O que acontece quando o homem mais rico do mundo e o político mais poderoso entram em um confronto direto?
O mundo está prestes a descobrir.
A tensão entre Elon Musk e Donald Trump começou de forma discreta na semana passada, ganhou força na quarta-feira (04/06) e agora alcançou seu ápice.
Como é típico de ambos, o embate rapidamente se tornou público.
Ambos possuem dois dos maiores palanques do mundo e, claramente, gostam de usá-los.
Na tarde desta quinta-feira (05/06), em declarações no Salão Oval, Trump soou como alguém decepcionado.
Demonstrou surpresa diante das críticas de Musk à sua proposta tributária e orçamentária — que ele descreveu como “grande e bela”. Rejeitou a ideia de que teria perdido a última eleição presidencial sem o apoio financeiro de centenas de milhões de dólares vindos de Musk. Trump ainda sugeriu que o bilionário está mudando de posição agora porque a Tesla, sua montadora, será prejudicada pela pressão dos republicanos para acabar com os créditos fiscais destinados a veículos elétricos.
Trump também foi ao ataque em sua rede social, a Truth Social:
“A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares no nosso orçamento é encerrando os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”, publicou.
Musk não deixou barato e respondeu, em tom típico de sua geração, pela rede social X: “Whatever” — algo como “tanto faz” ou “não importa”.
O empresário afirmou que não se preocupa com os subsídios para carros elétricos, mas com a necessidade de reduzir a dívida nacional, que ele classificou como uma ameaça existencial aos Estados Unidos.
Ainda chamou Trump de “ingrato” por não reconhecer o apoio recebido na campanha eleitoral de 2022, sustentando que os democratas teriam vencido sem sua ajuda.
Musk também insinuou, sem apresentar provas, que Trump poderia estar mencionado em documentos confidenciais do governo, relacionados ao falecido bilionário Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais.
Vale lembrar que, no ano passado, documentos judiciais tornados públicos mencionaram várias figuras associadas a Epstein, incluindo Trump. Contudo, ser citado nesses arquivos não significa, necessariamente, envolvimento em irregularidades, e não há qualquer acusação formal contra o ex-presidente.
Musk e Trump construíram uma aliança poderosa, ainda que improvável, que culminou com o bilionário ocupando uma posição de destaque nas políticas de corte de gastos do governo Trump.
O chamado Departamento de Eficiência Governamental, ou Doge, liderado por Musk, foi um dos marcos dos primeiros 100 dias da gestão — fechando agências inteiras e promovendo milhares de demissões no funcionalismo público.
No entanto, não demorou para que surgissem especulações sobre quando e como essa relação acabaria em conflito.
Por um tempo, parecia que essas previsões estavam erradas.
Trump manteve seu apoio a Musk, mesmo quando o bilionário viu sua popularidade diminuir e os atritos com membros do governo crescerem.
Sempre que parecia haver uma ruptura iminente, surgiam fotos de Musk no Salão Oval, na Sala do Gabinete ou a bordo do Air Force One, a caminho de Mar-a-Lago, o clube privado de Trump na Flórida.
Quando o mandato de 130 dias de Musk como “funcionário especial do governo” terminou na semana passada, ele e Trump se despediram de forma amistosa no Salão Oval — uma ocasião que parecia selar a possibilidade de um retorno futuro.
Agora, está claro que qualquer convite foi retirado e as fechaduras, trocadas.
“Eu e Elon tínhamos um ótimo relacionamento”, afirmou Trump nesta quinta-feira.
O uso do passado nessa declaração é notável.
Há quem interprete os anúncios feitos por Trump na quarta-feira — incluindo proibições de viagem a cidadãos de determinados países e novas sanções contra Harvard — como tentativas de desviar a atenção das críticas feitas por Musk.
A Casa Branca e aliados de Trump no Congresso adotaram uma postura cautelosa, evitando reagir diretamente aos ataques do empresário.
Mas Trump decidiu se manifestar e… Musk respondeu com um “whatever”.
Agora, resta saber para onde essa disputa caminhará.
Republicanos no Congresso podem encontrar mais dificuldade em manter a unidade em torno do projeto de lei de Trump, enquanto Musk segue impulsionando um discurso de ruptura e rebeldia.
Trump, conhecido por sua disposição para o contra-ataque, terá inúmeras oportunidades de retaliar Musk.
O futuro dos aliados de Musk no governo, dos contratos públicos firmados com suas empresas e das investigações abertas durante a gestão Biden sobre seus negócios está em jogo.
Se Trump mobilizar o aparato estatal contra Musk, o bilionário poderá sofrer impactos significativos — tanto que as ações da Tesla caíram na quinta-feira.
Por outro lado, Musk possui recursos praticamente ilimitados para reagir, inclusive financiando candidatos insurgentes nas próximas eleições e nas primárias.
Ele pode não conseguir vencer uma batalha contra todo o governo Trump, mas certamente tem capacidade para impor um custo político elevado.
Enquanto isso, os democratas observam de longe, sem saber exatamente como agir. Poucos demonstram interesse em reaproximar-se de Musk, um ex-doador do partido.
Mas há quem veja uma oportunidade na antiga máxima: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”.
“É um jogo de soma zero”, analisou Liam Kerr, estrategista democrata, ao site Politico. “Qualquer movimento dele na direção dos democratas prejudica os republicanos.”
Por ora, os democratas parecem dispostos a assistir de camarote enquanto os dois se enfrentam.
E, até que essa briga termine, ela provavelmente ofuscará o restante da cena política americana.
Mas não espere que esse embate se resolva tão cedo.
“Trump tem mais 3 anos e meio como presidente”, escreveu Musk no X. “Mas eu estarei por aqui por mais de 40 anos.”