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Conceitos sociológicos nas práticas cotidianas: mudanças sociais

Por Cristiano Bodart 
Um dos conceitos abordados nos estudos de introdução à Sociologia é o conceito de “Mudança Social”. Muitas vezes o professor (me incluo aqui em alguns momentos) ao abordar tal conceito nas aulas consegue, não sei por que diabos, transformar o que é tão próximo do educando em algo bastante distante e, as vezes, sem muito sentido real. Se a preocupação da Sociologia é explicar a realidade social, tornar os conceitos ainda mais complexos não faz muito sentido. Aos iniciantes na Sociologia, deve-se oferecer aquilo que está debaixo de seus olhos, temas que fazem parte de sua realidade social, fazendo-o compreender que a Sociologia extrai do senso comum sua matéria prima, embora sua perspectiva e método seja próprio dessa ciência.
Um desses conceitos próximos da realidade do educando é mudança social, a qual está diretamente relacionado a realidade empírica, sendo esta qualquer alteração nas formas de vida de uma sociedade. Repito: “qualquer alteração nas formas de vida de uma sociedade”. Quando dizemos que a História nunca se repete exatamente da mesma forma, estamos afirmando que nenhuma sociedade é exatamente igual a si mesma em dois momentos históricos diferentes. Quando dizemos que “antigamente as crianças brincavam de bonecos(as) até mais tarde e que hoje não é mais assim” estamos falando de mudanças sociais. Se dissermos que há 50 anos havia mais preconceito em relação ao homossexualismo, estamos falando de mudanças sociais.
As mudanças sociais alteram as relações sociais. Um exemplo próximo disso são as mudanças dos meios de comunicação, as quais evoluíram e, consequentemente, as relações sociais face-a-face sofreram alterações significativas em seus formatos e intensidades.
O ritmo das mudanças varia de sociedade para sociedade. Nota-se que quanto mais urbana a sociedade, mas rápidas são as mudanças. Na modernidade as mudanças tornaram-se um aliado para a economia. Os gostos mudam, a cultura muda, e muda-se o consumo. Em outras palavras, vende-se mais.
As causas das mudanças sociais podem ser motivadas por forças internas ou externas. As forças internas são aquelas originadas dentro da sociedade. Como exemplo, podemos citar o papel das invenções na mudança social. As mudanças externas são aquelas causadas por fatores que provém de outras sociedades, o que ocorre pelo contato cultural entre duas ou mais sociedades. Na contemporaneidade as mudanças são tão rápidas que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman denominou nosso tempo de modernidade líquida. Líquida pela fluidez das mudanças sociais e sua capacidade de adequar-se as circunstancias de cada momento.
Pena que o professor é, muitas vezes, um daqueles profissionais que resiste a mudança social e não se adequa ao mundo dos educandos. Mas tenho esperança… vivemos em uma modernidade líquida e tudo pode acontecer, e o bom que, à qualquer momento.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

4 Comments

  1. Estava tentando encontrar a definição mais fácil para poder continuar um trabalho, graças a "modernidade liquida" não demorei pra achar o blog! rs' Obg!

  2. Em nosso caso, para encontrar elementos a respeito da mudança social, principalmente nas obras “A divisão do Trabalho Social” (Durkheim, 1982) e “O suicídio” (Durkheim, 1982), vamos atrás de conceitos que nos permitam definir sociedades, conceitos esses que as tornem comparáveis entre si. Pela trajetória que o autor opta para a formação desses conceitos, temos a questão da moralidade como seu elemento fundante. Dele derivamos a ideia de sociedades superiores, mais modernas, com características que explicitaremos a seguir, e sociedades primitivas que, como iremos também definir, permitem explicitar aspectos das primeiras que aqui se apresentam em estado menos desenvolvido. As sociedades primitivas são definidas como agrupamentos nos quais existe uma maior homogeneidade entre os indivíduos. Vivendo com tarefas simples, como exemplo podemos pensar em sociedade tribais, existe uma maior consciência coletiva, e os códigos de convivência, o direito, tem função apenas repressiva, visando a manutenção da ordem. Dentro de sua obra “O Suicídio”, Durkheim constata a ocorrência deste como um fato social e o categoriza. Para as sociedades primitivas, em função de um alto grau de negação das individualidades e uma maior coesão social, ocorre mais aquele que o autor chamará de altruísta, feito em nome do grupo. Tendo o conceito de solidariedade como o sumo principal que dá coesão aos grupos sociais, temos a nomeação dessa coesão como Solidariedade Mecânica, pois se repete quase estaticamente, pautado sempre pela tradição.

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