No mês de março, do corrente ano, o sociólogo Simon Schwartzman teceu críticas ao Currículo Básico de Sociologia do Estado do Rio de Janeiro.
Afirmou Schwartzman que tal currículo “é um conjunto desastroso de ideias gerais, palavras de ordem e ideologias mal disfarçadas que confirmam as piores apreensões dos que, como eu, sempre temeram esta inclusão obrigatória da sociologia no curriculo escolar”.
Para ele o currículo proposto pela Secretaria do Rio de Janeiro acabou não abarcando conceitos de grande importancia para o conhecimento sociológico.
Estive lendo tal currículo e constatei que a situação é realmente ruim, mas a proposta da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo é ainda pior.
A proposta do Estado do Rio de Janeiro pode ser acessada em: https://www.schwartzman.org.br/simon/see_soc.pdf
Abaixo a proposta dos conteúdos de Sociologia para o Ensino Médio do Estado do Espírito Santo:
“1. Comunidades e rivalidade; torcidas esportivas e violência; grupos comunitários e modos de habitar os lugares; comunidades de migrantes e demais minorias. A cidade. O Estado. A região.
2. O país – a formação das nações; constituição e produção simbólica das identidades nacionais (mitos, heróis, hinos, bandeiras e demais símbolos pátrios); a formação étnica e cultural da sociedade brasileira; o rádio, a voz do Brasil, o cinema e a era Vargas; os esportes nacionais; a música brasileira, a televisão e o Governo Militar; o Brasil que a gente vê nas novelas, no folclore, nas festas populares, nas artes, na literatura, na imprensa, na publicidade e no cinema; o “jeitinho brasileiro”; estereótipos nacionais.
3. O mundo – o paradoxo global/local; comunicação e consumo planetário; a configuração do poder global: os blocos políticoeconômicos e corporações transnacionais; as lutas contra-hegemônicas: a sociedade civil globalmente organizada e a defesa dos patrimônios ecológicos e culturais da humanidade; cosmopolitismo e fundamentalismo.
4. A sociologia como ciência – os vários discursos sobre o social (literatura, artes, urbanismo, paisagismo; música, cinema e TV, entre outros); a sociologia como discurso científico; contribuições das principais correntes de pensamento sociológico, suas interpretações da realidade
5. e seus contextos históricos; o poder/saber oficial e os saberes/fazeres excluídos; a ciência como produção social; produção de conhecimentos, democracia e produção da vida em sociedade”.
A crítica é: como trabalhar análises da realidade sem que os educandos tenham o mínimo de conhecimentos dos conceitos chaves para enxergar o mundo de forma crítica. Lembrando que tais aulos estão tendo seu primeiro encontro com a Sociologia.
Outro grande problema é ao fato de ser uma listagem de conteúdos claramente de viés geografáfico e histórico. Não que a Sociologia não se aproprie de tais ciências, mas possui seus instrimentos próprios, bem como suas lentes peculiares.
É lamentável tal proposta! Quando esta “estava sendo elaborada” (acredito que já estava pronta) foi solicitado aos professores que dessem seu parecer e sugerissem melhorias. Porém, as críticas foram tecidas e nada mudou no currículo. Agora a Secretaria de Educação do Espírito Santo diz que foi produzido de forma participativa!
É muito gostar de sugerir que o professor é idióta!