Teoria da Escolha racional: pequeno comentário de introdução

 

A Teoria da Escolha Racional (TER), de acordo seus promotores, proporcionou nova força aos postulados da racionalidade, ou seja, na procura do próprio interesse por parte do indivíduo, entendido como o direito natural e a lei natural, o qual advoga pela liberdade de usar o próprio poder para conservação da vida e a propriedade. Esta, entendida como “o preceito ou regra geral que estabelecida pela razão que proíbe o ser humano a autodestruição” (HIGGINS, 2005, p. 178).
De acordo com Higgins (2005, p. 179),
A TER assume que a ação individual é instrumental num duplo sentido: por uma parte, o ator sempre está em busca de objetivos determinados mediante a escolha dos meios mais apropriados, e por outra, uma vez atingido o objetivo, tira a máxima utilidade do mesmo.
De acordo com Carvalho (2010), a TER ressalta a relação de desejos pessoais com os limites do ambiente externo, o que leva o indivíduo a determinar uma escala de preferências frente ao contexto de transações que o envolve objetivamente. Movido por seus desejos individuais, o indivíduo busca realizar escolhas que julga ser o melhor para si. Porém, nem sempre possui informações suficientes para a tomada de decisão. Desta forma, quando a realidade que o envolve trata-se de um jogo repetido[1], tal indivíduo tende, a partir da observação que faz das regras e dos jogadores, a agir de forma que seus benefícios sejam maximizados e seus custos reduzidos. Esta forma de interpretar as ações sociais é amplamente utilizada por diversos teóricos sociais, como afirmou Coleman, teórico que apresenta grande contribuição para este trabalho:
O nível individual da teoria da ação que usarei neste livro é a mesma teoria proposital da ação utilizada no estudo de Weber sobre o protestantismo e o capitalismo. É a teoria da ação utilizada implicitamente pela maioria dos teóricos sociais e pela maioria das pessoas na psicologia de senso comum que sublinha a interpretação de suas próprias ações e as alheias (COLEMAN, 1994, p. 13).

Boudon (1998 apud HIGGINS, 2005, p. 179), afirmou que o auto-interesse é a melhor explicação do comportamento, o que não significa que outros postulados não sejam válidos. Afirmar que uma dada motivação é a melhor explicação para a ação social, não é o mesmo que dar-lhe exclusividade de capacidade explicativa ou que seja uma explicação completa ou conclusiva.


 

[1] O conceito de Jogo repetido está associado ao contexto em que o participante já tem conhecimento das regras e funcionalidades da situação devido a repetição dessa mesma situação em momentos anteriores.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

2 Comments Deixe um comentário

  1. A proposta do site é bastante interessante. Percebe-se o domínio dos assuntos abordados pelos autores, mas gostaria de fazer algumas sugestões para torná-lo mais atrativo. A página está bastante poluída de informações e propagandas. No canto direito há links interessantes, mas esteticamente, não tornam o site atrativo. Minha sugestão é que criem uma página no próprio site e que reúna esses links.
    Sei que as propagandas trazem um retorno financeiro, o que acho digno, mas torna-se dificultoso e exaustivo buscar por outros escritos seus.

  2. O texto está muito bom! Perfeito para um blog.
    Só ficaram faltando as referências bibliográficas, em caso do leitor buscar uma leitura mais aprofundada e na íntegra sobre os assuntos tratados no texto!
    Abraço

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