Dinâmica Preconceito: uma atividade crítica para sala de aula
Como abordar o tema do preconceito em sala de aula de maneira crítica e, ao mesmo tempo, envolvente? Neste post, propomos uma dinâmica impactante que estimula a reflexão dos alunos por meio de um exercício lúdico e provocador: a Dinâmica Preconceito.
A proposta é simples, mas poderosa. Você convida os estudantes a participarem de um exercício de imaginação, no qual terão que tomar uma difícil decisão: escolher apenas seis pessoas para sobreviver em um abrigo após uma catástrofe global. A ideia é que eles façam suas escolhas apenas com base em descrições breves dos perfis das pessoas — o que, naturalmente, desperta preconceitos e julgamentos apressados.
Roteiro da atividade
Peça aos alunos que se concentrem e imaginem a seguinte situação:
“Uma catástrofe nuclear aconteceu. O futuro da humanidade depende de um abrigo subterrâneo que só pode acolher seis pessoas. Você deve escolher quem irá sobreviver entre as 16 pessoas listadas abaixo.”
Leia em voz alta ou escreva no quadro os seguintes perfis, sem revelar os nomes:
( ) Jovem aristocrata, homossexual, dono de uma escola para rapazes.
( ) Negro, pastor, teólogo, revolucionário e pacifista condenado por desordem pública.
( ) Artesão desempregado, amigo de ladrões, condenado à morte.
( ) Músico, filho de mulher com sífilis, surdo e temperamental.
( ) Homem que só começou a falar aos três anos, disléxico, reprovado na escola, anarquista, perseguido pelo FBI.
( ) Nerd tímido, impopular, abandonou a faculdade no terceiro período para abrir um negócio próprio.
( ) Estudioso com doença rara, degenerativa, paralisante e sem cura.
( ) Organizador nato, não fuma nem bebe, autor de um livro autobiográfico intitulado “Minha Luta”.
( ) Filho adotivo da aristocracia, admirador das artes, governante e poeta.
( ) Engenheiro, pai de 12 filhos, soldado e empresário de sucesso.
( ) Prostituta condenada à morte pela justiça.
( ) Filho de imigrantes, coroinha, atleta, advogado, condenado e depois anistiado.
( ) Órfã, tímida, com voto de castidade e problemas cardíacos.
( ) Atriz, casou-se aos 16 anos, viciada em drogas.
( ) Viciado em cocaína, fumante inveterado, especialista em sexualidade.
( ) Pintor volúvel e inconstante, acusado de atentado ao pudor.
Depois da leitura, cada aluno deverá escolher seis perfis. Você pode pedir que anotem suas escolhas individualmente ou conduzir uma votação coletiva.
Após o registro das escolhas, anote no quadro os perfis mais votados.
Por fim, revele as identidades reais das pessoas descritas:
Platão – um dos maiores filósofos da humanidade.
Martin Luther King Jr. – líder do movimento pelos direitos civis nos EUA e Nobel da Paz.
Jesus Cristo – considerado por muitos o maior pacifista da história.
Ludwig van Beethoven – compositor alemão, surdo, autor de obras imortais.
Albert Einstein – físico alemão, formulador da Teoria da Relatividade.
Bill Gates – fundador da Microsoft e revolucionário da informática.
Stephen Hawking – físico teórico britânico, referência na ciência contemporânea.
Adolf Hitler – ditador nazista, responsável pelo Holocausto.
Nero – imperador romano, acusado de incendiar Roma e perseguir cristãos.
Osama Bin Laden – terrorista responsável pelos ataques de 11 de setembro.
Maria Madalena – seguidora de Jesus, frequentemente estigmatizada.
Fidel Castro – líder da Revolução Cubana.
Madre Teresa de Calcutá – missionária e Nobel da Paz.
Marilyn Monroe – atriz famosa, envolvida em escândalos e vícios.
Sigmund Freud – criador da psicanálise.
Leonardo da Vinci – gênio renascentista, artista e cientista.
Conclusão da atividade
Após a revelação dos nomes, promova um debate com os alunos:
O que motivou suas escolhas?
Quais informações pesaram mais nas decisões?
Houve algum arrependimento ao descobrir quem eram as pessoas?
Que tipo de preconceitos ou julgamentos foram mobilizados inconscientemente?
Essa atividade costuma ser muito eficaz para provocar reflexões sobre como o preconceito influencia nossas decisões, mesmo quando não percebemos. Além disso, estimula o pensamento crítico, a empatia e a desconstrução de estigmas sociais.
Fundamento Pedagógico da Dinâmica Preconceito
A Dinâmica Preconceito é mais do que uma simples atividade para sala de aula — trata-se de uma proposta pedagógica profundamente ancorada em fundamentos da educação crítica, cuja principal finalidade é provocar nos estudantes a conscientização sobre os mecanismos sutis e estruturais que sustentam o preconceito na sociedade. Seu fundamento reside na ideia de que a escola não deve apenas transmitir conteúdos, mas formar sujeitos éticos, autônomos e reflexivos, capazes de compreender o mundo à sua volta e atuar para transformá-lo.
Inspirada nos pressupostos da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire (2011), essa dinâmica preconceito convida os alunos a saírem da zona de conforto e enfrentarem uma situação-limite que simula um dilema moral: escolher quem merece viver ou morrer diante de um cenário fictício de catástrofe. Ao serem apresentados apenas a informações vagas e marcadas por estigmas sociais, os estudantes tendem a tomar decisões baseadas em valores introjetados culturalmente, o que permite tornar explícitas as estruturas invisíveis do preconceito.
Essa metodologia ativa está alinhada com a concepção dialógica de ensino, em que o conhecimento é construído coletivamente e a crítica é ferramenta essencial. Ao revelar a identidade real dos personagens após a escolha, a atividade provoca surpresa e desconforto, elementos essenciais ao que Freire chama de “inéditos viáveis” — momentos de ruptura que abrem espaço para a reflexão profunda e para o aprendizado significativo.
Do ponto de vista didático, a dinâmica preconceito permite ao professor trabalhar transversalmente temas como:
Direitos humanos;
Diversidade étnico-racial;
Questões de gênero e sexualidade;
Capacitismo e inclusão;
História e cultura afro-brasileira;
Empatia e alteridade;
Desconstrução de estereótipos.
Além disso, a proposta também articula habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como o pensamento crítico, a argumentação ética, o respeito à diversidade e a empatia (competência geral nº 9). Ela também favorece o desenvolvimento de competências socioemocionais, tão necessárias para o convívio em uma sociedade plural.
Outro ponto importante é que a dinâmica preconceito não tem como objetivo “culpar” os estudantes por suas escolhas, mas sim tornar consciente o inconsciente coletivo que habita em todos nós. A discussão conduzida de forma acolhedora e crítica permite que os alunos revisitem seus próprios valores e reconheçam o quanto somos, muitas vezes, levados por pré-julgamentos associados à aparência, classe social, cor da pele, religião, deficiência ou comportamento.
Por fim, a Dimensão Ético-Política da Educação se apresenta com força nesta proposta. Ao convidar os estudantes a analisarem suas decisões à luz da realidade social, a atividade promove não apenas conhecimento, mas transformação social, pois fortalece o compromisso com uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária.
Gostou da Dinâmica Preconceito? Compartilhe nos comentários como foi a experiência com sua turma e quais reflexões surgiram a partir dessa vivência!
Essa dinâmica é muito boa, os alunos se surpreendem com suas próprias opiniões pré formadas… também conhecido como Jogo da Ética
Ótima dinâmica, parabéns e obrigado por compartilhar!
Excelente! Muito boa a dinâmica!
Que dinâmica sensacional! Uma vez meu professor a colocou em uma prova, mas nunca nos disse qual era a resposta “certa” ou que era uma dinâmica e tinha todo um contexto.
Farei com meus alunos. MUITO OBRIGADA pelo compartilhamento! O blog é incrível!
Você saberia me informar a referência desta dinâmica? Grata 🙂
Como assim Maria Madalena foi injustamente julgada pela igreja católica? Ela é uma GRANDE Santa, muito venerada pela igreja, uma das maiores, tanto que é a única tirando os 12 considerada como discípula de Jesus, pelo amor de Deus, viu? Se for lacrar, lacre direito, não precisa mentir. A dinâmica é legal, mas oh fora viu.
A publicação foi corrigida. Obrigado pelo seu comentário.
Por favor, pode esclarecer as seguintes questões, colocadas por um aluno que participou na dinâmica?
Com excepção da pessoa com o número 8 – Adolf Hitler – como é possível afirmar que os dados apresentados identificam, univocamente, determinada pessoa?
Em função do enunciado “… o futuro da humanidade esta em jogo…”, é possível abordar a questão assumindo, por exemplo, que haverá mais abrigos e, portanto, não serão só estes 6 os sobreviventes da catástrofe nuclear?
Obrigado.
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