As três leis da dialética por Engels

As três leis da dialética constituem um importante instrumento de se fundamentar qualquer análise do real, seja relativo aos fenômenos sociais ou naturais. Engels escreveu os textos que compõem “A Dialética da Natureza” entre os anos 1873 e 1883, mas a obra só foi publicada postumamente, em 1925, na União Soviética. Isso ocorreu porque Engels não a finalizou para publicação, deixando os manuscritos como rascunhos. Mesmo inacabada, a obra teve grande influência nos debates sobre filosofia, ciência e marxismo ao longo do século XX. Engels escreveu esta obra com o intuito de subsidiar bases epistemológicas a fim reorganizar ciência e filosofia que estavam sendo distanciadas com o aprofundamento do positivismo.

Por Roniel Sampaio Silva

O objetivo da obra “Dialética da Natureza” de Friedrich Engels é aplicar a dialética materialista à pesquisa científica em ciências naturais. Engels procurou demonstrar que a dialética foi originalmente desenvolvida por Hegel na filosofia e reelaborada por Marx e Engels no materialismo histórico, também era válida para explicar os fenômenos da natureza. Ele pretendia integrar o conhecimento científico num quadro filosófico que enfatizasse o caráter dinâmico e interligado dos processos naturais.

Para isso, ele buscou catalogar três leis da dialética que serviriam de norte para pesquisadores comprometidos a epistemologia do materialismo histórico-dialético:

1) A lei da transformação da quantidade em qualidade e vice-versa

Quantidade e qualidade são interdependentes. Mudanças quantitativas graduais que atinjam um ponto crítico levarão a mudanças qualitativas significativas. Isto significa que, com o tempo, pequenos aumentos ou diminuições podem eventualmente produzir mudanças fundamentais. Por exemplo, na física, um aumento gradual na temperatura da água provoca uma mudança qualitativa quando esta atinge o seu ponto de ebulição ou congelamento. Na química, a composição quantitativa dos átomos de uma molécula determina propriedades qualitativas únicas, como ocorre durante a formação de diferentes compostos. Esta lei sugere que mudanças sutis e incrementais têm o potencial de levar a grandes mudanças na realidade.

2) A lei da interpenetração dos contrários

Todo fenômeno contém contradições internas ou pólos opostos que interagem constantemente. Essa interação é o motor da mudança. Na física, por exemplo, a relação entre forças atrativas e repulsivas mantém a estabilidade de um sistema atômico, enquanto a tensão entre forças opostas permite o movimento e o desenvolvimento. Engels acreditava que os opostos não podem existir isoladamente porque não pode haver separação absoluta entre eles. Esta lei reflete a ideia de que o equilíbrio e a evolução surgem da luta entre estas forças opostas.

3) A lei da negação da negação.

A Terceira Lei explica o desenvolvimento como um processo de superação. Uma proposição (uma ideia ou estado original) é negada pelo seu oposto (seu oposto ou contradição), e esta contradição é resolvida numa síntese, que retém elementos de ambos, mas num nível superior. Por exemplo, na agricultura, uma semente germina, nega-se como semente e transforma-se em planta, que por sua vez produz novas sementes, reiniciando o ciclo numa nova etapa. Esta lei nos ajuda a compreender que o progresso é dialético: superação constante, preservação da essência e mudança do resto.

 

Considerações finais

É importante destacar que as três leis da dialética são princípios fundamentais para ancorar pesquisas pautadas na filosofia do materialismo histórico dialético. Elas são bases importantes para pensar os objetos de estudo nesta ótica e, embora desenhada para ser uma abordagem tanto para as ciências da natureza quanto das humanidades, ela é usada de forma generalizada em pesquisa de fenômenos sociais. Neste sentido, cabe pensar no potencial nos mais variados campos do conhecimento. O grande desafio para aplicação dessa epistemologia é a dificuldade de superação da lógica formal para inteirar-se na lógica do materialismo dialético. Enquanto a lógica formal tende a pensar nos fenômenos em pólos diferentes de causa e efeito, o materialismo percebe que este mesmo objeto em movimento, transformado por estes pólos que não são separados do objeto em si, constitui parte integrante do mesmo objeto. Portanto, estão em relação dialética e são inseparáveis.  Esses pólos são chamados de unidades dialéticas. Na primeira lei da dialética, quantidade e qualidade é bem caracterizado como uma unidade dialética.

 

Referências:

ENGELS, Friedrich. Dialética da natureza. Boitempo Editorial, 2020.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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