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Modernidade e Holocausto, de Zygmunt Bauman

Modernidade e Holocausto

Modernidade e Holocausto

Carine de Miranda Santos [1]

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RESENHA

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Livro “Modernidade e Holocausto”

Zygmunt Bauman é uma referência importante nos estudos da Sociologia e das Ciências Sociais, tornando-se um dos maiores intelectuais do século XXI. Autor de uma extensa lista de obras que refletem as mudanças sociais a partir do fenômeno da modernidade, Bauman é um referencial fundamental para a compreensão das sociedades atuais. Nascido na Polônia em 1925, de descendência judia, fugiu com sua família após as tropas nazistas ocuparem o seu país. Esta resenha refere-se à obra “Modernidade e Holocausto” publicada em 1989 na França. Bauman desenvolve a tese central de que o Holocausto não é um evento singular e de responsabilidade exclusiva dos alemães anti-semitistas, afirma que é um fenômeno que tem na modernidade, na burocratização e no desenvolvimento técnico os seus maiores aliados.

No primeiro capítulo, intitulado “A Sociologia depois do Holocausto”, assegura que o holocausto foi executado na nossa sociedade moderna e racional, em nosso mais alto estágio de civilização, tornando-se um problema dessa sociedade, dessa civilização e cultura, tendo muito a dialogar com os estudos da Sociologia. Segundo Bauman, o horror do holocausto ocasionou grandes traumas na humanidade, fazendo-nos questionar: “Como foi possível tamanho terror na região mais civilizada do mundo?” Como resposta a esse questionamento, reflete que a obsessão de Hitler foi posta em prática através da técnica e da burocratização moderna, criando meios que favoreceram ao desenvolvimento de um sentimento de indiferença moral, de invisibilidade e desumanização do povo judeu.

Os capítulos II e III recebem o mesmo subtítulo: “Modernidade, racismo e extermínio”. Através desses dois capítulos, Bauman ressalta que o holocausto foi o clímax espetacular de uma história de séculos de ressentimento religioso, econômico, cultural e nacional contra grupos indesejáveis, estranhos, expressos através do anti-semitarismo. Para explicar uma das justificações para o horror do holocausto, Bauman apresenta a metáfora do “Jardineiro” que tem como dever cuidar para que as ervas daninhas não destruam a harmonia do jardim. O holocausto foi sendo justificada através do argumento de que os Judeus viviam em um vazio nacional, sem entusiasmo e patriotismo, podendo se render a qualquer momento aos inimigos, colocando em risco a ideia de Estado Nacional.

No quarto capítulo, denominado “Singularidade e normalidade do Holocausto” o autor versa sobre algumas questões que geram perplexidade ao longo da história. Uma delas diz respeito aos criminosos que eram pessoas educadas, pertencentes a uma família, socialmente reconhecidas como “dentro dos padrões”, outra questão diz respeito as instituições sociais que se apresentavam sólidas o suficiente para sustentar uma prática de comando fortemente burocratizado e tecnicamente organizado. O Holocausto superou e esmagou todos os supostos equivalentes pré-modernos, expondo-os comparativamente como primitivos perdulários e ineficientes. O Estado colocou a técnica a serviço da violência, conseguindo uma suspensão da ética e das emoções, uma espécie de liberação para matar.

O capítulo V “Pedindo a colaboração das vítimas”, apesenta o quanto a burocratização contribuiu para que o máximo de resultado fosse alcançado com o mínimo de esforço e custo. Para isso, um esquema foi montado no sentido da garantia da impossibilidade de interferência externa, além da manutenção da crença da categoria-alvo, de que qualquer apelo ou tentativa de salvação seria ineficaz. Bauman afirma que se não existisse toda uma cooperação em larga escala, essa complexa operação de assassinato em massa teria sido confrontada por problemas gerenciais, técnicos e de outras ordens. Já no sexto capítulo “A ética da obediência (lendo Milgram)” apresenta o processo de desumanização como forma de distanciamento social, evidenciando a experiência sócio-psicológica realizadas por Milgram e Zimbardo.

No Capítulos VII, intitulado de “Para um teoria sociológica da modernidade” Bauman, apresenta uma síntese teórica sobre o lugar da moralidade nessa experiência mortal, reflete o papel do holocausto numa espécie de suspensão social. Para concluir, no capítulo oitavo, que tem como título “Pós-reflexão: racionalidade e vergonha”, reflete o holocausto como resultado da nossa sociedade modernidade, afirmando que os fatores que representam esse triste capítulo da nossa história, ainda se fazem onipresentes.

Como citar este texto:

SANTOS, Carine de Miranda. Modernidade e Holocausto, de Zygmunt Bauman. Blog Café com Sociologia. out. 2023. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/modernidade_holocausto/

 

Nota:

[1] Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e docente da Sociologia na Secretaria de Educação do Estado da Bahia.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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