Homem primata… o que é capitalismo selvagem?
O sistema capitalista teve sua origem no que Marx chamou de “acumulação originária”, caracterizado pelo comércio competitivo, expropriação arbitrária e violenta de pequenas propriedades, escravidão e pilhagem de recursos de continentes invadidos e colonizados. Na Inglaterra, que teve especial destaque na alavanca desse sistema, surgiram diversas teorias justificando esse tipo de atividade predatória.
No auge do imperialismo britânico do século XIX, Malthus defendeu que a vida em sociedade era uma luta pela sobrevivência, dada a escassez de recursos em relação ao crescimento populacional. Spencer, em consonância com Malthus, pontificou que os vencedores dessa luta eram os mais aptos, que superavam, por suas qualidades intrínsecas, as raças, classes e indivíduos inferiores e menos competentes.
Se as pessoas que celebram o bicentenário de Darwin se dessem ao trabalho de ler “A Origem das Espécies” veriam que o autor dá o crédito a seus mestres e diz que sua ideia “é a ideia do sr. Malthus aplicada à totalidade dos reinos animal e vegetal”. Spencer é citado cinco vezes na tão celebrada e pouco estudada obra.
A partir daí, nossas mentes foram treinadas a ver a competição do leão (predador) com as zebras ou gnus (presas), mas não para se atentar para o fato de que ambos, predador e presa, convivem a milhões de anos em um mesmo espaço, em situação de equilíbrio harmônico, sem conseqüências ecológicas negativas. Aceitamos ideias como “egoísmo” de genes, sem nos perguntarmos como tal sentimento humano pode ser propriedade de um pedaço de matéria que sequer está viva – os genes são apenas moléculas que só possuem função em uma célula e em interação com outras centenas de moléculas.
Portanto, o capitalismo não é selvagem. É o oposto do que ocorre na natureza, uma violação da regra básica do equilíbrio, integração e cooperação que vige no mundo natural. Por isso, sua manutenção nos está conduzindo à pena máxima aplicada aos que não seguem a verdadeira lei da selva: a extinção.
Maurício Abdalla, professor de Filosofia da Ufes.