Contenção aos movimentos sociais: da ordem imediata à desordem de/à longo prazo.

Por Roniel Sampaio
Silva
Um dos grandes legados ideológicos
do Brasil é o positivismo. Prova disso é nosso lema comteano “Ordem e
progresso” na bandeira nacional. Até hoje essa filosofia é muito forte e vem
sendo transmitida como um dos grandes pilares da nossa sociedade como valor moral
sacramentado que é constantemente profanado. Todavia, o que se constata é que a
ordem e o
progresso são direcionados apenas ao que se convém, perdendo-se nos
discursos.
Estamos acompanhando o processo
de fermentação de duas grandes situações emblemáticas vivida pelo nosso país,
cheio de contradições. A primeira diz respeito ao conflito envolvendo fazendeiros
e índios
Terena
, a segunda envolve os protestos populares pela melhoria do acesso
aos transportes
públicos
. Pretendo fazer uma análise preliminar a

partir do positivismo, avaliando
as contradições dos discursos para além do “Ordem e progresso.”

Quando os índios são expulsos de
suas terras as quais têm seu vínculo comprovado, tal barárie se
diz em nome do progresso.  Sabe por quê?
Porque “os índios são improdutivos, não plantam soja transgênica, eles não
produzem nem pra sobreviver”, diria o assíduo receptor passivo de telejornal.
Não produzem nada além de uma cultura retrograda que respeita idosos e
crianças. Coisa que não precisamos aprender.
Quando ativistas em prol da
redução da tarifa pública vão para as ruas, se ouve “Ordem! Ordem! Ordem! Nesse
pais de baderneiros”. Ordem para quem? Para os políticos nos seus complôs de
gabinete vandalizarem com o nosso dinheiro e com uma política que diz respeito
a nós? Quem são os
baderneiros e vândalos?
Como diria o Prof Dr Valdemar Pires, em sua página
no Facebook, “Vamos fazer um acordo: manifestação sem baderna a troco de
informação sem manipulação e política sem safadeza. Quem conseguir primeiro, avisa
o outro para o jogo começar”…
Baderna se combate com que? Com
política? Não, com polícia. Podemos pensar que a polícia combate
o sintoma, a manifestação popular, mas não a doença, isso porque o positivismo
míope não percebe a doença. Muitos setores conservadores visualizam o movimento
social como baderna. Numa instancia pontual e não como processo que com
deflagra esses movimentos.
Mas afinal o que é dersordem se
não o fato de um trabalhador comprometer sua renda para locomover-se em favor
de um grupo que tem ganância por lucros. Os reajustes são constantes e não se
discute um transporte mais acessível. Seria, esses ajustes, parte dos acordos com
quem financiou as campanhas eleitorais? A resposta é obvia!
Daí vem a polícia para combater a
ordem imediatista, quando a ordem a longo prazo se faz com política.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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