Como na Revolução Francesa, brasileiros lutam para acabar com os privilégios da elite política do país*

Revolução “Francesa” no Brasil

Por Fábio Cervone** 

“Os governantes da democracia do Brasil estão perpetuando um comportamento aristocrático típico das monarquias europeias do passado”

Quando, no fim do século 18, a aristocracia francesa soube em seus suntuosos palácios que o povo nas ruas se rebelava porque não tinha o que comer, um dos membros da corte afirmou sem titubear: “Se não há pães, que comam brioches!”. Esta frase ficou famosa por denunciar a luxuosa realidade de fartura desfrutada pela nobreza do país. Além disso, o ato expôs a enorme distância existente na época entre governantes e governados.
Ambos aspectos foram essenciais para a acelerar a mobilização popular que gerou a famosa Revolução Francesa. Não tão diferente do exemplo europeu, o legado histórico do Brasil também alimentou uma postura arrogante dos políticos nacionais em relação aos seus “súditos”.
O principal motivo para o desencadeamento da crise política nacional está na conduta discriminatória, clientelista e aristocrática praticada há tempos pelas autoridades do país. No passado, a monarquia francesa ergueu castelos impressionantes, promoveu festas de

gala e banquetes homéricos. Ela ainda estimulou uma refinada produção cultural e grandes aventuras militares. Mas, concentrada em seus jogos palacianos e na vaidade pessoal, a nobreza antes da revolução esqueceu do povo e da função coletiva do Estado. O desdém dos governantes brasileiros em relação aos desejos dos cidadãos e como eles foram surpreendidos pelas mobilizações atuais são dois fatos que os colocam na mesma condição de alienação e abuso sistemático do poder observados na França do século 18.

Aqui, grande parte dos que conquistam um cargo público de relevância aproveita a condição para garantir os próprios benefícios e agir de forma abusiva para prevalecer seus interesses particulares, da mesma forma como ocorria nas antigas monarquias. Seguindo esta lógica arcaica, no Brasil políticos não são presos, distribuem regalias para parentes e amigos, exageram nos luxos, seus filhos não dependem de qualquer serviço do Estado, e se preocupam quase que exclusivamente com a dinâmica das alianças palacianas. De forma generalizada e alegórica, a democracia brasileira não está tão distante do autoritarismo aristocrata da França imperial.
De nada adianta para uma sociedade elaborar uma Constituição que, teoricamente, promove a justiça, igualdade e liberdade, se os condutores do sistema possuem elevadores, helicópteros e choferes exclusivos, recebem direitos legais excepcionais, utilizam a função pública como instrumento egoísta e não se preocupam em representar a voz dos cidadãos. Numa democracia, a principal responsabilidade legal de um juiz, congressista, governador, ministro, gestor, chefes de Estado e de governo é servir como uma extensão legítima e profissional do interesse comum.
Neste sentido, qual é a vantagem para os brasileiros ao testemunhar os aviões da FAB transportando autoridades e agregados para os jogos da Copa das Confederações? E por que poucas autoridades do poder público entenderam a insatisfação atual? Além disso, por que muitos dos governantes ainda não se sensibilizaram efetivamente com a onda de descontentamento e continuam se comportando como se nada estivesse ocorrendo nas ruas?
A resposta é simples: do alto dos tamancos aristocráticos dos palácios, parlamentos, tribunais e demais instituições governamentais, só é possível ver e ouvir bajuladores, alianças estratégicas, recursos bilionários, luxos extraordinários e tentações maquiavélicas. Está na hora da classe política brasileira tomar um banho de humildade e enfim compreender que, na democracia moderna, a justiça, a igualdade e a liberdade são valores que valem invariavelmente para todos.
 * Texto originalmente publicado no portal R7
** Colunista do Portal R7 Notícias.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

15 Comments

  1. Muito bom! Gostaria de saber em relação a Democracia na França, como funcionava no século 18? Havia? ou não? Dentro da Ideia do texto, a democracia teria que ser garantida dentro dessas reivindicações? Como Salários de Servidores Públicos etc..

  2. Muito bom. A confusão entre o público o privado já evidenciada por Raymundo Faoro reflete esses aspectos com análise histórica e social.

  3. Bom aqui no brasil as manifestações do més de junho fez com que o governo alarmasse e descobrisse que o povo reunido pode muito e que o povo quer uma revolução de igualdade
    para todos onde o governo parece que só beneficia a burguesia e os políticos onde desfrutam de aviões do exercito para assistir jogos da copa das confederações onde um ex jogador famoso fala que uma copa não se faz com hospitais colocando assim que e melhor criar e reforma estádios do que hospitais.

  4. Acho que a Revolução Francesa e as manifestações no Brasil se diferenciam por um detalhe, França tirou o pão deles e no Brasil eles tirarão a nossa dignidade e direito de viver em um país melhor !

  5. Sim, manifestações são ideologias trabalhadas por uma sociedade que procura melhoras de vida pra um país que não se encontra em uma condição favorável, atualmente escutamos bastante a expressão de que o gigante acordou, Brasil, o país que foi as ruas procurar melhoras para os seus problemas, a elite em nosso país é quem ordena o nosso modo de viver, que tira a esperança e tenta encobrir tudo o que está fora do eixo.

  6. Na minha opinião não adianta fazer manifestação pedindo afastamento de alguns políticos, tem de se pedir reforma politica. Na revolução francesa havia o interesse da burguesia por traz, no Brasil não tem o interesse dos grandes empresários.

  7. As manifestações deveriam acontecer mesmo, os políticos fazem graça com nossa cara, enquanto trabalhamos para sustentar suas contas bancarias na Suíça, ou outros países.

  8. Na verdade,a política em si tem que mudar,por que a "democracia" só existe no papel,o Brasil é um país onde a grande maioria é pobre, e deveria portanto haver privilégios para eles,mas não há,o sistema de saúde pública está um caos,assim como tudo no Brasil,é hora de mudança,temos que nos juntar a quem já está se manifestando e fazer com que ouçam a nossa voz,porque cansamos de ficar parados ante à tudo que nos acontece,pois os que eram antes alienados acordaram.

  9. “SOMOS VÍTIMAS DE UMA PROLONGADA SERVIDÃO COLECTIVA”

    A índole pacífica e obediente da maioria dos portugueses é lendária e não apenas efeito do tempo que passámos em ditadura, com Salazar. Pois, antes deste, já Fernando Pessoa apontava as razões para a nossa indolência.

    “Produto de dois séculos de falsa educação fradesca e jesuítica, seguidos de um século de pseudo-educação confusa, somos as vítimas individuais de uma prolongada servidão colectiva. Fomos esmagados (…) por liberais para quem a liberdade era a simples palavra de passe de uma seita reaccionária, por livres-pensadores para quem o cúmulo do livre-pensamento era impedir uma procissão de sair, de maçãos para quem a Maçonaria (longe de a considerarem a depositária da herança sagrada da Gnose) nunca foi mais do que uma Carbonária ritual. Produto assim de educações dadas por criaturas cuja vida era uma perpétua traição àquilo que diziam que eram, e às crenças ou ideias que diziam servir, tínhamos que ser sempre dos arredores…”

  10. Na verdade,a política em si tem que mudar,por causa da democracia. O Brasil é um país onde a grande maioria é pobre, e deveria portanto haver privilégios para eles,mas não há,o sistema de saúde pública está um caos,assim como tudo no Brasil.

  11. Manifestações são ideologias trabalhadas por uma sociedade que procura melhoras de vida pra um país que não se encontra em uma condição favorável, atualmente escutamos bastante a expressão de que o gigante acordou, Brasil, o país que foi as ruas procurar melhoras para os seus problemas, a elite em nosso país é quem ordena o nosso modo de viver, que tira a esperança e tenta encobrir tudo o que está fora do eixo.

  12. Manifestações são ideologias trabalhadas por uma sociedade que procura melhoras de vida pra um país que não se encontra em uma condição favorável, atualmente escutamos bastante a expressão de que o gigante acordou, Brasil, o país que foi as ruas procurar melhoras para os seus problemas, a elite em nosso país é quem ordena o nosso modo de viver, que tira a esperança e tenta encobrir tudo o que está fora do eixo.

  13. Sim, manifestações são ideologias trabalhadas por uma sociedade que procura melhoras de vida pra um país que não se encontra em uma condição favorável, atualmente escutamos bastante a expressão de que o gigante acordou, Brasil, o país que foi as ruas procurar melhoras para os seus problemas, a elite em nosso país é quem ordena o nosso modo de viver, que tira a esperança e tenta encobrir tudo o que está fora do eixo.

  14. Sim, manifestações são ideologias trabalhadas por uma sociedade que procura melhoras de vida pra um país que não se encontra em uma condição favorável, atualmente escutamos bastante a expressão de que o gigante acordou, Brasil, o país que foi as ruas procurar melhoras para os seus problemas, a elite em nosso país é quem ordena o nosso modo de viver, que tira a esperança e tenta encobrir tudo o que está fora do eixo.

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