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Conceito de oligarquia visão da ciência política

conceito de oligarquia

O conceito de oligarquia é um termo frequentemente mencionado na ciência política, mas sua definição e aplicação podem variar consideravelmente. Este artigo explorará o conceito de oligarquia na perspectiva da ciência política, com base em insights de autores proeminentes como Robert Michels, Darcy Leach (2005), Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Gazmuri (2004). Vamos analisar três abordagens comuns para entender a oligarquia e discutir como essa ideia tem evoluído ao longo do tempo.

Oligarquia como Domínio de Grupos Políticos Tradicionais

Uma das formas mais comuns de se pensar em oligarquia é como um termo que denota grupos políticos tradicionais que dominam determinadas regiões ou seus governos. Nesse contexto, a oligarquia está ligada a elites políticas que exercem controle sobre a tomada de decisões em uma determinada área. O autor Darcy Leach (2005) destaca que esses grupos muitas vezes são compostos por membros que ocupam cargos de destaque na política e têm laços estreitos com o poder.

Por exemplo, a oligarquia pode ser vista como a elite política estadual em um contexto específico, como é discutido por Cerri (1998). Os membros dessa elite são frequentemente associados a partidos políticos ou outros grupos influentes na região. No entanto, é importante notar que a definição de oligarquia nesta perspectiva não é uniforme, e a relação entre riqueza, classe social e pertencimento à oligarquia pode variar de um contexto para outro.

Oligarquia como Governo dos Ricos

A segunda abordagem para entender a oligarquia é mais próxima da definição clássica de Platão e Aristóteles, onde a oligarquia é vista como o governo dos ricos. Nesse sentido, a oligarquia é caracterizada por um grupo de indivíduos economicamente privilegiados que exercem influência desproporcional sobre o poder político.

Gazmuri (2004) discute essa visão, destacando como a classe média chilena, apesar de seu crescimento, aspirava a entrar na oligarquia, que era vista como um estrato social superior. Nessa perspectiva, a riqueza é frequentemente o critério determinante para se pertencer à oligarquia. No entanto, como no primeiro enfoque, a relação entre riqueza e oligarquia não é absoluta e pode variar dependendo do contexto político e social.

Oligarquia como Grupo Minoritário com Poder Dentro de Organizações

A terceira abordagem para compreender a oligarquia se concentra no contexto das organizações, especialmente as de caráter representativo. Robert Michels (2001) é um autor importante nessa perspectiva. Ele argumenta que a organização tende a levar à oligarquia, uma vez que a estrutura organizacional cria uma divisão entre uma minoria de líderes e uma maioria de liderados.

Michels introduz a ideia de que “Organization implies the tendency to oligarchy.” Em outras palavras, em qualquer organização, seja um partido político, um sindicato profissional ou qualquer outra associação, há uma tendência aristocrática que se manifesta claramente. A medida que a organização cresce, essa tendência se torna mais evidente, com uma minoria de diretores e uma maioria de direcionados.

O ponto crucial que Michels levanta é que as organizações, com o tempo, tendem a distanciar-se dos objetivos para os quais foram criadas e passam a buscar metas estabelecidas por seus líderes, muitas vezes à revelia do mandato recebido e da vontade dos outros membros. Isso gera um problema de legitimidade, uma vez que a organização deixa de representar efetivamente os interesses da maioria.

Considerações Finais

A compreensão da oligarquia na ciência política é multifacetada e complexa. Ela pode ser vista como o domínio de grupos políticos tradicionais em uma região, como um governo controlado por ricos ou como um grupo minoritário com poder dentro de organizações. Autores como Michels, Mosca, Pareto, Gazmuri e Leach contribuíram para a discussão desse conceito, trazendo perspectivas variadas.

É importante reconhecer que a oligarquia não é um conceito estático, e sua definição pode mudar de acordo com o contexto e a época. A compreensão da oligarquia na ciência política é fundamental para analisar as dinâmicas de poder, a representatividade política e os desafios à democracia. À medida que a política e a sociedade evoluem, o debate sobre a oligarquia continua a ser relevante e em constante evolução.

Referências

Aristóteles. Política. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Gazmuri, Cristián. Alberto Edwards y La Fronda Aristocrática. Historia, Nº 37, Vol. I, Instituto de
Historia. Pontificia Universidad Católica De Chile. Enero-Junio 2004: 61-95.

Leach, Darcy K.. “The Iron Law of what again? Conceptualizing oligarchy across organizational
forms”. Sociological Theory, vol. 23, nº 3, Sep. 2005, pp. 312-337.

Michels, Robert. Political parties: a sociological study of the oligarchical tendencies of modern
democracy. Ontario: Batoche Books, 2001[1915].

Mosca, Gaetano. La Clase Política. México: Fondo de Cultura Económica, 1998.

Pareto, Vilfredo. I sistemi socialisti. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1974

 

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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