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Poder para Foucault: breves apontamentos da microfísica do poder

O poder em Foucault: breves apontamentos
Por Bianca Wild*
 
Poder para Foucault
O poder não é um objeto natural, é uma prática social; é assim o poder para Foucault. Foucault afirmou que o discurso tido como verdadeiro é portador de poder. Mas, por outro lado, ele concebeu o poder como luta. O poder não possui, assim, uma identidade própria, unitária e transcendente, mas está distribuído em toda a estrutura social e é sempre produzido, socialmente. Para Foucault, todo poder se define pela obediência e toda dominação pelo seu efeito. Sendo assim, Foucault
distingue a forma que se expressa o poder de obediência. Para o Filósofo Francês, o poder delineia o limite à liberdade e quem deseja entender o poder precisa entender a ideia de direito, pensar o poder sem rei, pensar o poder sem o Estado, para Foucault, o Estado é a configuração final do poder mas não única.
 
Poder para Foucault é o correspondente às estratégias cujo arcabouço geral se cristaliza quando toma corpo na elaboração das leis e do Estado. A compreensão poder-estratégias deriva da ideia de que o poder não está no Estado, mas provem da família, do Estado, das instituições e de todos os lugares; assim Foucault rejeitou e desconstruiu a concepção política jurídica que dá proeminência ao poder no Estado. A relação poder-política corresponde a dizer que o poder é estratégias, provém de vários lugares, transcorre diferentes situações.
 Foucault revelou em sua análise, que o discurso é uma forma de poder, no sentido de uma força capaz de sujeitar as pessoas e de canalizar as emoções e razões. O conhecimento se reveste, na análise de Foucault, em objeto de poder. Para ele todas as formas de repressão se completam facilmente do ponto de vista do poder, mas as pessoas
só percebem as realidades próximas. Foucault afirmou que o poder é prolixo, mas há todo um investimento de desejo de poder, a relação entre poder e interesse é muito importante.
Sua preocupação fundamental é com a articulação entre saber, poder e verdade. Em sua obra, Microfísica do Poder, assim apresentou:
 

[…] a verdade não existe fora do poder ou sem o poder (não é — não obstante um mito, de que seria necessário estabelecer a história e as funções — a recompensa dos espíritos livres, o filho das longas solidões, o privilégio daqueles que souberam se libertar). A verdade é deste mundo, ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua «política geral» de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sancionam uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro (p.12).

 
Foucault aponta o entrelaçamento do saber no poder. Contudo, como esse entrelaçamento foge à compreensão quando examinado sob uma perspectiva que problematiza a relação entre ciência e poder. Foucault opta por uma via mais incisiva. Ele parte de um conjunto de argumentos determinantes em sua obra Vigiar e Punir:
 

[…] o poder produz saber; poder e saber estão diretamente implicados; não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber; também não há saber sem que haja ou se constituam, ao mesmo tempo, relações de poder. Temos antes que admitir que o poder produz saber (…); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo, relações de poder. (…) Resumindo, não é a atividade do sujeito de conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e que o constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento (p.30 ).

 
Em minha opinião, o mais importante em Foucault, em se tratando da análise do Poder, é o fato de ele ter
se interessado no elemento estratégico do poder e, em função disso, ele afirmou que a repressão é produtiva, uma vez que, através de sua ação sobre o corpo do indivíduo, ela evita que percebamos o poder em sua forma angustiante de
violência e cinismo. Ao dissimular os mecanismos do poder, os dispositivos, segundo Foucault, fazem com que apareça como elemento remoto, destacado; A análise de Foucault admite que se compreenda o fato político de o Estado não
ser o único lugar de onde brota o poder, ele nem é a fonte do poder. Foucault aponta que esses micro poderes não estão situados em nenhum lugar específico da estrutura social; eles se encontram nessa rede de dispositivos de que ninguém escapa. Foucault afirmou que o poder não é algo que alguém detém como uma propriedade; o poder é exercido. Deste modo, não existe O Poder, mas práticas ou relações de poder.
 
Do ponto de vista de Foucault, o poder, para ser eficaz deve produzir uma positividade, de tal modo que o desdobramento da vida social tem, como preço, o adestramento do corpo, Seu “disciplinamento”, hoje podemos compreender Foucault com mais clareza, muito do que este brilhante filósofo nos ensinou, principalmente acerca dos dispositivos, da repressão e do bio-poder, em Vigiar e punir Foucault afirmou que devemos deixar de descrever sempre os efeitos do poder em termos negativos, porque para ele o poder produz; produz realidade; produz campos de objetos e rituais da verdade.
 

 

* Bianca Wild é colaborada do Café com Sociologia, licenciada em Ciências Sociais – FIC/FEUC Professora de sociologia-SEEDUC RJ, Especialista em gênero e sexualidade -UERJ/IMS e membro do Comitê Editorial da Revista Café com Sociologia.

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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