O que é habitus?[1]
Pedro Barboza[2]
Rodolfo Ferreira[3]
Uma das armadilhas em que podemos cair quando estamos no campo das Ciências Humanas é entrar cada vez mais na especificidade das discussões, esquecendo-nos das grandes questões que motivam os pesquisadores a desenvolver suas teorias. Falando particularmente da Sociologia, a relação entre indivíduo e sociedade pode ser considerada como um dos problemas mais importantes desde o seu nascimento enquanto campo específico do saber, em meados do século XIX. O conceito de habitus é uma tentativa original de encontrar resposta para essa questão. Embora tenha longa tradição, as apropriações e debates contemporâneos sobre o termo têm grandes referências nas reflexões desenvolvidas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Esse conceito, a partir da perspectiva bourdieusiana, é uma tentativa de relacionar nossas ações individuais com os condicionamentos que recebemos da sociedade.
Bourdieu afirmava que com o habitus queria chamar atenção às capacidades que temos para agir em sociedade. Essas capacidades não seriam produtos da “natureza humana” e nem de uma “razão universal”, e sim consequências da própria inteligência e vivência dos indivíduos. A partir disso, entendemos que habitus quer dizer muito mais do que mera repetição de ações feitas sem que haja uma parcela de responsabilidade e criação. Bourdieu entende que a partir da nossa história, do lugar que ocupamos na sociedade, herdamos certo conjunto de disposições para agir. É a partir dessa “herança” que nossas ações devem ser interpretadas dentro da coletividade.
A posição social ocupada pelo indivíduo garantirá, ainda que muitas vezes não tenha consciência completa disso, todo um conjunto de valores e de ações que influenciará suas atitudes na sociedade. Desse modo, essa herança adquirida a partir de sua posição social se converterá, de maneira prática, em modos de pensar, agir e sentir. Mas atenção: essa herança será processada dentro dos indivíduos de maneira particular. Se admitíssemos que herdamos essas características provenientes de nossas posições na sociedade de maneira automática, cairíamos na perspectiva que dota a sociedade de extrema força a ponto de determinar as ações individuais.
Desse modo, a partir do entendimento bourdieusiano de habitus, as ações que os sujeitos realizam em sociedade podem ser compreendidas justamente no ponto de encontro entre a realidade externa que os cerca e a figura do próprio indivíduo. Traduzindo em expressões que Bourdieu usou muito, é possível perceber o “interior exteriorizado” e “exterior interiorizado”. A sociedade (exterior) está presente em nós na medida em que interiorizamos todo um conjunto de valores e práticas a partir justamente de nossa posição na estrutura social. Do mesmo modo, também podemos ver nosso exterior (a realidade social) sendo composto enquanto o produto de diversos habitus que foram interiorizados pelos indivíduos e que estes “devolveram” ao meio social na forma de ações, pensamentos e palavras.
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Referências Bibliográficas
BARBOZA, Pedro; FERREIRA, Rodolfo. O que é habitus? In: BODART, Cristiano das Neves (Org.). Conceitos e Categorias do ensino de Sociologia, vol. 1. Maceió: Editora Café com Sociologia. 2021.
BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. Campinas: Papirus, 2010.
____________________. Escritos de Educação. Org: Maria Alice Nogueira, Afrânio Catani. Petrópolis: Vozes, 1998.
BRANDÃO, Zaia. Operando com conceitos: com e para além de Bourdieu. 2010. Educação e Pesquisa. São Paulo. vol. 36, nº1, abril.
Como citar este texto:
BARBOZA, Pedro; FERREIRA, Rodolfo. O que é habitus?. Blog Café com Sociologia, mar. 2021. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/habitus/>.
Notas:
[1] Texto derivado de “O que é habitus?”, publicado em “Conceitos e categorias do ensino de Sociologia, vol.1” (2021).
[2] Doutorando em Ciências Sociais pelo Programa de Ciências Sociais-UERJ; Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS-UERJ; Professor de Sociologia no Ensino Médio na rede particular do estado do Rio de Janeiro.
[3] Doutorando em Ciências Sociais pelo Programa de Ciências Sociais-UERJ; Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS-UERJ; Professor de Sociologia e História no Ensino Médio na rede pública estadual do Rio de Janeiro.
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