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Pareidolia ideológica e macartismo tupiniquim: escola sem partido, patrulhamento ideológico e repressão

Pareidolia…

Ideologia paranoica: macartismo no Brasil*

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Por Roniel Sampaio Silva

A psicologia classifica como pareidolia uma associação a um estímulo aleatório, assistemático e vago que atribui uma imagem ou som a um significado conhecido; por exemplo,  atribuir contornos conhecidos a nuvens de forma aleatória e subjetiva. Geralmente a pareidolia está associada aos fenômenos tidos como sobrenaturais, cuja comprovação empírica é inexistente visto que para as testemunhas a associação daria um falso caráter auto-evidente e “inequívoco” ao fato. Ao que parece, o fenômeno da pareidolia se estende não apenas às imagens e aos sons, mas também  às ideologias. No Brasil a pareidolia ideológica tem andado de mãos dadas com o macartismos e tem tomado repercussão alarmante.

O macartismo diz respeito a uma postura política inspirada pelo Senador norteamericano Joseph McCarthy (1908-1957). Tal postura está associada a perseguição ou repressão política fundamentadas na demagogia e sob forte apelo nacionalista de acusação de traição sem haver evidências. A prática foi comum nos EUA durante a Guerra Fria, sendo os principais alvos membros de esquerda, sobretudo os simpatizantes do comunismo e do socialismo.

No cartaz "Miscigenação é comunismo". Protesters in Little Rock, Arkansas, (1959);
No cartaz “Miscigenação é comunismo”. Little Rock, Arkansas, (1959).

Algumas década mais tarde no Brasil, nos últimos 2 anos,  temos acompanhado com cautela as propostas endossadas por um grupo partidário que se autointitulaEscola sem Partido“. Esse grupo tem difundido a ideia de que a escola brasileira está sendo consumida deliberadamente, sistematicamente e de forma generalizada pelo assédio de professores de esquerda. Os partidários do Escola sem Partido, assim como no macartismo, criam um fato político para atacar seus adversários por meio da censura e perseguição.  O mais curioso é que os defensores, negadores da ideologia e negadores destas, como bons macartistas que são, não se fundamentam em evidências sólidas daquilo que dizem defender.

Além disso,  como não têm uma boa base escolar, não têm o menor conhecimento de conceitos básicos do que tanto criticam. Para eles toda a educação está fadada ao fracasso porque é doutrinada; doutrinada pelo comunismo. Tudo é comunismo: gênero, Constituição de 1988, debate de igualdade racial, tolerância religiosa, diversidade de toda natureza, políticas de discriminação afirmativa, políticas de distribuição de renda, denúncia dos abusos do capital econômico, atentando contra qualquer liberdade individual, etc. Tudo sem nenhuma base empírica ou  conhecimento de causa, apenas fundamentado na histeria coletiva.

Manifestantes que consideram o Brasil uma ditadura comunista.

Embora a pareidolia ideológica macartista no Brasil tenha ganhado força nesse momento, não é nenhuma novidade por aqui.  Durante a Ditadura Militar, o Poeta Ferreira Gullar foi preso por ter em sua estante o livro “Do cubismo à arte concreta” sob acusação de ligação com o governo de Cuba.  Um traço marcante da pareidolia é a ignorância de sequer saber o que se está combatendo.

Ferreira Gullar

A pareidolia ideológica é essencialmente macartista porque sempre parte de uma acusação. Tanto mais ignorantes no assunto serão as pessoas a ponto de não saber o que combatem, tanto mais elas vão apontar para os outros e afirmar que que tudo que elas não entendem e não aceitam é comunismo.

É muito curioso ver que um país como nosso está vivendo o mesmo período de macartismo da segunda metade do século XX, como viveram os Estados Unidos. Somos hoje um país que tem mergulhado numa ideologia do ódio sem fundamento contra a pluralidade da escola e o debate político. As “bolhas das redes virtuais parecem querer ser ampliadas à força para todos os espaços de debates, assim, o intuito é que uma única ideia se fortaleza: da direita, àquele pseudo posicionamento neutro. Como diz o professor de História, Leonardo Karnal, “neutro mesmo só sabão!”.

 

Como citar:

SAMPAIO-SILVA, Roniel. Ideologia paranoica: macartismo no Brasil. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/pareidolia-ideol…tismo-tupiniquim/> 

 

Nota:

* Texto originalmente publicado em 07 de julho de 2016 aqui no Blog Café com Sociologia.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

14 Comments

  1. Hipocrisia uma pessoa tão inteligente dizer que isso tudo que está acontecendo no Brasil é delírio da direita. Sabemos que o marxismo cultural está à décadas tomando o ensino no país, lembre-se da máxima da revolução esquerdista (Comunista/Socialista): “Tomemos escolas, não quarteis”. Sei que é impossível atingir a imparcialidade, mas deve ser um ideal a almejado. Ou pelo menos dar a chance a todos os lados de se manifestar, não apenas impor uma única “verdade” dos fatos.
    Matéria totalmente tendenciosa e parcial, que tenta desacreditar e desqualificar a pequena, mas crescente, direita do Brasil.

    • Pela forma que escreve já podemos notar que o Sr. Leandro tem a sua visão de mundo, pequena e tendenciosa mas a sua visão que é alimentada todos os dias pelos noticiários e revistas, além do circulo de amizades que compactuam com a sua “causa”, ele não fala sobre o conteúdo do artigo em si mas “vomita” os velhos ditos e mitos, da esquerda no Brasil, esquerda essa que hoje de tão fragmentada não sei se podemos chamar de esquerda realmente, fala que é impossivel atingir a parcialiadade ou seja então que seu lado prevaleça, pois o diálogo é interessante desde que se fale o que ele quer ouvir, esse é o caso do típico cidadão sem identidade nem cultural ou social, pensa que é neoliberal, mas não conhece seus autores, chama os EUA de modelo mas se for para lá não será nada mais que um “latino” vagabundo ilegal ou “Alien” como o próprio Donald Trump afirma e a única coisa que fez foi sair com a camisa da “CBF” nas ruas para ajudar em um golpe parlamentar onde quem venceu foi a corrupção como vemos hoje, a melhor forma de resumir o seu pensamento tacanho e rasteiro é usar uma daquelas camisetas “I´m with a stupid” e sentar ao seu lado, mas o seu nome também poderia ser ao invés de Leandro um Eduardo Bolsonaro da Cunha ou as vezes não é? pois na internet podemos ser quem quisermos…

    • Você parte do pressuposto de que existe uma doutrinação comunista/socialista. Gostaria de pontuar apenas duas perguntas:

      1- Qual pesquisa cientifica você fundamenta sua tese? Qualquer pessoa por mais paranoica que seja pode repetir exaustivamente um fato ate que outras pessoas endossem o coro.

      2- Se existe uma doutrinação comunista porque não houve tomada das ruas e uma revolução para deter o afastamento do governo “comunista” do PT?

      😉

      • O Roniel está certo.Se esta doutrinação está no nível que os indivíduos com inclinação ao autoritarismo dizem já teria ocorrido uma revolução socialista no Brasil.

  2. Ser da área… mães não são da área de economia e sabe muito mais de economia que Ciro Gomes, que é um dos mais renomados dessa área. Entusiastas de informática sabem mais de sistemas de arquivos do que os engenheiros da informática. YouTubers conseguem entreter mais os seus espectadores do que os espectadores de televisão. Atribuir conhecimento só por que as pessoas não são da área não quer dizer nada, o que se deve observar é a prática, não a teoria.
    E na prática todos nós sabemos que nossos estudantes são doutrinados todos os dias.
    Atualmente curso o 3º ano do ensino médio, e só me deparo com imagens de socialistas em meus livros (mais especificamente os de História e de Sociologia), e nunca meus professores ou livros mostram os outras histórias. Qualquer tentativa de refutar meus professores ou tomamos uma nota ruim ou somos ignorados.
    Recentemente minha professora de Geografia exibiu um vídeo na sala de aula da visão da Globalização por Nilton Santos, totalmente marxista (ele mesmo disse no vídeo que ele se declara marxista), não vou lhes dizer que minha professora nem se deu ao trabalho de pesquisar outras visões para passar para meus colegas de sala.
    Meu livro de História estampa a cara de Che Guevara na página 80, não fala bem não fala mal, mas fala SOMENTE e EXCLUSIVAMENTE dele.
    Não sou a favor da escola sem partido, considero que as ideias do liberalismo são as únicas que funcionaram até agora, e pra mim as escolas nem estatais deveriam ser.
    Não vou nem contar a experiência de desespero que tive ao ver aqueles vídeos e culpando sempre o liberalismo ou o “neoliberalismo”, ou até mesmo o “direitismo” de desconstruir economias de países e sempre a intervenção estatal sendo declarada com algo que salvou um país.

  3. To gostando do debate…
    Na verdade ambos fazem A MESMA COISA.
    Sao apenas “pessoas”, cada um da o que tem. Em ambas ideogias existe material farto para preconceito,cizania,brigas etc. Nos dois lados tem gente de todo tipo. Os dois lados vao se egalfinhar para sempre,porque para sempre vai existir pessoas permeaveis à tudo de ruim q algo possa oferecer, e as duas ideogias tem coisas q nao prestam. E tambem muita coisa boa.
    É mais ou menos igual evangelico: a biblia fala de Jesus,de bondade,de tolerancia,de amor..mas a pessoa se identifica com o preconceito e na condenacao alhei aos quintos dos infernos. Sao pessoas e nao a biblia,nem Marx e nem Hitler(a grosso modo).

    Q merda tem haver isso com o debate??
    Considero q nao falo com qm quer q seja(direitista,esquerdista,centrista,humorista e por ai vai),considero q falo com PESSOAS, se eu vejo q a pessoa tem ma vontade,nao esta disposta a mudar o pensamento,nao esta disposta a discutir um bom papo,ainda q nao seja o q ela acredite, vejo q nao estou conversando com “coxinha” e nem com “mortadela”, estou conversando com um ARROGANTE, e nesse caso,nem inicio o debate, “deixa pra la”.

  4. Acho tão fantástico esse texto que de tempos em tempos volto a ler e sinto possível associar à cada fato novo decorrente do dia-a-dia. Só quero agradecer e parabenizar o autor mesmo pela obra-prima. Obrigado.

  5. O bla, blá, blá, de sempre, só para refletir: voltei a estudar, depois de anos, ( no caso parei no início dessa mudança toda, e de iniciação ideológica). Enfim, concluí meu fundamental há dóis anos, e agora estou cursando o médio, por mais incrível q pareça todos os professores sem exceção, todos esquerdista, (” para deixar claro não defendo partido político algum”) “a maioria de minha idade,(35) para mais” como esplicar q não a doutrinação?

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