Brasil versus Argentina

Por Rainer Sousa
Graduado em História

 

As guerras nem sempre se resumem a simples oposição de exércitos em um tenso campo de batalha. Para quem não acredita em tal afirmativa, basta ir a um bom jogo de futebol para comprovar que outras guerras são travadas sem que para isso percamos o nosso tempo adquirindo uma pesada artilharia. No futebol sul-americano, a rivalidade de Brasil e Argentina foi responsável por espetáculos esportivos que marcaram o século XX. Contudo, de onde surgiu essa rivalidade com nossos “hermanitos portenhos”?
Para obtermos uma resposta para esta pergunta, devemos nos deslocar à nossa história colonial para entendermos toda essa polêmica envolvendo brasileiros e argentinos. Inicialmente, a rixa se organizou por conta dos limites territoriais impostos pela assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494). Ao longo da nossa colonização, esses limites motivaram pequenos conflitos que culminaram no controle da colônia de Sacramento, espaço gerido por lusitanos e, ao mesmo tempo, inscrito nos territórios hispânicos.
Após a experiência colonial, as disputas tomaram uma orientação político-econômica. Durante o Brasil Império, nossos dirigentes políticos temiam que a Argentina buscasse algum acordo ou benefício que desse fim à liderança econômica exercida pelo Brasil junto às nações do Atlântico Sul. Em contrapartida, os portenhos temiam que o governo brasileiro quisesse imprimir na Argentina o mesmo intervencionismo que marcava sua relação com nações sul-americanas de menor influência.
Durante a Guerra do Paraguai, a rivalidade foi deixada de lado para que ambos lutassem contra o ascendente e ameaçador império do ditador paraguaio Solano López. Apesar da aliança, vários documentos comprovam que a rivalidade mantinha-se viva com o desacordo entre as tropas de cada lado. Em várias ocasiões, os dirigentes militares da Argentina acusavam os soldados brasileiros de insubordinação ao não concordarem com as designações oficiais.
A desconfiança pairou mais uma vez na história destes dois países um século mais tarde, quando o Brasil firmava o acordo binacional com os paraguaios que daria origem à Hidrelétrica de Itaipu. Nessa época, vários jornais argentinos combatiam a execução deste projeto energético, que poderia ameaçar a soberania do país. Segundo argumentavam, uma vez abertas as comportas de Itaipu, o Estado brasileiro poderia deixar a capital Buenos Aires debaixo d’água.
Com o passar do tempo, principalmente na década de 1990, ambos os lados perceberam que suas economias poderiam firmar atrativos acordos de cooperação. A partir da criação do Mercosul, Brasil e Argentina conseguiram satisfazer vários de seus interesses comerciais. Dessa forma, a rixa acabou ficando a cargo dos jogadores, times e torneios que atraem o público apaixonado por futebol através dessa antiga rivalidade histórica.
FONTE: Equipe Brasil Escola

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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