencial crítico-hermenêutico que a disciplina tem, e passam a vê-la com mera opinião, simples exercício de achismo. Procuro em sala de aula superar tais barreiras, mas elas foram historicamente construídas e infelizmente são reforçadas por pessoas que a princípio seriam responsáveis por construir uma educação integrada que valorizasse a reflexividade.

    3. Sempre peço aos meus alunos que valorizem todos os tipos de conhecimentos e que, a medida que as referências vão se multiplicando, eles sejam capazes de buscar um sentido prático para o que se aprende na teoria, consolidando assim assim sua bagagem intelectual. Infelizmente o que se vê é uma desorganização generalizada que se reflete no desespero pré-Enem, em que se confunde quantidade (material, horas e horas de revisão, noites mal dormidas, questões resolvidas, bizus, etc.) com qualidade. Vivemos um processo de especialização precoce, pois os alunos do ensino médio já escolhem a quais disciplinas se dedicar de acordo com o curso almejado. Eles só esquecem um detalhe: o efeito Enem cobra tudo, e não de forma compartimentada, como alguns teimam em ensinar, mas de forma INTEGRADA!!! Então, aquele aluno que foi a todas as aulas de redação e faltou a quase todas de sociologia com certeza aprendeu técnicas para uma boa escrita, mas esqueceu outra coisa: escrever o quê, “cara pálida”? Cadê o conteúdo?

    Pra encerrar, gostaria de compartilhar minha alegria quando na manhã de hoje minha prima adolescente, que sonha em ser arquiteta, me pediu pra ler sua redação e dizer o que achava. Há tempos não lia algo tão bom escrito por alguém da idade dela. Fiquei maravilhado ao perceber que aos poucos jovens como ela se tornam capazes de pensar de forma complexa e integrada. De certa forma, renovei minhas esperanças nessa moçada. Enquanto professor de sociologia, não vou ficar lamentando sobre o que já pontuei, mas tenho o dever de reivindicar a todos que de alguma forma constroem a educação no Brasil: SENHORAS E SENHORES, MAIS RESPEITO POR FAVOR!!! Pela sociologia enquanto disciplina, pela EXTREMA NECESSIDADE DE DIÁLOGO entre os mais diversos saberes, pela transdisciplinaridade, pela necessidade de um ensino médio integrado de fato, que dê oportunidade aos nossos alunos de ingressarem em universidades (se assim desejarem) como protagonistas e não como analfabetos funcionais. Aos alunos, em especial, peço que amém tanto a busca quanto a construção do conhecimento, que se sintam provocados e que provoquem, não com indisciplina, mas com a sede de querer sempre mais. É o mínimo que espero de vocês.

    Marcus Vinícius Martins Barbosa é professor de Sociologia do Instituto Federal do Piauí – Campus Floriano.

  • Preconceito Linguístico*: Entenda o que é grammar nazi

    Preconceito Linguístico*: Entenda o que é grammar nazi

    Preconceito Linguístico: Uma perspectiva sociológica

     

    Por Beatriz Regina Guimarães.**
    preconceito linguístico
    O preconceito linguístico, cuja origem é remota, uma vez que as variações de cada idioma têm dado margem para a distinção intelectual e de classe há tempos, continua ainda mais presente nos dias de hoje. Com a internet, a língua escrita fica muito mais evidente, o que acaba por reforçar certas distinções.
    Afinal, não são raras as situações nas quais um amigo comenta ter considerado menos uma pessoa por ela ter escrito “jesto” ao invés de “gesto”, ou ter escrito sem a concordância verbal da norma culta, o que destoa das típicas variações consideradas toleráveis no idioma da internet, como, por exemplo, as abreviações “vc”, uso de “h” após vogais para indicar acentuação na sílaba final de palavras ou abreviações.
    Sintoma ainda maior desse processo se percebe por uma das figuras virtuais bem conhecidas: o grammar nazi. É aquele que, em postagens alheias, seja na rede social que for, aparece apenas para corrigir o português dos outros, ou, em meio aos seus comentários, faz questão de evidenciar o erro do outro. Autoafirmação do próprio conhecimento? Necessidade de fazer valer uma regra? As motivações de um preconceito linguístico e grammar nazi podem ser várias, entretanto, ele faz parte daqueles que, por encararem o idioma como um padrão a ser obedecido, discriminam e expõem aqueles que, pelo motivo que for, acabam cometendo erros.
    Uma variante desse assunto foi de particular polêmica em 2011, quando os livros didáticos de língua portuguesa do MEC foram censurados por “ensinarem o português errado”, ao mostrarem aos alunos que as variações linguísticas cotidianas podem ser usadas, mas que elas não são bem consideradas em situações onde o uso do português concordante com a norma culta é exigido.
    No caso do preconceito linguístico e grammar nazi, que não censura propriamente uma variação linguística em alguns casos, mas se aferra ao combate aos erros de ortografia, há a própria imposição de regras como forma de preconceito linguístico. Se você escreve “naum” ao invés de não, provavelmente sua inteligência será questionada e julgada. A questão é: todo julgamento é passível de erros.
    No fundo, se o local onde se escreve não exige o cumprimento de normas formais, o que importa na linguagem, de fato, é sua função principal: comunicar. Entretanto, as formas pelas quais isso é feito e do jeito que tomamos de acordo com as normas impostas classificam os interlocutores, cabendo a nós repensar a segregação que acabamos causando por conta disso.
    *Texto originalmente publicado no blog parceiro “Crítica Nossa de Cada Dia“, mantido por Marcela Tanaka, graduanda em Ciências Sociais (IFCH/Unicamp).
    **Beatriz Regina Guimarães estudou Ciências Sociais no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/Unicamp) e é,
    atualmente, estudante de Estudos Literários pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp).
  • O Pós-modernismo e suas influências

    O Pós-modernismo e suas influências

    Por José Fábio Cruz*
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    As mudanças, principalmente em nível tecnológico e de conhecimento, acontecem num ritmo muito intenso em todas as sociedades que se classificam como economia de mercado. Desde o advento da Revolução Industrial tem-se acelerado a produção de produtos e mercadorias em circulação com vistas á atender as necessidades das sociedades mais diversas. Os serviços também se modificaram e se sofisticaram para satisfazer os desejos de pessoas e grupos ansiosos por novidades. Esta aceleração, motivada pela introdução das máquinas nos processos que antes eram realizados de forma manual, intensificou-se com o surgimento do computador, o que possibilitou a digitalização de dados e o aumento da troca de informações entre as pessoas, grupos e sociedades. Essa intensificação de trocas de informações com o advento da internet, somada ao declínio do positivismo, onde as referências de uma sociedade mais justa, igualitária e em constante progresso pautadas na ciência e no antropocentrismo sucumbem, abriram caminho para a chegada do pós-modernismo.
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    Com o pós-modernismo e sua voracidade por mudanças cotidianas, fica difícil a quem quer seja, acompanhar tamanha velocidade. Sempre estamos atrasados, seja culturalmente, tecnologicamente, socialmente, intelectualmente. Isso trouxe algo novo aos estudiosos das mais variadas áreas científicas, a noção de que não se sabe nada ou sabe-se muito pouco sobre muitos assuntos. Por outro lado, quando há comparação da sociedade atual com sociedades passadas, verifica-se que houve avanços significativos em muitas áreas científicas e tecnológicas, isso porque existe o aspecto acumulativo em termos de conhecimentos, ou seja, existe um aproveitamento pela sociedade atual dos conhecimentos adquiridos anteriormente, como pesquisas, estudos, ensaios e descobertas.
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    Aqui estamos diante de um paradoxo ao analisarmos o pós-modernismo em relação às sociedades anteriores. Se por um lado ele trouxe avanços significativos como na área de saúde, por exemplo, possibilitando as pessoas viverem mais, por outro lado, aumentou também de forma significativa o poder de letalidade das nações. Os avanços científicos que permitem uma maior capacidade de preservação da espécie humana são acompanhados de perto por avanços científicos com capacidade destruição total da mesma.
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    Os avanços não param, e diariamente aparece algo novo que substitui àquele que existia até então. As sociedades vivem um frenesi em busca de atualização constante. Nunca se buscou qualificar tanto na área de educação como na sociedade pós-moderna, pois é fato que ela abre as portas da informação, do conhecimento e da atualização tão desejada pelas pessoas que compõe as sociedades capitalistas. Mas o pós-modernismo, com sua velocidade 2.0, não importa-se e nem perdoa àqueles que estão em seu caminho. Muitas pessoas e sociedades ficam pelo caminho, não conseguem acompanhar as mudanças constantes impostas pelo pós-modernismo em todas as áreas que compreendem a vida humana. Se antes bastava saber ler e escrever, o que era privilégio de poucos, hoje, para acompanhar as mudanças, exige-se pós-doutorado com fluência em duas línguas estrangeiras. Diante disso, e como não é possível deter a velocidade em que ocorre o pós-modernismo, cabe aos governos e organizações não governamentais tentar inserir novamente à sociedade àqueles que ficaram pelo caminho. Tentar recolocá-los no mercado de trabalho através da educação não-formal, e propiciar atividades de cultura e lazer à qual encontram-se a margem.
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    *José Fábio Cruz é graduado em Comunicação Social.
    Lattes: https://lattes.cnpq.br/6945547341273626
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  • Medo, Segurança, Liberdade

    Medo, Segurança, Liberdade

     Por Vladimir de Souza Nascimento*

    Vivemos em um mundo tão repleto de incertezas e medos que, incrivelmente, parece que somos reféns da nossa própria vida. Tudo isso também é reflexo da fragilidade a qual estamos submetidos através dos bombardeios cotidianos de notícias veiculadas pela mídia sobre as desgraças alheias. Inevitavelmente, todos esses infortúnios contribuem para aumentar ainda mais nossa sensação de insegurança e temor; podendo contribuir para evolução de doenças psíquicas como transtornos de ansiedade e síndromes do pânico, por exemplo.

    Mas se engana que essas são características da nossa época ou cultura. Talvez, os atuais meios de comunicação; ou de como as notícias são facilmente propagadas; ou a globalização (sistema no qual as ações em determinados países podem disseminar reações em outros), tenha contribuído para iludir nossa percepção de que vivemos em épocas de insegurança nunca antes conhecidas.

    Ora, diante de todas essas inseguranças e precariedades, é justo se privar de determinados atos? Vale à pena abdicar da liberdade e deixar de realizar nossas vontades com medo de um futuro que nem sabemos se vai se concretizar? Nossos medos determinarão nossas felicidades? Nossas privações prolongarão nossos dias de vida? Quem garante que na segurança do nosso lar não podemos ser atingidos por algum tipo de infortúnio?

    Obviamente que não é fácil lidar com nossos medos e às vezes podemos até precisar de uma ajuda profissional para lidar com eles. Também é verdade que nossos medos são mecanismos de defesas que podem nos prevenir de alguma armadilha. Mas, ficar refém desses medos impede nosso desenvolvimento social e uma saudável maneira de aproveitar a vida.

    Alguns autores da ciência sociológica defendem a impossibilidade de conciliar segurança com liberdade. Aonde um estar o outro não pode permanecer. Quem é livre não pode ter uma segurança plena; e quem pode se declarar seguro é porque certamente tem sua liberdade privada.

    Mas, convenhamos: só existe uma vida (sem entrar em méritos espirituais ou religiosos). E com exceção daqueles temores e fobias de ordem psíquica e/ou patológica, podemos muito bem conviver com os medos sem deixar de tirar proveito da vida. Afinal, é mais vantajoso se esquivar da sociedade e se privar de um lazer, ou buscar novos desafios e enfrentar a realidade? Tudo deve ser feito com ações moderadas e cautela, porém, prevenção e vigilância em excesso pode privar nossa liberdade de atividades básicas da vida, como: amar, aprender, experimentar.

    *Psicólogo
    (CRP-03/04531) e Pós graduando em Psicologia

     

  • Reforma curricular: sociologia e filosofia tornam o currículo inflado?

    Reforma curricular: sociologia e filosofia tornam o currículo inflado?

    curricculo

    Por Roniel Sampaio Silva

    Nós não costumamos nos posicionar em relação a política partidária, especialmente no período eleitoral. Todavia, quando algum desses candidatos a presidente se referem a disciplina de sociologia é interessante destacar nosso posicionamento.

    No Bom dia Brasil do dia 22/09/2014 a presidente  afirmou:

    “O jovem do Ensino Médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo nas 12 matérias Filosofia e Sociologia. Tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um curriculum com 12 matérias não atrai o jovem. Então, nós temos que primeiro ter uma reforma nos currículos.” (ROUSSEFF, Dilma. No “Bom Dia, Brasil” de hoje).

    Em primeiro lugar, embora reconheço que é necessário avanços no quesito currículo, penso que é ruim a proposta de mesclar disciplinas. Isso porque parece ser não uma preocupação teorico-didática. Parece ser mais uma armadilha do Estado Neoloberal. Existe um desvio de função tremendo de professores lecionando outras disciplinas. Menos de 20% dos professores de sociologia são da área. Pra que 4 profissionais diferentes para lecionar humanidades se eu posso contratar 1 que leciona todas essas matérias sem ter problemas legais? Antes de pensar na questão curricular é necessário melhorar substancialmente a estrutura educacional: carreira, salários atrativos, aumento de professores, aparelhamento das escolas públicas e aprimoramento do controle social para monitoramento dos recursos públicos etc.

    Em segundo lugar, ao tratar da atratividade da organização curricular por parte dos jovens. Vamos comparar o currículo do Brasil com o de outro país.  A educação finlandesa, uma das melhores do mundo, dispõe de mais de 12 disciplinas, pasmem (Ver imagem) ! E olha que é no fundamental. E o governo estuda aumentar a carga horária das humanidades e educação física.

    A tese de que o jovem não se sente atraído por um currículo de 12 disciplinas cai por terra na medida em que a gente compara o Brasil com um país que de fato leva a sério a educação.

    Por favor presidente, mudança do currículo é a última coisa a se pensar, nossos problemas são estruturais. Retirar as disciplinas de sociologia e filosofia não trazem garantia de melhoria  da educação, apenas vai agradar os setores conservadores da sociedade e tirar o foco da raiz dos problemas educacionais brasileiros.

    Referências:

    Distribuição do currículo:
    https://www.pisa2006.helsinki.fi/education_in_Finland/Curriculum_and_assessment/Curriculum_and_distribution_of_lesson_hours.htm

    Fundamentação da proposta curricular:
    https://www.oph.fi/download/47678_core_curricula_upper_secondary_education.pdf

  • O Egoísmo justifica as mazelas sociais?

    O Egoísmo justifica as mazelas sociais?

    O egoísmo é naturalmente humano?

    egoismo em sociedade
    Por Roniel Sampaio Silva
    Certa ocasião, ouvi um ex-professor comentar que o mundo só poderia ser tal qual é porque o nosso sistema econômico e social é compatível com a essência humana. “Apenas o capitalismo dá certo porque o ser humano é puramente egoísta, narcisista e essencialmente competitivo.”  Alguns anos depois, procuro respostas na Biologia e na Psicologia. Encontro alguns respostas diferentes das quais meu professor argumentou. Não penso que o egoísmo seja constituinte de uma essência humana majoritariamente. O homem e a mulher são ambivalentes. Se por um lado existe uma região no cérebro responsável pela agressividade, transitoriedade, hierarquia, lideranças que na árvore filogenética surge a partir dos répteis répteis – o hipotálamo. Daí vem a expressão “matou a sangue-frio”, numa alusão a frieza dos répteis. Da mesma forma existem estruturas biológicas que favorecem o cooperativismo entre as espécies – sulco temporal. Esse foi o fator de relevo na evolução da espécie humana segundo Piotr Kropotkiin. Portanto, o sistema límbico humano  dá suporte tanto para nos comportamos de maneira egoísta como altruísta. Claro, que o sistema líbico é bem mais complexo que isso, todavia, o fato é que existe suporte biológico para relações tanto de competição quanto de cooperação, tanto altruístas como egoístas.Desta forma, podemos dizer que tanto o egoísmo e altruísmo fazem parte da condição humana. O meio (físico e social), atrelado à economia, educação, cultura e política faz com que determinada característica possa ser mais evidente que a outra. Assim, cria-se a falsa percepção de que o egoísmo faz parte de uma essência hegemônica natural dos seres humanos, fato que explica as mazelas sociais as quais estamos inseridos de uma sociedade pautada na competição e no individualismo. É como se a realidade tal qual é fosse a única possível porque somos exclusivamente egoístas. Somos, até certo ponto. Mas também temos fortes estruturas biológicas evolutivas que nos nos dão condições para para o senso de coletividade.  Seguir o caminho do altruísmo ou do egoísmo numa humanidade à beira de uma possibilidade de colapso gerado pelas mazelas sociais será um grande teste para saber se a espécie humana merece ou não ser perpetuada.

    Vale destacar que essas constatações da ciência já eram especuladas muitos anos antes por sociedades tradicionais. Para finalizar, um diálogo entre e um índio do povo Cherokee e seu neto: Dentro de mim existem dois lobos. “É uma luta terrível e é dois lobos antagônicos. Um é mau -. Ele é a raiva, inveja, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, auto-piedade, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego.”Ele continuou: “O outro é bom – ele é alegria, paz, amor, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé. Esta batalha está acontecendo dentro de você. – E dentro das outeas pessoas também.O neto pensou sobre isso por um minuto e depois e perguntou ao seu avô: “Qual lobo vai ganhar?”  O velho Cherokee simplesmente respondeu: “O que você alimenta.”

    Referência bibliográfica KROPOTKIN, Peter. Mutual aid: A factor of evolution. Courier Dover Publications, 2012.

    Referência bibliográfica
    KROPOTKIN, Peter. Mutual aid: A factor of evolution. Courier Dover Publications, 2012.
  • Eleições: momento de reflexão*

    Eleições: momento de reflexão*

    Por Maria Benedita de Paula e Silva Polomanei

     

    Estamos vivendo mais um momento histórico com a chegada do dia 07 de outubro. Neste dia estaremos entregando a nossa cidade, Canoinhas, nas mãos de novos representantes políticos. Ou será dos mesmos? Não é minha intenção, nessas linhas, defender um candidato ou partido político embora tenha minha opinião formada. O objetivo é provocar uma reflexão sobre a importância de uma educação política para a formação do cidadão ativo que faz a diferença no meio em que está.
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    O momento exige comprometimento político de quem vota e de quem pretende ser votado. Nos bares, nas ruas e rodinhas de discussões o tema parece ganhar ênfase. Uns demonstram responsabilidade ao afirmar que irão analisar propostas, as ações já realizadas. Outros não demonstram preocupações e pensam em como tirar proveito da situação e seguem conforme a força do vento. Esperam-se melhorias na educação, na saúde, em segurança e infraestrutura, pois a Princesa Gentil do Planalto clama por desenvolvimento econômico/ político/cultural. Sendo assim, faço o convite para buscarmos uma compreensão mais apurada desse processo. E inicio questionando: Você sabe o que é política? Ou é do tipo que torce o nariz e diz não gostar de política? Quem sabe, você se enquadre ao analfabeto político, àquele descrito por Bertolt Brecht que não ouve, não fala e nem participa dos acontecimentos. Se você está insatisfeito com a vida que leva, com a forma em que as coisas se acomodam, é necessário mudar, sair da zona de conforto momentâneo e correr atrás de melhorias que sustentem um amanhã mais significativo.
    Hannah Arendt (filósofa política alemã de origem judia do século XX) pode nos ajudar nessas reflexões. Defende que a política baseia-se no fato da pluralidade dos homens. Ela deve, portanto, organizar e regular o convívio de diferentes, não de iguais. Surge não no homem, mas entre os homens, defendendo que a liberdade e a espontaneidade são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre homens, onde só então se torna possível a política, a verdadeira política. O sentido da política é a liberdade que precisa ser construída, conquistada no diálogo, no exercício da Democracia que não se concretiza apenas no gesto de votar, mas na luta diária em prol de projetos que, embasados em políticas públicas coerentes e geridos com responsabilidade, possam contribuir para melhores condições humanas, bases para a conquista da liberdade almejada.
    Continuando com as ideias defendidas pela autora já citada, o homem tem o dom de fazer milagres, pois, pode agir/tomar iniciativa/impor um novo começo deixando de ser marionete com destino fora do seu ser. E, reportando-me à canção de Almir Sater e Renato Teixeira, para melhor ilustrar o argumento, para poder exercer esse dom de ser capaz e de ser feliz, a que a letra se refere, dever-se-á fazer uso de uma ferramenta chamada pensamento. Essa ferramenta capaz de desbravar novos horizontes, gerar grandes ideias, ideias que possam tomar forma através de mãos responsáveis. E de quem poderão ser essas mãos? Respondo que poderão ser de pessoas lúcidas que, ao gerir um País, Estado ou Cidade, compreendam que política se faz num processo de trabalho conjunto para o bem comum. São ações que acontecem em público, pois o público, segundo Arendt, é o espaço original do Político.
    Portando, não vamos votar em quem se esconde dentro de gabinetes, atrás de leis que não respeitam a cidadania daquele que, a seu modo, mas com ética também, ajuda a construir a nação. Não votemos naquele que, por meio de falsos discursos, levanta bandeiras que não se sustentam no campo da ação e continuam a ludibriar aqueles que, inocentemente, acreditam em falsos representantes. Está sendo dada mais uma chance para apostarmos nas lideranças corretas. Vamos analisar com cuidado. O momento exige discernimento, racionalidade. Caso contrário, serão quatro anos de arrependimento que poderão representar grandes prejuízos em termos de crescimento, de avanços qualitativos nas áreas já citadas: segurança, saúde, educação…
    • Publicado em:
    BAZZANELLA (org). Crônicas do Desenvolvimento II. Conoinhas: Universidade do Contestado. 2013. 211p.
  • A Sociologia, o som e o silêncio

    A Sociologia, o som e o silêncio

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    Por Roniel Sampaio Silva
    Este texto tem por objetivo apontar algumas reflexões sociológicas preliminares acerca da percepção e construção social da freqüência captada por nossos ouvidos. Será que os sons são fruto apenas do seu meio emissor?
    Nosso corpo dispõe de um dos aparelhos mais incríveis que se possa imaginar: o ouvido. Podemos ouvir frequências entre 20 e 20 mil Hertz. Todavia, nossa audição, se comparada a de outros animais, está muito aquém em desempenho. Tanto é a percepção auditiva de nossa realidade, quanto nossa própria realidade tem mudado. Os ruídos da cidade estão nos deixando mais surdos do ponto de vista fisiológico (e porque não, cognitivo?) Mas o que isso tem a ver com Sociologia?
    Em primeiro lugar é
    preciso que categorizemos a freqüência captada pelo ouvido. O que ouvimos trata-se de um ruído ou música? Independentemente do gênero, a musical tem características que a peculiariza tais como, melodia, harmonia e ritmo. Para além do domínio de teoria musical é preciso compreender que aprendemos a ouvir a partir do que nos é dito. Todavia, o que um grupo considera música nem sempre é aceito por outro como tal. Desse modo, o conceito de música que cada um tem traz consigo uma bagagem etnocêntrica, o qual o habitus do indivíduo vai fazendo com que determinado ritmo musical se torne mais preferível e “audível”. O processo de socialização vai ensinando ao ouvido entender essas diversas linguagens.
    Outro ponto importante diz respeito a analisar a mudança social a partir da música. Para nós sujeitos pertencentes a mesma geração fica um pouco difícil perceber as transformações da tecnologia e da sociedade. Weber já apontava que a mudança da técnica acarreta na mudança da música. Ora, se a técnica tem proporcionado transformações da sociedade essa tem influenciado igualmente a técnica; é uma via de mão dupla. Neste sentido, por exemplo, podemos citar que o hábito de ouvir música com fones revela uma tendência de individualização acentuada no mundo ocidental capitalista e essa tendência induz a produção e reprodução de um tipo de tecnologia.
    Sugiro fazermos uma reflexão entorno do surgimento de bandas do gênero emocore (emotive hardcore). Essas primeiras bandas costumava ter em suas música um apelo a ideologia punk, criticando os abusos do regime capitalista. Com as diversas transformações sociais e a descrença numa mudança de sistema econômico, acredita-se que tais bandas migraram seus temas para assuntos mais subjetivos e emotivos. A migração de estilo, ritmo e técnicas musicais pode revelar aspectos da mudança de comportamento e pensamento dos sujeitos e grupos, bem como sua aceitação.
    A música promove uma interação porque aponta para uma linguagem. Nem sempre esta linguagem é facilmente compreendida pelos sujeitos, algumas vezes ela se torna inconsciente. É nesse sentido que a sociologia busca entender o som como elemento simbólico, construído pelo homem. A partir de uma leitura apurada é possível fazer uma reflexão sobre estes sujeitos.
    Não apenas o som é uma linguagem, mas também a ausência dele, o silêncio. Como diria Freud, somos não apenas o que dizemos, mas aquilo que deixamos de dizer. Algumas vezes o silêncio/hesitação fala muito mais do que outra linguagem. No mundo que atualmente vivemos o silêncio está cada vez mais efêmero e distante, e tem dado lugar a ostentação sonora de motores e sons de carros.
    Façamos deste mundo um local mais silencioso porque é principalmente nele que se faz a reflexão. Antes do silêncio, faça uma reflexão ouvindo nosso podcast.
  • O silêncio como elemento civilizador

    O silêncio como elemento civilizador

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    Por Roniel Sampaio Silva
    A natureza é cheia de sons, silêncios e barulhos. Quando nascemos nos rebentamos numa explosão de prantos e gritos. Nossa primeira grande lição de socialização é sobre o barulho e o silêncio. O silêncio significa geralmente que está tudo bem; o barulho, o choro significa que algo está errado ou incompreendido. A nossa segunda lição também está na dialética do silêncio e do barulho. Ouvimos os ruídos das vozes de nossos pais e aprendemos a linguagem. Sem o silêncio da observação, não há o sentido na linguagem, apenas barulho. Portanto, o silêncio sempre precede o aprendizado. O som emitido por sua vez, pode virar uma mensagem ou não, dependendo do ouvinte. Quando esse som não faz sentido para nós, é chamado barulho, quando faz parte do nosso universo simbólico, transforma-se em: fala, música, poesia, discurso, política, ciência etc. Portanto, caros ouvintes, façamos do silêncio o ponto de partida para o aprendizado, para o crescimento, para a compreensão do mundo. Torna-se necessário o reaprender o tempo do silêncio e do som. Cada momento de reflexão no silêncio pode gerar um som posterior e cada som pode gerar um silêncio. Embora sejam antagônicos, eles são complementares. Desta maneira, não é possível haver cognição na confusão dos sons uma vez que é apenas através do silêncio de nós mesmos que podemos selecionar os sons de vozes, de músicas para darmos sentidos e interpretá-los com base no que aprendemos socialmente. Ou seja, é somente no silêncio que aprendemos a dar sentido aos sons, por isso que torna-se crucial se abrir para ouvir muito mais que falar.  Nesse mundo extremamente barulhento, cujos ruídos, onomatopeias urbanas fazem parte da nossa paisagem sonora, é crucial pensar em silêncio. A final é no silêncio da nossa mente que se consolida as mais barulhentas ideias e é sempre necessário haver silêncio para que as pessoas dialoguem.