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Lógica, Dilma, impeachment, Temer e afins (ou não)…

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“Pedala Robinho”
Por Felipe Onisto[1]
Nos princípios básicos da escola primária a ciência da lógica nos propiciou o conhecimento racional. No modelo matemático/filosófico os resultados são os mesmos quando seguem a coerência dedutiva. Na tabuada não há como relativizar os derivados. As quatro operações basilares apresentarão os mesmos finais quando os números se repetirem. Ao misturar as cores primárias na mesma proporção, necessariamente, obteremos as secundárias. Amarelo anexado ao vermelho propiciará laranja. Assim, como azul e amarelo o verde. Tão logo, vermelho e azul a tonalidade será violeta. Pau que bate em Chico bate em Francisco. Todo humano é mortal. Aristóteles é humano. Logo, Aristóteles é mortal.
Qualquer criança/adolescente que frequente a escola/universidade escuta essas métricas. Entretanto, as conexões não se repetem na política, mídia e judiciário. Há dois pesos e duas medidas escolhidos conforme o freguês. A admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi votado na câmara federal em um domingo (17/04/16), contrário ao de Fernando Collor, realizado na terça-feira (29/09/92). Como justificativa do impedimento de Rousseff pesam as denominadas pedaladas fiscais e assinaturas de decretos suplementares, também firmadas pelo presidente interino Michel Temer. O processo de Rousseff foi acatado pelo então presidente da Câmara dos deputados – Eduardo Cunha, destarte, o mesmo pedido com as mesmas alegações contra Temer, arquivou.
O relator do texto de admissibilidade no Senado foi Antonio Anastasia, quando governador de Minas Gerais pedalou mais que Everson de Assis Camilo, ciclista campeão brasileiro em 2015. Se pedalada fiscal, assim como afirmam Janaina Paschoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale constituir crime de responsabilidade, devemos ter mais 17 pedidos de impeachment de governadores, isso também recai nas práticas de Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Ocorreram às condenações e remissões antes dos movimentos de acusação e defesa, posicionamentos sem conhecer a totalidade dos fatos. É o mesmo que o juiz sentenciar sem ouvir o promotor e advogado de amparo. Dilma estava condenada desde 02/12/15, a posteriori foi espetáculo. Pela coerência, resta o show da maledicência de Temer.
Lula foi impedido por uma liminar do ministro Gilmar Mendes de assumir o ministério da Casa Civil com alegação que poderia interferir na Operação Lava Jato. Essa condição não se aplicou a nenhum dos ministros investigados e empossados por Temer, muito menos aos em exercício no governo Dilma. Investigado pela PGR – Procuradoria Geral da República – Eduardo Cunha assistiu seu pedido de anistia pelo deputado federal – Paulinho da Força Sindical. Na contramão, Delcídio do Amaral foi cassado pelo Senado. O juiz federal, Sergio Moro, pediu paz no país após aprovação da admissibilidade do impeachment no Senado, é o mesmo que jogar gasolina na fogueira e tentar apagar com álcool. Diz o provérbio. Faça o que digo, não faça o que faço.
O modelo político brasileiro é representativo, porém, Temer faltou nas aulas de lógica. Não há mulheres nos cargos do primeiro escalão, muito menos negros ou representes de movimentos sociais. Há que concordarmos quando alega que os votos de Dilma são seus, obviamente indissociáveis, visto que, apresentaram uma proposta de país nas eleições de 2014. Claro que isso o força a continuar o paradigma sugerido, entretanto, a amnésia não permite consubstancialidade. Na sequência irracional dos afazeres trouxe a oposição deslegitimada pelo voto popular em 2014 para o governo (PSDB e DEM). Na fala de alguns deputados que votaram pelo impeachment, alertavam que Dilma deveria sair pela insatisfação popular (61% – Vox Populi), outrossim, Temer está no mesmo patamar (58%). Não há a mesma celeridade nos processos, afinal, ouvimos a mídia falar no impeachment do Temer?
Novamente a lógica, Dilma foi afastada pelos supostos crimes de responsabilidade fiscal. Ouvimos do comum e da Janaina Paschoal que sobram crimes no governo. Sabemos que Temer se enquadra nos arquétipos com as mesmas acusações. Vide a pegadinha do senador Randofe Rodrigues que forçou a confissão da advogada no enquadramento do presidente interino do país. Contudo, pode ser absolvido no congresso pelos mesmos atos. Será o mesmo que analisar dois processos idênticos e anistiar um. Pau que bate em Chico não bate em Franscisco. Se isso acontecer nos próximos dias, meses ou anos, será evidente, límpido, notório, transparente, cristalino, puro, diáfano, translúcido, nítido, assim, como esses adjetivos são sinônimos, que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe.
Confusão essa, será que 2 mais 2 ainda são 4? Azul misturado com amarelo ainda resulta em verde? Com tanta falta de lógica, essas perguntas se tornam centrais novamente. Para fechar o raciocínio, pesquisa do Vox Populi demonstrou que 56% das pessoas que assistiram a transmissão do impeachment na câmara dos deputados federais, julgaram como negativos os pronunciamentos, 37% consideraram os comportamentos péssimos e 19% ruim, em um país onde a política é personalista, logo, o congresso é a cara do Brasil. Não podemos nos assusta com o mesmo do que praticamos cotidianamente.
[1] Sociólogo e mestrando pelo Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da UnC – Canoinhas/SC.
Como citar esse texto:

 

ONISTO, Felipe. “Pedala Robinho”. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível: . Acesso: dia, mês, ano.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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