Sabe com quem está falando? Status social e relações de poder

você sabe com quem está falando?

O fenômeno do “Você sabe com quem está falando?” é um exemplo interessante da dinâmica social que ocorre em situações de poder e autoridade. Essa frase é usada quando alguém acredita ter uma posição superior a outra pessoa e usa essa posição para impor sua vontade ou exigir tratamento especial.

Para entender melhor essa dinâmica, podemos recorrer a algumas reflexões de intelectuais da área da antropologia. O primeiro autor a ser citado é Pierre Bourdieu, que desenvolveu o conceito de “capital simbólico”. De acordo com Bourdieu, esse tipo de capital é adquirido por pessoas que têm uma posição de poder na sociedade e é baseado em atributos como educação, prestígio, conhecimento, entre outros (BOURDIEU, 1986). Quando alguém usa a frase “Você sabe com quem está falando?”, está buscando afirmar sua posição de poder e, portanto, reforçar seu capital simbólico.

Outro autor relevante para discutir o tema é Michel Foucault. Em sua obra “Vigiar e Punir”, Foucault argumenta que a sociedade moderna é marcada por um sistema disciplinar que funciona através do controle das relações de poder. Segundo Foucault, essa disciplina é exercida não só pelas instituições de poder (como o Estado), mas também pelas próprias pessoas, que reproduzem em seu cotidiano as relações de poder presentes na sociedade (FOUCAULT, 1999). Dessa forma, o uso da frase “Você sabe com quem está falando?” pode ser visto como uma reprodução dessas relações de poder, em que uma pessoa busca impor sua vontade a partir de sua posição privilegiada.

Finalmente, podemos mencionar Erving Goffman, que em sua obra “A Representação do Eu na Vida Cotidiana” discute a importância da interação social na construção das identidades das pessoas. Segundo Goffman, as pessoas estão constantemente envolvidas em processos de representação de si mesmas, em que tentam passar uma imagem específica para os outros (GOFFMAN, 2012). Quando alguém usa a frase “Você sabe com quem está falando?”, está buscando representar a si mesmo como uma pessoa poderosa e influente, reforçando assim sua identidade social.

Em síntese, o uso da frase “Você sabe com quem está falando?” é um exemplo da dinâmica social presente em situações de poder e autoridade. A partir das reflexões de autores como Bourdieu, Foucault e Goffman, podemos entender melhor como essa dinâmica funciona e quais são seus efeitos na sociedade.

Referências:

BOURDIEU, P. Distinction: A Social Critique of the Judgment of Taste. Cambridge: Harvard University Press, 1986.

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1999.

GOFFMAN, E. A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

Sugestao de texto

A sugestão é:
Após trabalhar a temática “status sociais” é possível aprofundar a questão mostrando a peculiaridade do Brasil em usar uma frase (Você sabe com quem está falando?) para se impor por meio de seu status social. Trata-se de relações conflituosas, a qual pode ser exemplificada com um estudo de caso (que indico abaixo).
Segue abaixo…

Nome do artigo: “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?” ESTUDO SOBRE HIERARQUIA E PODER
Ricardo Franklin Ferreira e Mário Kitsuwa

Resumo

A mídia noticiou uma decisão judicial obrigando funcionários da portaria de um condomínio a tratar por ‘doutor’ ou ‘senhor’ um juiz que lá residia. Baseado nesse caso, o presente artigo analisa como se dá o exercício de poder numa sociedade hierarquizada, como a brasileira. A partir de pesquisa documental, foram coletados alguns documentos expedidos pelo condômino-juiz, como a petição e a apelação, bem como decisões expedidas pelo Poder Judiciário. Os resultados indicaram que todos os envolvidos fizeram uso de estratégias, buscando satisfazer a seus interesses, sugerindo que o poder não é privilégio exclusivo de
alguma categoria social, mas um recurso distribuído em toda a sociedade. Constatou-se, ainda, a predominância de uma lógica hierárquica em todos os discursos. Múltiplos fatores parecem contribuir para a manutenção desse modo de pensar, trazendo assim implicações para a construção da democracia.

Palavras-chave: poder; hierarquia; relações de dominação; Psicologia Social.

Para ter acesso ao artigo completo basta acessar https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/viewFile/938/1089

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

1 Comment

  1. Existe sim uma lógica hierárquica nas relações sociais do dia a dia. Em cidades do interior quando não se é "doutor" pergunta se: "você é filho de quem?"; "quem é sua família?"

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