Em síntese, podemos entender o conceito de cidadania como um conjunto de ações reivindicatórias cujo direcionamento é voltado para interesse da coletividade. É uma prática que busca melhorar a convivência, qualidade de vida e harmonizar a relação das pessoas que vivem na cidade, por isso a associação do termo com cidadania. Ela implica num aprendizado e aperfeiçoamento progressivo das práticas sociais para além das relações de consumos naturalizadas na sociedade capitalista.

 

Grosso modo, o termo “cidadania” remete ao sujeito que vive na cidade e compartilha parte da sua vida pessoal no espaço público. Originalmente, “cidadania” nos remete à vida na polis gregaDo latim, o termo tem origem na palavra civita, espécie de coletivo de cidadãos os quais formam o estado, o governo ou pátriaO conceito mais comum de cidadania diz respeito a sujeito que “cumpre seus deveres e luta pelos seus direitos”. O objetivo desse texto é discutir as limitações desse último conceito.
Se cidadão é o indivíduo que mora na polis ele precisa ser reconhecido como tal. Na antiga Atenas, por exemplo, o cidadão era um adjetivo extremamente restritivo, cujo conjunto englobava homens livres, maiores de dezoito anos e nascidos em Atenas. Na contemporaneidade, cidadão diz respeito ao individuo que é reconhecido formalmente pelo Estado; tão somente pelo registro de nascimento.
Porém é preciso ter cuidado para não confundir este conceito com as soluções individualistas propagadas pelo próprio sistema de competição hoje vigente: ou seja, o indivíduo que prefere pagar pela própria segurança em um condomínio fechado ou contratando segurança particular, não exigindo que o poder público exerça seu papel de legítimo detentor do poder policial e da segurança pública.

E um dos grandes problemas para o exercício cidadão em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo. Ao nos preocuparmos apenas com nós mesmos, ao abandonar a defesa da coletividade, estamos enfraquecendo a cidadania em nosso país, assim como nossos próprios direitos.

 

 

 

Referência

SILVA, Maciel Henrique; SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. Editora Contexto, 2010. p. 50.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

4 Comments

  1. Discordo da ideia de que o individualismo e o neoliberalismo (um termo contestável) contribuem para o enfraquecimento da cidadania e dos direitos de cada um. Já o coletivismo pode ser comparado como uma prisão para aqueles que pensam diferentes do grupo, uma vez que um indivíduo aja conforme seu pensamento e não o do coletivo, este é reprimido pelos seus integrantes, ferindo portanto um direito fundamental que é o direito de liberdade de expressão. Não é possível haver cidadania plena sem o respeito do pensamento individual. “O coletivismo diz que o indivíduo não tem direitos, que sua vida e trabalho pertencem ao grupo (à sociedade, à tribo, ao estado, à nação), e que o grupo pode sacrificá-lo segundo seus próprios caprichos, para seus próprios interesses. A única maneira de implementar uma doutrina desse tipo é por meio da força bruta. Por isso, o autoritarismo sempre foi o colário político do coletivismo.” Ayn Rand

  2. Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um indivíduo em um Estado. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação de outro cidadão

  3. a questao do neoliberalismo e individualismo veio a calhar, em verdade é o que ocorre atualmente e enfraquece o proprio estado de direito, nem vou falar aqui da democracia, mas apenas do estado de direito que acaba mais por fortalecer uma classe politica em detrimento do proprio cidadao., vide Brasil e EUA, sem mencionar outros países

    • O que você diz é tão verdade que muitos sujeitos têm dificuldade de se afinar com coletividades de tanto individualismo exacerbado.

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