Florestan Fernandes e a Sociologia da Revolução: um olhar sobre a epistemologia do pensamento sociológico clássico

Sociologia da revolução de Florestan Fernandes é um estudoque busca compreender a dinâmica do processo revolucionário em um país como Brasil. A Sociologia é essa operação científica que busca, através da formulação de métodos, processos de elaboração de pontos de vista acerca das relações sociais e suas determinações, atingir de sobremodo um olhar racional e crítico sobre a realidade. Logo, no bojo das abordagens sociológicas clássicas – weberiana e durkheiminana – apresentam-se similitudes a exemplo da perspectiva indutiva na pesquisa social.
Para Fernandes, a sociologia da revolução não é apenas um evento político, mas um processo social e cultural que transforma a estrutura da sociedade. A revolução ocorre quando as classes subalternas se organizam e tomam o poder, construindo uma nova ordem social baseada na igualdade e na justiça.
Por Camillo César Alvarenga*
Apesar da escola alemã fundada na sociologia compreensiva de Dilthey – professor de Weber nos círculos de Hieldelberg – e o positivismo da ordem de A. Comte, se manifestar em Durkheim e aproximar a sociologia de um empiricismo oriundo das ciências naturais, enquanto o alemão, autor de Ciência como Vocação, desenvolve uma visão historicista culturalista, na qual os eventos históricos são relacionados à economia sob a forma da cristalização dos fenômenos sociais. Podemos apontar que a relação entre a vida social, a lembrar, a Ética Protestante em Weber e as Formas Elementares da Vida Religiosa em Durkheim, partem do objeto que é a religião.
O que permite inferir, como o pensamento social se apercebe do processo de interação social, no primeiro enquanto a construção de uma dinâmica na qual o grupo social em questão, os protestantes, sejam condição para o desenvolvimento do capitalismo, ao passo que no segundo, os ritos de sociedades mecânicas o indivíduo é o fulcro no qual toda a coletividade se concentra e se expressa pela externalização da subjetividade coletiva, objetivando-se.
No que tange a objetividade científica, fica clara a utilização de recursos metodológicos adquiridos das ciências naturais bem como seu esforço de alcançar leis gerais, no caso do francês, enquanto Weber, na sua busca por neutralidade axiológica, no intento de lograr êxito no seu distanciamento epistemológico do objeto, sucumbe ao esquecimento da presença de caracteres ideológicos presentes nesta relação entre sujeito e objeto.
Tendo com base a ciência do conceito de categorias que expliquem os mecanismos de funcionamento do todo social, a sociologia clássica emerge qual estrutura em ponto de fusão dos pressupostos clássicos, refundando o positivismo de uma física social se esta fosse possível, enquanto na crítica da história weberiana, onde se é legítimo até pensar com o uso do “se” num argumento contrafactual.
Assim, sem deixar de lado o legado de Marx, de acordo com Florestan Fernandes, no texto O Problema do Método na Investigação Sociológica, o posicionamento de Marx face ao desenvolvimento do pensamento científico exposto em obras como a Ideologia Alemã expressa o caráter dialético da história numa perspectiva materialista na relação sujeito cognoscente e objeto cognoscível, além de no escopo da metodologia marxiana, estar presente a ideia de uma visão da história e da própria sociologia do conhecimento, ou seja, a epistemologia de Marx se faz no ponto em que sujeito e objeto estão apresentados em plano crítico e em relações de interdependência ideológica (S>
Nesse sentido, o construto intelectual do conjunto da obra de Marx se revela em mais um dos grandes paradigmas, assim como Weber e Durkheim, para o açambarcamento da teoria social para abarcar as distorções de percepção do social e as contradições inerentes à formação histórica capitalista num processo de análise econômica e política a partir da busca pela fundamentação de um pensamento sólido e ativista, ou melhor, combativo deixando como legado à história das Ciências Sociais seus métodos e pressupostos, premissas e postulados que são utilizados e reaproveitados desde então, através do aprofundamento da teoria marxista.
Observando-se que é nesse contexto, de disputa metodológica e concorrência de discurso científico para a modernidade, que evidenciamos desde a lógica indutiva à dialética materialista, os métodos que orientam o aprofundamento das pesquisas científicas na atual teoria social. Nesse modo de conhecer, que se opera na práxis das estruturas do interior do pensamento científico, podemos entender como um corte epistemológico, no qual a pesquisa social se assenta no exercício crítico duma ciência social em busca da Sociologia da Revolução.

*Sociologia da Revoluçã por Camillo César Alvarenga é estudante do bacharelado em Ciências Sociais na UFRB. Escreve com frequência em Scombros.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

5 Comments

    • Olá Luis Oliveira,

      "Mal escrito" " cheio de quebras" " " embora tenha entendido a mensagem do texto". O comentário me reporta a questões de filosofia da linguagem, onde a premissa básica do ato linguistico seja a comunicação. A partir desse noção, posso presumir que o objetivo de comunicar foi cumprido já o leitor entendeu a mensagem do texto. Nesse sentido gostaria apenas de pontuar que a fragmentação é uma das características fundamentais da época atual, logo se um texto se revela "cheio de quebras" ele deve ser resultado de um processo cognitivo que responda ao período em foi produzido, então se o breve "ensaio" acima representa, por seus aspectos próprios e inerentes, um construto intelectual assistemático ou aberto, é porque é antes um exercício para que o leitor desenvolva a articulação de conceitos e categorias expostos.

      Desde já grato pela leitura e mais ainda pelo comentário.

      Att.

      C.C.S. Alvarenga, o autor.

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