Definição de bioma: contribuições da biologia e da Sociologia

A definição de bioma é um tema que permeia tanto as ciências biológicas quanto as ciências sociais, dada a sua relevância para a compreensão dos ecossistemas e das interações humanas com o meio ambiente. Um bioma pode ser entendido como uma grande unidade ecológica caracterizada por condições climáticas semelhantes, tipos de vegetação predominantes e fauna adaptada a essas condições (Odum, 1988). Contudo, essa definição não se limita apenas ao campo da biologia; ela também dialoga com questões sociológicas, especialmente quando se considera o impacto humano sobre os biomas e a sustentabilidade ambiental.

Este artigo tem como objetivo explorar a definição de bioma sob uma perspectiva interdisciplinar, integrando conceitos das ciências biológicas e sociais. Além disso, será discutida a importância dos biomas para a manutenção da biodiversidade e o papel das políticas públicas na conservação desses espaços naturais.


O Conceito de Bioma na Biologia

Na biologia, o termo “bioma” refere-se a grandes áreas geográficas que compartilham características climáticas, edáficas (relacionadas ao solo) e bióticas (organismos vivos) semelhantes (Coutinho, 2006). Essas áreas são definidas principalmente pela vegetação dominante, que reflete as condições ambientais locais. Por exemplo, o bioma Amazônia é caracterizado por florestas tropicais densas, enquanto o Cerrado apresenta vegetação savânica com árvores esparsas e gramíneas.

De acordo com Odum (1988), os biomas são moldados por fatores abióticos, como temperatura, precipitação e altitude, que influenciam diretamente a distribuição das espécies. A adaptação dos organismos a essas condições resulta em padrões específicos de biodiversidade. Por exemplo, o Pantanal, reconhecido como um dos maiores biomas úmidos do mundo, abriga uma rica fauna aquática e terrestre, incluindo espécies endêmicas que dependem das cheias sazonais para sua reprodução.

Além disso, os biomas desempenham funções ecológicas essenciais, como a regulação do clima global, o ciclo do carbono e a produção de oxigênio. Segundo Margulis e Sagan (2002), esses processos são fundamentais para a manutenção da vida no planeta, destacando a importância de preservar os biomas frente às ameaças impostas pelas atividades humanas.


A Perspectiva Sociológica dos Biomas

Do ponto de vista sociológico, os biomas não são apenas sistemas naturais, mas também espaços onde ocorrem relações sociais, econômicas e culturais. As comunidades humanas que habitam ou dependem dos biomas desenvolvem práticas de subsistência e formas de organização social que estão intrinsecamente ligadas ao ambiente natural (Milton, 1993).

Por exemplo, povos indígenas da Amazônia possuem conhecimentos tradicionais sobre o uso sustentável dos recursos naturais, como técnicas de manejo florestal e agricultura itinerante. Esses saberes são transmitidos de geração em geração e representam uma forma de resistência cultural frente à exploração predatória dos recursos naturais (Diegues, 2004).

No entanto, a relação entre sociedade e biomas nem sempre é harmônica. A expansão agrícola, a mineração e a urbanização têm levado à degradação de muitos biomas, como o Cerrado e a Mata Atlântica. De acordo com Leff (2006), essas atividades refletem um modelo de desenvolvimento econômico baseado na exploração intensiva dos recursos naturais, que negligencia os impactos socioambientais a longo prazo.


A Importância dos Biomas para a Biodiversidade

Os biomas são verdadeiros reservatórios de biodiversidade, abrigando milhões de espécies de plantas, animais e micro-organismos. A diversidade genética presente nesses ecossistemas é crucial para a resiliência ecológica, permitindo que os organismos se adaptem a mudanças ambientais, como alterações climáticas e eventos extremos (Wilson, 1992).

Segundo Myers et al. (2000), certas regiões dentro dos biomas são consideradas “hotspots” de biodiversidade, ou seja, áreas prioritárias para conservação devido à sua riqueza de espécies endêmicas e ao alto grau de ameaça. No Brasil, a Mata Atlântica e o Cerrado são exemplos de hotspots que enfrentam pressões significativas devido ao desmatamento e à fragmentação do habitat.

A perda de biodiversidade em escala local e global tem consequências graves para os serviços ecossistêmicos, como a polinização, a purificação da água e a regulação do clima. Segundo Daily (1997), esses serviços são indispensáveis para o bem-estar humano, reforçando a necessidade de proteger os biomas como estratégias de mitigação das crises ambientais atuais.


Políticas Públicas e Conservação dos Biomas

A conservação dos biomas requer a implementação de políticas públicas que equilibrem o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. No Brasil, a legislação ambiental estabelece instrumentos como unidades de conservação, áreas de preservação permanente (APPs) e reservas legais para proteger os biomas (Brasil, 2012).

No entanto, a efetividade dessas medidas depende de fatores como fiscalização, conscientização pública e participação das comunidades locais. De acordo com Diegues (2004), a gestão participativa dos recursos naturais pode contribuir para a sustentabilidade, pois envolve os atores locais na tomada de decisões e promove o uso responsável dos biomas.

Outro desafio é o financiamento das políticas de conservação. Segundo Sachs (2015), investimentos em tecnologias limpas, educação ambiental e pesquisa científica são essenciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU).


Conclusão

A definição de bioma transcende a simples categorização de áreas naturais, englobando aspectos biológicos, sociais e econômicos que refletem a complexidade das interações entre seres humanos e o ambiente. Os biomas são fundamentais para a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, além de desempenharem um papel central nas culturas e economias locais.

Para garantir a conservação desses espaços, é necessário adotar abordagens interdisciplinares que integrem conhecimentos das ciências biológicas e sociais. Políticas públicas eficazes, aliadas à participação das comunidades locais e ao investimento em tecnologias sustentáveis, são passos cruciais para proteger os biomas e promover um futuro mais equilibrado e resiliente.


Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Diário Oficial da União, Brasília, 2012.

COUTINHO, L. M. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica , v. 20, n. 1, p. 13-23, 2006.

DAILY, G. C. Nature’s services: societal dependence on natural ecosystems. Washington, DC: Island Press, 1997.

DIEGUES, A. C. A construção social da natureza. São Paulo: Hucitec, 2004.

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2006.

MARGULIS, L.; SAGAN, D. Microcosmos: quatro bilhões de anos de evolução microbiana. São Paulo: Cultrix, 2002.

MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature , v. 403, p. 853-858, 2000.

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

SACHS, J. O caminho para a sustentabilidade: um plano para um mundo melhor. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

WILSON, E. O. The diversity of life. Cambridge: Harvard University Press, 1992.

Roniel Sampaio Silva

Doutorando em Educação, Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Teresina Zona Sul.

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