Medo, Segurança, Liberdade

 Por Vladimir de Souza Nascimento*

Vivemos em um mundo tão repleto de incertezas e medos que, incrivelmente, parece que somos reféns da nossa própria vida. Tudo isso também é reflexo da fragilidade a qual estamos submetidos através dos bombardeios cotidianos de notícias veiculadas pela mídia sobre as desgraças alheias. Inevitavelmente, todos esses infortúnios contribuem para aumentar ainda mais nossa sensação de insegurança e temor; podendo contribuir para evolução de doenças psíquicas como transtornos de ansiedade e síndromes do pânico, por exemplo.

Mas se engana que essas são características da nossa época ou cultura. Talvez, os atuais meios de comunicação; ou de como as notícias são facilmente propagadas; ou a globalização (sistema no qual as ações em determinados países podem disseminar reações em outros), tenha contribuído para iludir nossa percepção de que vivemos em épocas de insegurança nunca antes conhecidas.

Ora, diante de todas essas inseguranças e precariedades, é justo se privar de determinados atos? Vale à pena abdicar da liberdade e deixar de realizar nossas vontades com medo de um futuro que nem sabemos se vai se concretizar? Nossos medos determinarão nossas felicidades? Nossas privações prolongarão nossos dias de vida? Quem garante que na segurança do nosso lar não podemos ser atingidos por algum tipo de infortúnio?

Obviamente que não é fácil lidar com nossos medos e às vezes podemos até precisar de uma ajuda profissional para lidar com eles. Também é verdade que nossos medos são mecanismos de defesas que podem nos prevenir de alguma armadilha. Mas, ficar refém desses medos impede nosso desenvolvimento social e uma saudável maneira de aproveitar a vida.

Alguns autores da ciência sociológica defendem a impossibilidade de conciliar segurança com liberdade. Aonde um estar o outro não pode permanecer. Quem é livre não pode ter uma segurança plena; e quem pode se declarar seguro é porque certamente tem sua liberdade privada.

Mas, convenhamos: só existe uma vida (sem entrar em méritos espirituais ou religiosos). E com exceção daqueles temores e fobias de ordem psíquica e/ou patológica, podemos muito bem conviver com os medos sem deixar de tirar proveito da vida. Afinal, é mais vantajoso se esquivar da sociedade e se privar de um lazer, ou buscar novos desafios e enfrentar a realidade? Tudo deve ser feito com ações moderadas e cautela, porém, prevenção e vigilância em excesso pode privar nossa liberdade de atividades básicas da vida, como: amar, aprender, experimentar.

*Psicólogo
(CRP-03/04531) e Pós graduando em Psicologia

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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