Para redigir um Artigo de opinião estrutura é necessário compreender alguns pressupostos fundamentais. O artigo de opinião é um gênero textual que transcende sua função comunicativa, assumindo papel central na produção e circulação de ideias em sociedades democráticas. A sua estrutura, embora muitas vezes associada apenas à redação escolar ou jornalística, é elemento constitutivo da prática argumentativa cidadã. A partir da sociologia, é possível compreender esse tipo de texto como instrumento de intervenção simbólica no debate público, refletindo disputas de significados, valores e projetos de sociedade.
Na perspectiva das ciências sociais, o texto opinativo não é um simples reflexo da subjetividade individual, mas sim uma manifestação situada em um campo discursivo mais amplo. Pierre Bourdieu (1996), ao analisar o espaço de produção simbólica, afirma que toda produção discursiva é perpassada por relações de poder e disputas por autoridade legítima. Assim, o artigo de opinião se insere num espaço social em que distintos grupos sociais competem por hegemonia discursiva, tentando transformar sua visão de mundo em senso comum.
A estrutura do artigo de opinião é composta, em linhas gerais, por três partes: introdução (apresentação da tese), desenvolvimento (argumentação) e conclusão (reforço ou reavaliação da tese). Essa tripartição, no entanto, não deve ser encarada de forma estanque, mas como expressão de um movimento dialético que perpassa a construção do texto. A introdução cumpre o papel de situar o leitor e apresentar o posicionamento do autor; o desenvolvimento articula os argumentos que sustentam essa posição; e a conclusão retoma criticamente o percurso feito, reafirmando ou ampliando a tese defendida.
De acordo com Savioli e Fiorin (2006), a argumentação é o cerne do artigo de opinião, e pode ser construída com base em quatro estratégias principais: argumento de autoridade, argumento de consenso, argumento baseado em provas concretas e argumento lógico. Cada uma dessas formas revela diferentes modos de legitimar o ponto de vista exposto, e seu uso qualificado confere densidade ao texto.
O argumento de autoridade, por exemplo, baseia-se na citação de especialistas ou obras consagradas, agregando credibilidade à opinião emitida. Nas ciências sociais, esse tipo de recurso é particularmente valorizado, pois remete a um acúmulo de saber sistematizado. Quando um autor recorre a intelectuais como Paulo Freire para discutir educação, ou a Zygmunt Bauman para refletir sobre a modernidade líquida, ele mobiliza não apenas nomes, mas paradigmas teóricos que ressoam socialmente.
Já o argumento de consenso se ancora em proposições amplamente aceitas pela coletividade, funcionando como ponto de partida comum. No entanto, conforme alerta Vanilda Köche (2009), é necessário distinguir entre consenso fundamentado e senso comum reprodutor de estereótipos. Assim, enquanto a afirmação de que “a educação é o alicerce de uma sociedade justa” pode ser considerada um consenso legítimo, dizer que “o brasileiro é naturalmente corrupto” revela uma generalização preconceituosa sem base empírica.
O argumento baseado em provas concretas, por sua vez, mobiliza dados estatísticos, exemplos históricos e fatos observáveis para corroborar a tese. É uma estratégia frequentemente empregada em textos mais analíticos, permitindo ao autor demonstrar a validade de seu ponto de vista por meio de evidências. Quando o tema abordado é a desigualdade social, por exemplo, recorrer ao Atlas da Desigualdade do Ipea ou a dados do IBGE é uma forma eficaz de ancorar a argumentação na realidade.
Por fim, o argumento lógico articula as ideias de forma causal ou condicional, estabelecendo relações de causa e consequência. Segundo Garcia (2010), essa estratégia exige do autor domínio da coesão e da coerência textual, bem como clareza na organização dos encadeamentos lógicos. A afirmação de que “se o Estado não garante educação pública de qualidade, então a desigualdade tende a se perpetuar” é exemplo de argumento lógico que combina análise social com estrutura textual clara.
É nesse sentido que o artigo de opinião se aproxima da prática sociológica. Ele não apenas expressa uma opinião individual, mas mobiliza argumentos, dados e interpretações que dialogam com estruturas sociais mais amplas. Ao defender uma tese sobre questões como meritocracia, políticas públicas ou inclusão social, o autor está inserido em uma rede de significados historicamente construída, que articula valores, interesses e ideologias.
Para que essa intervenção seja bem-sucedida, a estrutura do texto precisa estar afinada com sua intencionalidade comunicativa. Isso significa que o autor deve escolher cuidadosamente os argumentos que usará, antecipar possíveis contra-argumentos e manter um estilo de linguagem que equilibre clareza e profundidade. Mais do que obedecer a um esquema rígido, é necessário compreender o texto como processo dialógico.
Ao analisarmos, por exemplo, o artigo “O day after, se houver um…”, de Luiz Roberto Serrano, podemos perceber a aplicação prática dessa estrutura argumentativa. O autor inicia seu texto contextualizando a crise política e econômica do Brasil e apresenta sua tese: a necessidade de reconstrução democrática e econômica do país. Em seguida, desenvolve seu ponto de vista com argumentos baseados em provas concretas e raciocínio lógico, apontando as reformas urgentes e os desafios da governabilidade. Sua conclusão projeta o futuro e convoca à reflexão, reforçando a responsabilidade coletiva na construção de uma democracia sólida (Serrano, 2016).
Essa análise mostra como o artigo de opinião, quando bem estruturado, não apenas expõe uma visão de mundo, mas também contribui para a formação da consciência crítica dos leitores. Ele convida ao debate, à reflexão e à ação, cumprindo uma função pública essencial em tempos de polarização e desinformação.
Sob essa ótica, o ensino da estrutura do artigo de opinião deve ir além da técnica gramatical. Ele precisa ser abordado como prática discursiva situada, atravessada por valores e tensões sociais. Ao estimular a produção de textos opinativos nas escolas e universidades, não estamos apenas ensinando a escrever bem: estamos formando sujeitos capazes de intervir criticamente na realidade.
Artigo de opinião estrutura: Argumentação e consciência crítica no artigo de opinião
A estrutura do artigo de opinião se sustenta, primordialmente, sobre a argumentação. Essa não é apenas uma técnica linguística, mas um exercício de racionalidade crítica, de posicionamento diante da realidade e de disputa pelo sentido das coisas do mundo. Como destacam Savioli e Fiorin (2006), o ato de argumentar envolve não só o convencimento, mas também a ética da escuta e do diálogo. Na sociologia, essa perspectiva é central, pois se reconhece que toda forma de comunicação está imersa em relações de poder, dominação ou resistência (Habermas, 1989).
Quando um sujeito escreve um artigo de opinião, ele se coloca como agente discursivo que, ao defender uma tese, dialoga com um contexto social marcado por conflitos, desigualdades e disputas ideológicas. A escolha do argumento adequado, portanto, não é neutra. Trata-se de uma decisão orientada por valores, conhecimentos e objetivos. Isso implica compreender que o processo argumentativo não é apenas uma sequência lógica, mas um posicionamento no mundo, uma tomada de posição ética e política diante de temas socialmente relevantes.
Vejamos, com mais profundidade, as formas de argumentação destacadas no material de apoio, relacionando-as ao exercício da crítica social:
1. Argumento de autoridade
Na sociologia, o argumento de autoridade ganha relevância quando o autor recorre a teóricos clássicos ou contemporâneos para sustentar sua tese. Citando, por exemplo, Durkheim, Weber, Marx, Paulo Freire ou Boaventura de Sousa Santos, o autor não apenas valida seu ponto de vista, mas insere-se em um campo de produção teórica reconhecido. A citação indireta de um autor confere densidade e legitimidade ao texto, fortalecendo a argumentação e articulando o plano individual ao coletivo do saber científico.
Esse tipo de argumento é especialmente importante quando se pretende discutir questões estruturais como desigualdade, racismo, feminismo, crise ambiental ou corrupção. Ao trazer para o texto o pensamento de intelectuais consagrados, o autor amplia o escopo de sua opinião e contribui para um debate qualificado.
2. Argumento baseado no consenso
Diferente do argumento de autoridade, o argumento de consenso apela a ideias compartilhadas socialmente, funcionando como ponto de partida comum entre autor e leitor. Contudo, a sociologia nos alerta para os riscos do senso comum ideológico, isto é, das ideias aparentemente neutras que, na verdade, reforçam estruturas de dominação (Gramsci, 2000). Por isso, ao utilizar esse recurso, o autor deve buscar consensos éticos e democráticos, como os direitos humanos, a dignidade da pessoa ou o valor da educação pública.
Quando um artigo de opinião afirma que “toda criança deve ter acesso à educação de qualidade”, não se trata apenas de uma frase retórica, mas de uma declaração de princípios amplamente aceitos em sociedades democráticas. No entanto, é necessário que tal consenso seja sustentado por dados e reflexão crítica, evitando simplificações ideológicas.
3. Argumento baseado em provas concretas
Este é, sem dúvida, um dos recursos mais potentes na construção de um artigo de opinião socialmente relevante. Na era da desinformação, o uso de evidências empíricas e dados confiáveis é essencial. O autor que se posiciona contra o trabalho infantil, por exemplo, pode recorrer ao IBGE, ao DIEESE ou a relatórios da OIT para mostrar a extensão do problema e seus impactos. Assim, ele fortalece sua tese e ganha autoridade moral e política.
A sociologia trabalha com o princípio da empiria: é necessário que nossas análises estejam ancoradas na realidade concreta. Portanto, o argumento baseado em provas concretas não é apenas uma técnica de escrita, mas uma postura metodológica diante do mundo. É por meio da verificação dos fatos que a argumentação se torna crítica e transformadora.
4. Argumento com base no raciocínio lógico
Esse tipo de argumento é fundamental para garantir a coerência interna do texto. A clareza do raciocínio, a articulação de ideias e a construção lógica das relações entre causa e efeito são aspectos que contribuem para a persuasão do leitor. Ao discutir, por exemplo, os impactos do desmonte das políticas públicas sobre as populações vulneráveis, o autor pode estabelecer relações lógicas entre corte de verbas, aumento da desigualdade e violação de direitos.
Na perspectiva sociológica, o raciocínio lógico permite compreender como as estruturas sociais afetam as ações individuais e vice-versa. Assim, a argumentação lógica não apenas ordena o texto, mas revela uma compreensão articulada da realidade social, rompendo com visões fragmentadas e imediatistas.
Artigo de opinião estrutura: A mediação didática da escrita argumentativa
O ensino do artigo de opinião, portanto, não pode se limitar a esquemas estruturais e modelos pré-fabricados. É necessário que o educador promova a reflexão crítica sobre os temas debatidos, estimule a leitura de diferentes pontos de vista e incentive o uso responsável de argumentos. A escola deve ser o espaço privilegiado para o desenvolvimento da consciência argumentativa, entendida como capacidade de dialogar, defender ideias e escutar com respeito.
Como afirma Paulo Freire (1996), a educação libertadora é aquela que reconhece o estudante como sujeito histórico, capaz de pensar o mundo e transformá-lo. Nesse sentido, o ensino do artigo de opinião deve partir da realidade dos estudantes, abordando temas relevantes como racismo, desigualdade de gênero, mobilidade urbana, saúde mental, violência nas escolas, entre outros. Ao escrever sobre o que vive, o estudante se apropria da linguagem como ferramenta de expressão e transformação.
Além disso, a leitura de bons artigos de opinião, como os presentes no material da Universidade Estadual de Maringá, oferece excelentes modelos para análise textual e reflexão crítica. Textos como “A corrupção nossa de cada dia” e “Pequenas corrupções” revelam como a linguagem pode desnaturalizar comportamentos cotidianos e promover consciência política. Eles mostram que o artigo de opinião é uma forma de intervenção social, uma prática discursiva comprometida com a ética e a justiça.
Portanto, mais do que ensinar a estrutura do artigo de opinião, é preciso formar leitores e escritores críticos, que compreendam a linguagem como lugar de disputa simbólica. O artigo de opinião estrutura-se, sim, em introdução, desenvolvimento e conclusão; mas, sobretudo, estrutura consciências, valores e atitudes diante do mundo.
O artigo de opinião como prática cidadã
O artigo de opinião, ao assumir uma função crítica e interventiva, não se reduz à expressão de um ponto de vista pessoal. Ele representa, na verdade, uma prática cidadã por meio da qual o sujeito se posiciona diante das contradições sociais, disputando sentidos e valores no espaço público. A estrutura argumentativa do texto não apenas organiza ideias, mas articula uma ação simbólica que visa influenciar decisões, provocar reflexão e, potencialmente, transformar mentalidades.
Para as ciências sociais, essa capacidade de intervir no discurso público é um elemento central da cidadania ativa. A cidadania, nesse sentido, não se limita à posse de direitos civis, políticos e sociais, mas à efetiva participação na construção da esfera pública. Como ressalta Gohn (2011), a esfera pública contemporânea é atravessada por novos atores sociais e por novas formas de ação política, e o discurso é um desses meios de ação. O artigo de opinião, então, é mais que texto: é território de luta simbólica.
Escrever como forma de agir
A escrita opinativa, quando fundamentada em argumentos consistentes, transforma-se em prática política. Nesse ponto, podemos dialogar com o pensamento de Antonio Gramsci (2000), ao entender o intelectual como aquele que se engaja na produção e difusão de ideias que mobilizam a sociedade. Em menor escala, o autor de um artigo de opinião exerce esse papel: ele constrói sentidos, problematiza o mundo e convoca à ação reflexiva.
Isso é visível, por exemplo, em artigos que questionam práticas naturalizadas como o racismo institucional, a desigualdade educacional ou as pequenas corrupções cotidianas. Ao escrever sobre o “jeitinho brasileiro”, como nos textos de Talita Bedinelli e Walcyr Carrasco (citados no material base), o autor convida o leitor a repensar valores e comportamentos. Não se trata apenas de descrever a realidade, mas de desnaturalizá-la, revelando as estruturas de dominação e as possibilidades de transformação.
A escola como espaço de formação discursiva
Formar sujeitos capazes de escrever criticamente é uma das tarefas mais urgentes da educação contemporânea. A escola, nesse processo, assume a responsabilidade de criar condições para que os estudantes se reconheçam como agentes discursivos, dotados de voz e legitimidade para participar do debate público. Isso significa não apenas ensinar a estrutura do artigo de opinião, mas também trabalhar temas que conectem a linguagem à experiência vivida.
O ensino da escrita opinativa deve ser contextualizado, dialógico e crítico. A estrutura do texto – introdução, desenvolvimento e conclusão – deve ser ensinada não como uma fórmula mecânica, mas como estratégia de organização do pensamento. A introdução, por exemplo, deve apresentar não só a tese, mas também o problema social ao qual o texto responde. O desenvolvimento deve sustentar essa tese com base em argumentos éticos, empíricos e teóricos. A conclusão, por sua vez, deve reafirmar o posicionamento e sugerir desdobramentos possíveis, seja em forma de propostas ou de apelos à ação.
Exemplos aplicados
Tomemos como exemplo um artigo de opinião produzido por estudantes sobre o tema das “pequenas corrupções”. Na introdução, o texto pode partir de uma situação cotidiana conhecida – como a prática de furar filas, sonegar impostos ou obter atestados falsos. A tese pode afirmar que essas ações, embora aparentemente inofensivas, são expressões da cultura de corrupção que corrói a sociedade brasileira.
No desenvolvimento, os alunos podem articular argumentos baseados em dados concretos (como os prejuízos à Previdência Social apontados no texto de Bedinelli), argumentos de autoridade (citando especialistas como Fernando Filgueiras, do CRIP/UFMG), argumentos de consenso (a ideia de que a honestidade deve ser um valor universal) e raciocínio lógico (causa e consequência da banalização da corrupção). A conclusão, por fim, pode convocar os leitores a assumirem uma postura ética no cotidiano, defendendo a educação como instrumento de mudança cultural.
Esse exercício prático mostra que ensinar a estrutura do artigo de opinião é também ensinar a estruturar o pensamento, posicionar-se criticamente e agir com responsabilidade. É por isso que o ensino desse gênero textual deve ser politicamente orientado – não no sentido partidário, mas no sentido ético da formação de sujeitos conscientes e ativos na vida pública.
O poder formativo da escrita argumentativa
Ao escrever um artigo de opinião, o sujeito elabora uma compreensão da realidade, organiza seus valores e projeta suas aspirações. Esse processo, do ponto de vista da sociologia da linguagem, é formativo: ao argumentar, o sujeito se constitui enquanto cidadão. Como afirma Bakhtin (1997), “a palavra é o território do outro”, o que significa que todo ato de fala ou de escrita é um ato de relação. Ao escrever para convencer, o autor entra em diálogo com a sociedade e, nesse processo, transforma-se e transforma o mundo.
Por isso, a prática pedagógica que estimula a escrita de artigos de opinião deve ser pensada como prática de formação humana. Isso envolve:
Escolha de temas relevantes, conectados com a realidade dos estudantes;
Leitura de bons textos modelo, como os disponíveis em jornais, revistas, blogs e no próprio material didático;
Estímulo à escuta e ao debate oral, como pré-escrita;
Planejamento textual, com mapas de ideias e organização dos argumentos;
Escrita em múltiplas versões, com reescrita colaborativa;
Avaliação formativa, que valorize a clareza, a consistência e o posicionamento crítico.
Essas etapas favorecem a aprendizagem significativa da estrutura do artigo de opinião, e mais do que isso: formam sujeitos críticos, empáticos e engajados.
Estrutura, linguagem e ação transformadora
Encerrar um artigo de opinião é mais do que repetir a tese ou fazer um resumo. A conclusão deve retomar, com densidade e maturidade, o percurso argumentativo e, ao mesmo tempo, deixar um convite à ação reflexiva. Assim como a introdução situa o leitor no problema e o desenvolvimento oferece os caminhos interpretativos, a conclusão devolve à sociedade o produto da reflexão, abrindo possibilidades para novas posturas e debates.
Na perspectiva sociológica, a conclusão não deve encerrar o pensamento, mas abrir horizontes. Escrever, nesse caso, não é apenas um fim, mas um meio: meio de comunicar ideias, de disputar sentidos e de provocar transformações. O artigo de opinião, com sua estrutura organizada e intencionalidade clara, se apresenta como ferramenta poderosa para exercer a cidadania ativa e crítica.
Artigo de opinião e formação de sujeitos históricos
Um dos maiores desafios da educação brasileira é formar sujeitos que saibam ler criticamente o mundo e que sejam capazes de se expressar com clareza, argumentação e compromisso ético. A escrita do artigo de opinião contribui diretamente para esse processo, pois obriga o estudante a pensar, escolher um ponto de vista, articular argumentos, considerar diferentes perspectivas e, principalmente, posicionar-se.
Nesse processo, o educador precisa estar atento à dimensão política da linguagem. Como lembra Paulo Freire (1996), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Ensinar a escrever um artigo de opinião é, portanto, criar condições para que o estudante desenvolva sua autonomia intelectual e sua consciência social.
Ao escrever sobre temas como racismo, meritocracia, políticas públicas, desigualdade de gênero, crise ambiental ou pequenas corrupções, o estudante não apenas desenvolve sua competência linguística, mas participa da construção de uma cultura democrática. O espaço da escola se torna, assim, um espaço de produção de discursos socialmente situados, comprometidos com os direitos humanos e com a justiça social.
Orientações práticas para uma produção crítica
Com base nos princípios discutidos até aqui, é possível organizar algumas orientações práticas para a produção de artigos de opinião com estrutura sólida e conteúdo crítico:
Escolha de um tema relevante e polêmico, de interesse público e com potencial de provocar debate.
Definição clara da tese, isto é, do posicionamento que será defendido ao longo do texto.
Construção de uma introdução contextualizada, que apresente o problema de forma clara e desperte o interesse do leitor.
Desenvolvimento com uso de múltiplas estratégias argumentativas:
Autoridade: citar pensadores, especialistas, estudiosos.
Consenso: recorrer a princípios éticos universalmente aceitos.
Provas concretas: dados, estatísticas, fatos históricos.
Raciocínio lógico: relações de causa e consequência, problema e solução.
Conclusão que reafirme a tese com profundidade, propondo encaminhamentos ou ampliando o debate.
Uso de linguagem clara, precisa e respeitosa, que demonstre domínio da norma culta, sem abrir mão da acessibilidade.
Revisão textual criteriosa, que identifique repetições, incoerências e erros gramaticais.
Leitura crítica de outros textos de opinião, como forma de ampliação de repertório argumentativo e estilístico.
Essas etapas favorecem a autonomia do estudante e o fortalecem como sujeito pensante, que escreve não apenas para cumprir uma tarefa escolar, mas para intervir simbolicamente no mundo que o cerca.
Considerações finais
A estrutura do artigo de opinião não pode ser vista como um modelo fixo, mas como um suporte para o exercício do pensamento crítico. Quando o ensino desse gênero textual é ancorado nas ciências sociais, ele ganha densidade teórica e potência formativa. O texto deixa de ser um fim em si e passa a ser um meio de ação social.
Por isso, ensinar a escrever artigos de opinião é, também, ensinar a argumentar com responsabilidade, a escutar com empatia e a agir com consciência. É um gesto pedagógico e político, que reconhece no estudante não apenas um escritor em formação, mas um cidadão em movimento.
Como sociedade, temos o desafio de valorizar a linguagem como forma de resistência e emancipação. E o artigo de opinião, quando bem estruturado, bem argumentado e socialmente situado, é uma dessas formas. Ele nos convida a olhar criticamente o mundo, a tomar posição e, sobretudo, a não nos calarmos diante das injustiças.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 27. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política. São Paulo: Cortez, 2011.
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
KÖCHE, Vanilda Salton et al. Prática textual: atividades de leitura e escrita. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.
SERRANO, Luiz Roberto. O day after, se houver um…. Disponível em: http://serranoecia.blogspot.com.br/2016/03/o-day-after-se-houvem-um.html. Acesso em: 15 abr. 2025.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Argumentação e artigo de opinião. Programa de Integração Estudantil – Oficina de Língua Portuguesa. Maringá, 2021.