Mais-Valia conceito e recursos didáticos

Mais-valia é um processo de apropriação do lucro a partir da exploração do trabalho alheio. Esse é um dos principais conceitos de Marx.

Conceito de trabalho na concepção Marxiana*

Desde que a humanidade se constituiu como espécie, a sobrevivência criou necessidades que só podem ser saciadas por meio do trabalho. Noutras palavras, ao Marx relata que a partir da materialidade e da concretude vão sendo construídos os aspectos imateriais da vida social. A noção de propriedade privada passou a ser fortalecida assim que os grupos que geriam o excedente de produção reivindicaram para si a propriedade de bens antes comunais (ENGELS, 2009). No desenrolar do processo de apropriação dos meios de produção os trabalhadores se viram diante de regras impostas por uma classe que se colocava como dona de bens oriundos do trabalho coletivo.

Mais-valia e alienação

O processo de apropriação do resultado do trabalho socialmente constituído se fundamenta no que Marx conceituou como mais-valia, extração de lucro oriundo da força de trabalho dos trabalhadores a partir de imposições de uma classe dominante Marx (1996). Noutras palavras, a apropriação do resultado do esforço do trabalhador por parte do detentor dos meios de produção. Assim, a exploração do trabalho caracteriza-se pelo fato de o “[…] o dono do capital e empregador do operário se apropria deste sobrevalor ou mais-valia sem retribuição” (MARX, 1996, p.37). A fragmentação de tal trabalho e a inversão da realidade dificulta que o operário reconheça o objeto do seu trabalho, e tal processo Marx denominou alienação: “O trabalhador coloca a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto” (MARX, 1989b, p. 150).

Exemplos:

Imagine uma fábrica no qual um grupo de operários produz uma mercadoria. Suponhamos que uma mercadoria gera R$ 10,00 de lucro, obviamente retirado todos os custos de produção. Cada grupo de 5 trabalhadores tem como meta produzir no mínimo 1000 mercadorias. Neste sentido essas mercadorias vão gerar um lucro de 10 mil reais. Se o dono da fábrica pagar 5 mil de salário para os operários, os outros 5 mil serão referentes a mais-valia.

Imagine que você precisa fazer um trabalho e pede um amigo que arrume alguém para fazê-lo para você. Então seu amigo cobra de você R$ 100,00 e repassa para quem fez o trabalho apenas R$ 80,00, pode-se dizer que esses R$ 20,00 é referente a mais-valia tendo em vista que ele foi obtido a partir da exploração de uma outra pessoa.

É necessário ter cuidado para não confundir trabalhos informais que não resulte da exploração da força de trabalho de um terceiro como mais-valia. Por exemplo, se você trabalha diretamente vendendo pipoca não é considerado mais-valia porque você não está explorando o trabalho de ninguém a não ser de você mesmo.

*Trecho retirado da dissertação: Sampaio-Silva, R. Quando a docência abandona os professores: a evasão docente na rede pública estadual de Rondônia (2008-2012). Dissertação (Dissertação em Educação) – Unir. Porto Velho, p. 123. 2015.

Excelente quadrinho para discutir o tema em sala

“Tacitus, um homem que habita uma estranha dimensão paralela, vive para trabalhar e trabalha para parar seu despertador. Nada parece fazer muito sentido nessa tácita realidade alternativa. Já no piloto automático e sem nenhum senso de autoquestionamento, ele apenas sobrevive de forma letárgica sua rotina por infindos dias entre sonhos floridos e uma realidade árida.”

Vídeo baseado em uma charge (que já postei aqui) que circula na Net.

publicado originalmente em 24 de set de 2018

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

12 Comments

  1. temos que ter muitíssimo cuidado ao divulgar essa tirinha entre adolescentes. na verdade, pra mim, isso sequer deveria ser feito, pois é panfletarismo. alguns sociólogos dedicam sua rotina diária a afirmação do método científico para compreensão dos fenômentos ''sociais'', e é isso que deve ser ensinado em sociologia. mesmo assim, para aqueles que insistem que ''devemos combater a ideologia burguesa'', pelo muita ponderação. fale antes, com calma e detalhadamente, sobre fatores de produçao, formação de preços, concorrência, interferência do governo na elasticidade da oferta, na incidência de encargos sociais, no verdadeiro papel e impactos do salário mínimo, nos riscos da administração de empreendimentos, na necessidade de formaçao do trabalhador pelas empresas etc. para saber mais como atuo e penso, deixo um artigo de como deve ser o ensino de sociologia para o ensino médio: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/cienciassociais/0020.html

  2. Romero Maia, primeiramente agradeço por expor sua opinião a respeito do ensino de sociologia. Mas gostaria de colocar algumas provocações que julgo pertinentes:
    1. esse mesmo cuidado que descreve é realizado quando tratamos de assuntos/temas "de direita/conservadores"? Por que não? Apenas temas "tidos" como de esquerda merecem tal cuidado?

    2. Usa a expressão "aqueles de insistem que "devemos combater a ideologia burguesa". E aqueles que insistem de "devemos combater a ideologia de esquerda"? O que dizer destes?

    3. A Sociologia deve ser neutra? Acredita mesmo nessa bobagem? Acredita que existe uma "forma correta de ensinar sociologia"? Não seria o professor nessas condições um intelectual orgânico (nos termos de Gramisc)?

    4. A Mais-Valia não é um fenômeno social? O Cartun apresenta algo que fere sua "religiosidade status quo"? Embora não concorde com muita coisa escrita por Marx, em que Marx teria errado ao apresentar sua teoria da Mais-Valia?

    5. Cada sociólogo não estaria inserido num campo que o vela a pensar de uma dada forma e a partir de instrumentos teóricos que lhe parece explicar melhor a realidade?

    6. A sugestão do Cartum não impõe uma forma metodológica sobre o professor.

    7. Sua intenção era divulgar seu paper? Se for, só me enviar por email que (re)publicamos aqui, dando espaço inclusive para um debate frutífero.

    Lanço essas questões em aberto… não acredito que sejam verdades absolutas… podem ser as naturalizadas… ou não.
    Um abraço.

    • Cristiano, nunca recebi aviso que vc tinha postado um resposta. Entrei aqui por acaso e a encontrei. Antes tarde do que nunca porque o assunto está ainda mais atual que à época. Pois bem, a intenção não foi divulgar artigo. Senão eu nem teria escrito nada antes de colar o link. Indicá-lo foi uma forma de poupar tempo discorrendo mais, uma vez que os argumentos já estão melhor desenvolvidos em outro lugar da web. Isso é simples. Sobre ”neutralidade”, sim tenho certeza que é possível. Não é nem uma questão de ”acreditar”. E olhe que isso não se confunde com “Escola sem partido”, projeto de lei que sou contra, diga-se de passagem. Tem mais a ver apenas com meu incentivo a uma pedagogia mais voltada para o espírito cético e desenvolvimento de competências para a crítica metodológica, com menos ênfases nas respostas ou conclusões, e mais na dúvida e na inquietação. Enfim, pense que o recrudescimento de competências passa mais pela dúvida que pela militância, embora eu mesmo, se for olhar um ”political compass” da vida, tendo à esquerda. Abraços!

  3. Os trabalhadores estão trabalhando feito escravos, produzindo durante 12 horas diárias e recebendo menos de 10% do que produzem em (R$). Os trabalhadores devem se manifestar e mostrar que tem voz, mostrar que sua mão de obra vale mais, as grandes empresas tem muita mão de obra (Trabalhadores) para eles é assim a vida os que tem mais dinheiro trabalham menos e lucram mais e os que tem menos trabalham mais e lucram menos.

  4. Os trabalhadores estão trabalhando como escravos pois trabalham de mais e não ganham quase nada os patrões não pagam seus trabalhadores de forma que eles possam lucra com o seu trabalho ganha menos que 10%do que produzem .

  5. Os empregados trabalham feito escravos, recebem pouquíssimo por isso e ainda são obrigados a aquentar desaforo dos patrões. Eu acho isso um absurdo! Os patrões deveriam pensar que se suas empresas não tivesse esses trabalhadores eles não estariam no luxo, por isso eu acho que os direitos dos trabalhadores deveriam ser mais valorizados, como salário, seguro de vida, ect.

  6. Essa tirinha é simplista e seus argumentos são carregados de ideologia "viva os pobres" a qual está impregnada na mente da maioria dos sociólogos. Sociologia é muito mais que isso… enfim…

  7. Ao contrário do Romero Maia, encarei a tirinha como uma maneira bem didática de entender o conceito de mais-valia pensado por Marx…

  8. Mas falta várias coisas que não estão em questão dentro deste conceito, pra um empresário fazer uma fábrica é preciso de investimento então ele coloca o capital a risco, tem os custos de produção (insumos, energia, combustível, manutenção, etc…), tem as percas (a mercadoria pode ser perdida, roubada, extraviada), tem a inadimplência, ainda nem colocamos a propriedade intelectual sobre a criação daquele produto, os contatos de compra e venda, e os riscos, nada disso sai do bolso do dito “proletário”, então é um conceito extremamente ultrapassado, e refutado.

  9. Os exemplos acima limitam-se a explicar o lucro e sua multiplicação, que podem ser avaliados eticamente como justos ou injustos. Não é Mais-Valia. Esta, consiste na exploração do trabalhador fora da planilha de custo e lucro. Está acima ou além disto. Trata-se de obtenção de recursos financeiros com a venda de produtos que o trabalhador produziu além das horas necessárias e realmente pagas, das quais resultam o lucro. A Mais-Valia é a venda de produtos sobre os quais não recai nenhum tipo de custo, seja imposto, salários, recolocação de maquinário, hora-extra, férias etc.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Sair da versão mobile