Por Marcela Tanaka*
Mais uma vez o preconceito velado e o machismo da sociedade patriarcal surgiu a quem esteja disposto a ver. Neste domingo, 13 de janeiro [2013], o grupo ativista Femen fez protesto durante a oração do Angelus, tradicionalmente rezada pelo papa aos domingos em prol da causa homossexual.
Acredito que o protesto é direito de qualquer pessoa que se incomode com as mazelas da sociedade; todo indivíduo tem seu direito de expressão, de mostrar insatisfação com a forma que o mundo lhe está sendo apresentado. Quero que fique entendido que não estou aqui para defender quaisquer organizações ou coletivos, sobre qualquer assunto.
O meu real interesse nesse artigo é, na verdade, um apelo para que além da leitura – quase dinâmica – que fazemos das notícias, atentemos para os comentários abertos ao público disponibilizados ao fim de cada reportagem, e mais, que atentemos aos comentários nas reportagens que têm um cunho mais polêmico.
Gostaria de atentar para um comentário em específico dessa reportagem, uma mulher comentou a seguinte frase “em vez de ir cuidar da casa, lavar louça, que é o que uma mulher direita faz, ficam aí protestando, essas feministas desocupadas”. Então paremos para pensar, defendo o direito de liberdade de expressão acima de qualquer coisa, pois – parafraseando Voltaire – posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o o fim teu direito de dizê-lo, entretanto, não posso ser condizente com esse tipo de postura, pois é, exatamente, a postura que colocou a mulher como objeto submisso ao homem, que a oprimiu por tantos anos e que ainda se perpetua na sociedade do século XXI.
Esse tipo de postura é o machismo mais cruel, porque é o machismo que vem da própria mulher, o machismo que se volta contra si. A mulher que retira de outra mulher seu direito de lutar por uma sociedade igualitária, que perpetua um preconceito que já deveria ter sido extinto. A divisão de tarefas por gênero é absurda, ultrapassada, afirmar que a mulher deve ficar em casa, deve ser a responsável pelo cuidado da casa e dos filhos soa a mim como um atestado da incapacidade masculina. Um homem é tão capaz de cuidar de uma casa, cozinhar e cuidar dos filhos quanto uma mulher, e o oposto é verdadeiro; tal qual um homem, uma mulher é tão capaz de ser uma boa profissional – e isso inclui os trabalhos pesados, também.
Novamente, me detive somente a esse comentário, pois é o que traz a ironia da reportagem. Afinal, se trata de uma luta feminista e ver um comentário que vela o machismo é, no mínimo, irônico. Será que é porque essa mulher não compreendeu o que essa reportagem dizia? Ou será que é pelo seu bel prazer de atacar alguém cuja opinião difere da sua? Será que a intenção é prolongar o sofrimento das mulheres que sofrem na pele as consequências do machismo? Lembro que ainda há outros comentários tão (ou mais) preconceituosos do que esse, no sentido de intolerância, homofobia e por aí vai.
Por conseguinte, me dói ver essa postura feminina, da não compreensão do que elas mesmas representam, das consequências que a postura delas têm, da forma em que elas educarão seus filhos e filhas. Pois não é dessa maneira e nesse mundo que eu quero que meus filhos e filhas vivam.
Link para a reportagem
Marcela Tanaka* é aluna de graduação em Ciências Sociais/UNICAMP, parceira do Café com Sociologia e mantém o blog “Crítica Nossa de Cada Dia”, onde originalmente foi publicado o presente texto.
Gostei muito do texto!
Parabéns seu ponto vista é excelente, seus argumentos foram muitos bem colados.
Wanderson Novais, o texto é de nossa colaboradora Marcela Tanaka. Realmente o texto dela é muito bom. Abraço.
Excelente texto, se a tal mulher teve a capacidade de fazer esse comentário por que ela nao foi lavar roupa, e cuidar da casa dela se ela acredita que esse e o lugar da mulher? Mulher deve estar no lugar em que ela quer, onde ela gosta de estar, penso que mulher deve estudar e se tornar independente, e conquistar seus direitos!